* Victor Nogueira
As andorinhas desapareceram definitivamente de Setúnal. Já não há ninhos, já não esvoaçam, já não se houve o seu chilrear. Por outro lado as gaivotas cada vez mais entram por terra a dentro, esvoaçando e grasnando.
Mas cada vez mais como cogumelos ou coelhos, os pombos espalham-se pela cidade, indiferentes às pessoas, debicando por entre as pedras da calçada. De vez em quando pousam no patamar do meu gabinete e ali andam para trás e para diante, com a cabeça a dar a dar. Tal como nas varandas da casa onde moro. Mas agora surgiu-me um problema: uma pomba vez o ninho num dos vasos da varanda que simula um jardim. Primeiro eram dois ovos brancos, agora são dois borrachos, já crescidinhos, mas que ainda não sabem andar ou esvoaçar. E assim, para não assustá-los, estiolam as nossas irmãs plantas nestes dias de calor, sem serem regadas.
Um verdadeiro dilema. Espero que os borrachitos cresçam e vão à vida. Uma vez entrou-me pela janela um pombo-correio com anilha, que se hospedou na cozinha, até ganhar força para seguir viagem. Só depois soube que lhe deveria ter dado água.
Fotos - Victor Nogueira
* Gaivota - Cemitério de Agramonte (Porto)
* Pombo no cimo da cabeça de Luísa Todi (memorial em Setúbal)
1 comentário:
Eu gosto do som das gaivotas.
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