Em 1933, Fernando Pessoa escreveu um poema que não podia ser publicado. Eis parte dele: "Coitadinho/ Do tiraninho!/ Não bebe vinho / Nem sequer sozinho.../ Bebe a verdade/ E a liberdade,/ E com tal agrado/ Que já começam/ A escassear no mercado./ Coitadinho/ Do tiraninho"... É extraordinário que alguém não pudesse ter a liberdade de publicar (quer dizer, dizer alto) essas palavras. Não porque esse alguém era Pessoa ou porque essas palavras estavam tão bem ditas ou porque elas até eram justas. O extraordinário é que não se pudesse exercer publicamente a liberdade de dizer. Não se podia, porque Salazar não deixava, exilando ou prendendo quem ousasse contrariá-lo. Pessoa, mais à frente no poema, di-lo: "O meu vizinho/ Está na Guiné,/ E o meu padrinho/No Limoeiro"... Hoje, temos o direito inalienável não só de dizer coisas belas, como Pessoa, mas até fazer coisas rascas como homenagear Salazar. E é melhor assim, não é, romeiros de Santa Comba Dão?
Diário de Notícias, 2007.04.28
Salazarismo Nacionalistas reclamam Museu de Salazar em Santa Comba Dão 28.04.2007 - 15h12 Lusa
A concentração nacionalista para a defesa do Museu Salazar em Santa Comba Dão reuniu, às 14h00, cerca de três centenas de pessoas no largo do município. Presentes no local estão cerca de duas dezenas de "cabeças rapadas" empunhando bandeiras de Portugal e a bandeira azul e branca da monarquia, mostrando cartazes com a mensagem "Construam o Museu".
O objectivo da concentração, explicou à Lusa Vítor Ramalho, delegado para a região centro do Movimento Nacionalista Terra, Identidade e Resistência (MNTIR ), é "apoiar a decisão da autarquia em criar um museu do Estado Novo" na casa onde Salazar nasceu, no Vimieiro, a dois quilómetros de Santa Comba.
O MNTIR, segundo Ramalho, deve ser "um local de estudo e de liberdade".
"No nosso entender, este espaço [o Museu Salazar] pode ter todo o tipo de documentação", disse, defendendo o Movimento que a Torre do Tombo, onde se encontra o maior espólio do Estado Novo, ceda algum do material para o futuro museu.
Vítor Ramalho, questionado pela Lusa, admitiu mesmo que documentação referente às actividades da PIDE e dos presos políticos que passaram pelas cadeias como Tarrafal ou Peniche "possam estar presentes" no futuro museu.
Após a concentração, os nacionalistas deverão rumar ao cemitério do Vimieiro, onde está sepultado em campa rasa Oliveira Salazar, que se fosse vivo celebrava hoje 109 anos.
Ao longo do dia de hoje, constatou a Lusa, pequenos grupos de pessoas, incluindo famílias, passaram pela casa onde nasceu o ditador para as tradicionais fotos de recordações. Público on line 2007.04.28
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