O Fundador da BD Portuguesa
* Carlos Pessoa
É de Rafael Bordalo Pinheiro a primeira história aos quadradinhos portuguesa. Intitula-se "Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa" e foi publicada pela primeira vez em álbum no ano de 1872, tendo conhecido ainda nesse mesmo ano duas outras edições (a edição fac-similada das três versões foi feita em 1996 pela Bedeteca de Lisboa, no âmbito das comemorações do 150º aniversário do nascimento do autor).
O argumento descreve as peripécias de um soberano - o imperador Pedro II do Brasil - que visita as várias academias e lugares de diversão na Europa. Porque se pode falar, a respeito desta obra, de uma banda desenhada no sentido moderno do termo? Segundo os especialistas Leonardo de Sá e António Dias de Deus ("Os Comics em Portugal", Edições Cotovia, 1997), este é o primeiro trabalho de que há memória em que existe uma sequência narrativa figurada, um argumento ficcional e original com princípio, meio e fim, assim como um herói. Ou seja, estão reunidos todos os ingredientes que se convencionou darem corpo a uma história aos quadradinhos. A "Picaresca Viagem" é, pois, o acto fundador da BD em Portugal.
O aparecimento de Rafael no panorama artístico nacional revolucionou por completo o ambiente da ilustração gráfica, fazendo "esquecer" a publicação, em 1850, na "Revista Popular", da primeira história aos quadradinhos em Portugal - em rigor é a cópia de uma história estrangeira- assinada por um autor (Flora) de quem continua a desconhecer-se a verdadeira identidade. Na banda desenhada, é ele quem pela primeira vez explora de forma aprofundada os códigos identificadores e diferenciadores deste meio de expressão, admitindo-se que não lhe seria estranho o trabalho do suíço Rodolphe Töpfer, assim como do humorista alemão Wilhelm Busch ou dos ilustradores da revista inglesa "Punch".
Copyright: © 2005 Público; Carlos Pessoa
Público, 23 de Janeiro de 2005
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