Pior que a escravatura
Autor: R. Mateus
Data: 06-02-2007
Em 1953, em Angola, em Moçambique e na Guiné, num total de 10.388.360 habitantes, eram considerados «civilizados» apenas 235.629 pessoas, incluindo aqui uma maioria de europeus e uma minoria de «assimilados» negros. Com efeito, os negros «civilizados» eram 30.000 em Angola, 4.350 em Moçambique e 1.500 na Guiné.
Aos europeus e aos poucos assimilados, o Estado colonial reservava todos os privilégios. Quanto ao geral dos africanos não podiam exercer nenhuma actividade de carácter especulativo, não administravam bancos, transportes ou comércio, não dirigiam fábricas ou minas, não geriam plantações. Mantinham a pequena agricultura tradicional, eram obrigados a cultivar determinados produtos como o algodão ou o café e forneciam mão-de-obra escrava.
Henrique Galvão, na altura em que foi deputado na Assembleia Nacional, fez uma intervenção em que afirmava:
«Em certo ponto de vista, a situação é mais grave que a criada pela escravatura pura. Na vigência desta, o negro comprado, adquirido como animal, constituía um bem que o seu “dono” tinha interesse em manter são e escorreito, como tem em manter são e escorreito o seu cavalo ou o seu boi. Agora, o preto não é comprado, é simplesmente alugado ao Estado, embora leve o rótulo de homem livre. E ao patrão pouco interessa que ele adoeça ou morra, uma vez que vá trabalhando enquanto existir – porque quando estiver inválido ou morrer, reclamará outro.
Há patrões que têm 35 por cento de mortos entre o seu pessoal, durante o período do contrato. E não consta que alguém tenha sido privado do fornecimento de mais, quando precisar».
«Espantoso» exemplo da multiracialidade apregoada por Gilberto Freire. Pior que a escravatura, como dizia Henrique Galvão, deputado do regime.
in Jornal de Notíciasimagem - Painel de Abelardo da Hora, "Hall do Edifício Residencial Valfrido Antunes",
em Recife, Pernambuco, Brasil.
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