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| Comentário
| Dentro de pouco serão centenárias. Nasceram em 1912 e até hoje já venderam 450 milhões de unidades com o que muito têm contribuído para a fortaleza económica da sua empresa-mãe, a multinacional norte-americana Kraft Foods. Estamos a falar das bolachas Oreo, que, pela acção do advogado californiano Stephen Joseph, podem ver arruinada a celebração. Qual é o problema? O mesmo de muitos outros produtos parecidos que come diariamente uma boa parte do mundo, sem saber os perigos que se escondem debaixo do seu sabor agradável.
As bolachas Oreo contêm um ingrediente, que, segundo a Academia Nacional das Ciências e a Direcção de Alimentos e Drogas (FDA, dos Estados Unidos), pode ser perigoso para a saúde dos consumidores. Esse ingrediente é um azeite vegetal hidrogenado – claramente anunciado no produto, mas sem qualquer referência aos seus alegados aspectos negativos – suspeito de elevar o índice de colesterol a um nível potencialmente capaz, por exemplo, de provocar obstruções arteriais. O fundamental legal da acusação reside no facto de, segundo a lei do Estado da Califórnia, serem os fabricantes responsáveis pelos seus produtos quando não avisam o «consumidor sobre os perigos do seu consumo». O azeite em questão é uma gordura hidrogenada artificialmente – um transgénico – «utilizado para aumentar a vida útil dos alimentos e diminuir a dos consumidores», como diz o causídico antes citado, que tem um sítio na Internet – BanTransFat – dedicado ao tema. A presença destes transgénicos noutros alimentos já foi detectada há tempos, e algumas empresas – Frito-Lay – já procederam à sua substituição, enquanto outras – Mac Donald’s, que acaba de anunciar as suas primeiras perdas em 55 anos e uma provável mudança de sabor para se «actualizar» – se anunciam dispostas a reduzir a sua presença nos produtos que comercializam. Uma batalha legal pela frente é o que tem a Kraft, mas nada de novo. Ela pertence ao Atria Group, proprietária da Philip Morris USA, que tem muito experiência em casos que tais.
Políticas de bom vizinho…
Tão pertinho dos Estados Unidos e tão longe de Deus, dizem os mexicanos, com uma ironia facilmente perceptível. Importadores maciços de tudo o que se faz a Norte, pagam grande parte das consequências do frenesim mercantilista dos seus sócios comerciais, que impõem o consumo dos seus produtos, por pressões políticas e também de outro género. Tomemos o caso dos alimentos. Em 1997, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou a proibição de antibióticos para ajudar ao crescimento dos animais. Um ano depois, a União Europeia fez o mesmo. Entretanto, nos Estados Unidos, os interesses das transnacionais farmacêuticas cilindraram rapidamente os da protecção dos consumidores. Não estranha, portanto, que os Estados Unidos detenham o recorde de utilizar 20% do total mundial dos pesticidas, e que, como resultado, 70% -- uma coisa assim como 11 mil toneladas – do total dos antibióticos usados nacionalmente seja utilizado em doses baixas na alimentação de porcos, frangos e gado saudável para facilitar o seu crescimento, do que resultam bactérias infecciosas resistentes aos antibióticos. Por outro lado, as leis norte-americanas não obrigam as empresas a informarem oficialmente quais os produtos contaminados ou suspeitos de tal – isto é considerado «informação confidencial» –, pelo que os alertas públicos chegam tarde e a más horas. Assim se explica, por exemplo, que, em 1999, mais de 11 mil pessoas se intoxicassem com frango infectado com camphilor, e que, em 2002, a Pilgrim’s Pride, segunda empresa avícola do país, tivesse de retirar do mercado 12 mil toneladas de carne de porco e peru comprovadamente contaminadas … após terem ocorrido seis mortes.
Com a utilização de hormonas para engorda de gado não vamos melhor. Mais de 90% do gado leva injecções de hormonas nas orelhas ou na alimentação para que atinja o peso de comercialização o mais rapidamente possível. A Monsanto é uma das grandes beneficiárias desta política «neoliberal». Enquanto a hormona rBGH, resultado da engenharia genética, se encontra banida na Europa, na primeira potência capitalista é usada em vacas leiteiras para incrementar a produção até 25% no prazo de umas poucas semanas. Que o consumo do produto possa causar alergia e mesmo cancro não parece ser coisa de importância. O lucro é rei.
Como se escreve no jornal mexicano que serve de base a esta nota, nem sempre o que vem do Norte é melhor…
Artigo publicado na Edição Nº1540 AVANTE 2003.06.05
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