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| O Partido na História
| Nascido em Murça (Trás-os-Montes) em 13 de Agosto de 1896, Militão Bessa Ribeiro viveu os primeiros anos da sua actividade política no Brasil para onde emigrou com 13 anos de idade. Aí, foi militante do Partido Comunista Brasileiro, razão pela qual viria a ser expulso do país. Regressado a Portugal retomou a actividade revolucionária como membro do Partido Comunista Português.
Foi preso pela primeira vez em 13 de Julho de 1934 e julgado e condenado pelo Tribunal Militar Especial a doze meses de prisão correccional. Em 8 de Junho de 1935, a cerca de um mês de terminar a pena a que fora condenado, foi deportado para Angra do Heroísmo. Ali permaneceu até 23 de Outubro de 1936 (muito para além do cumprimento da pena) data em que – com Bento Gonçalves e Sérgio Vilarigues, entre outros - embarcou no navio Luanda com destino ao Campo de Concentração do Tarrafal.
Libertado em 15 de Julho de 1940 (cinco anos após ter cumprido a pena a que fora condenado) retomou a actividade partidária tendo participado activamente na reorganização de 1940/1941 – processo que viria a ter profundas e positivas repercussões no funcionamento, na actividade e na influência do PCP. Por essa altura, Militão passa a integrar o Secretariado do Partido, o mais importante organismo de direcção então existente.
Preso novamente em 22 de Novembro de 1942 é condenado a 4 anos de prisão e enviado, pela segunda vez, para o Campo da Morte Lenta. Permanece no Tarrafal até 16 de Novembro de 1945, altura em que é libertado por efeito da amnistia que Salazar foi forçado a conceder, cedendo à pressão exercida pelas forças democráticas na sequência da derrota do nazi-fascismo.
Em 25 de Março de 1949 é preso, juntamente com Álvaro Cunhal e Sofia Ferreira, e enviado para a Penitenciária de Lisboa onde viria a morrer, em total isolamento e sujeito às mais bárbaras e desumanas condições.
Na primeira página do Avante! de Janeiro de 1950 (VI Série Nº 146) podia ler-se: «Mais um crime do governo salazarista! Mataram Militão Ribeiro (António)! Que todo o povo proteste contra mais este crime!».
A notícia, para além de informar que «Militão Ribeiro morreu, depois duma lenta agonia, numa cela sem ar e sem luz da Penitenciária de Lisboa, no passado 3 de Janeiro» - e sublinhando que «o nome de Militão vai juntar-se aos de Bento Gonçalves, Alfredo Dinis, Alfredo Caldeira, Manuel Vieira Tomé, Ferreira Soares, Ferreira Marquês, Germano Vidigal, Mário Castelhano e dezenas e dezenas de outras vítimas do fascismo português» - descrevia as condições que conduziram à morte do dirigente comunista: os espancamentos e as torturas, a alimentação imprópria, a ausência de assistência médica. O Avante! transcrevia, ainda, uma das duas cartas dirigidas ao Partido que Militão conseguira fazer sair da prisão – a última das quais escrita com o seu próprio sangue.
Trata-se de dois documento impressionantes, testemunhos eloquentes da brutalidade fascista, testemunhos vibrantes da firmeza e da coragem heróica do militante comunista Militão Ribeiro.
«Tenho sofrido o que um ser humano pode sofrer. Mas (...) nunca deixei de ter fé na nossa causa. Sei que venceremos contra todos estes crimes, estou certo que o povo saberá fazer justiça. Na polícia recusei-me a fazer declarações sobre o Partido. Desde sempre mantive a disposição de dar a vida pelo Partido, em todas as circunstâncias, assim como agora a dou duma forma horrível e cheia de sofrimentos. Mesmo já quase um cadáver ainda fui esbofeteado por um agente (...) Tenho confiança que sabereis vencer todos os obstáculos e levar o povo à vitória, mantendo essa disciplina e controle severo de uns sobre os outros, em trabalho colectivo, como vínhamos fazendo e aperfeiçoando. Que infelicidade a minha só aos cinquenta anos ter começado a trabalhar dessa forma. Felizes os que vêm novos ao Partido e o encontram a trabalhar assim (…) Muito teria para dizer, mas as forças faltam-me. Fiz tudo o que pude pelo Partido, bem ou mal, foi sempre julgando que fazia o melhor. Adeus para todos com um abraço fraternal. Longa vida, longa liberdade, boa saúde e bom trabalho. Avante até à vitória final.»
E, escrito com o próprio sangue: «Que a minha morte traga novos combatentes à luta. Viva o Partido Comunista».
Artigo publicado na Edição Nº1729 AVANTE 2007.01.18
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