A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, abril 21, 2007


O Mercado da Pobreza





Sabe-se que na sua forma final mercado global implica a organização de toda a sociedade humana nos moldes dos princípios de mercado. O que quer dizer que nenhuma estrutura social, nenhum factor potencial de lucro, deve ser abandonado sem dele previamente se extraírem as suas mais-valias. Mesmo que esse factor de lucro em potência seja a pobreza. É preciso organizá-la como fatia de mercado. Operando, naturalmente, com uma cobertura ética. Só para evitar ferir susceptibilidades.

Esteve há dias em Portugal uma curiosa figura do Bengladesh, à qual já fora atribuído (sabe-se lá porquê !) o Prémio Nobel da Paz. Doutorado em Economia pelas universidades norte-americanas, Muhammed Yunus concebeu a teoria do microcrédito, fundou um «banco dos pobres», o Grameen Bank, lançou um partido político – o Partido do Cidadão – e, segundo afirma, aspira a ser presidente da república do seu país, recebendo o poder das mãos dos coronéis que o governam. «Movo-me no Capitalismo para tratar dos seus males». O banqueiro fez, a propósito, esclarecedoras declarações.

Disse, por exemplo, que ninguém jamais acreditou que o homem pudesse extinguir a pobreza. Mas é possível, acrescentou, «facilitar a vida aos pobres, dando-lhes água e comida». E acrescentou, logo a seguir, que «todo aquele que quer fazer dinheiro é a mesma pessoa que é afectuosa e se preocupa com os outros»...

O banco deste senhor funciona assim desta forma: não atende todos aqueles que o procuram na necessidade, a fim de não praticar uma caridade indiscriminada e sem sentido construtivo. Mas estuda e selecciona os projectos artesanais que lhe são apresentados pelos pobres. De facto, tudo começou em 1972 quando, «num período de fome extrema», Yunus se atreveu a arriscar, do seu próprio bolso, 27 dólares a um grupo de mulheres artesãs que queriam fugir à pobreza. Foi maravilhoso, declara o banqueiro, o que as camponesas fizeram com esse dinheiro. E recorda outras experiências exemplares, tal como a do artesão inventor de uma fórmula de iogurte que o Grameen comprou e acabou por vender, por bom preço, à multinacional francesa «Danone».

Apoios e projectos para o futuro

O banco de Yunus vai de vento em popa. Já comprou a mais importante empresa de telecomunicações do Bengladesh e abriu delegações em 23 países estrangeiros. Precisamente, o banqueiro veio a Portugal, a convite da Gulbenkian, para apelar aos financeiros portugueses no sentido de promoverem o seu interesse nos «negócios sociais» para combater a pobreza. A pobreza dá lucro e pode conduzir ao sucesso. As citações, feitas nos jornais, das palavras de Yunus, registam: «É preciso que as Fundações e os Governos criem fundos para o social business, como forma de lutar contra a pobreza... de fazer bem às pessoas, sem esperar obter lucros... Aquilo que actualmente fica na área da Caridade, pode passar a ser um negócio social que não custa dinheiro a ninguém mas seria solução para problemas de áreas diversas, desde a saúde à construção de habitações.» Há aqui uma evidente alusão indirecta ao papel das IPSS e dos instrumentos legais da Concordata.

Sem dúvida que Yunus é um construtor de mercados. Todavia não pode deixar de surpreender a prontidão com que o seu apelo foi escutado pelos meios financeiros portugueses, sobretudo pelos principais bancos onde dominam os capitais financeiros eclesiásticos ou afins. O primeiro deles foi o Millenium BCP, logo seguido pelo Montepio Geral, pela Caixa Geral de Depósitos e pelo Grupo Espírito Santo. Certamente que a estes potentados multinacionais, ocultados pela frontaria da banca portuguesa, se virão em breve juntar aliados poderosos como a Agha Kan, a Bill Gates, o Santander, os Bancos de Ahorro, o Santo Paolo, o Barklays, etc., etc.

Não parece, pelo menos por agora, ter merecido toda esta movimentação qualquer comentário por parte de Igreja. O que parece natural visto não querer certamente, o Patriarcado, confundir formalmente negócios e caridade. Também há uma frontaria caritativa cristã a resguardar.

Mas tão bom é o «negócio social», que o BCP já lhe estabeleceu uma rede comercial autónoma por onde os pedidos recebidos são canalizados através de um sistema de coordenação gerido pela Associação Nacional de Direito ao Crédito. Em parceria com outros bancos.

Tudo, pois, vai em bom ritmo. E é natural que de tantos rumores algum ruído tenha chegado aos ouvidos de D. José e do genial primeiro-ministro. Alguém terá, necessariamente, de estar por dentro deste assunto! Movimentam-se grandes massas de dinheiros públicos e desenvolve-se uma vasta mistificação que envolve a transferência de importantes sectores do combate estatal à pobreza para os domínios dos interesses privados.

in AVANTE 2007.04.19

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