A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, abril 06, 2007



Memória de Adriano

Nas tuas mãos tomaste uma guitarra
copo de vinho de alegria sã
sangria do suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.

Foste sempre o cantor que não se agarra
o que à terra chamou amante e irmã
mas também português que investe e marra
voz de alaúde e rosto de maçã.

O teu coração de ouro veio do Douro
num barco de vindimas de cantigas
tão generosas como a liberdade.

Resta de ti a ilha dum tesouro
a jóia com as pedras mais antigas
não é saudade, não! É amizade.

Ary dos Santos

(…)
O corpo grande a alma de menino
Trazia no olhar aquele assombro
De quem queria caber e não cabia.
Os pés fora do berço e do destino
Pediu uma cerveja e poesia.
E foi-se embora de viola ao ombro.
In “Adriano”,

soneto de Manuel Alegre

Ary dos Santos inicia-se activamente na vida política em 1969, ano que considerou decisivo. É então que o poeta se integra na campanha da CDE e se filia, mais tarde, no PCP.

Foi principalmente através da sua poesia que contribuiu para a política nacional, numa altura em que a livre expressão havia sido anulada pela ditadura salazarista e em que urgia gritar pela liberdade, embora esse grito fosse, na maior parte das vezes, calado pelo regime.

Esta participação activa na política traduziu-se numa intervenção entusiasta e apaixonada (sendo estes dois predicados que melhor classificavam o poeta) nas sessões de poesia do então rotulado "canto livre perseguido".

Já em 1973, concretamente a 29 de Março, Ary dos Santos, assim como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e José Jorge Letria, participam no I Encontro da Canção Portuguesa, no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Este evento foi rodeado de forte aparato policial, até porque a poesia de todos estes autores, sendo de cariz interventivo, constituía uma forte arma contra o regime vigente, na medida em que o denunciava em alguns aspectos.


I Encontro da Canção Portuguesa no Coliseu dos Recreios. In CAPELO, Rui G. e OUTROS. -História de Portugal em Datas. Lisboa, Porto Editora, 1994.


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