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.O Calcanhar de Aquiles
Lavagem de roupa suja
* João Marques dos Santos,
Advogado
José Sócrates está perturbado. Chamou a sua ministra e reconduziu no cargo a sua devota serva, directora da DREN, saneadora do professor Charrua.
Sócrates recusou falar sobre a Ota na AR. Sensato.
Por tudo quanto o País já soube pelas televisões, rádios, jornais e revistas a Ota é um desastre a evitar a todo o custo. Um remendo. Há muitas semanas que deixou de ser uma questão política para regressar ao patamar de onde saiu prematuramente. A discussão técnica, séria e exaustiva, de todas as alternativas possíveis. Como, finalmente, já se está a fazer fora da área de influência do PS e das suas vorazes clientelas. Os portugueses sabem já o suficiente para não haver a menor dúvida de que a insistência na opção Ota, sem atender à prudência aconselhada pela grande maioria dos técnicos, seria de uma estranha e imperdoável leviandade. E as decisões governamentais podem ser censuráveis, mas, em caso nenhum, levianas.
Sócrates parece indiferente ao interesse nacional que se não compadece com remendos. Sob o pretexto de que é urgente encontrar uma alternativa à Portela. Mesmo que ela seja péssima. A questão é que na opção Ota há vários timings a embotar o discernimento dos seus defensores. O tempo da saturação da Portela. O tempo dos autarcas do Oeste e restantes lóbis. E, sobretudo, o timing dos interesses pessoais (leia-se eleitorais) de Sócrates e do PS. Que são muito específicos.
Contam-se em relação à proximidade das legislativas que se avizinham. Mas mesmo esse tempo perdeu-se. Porque a Ota, feita contra os pareceres técnicos já existentes, ou suspensa tardiamente, será sempre a certidão de óbito de Sócrates. Porque dificilmente irá justificar o seu estranho comportamento.
Sócrates nesta estranha luta transformou-se num novo, e ainda mais patético, D. Quixote com o seu fiel Sancho Pança sempre à ilharga. Contraria técnicos. Mistifica o interesse nacional e ameaça lesá-lo gravemente. Esbraceja e ataca para o lado para que está virado. Finge não ouvir o PR, que julga exorcizar fingindo a sua inexistência e anulando magicamente a sua capacidade de intervenção. Mas, afinal, desafiando-o infantilmente. Sofre de um lamentável autismo que está a tornar-se crónico. Nada existe para além do seu pequeno mundo. Sócrates ainda não entendeu que face às muitas reticências de carácter técnico aquilo que um governo de gente minimamente sensata teria feito há muito tempo era anunciar um período para a apresentação de alternativas que seriam devidamente apreciadas e comparadas com a opção Ota. Mas não. Sócrates sente a admissão de novos estudos como uma derrota pessoal e do seu Governo E isso, para um ‘grande chefe’ como ele se sente, é uma ideia insuportável. Continuamos a sofrer os efeitos da doença infantil do nosso sistema partidário em que o deleite dos meninos é medir as respectivas pilinhas.
Sócrates está, nitidamente, perturbado. Chamou a sua ministra e reconduziu no cargo a sua devota serva, directora da DREN, saneadora do prof. Charrua.
Finalmente, baixou a guarda e tomou uma posição clara sobre os crimes de opinião (ou pseudo-insultos) de que se dizia opositor. Ficámos a saber que aplaude e recompensa generosamente todos os lambe-botas que lhe saíam ao caminho e fechará os olhos a todas as purgas políticas que eles levem a cabo. Exemplar.
in Correio da Manhã 2007.06.08
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