No preciso momento em que passaram oito anos sobre o ataque da NATO à Jugoslávia, os chefes de Estado e de Governo dos países da União Europeia declararam em Berlim que na Europa reina a «paz» e o «bem estar» social assim como «um sentimento de comunhão» e o fim das «divergências». Já se esqueceram que em 1999 os aviões de guerra europeus bombardearam Belgrado, Nis e Pristina. Desde então, o cheiro dos corpos queimados pelos mísseis da NATO tem-se vindo a estender a outros pontos do planeta. Na guerra dirigida pelos Estados Unidos no Afeganistão participam quase todos os 27 membros da UE. No Iraque, a Grã-Bretanha é o segundo exército invasor mais numeroso. E noutros pontos da terra, do Líbano à África, estes autodenominados defensores da «resolução pacífica dos conflitos» e das «vítimas da guerra» não cessam de provocar e de descobrir novos motivos para intervenções militares. Na véspera da «declaração de Berlim», a chanceler Merkel exigiu mais uma vez a criação de um exército europeu.
Em Belgrado, as ruínas dos bombardeamentos de escolas, hospitais, bairros de habitação, edifícios da Rádio e da TV, e milhares de doentes cancerosos contaminados pelas armas de urânio da NATO são um exemplo real daquilo que a UE entende por «promover a democracia, a estabilidade e o bem-estar além fronteiras». Também a afirmação de que «o racismo e a xenofobia jamais poderão voltar» soa a falso, sabendo-se da complacência dos governos da UE, face ao aumento do número de actos de violência racista, aos actos de perseguição política, especialmente contra comunistas e à difusão de doutrinas fascistas e revanchistas. O texto invoca ainda o «bem de todas as cidadãs e cidadãos da União Europeia», a «liberdade» e a «democracia». Mas, de acordo com os objectivos da dita «constituição europeia» e das disposições de Nice e Maastricht, é a oligarquia dos negócios que está a implantar as suas estruturas e a sedimentar o seu poder antidemocrático. Nunca tantos trabalhadores foram obrigados a trabalhar sem direitos e com salários de miséria. Não fará parte da «inviolabilidade» da «dignidade humana» o direito a poder viver-se do trabalho e a planear a vida e o futuro? E que dizer das alusões à «democracia» quando os parlamentos e os governos votam cada vez mais medidas e tomam decisões contrárias à vontade da esmagadora maioria dos eleitores e dos povos? E as medidas próprias de regimes ditatoriais, como a fusão dos serviços secretos e das polícias, as interdições profissionais e os ficheiros secretos da vida privada dos cidadãos, do seu perfil ideológico e das suas actividades políticas?
Quem procurar a verdade sobre a União Europeia na declaração de Berlim, não a encontrará. Mas, se tiver o cuidado de ler com atenção o que afirmam os seu donos, a antiga UNICE, agora baptizada de «Europa dos Negócios» (Businesseurope), aí verá matéria suficiente para compreender as mentiras difundidas a partir da capital alemã. Reunida poucos dias antes da cimeira de Berlim, sob lema «A Europa é o nosso Negócio» (Europe is our business), a «Europa dos Negócios» deixou bem claro que o grande capital, ao contrário dos povos e dos trabalhadores, está satisfeito com a UE, mas ainda quer mais. Num documento de 6 de Março sobre «a modernização do mercado do trabalho» os «negociantes da Europa», exigem a liquidação dos actuais contractos de trabalho e dos direitos dos trabalhadores neles consagrados, o direito a devorar as economias nacionais (fim dos «proteccionismos nacionais») , assim como a chamada «reforma dos sistemas sociais» (leia-se: saúde e segurança social só para os ricos). A luta por uma Europa de estados soberanos e iguais em direitos é fundamental para a defesa dos direitos dos trabalhadores. Nunca a distância entre a realidade e as palavras foi tão grande como nas mentiras de Berlim.
in AVANTE - 2007.04.05
|
Sem comentários:
Enviar um comentário