A Internacional

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terça-feira, junho 12, 2007
















Estado Novo: 10 de Junho é
“Dia da Raça”

* Ana Correia Costa


O regime de Salazar deu um outro significado ao Dia de Camões, uma data que passou a servir a propaganda do Estado Novo.

O 10 de Junho é adoptado e adaptado pelo regime instaurado em 1933, e passa a ser conhecido como o Dia da Raça. Conceição Meireles, especialista em História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, refere que “há, de certa forma, e sem dúvida nenhuma, posições eugenistas e racistas no Estado Novo”, mas acrescenta que o conceito de raça “é um conceito ambivalente no Estado Novo”. “Mas há também o outro lado, ou seja, aqueles que defendem que, sem o apoio local e das populações miscigenadas, dificilmente se conseguia desenvolver as regiões coloniais”, devido a “um défice demográfico grande”. “Portugal nunca conseguiu ‘exportar’ para as colónias a mesma quantidade de efectivos que antes tinham emigrado para o Brasil”, o que punha em causa o desenvolvimento das províncias ultramarinas, refere Conceição Meireles.

Que ‘raça’ é comemorada a 10 de Junho?

“Quando se tenta exaltar o dia da Raça, é a raça do povo português entendida de uma forma geral, global”. O que está em causa é a “originalidade” e “a capacidade dos portugueses”, explica Conceição Meireles. “O Estado Novo sempre quis sublinhar a originalidade do povo português face aos outros povos europeus. Por alguma razão este pequeno povo tinha uma História de séculos; era dos Estados mais antigos da Europa e tinha um Império colonial que quase nenhum outro país europeu possuía”. Esta era a “raça do povo português que tinha de ser “exaltada a todo o custo”, era a “raça no sentido do dia do povo português”. De acordo com Conceição Meireles, o conceito de raça no Estado Novo deve ser entendido no sentido em que significa “um povo diferente, aparentemente frágil, mas com valores que lhe permitiram grandes realizações”.
No dia da Raça e de Camões “exaltava-se a nação e o império, a metrópole e as colónias”.
“Toda a História foi um instrumento ao serviço da propaganda”

Para Conceição Meireles, não se pode dizer que Camões e a sua obra tenham funcionado como meio propagandístico do regime de Salazar, pelo menos “não particularmente”. Mas acrescenta que “toda a História foi um instrumento ao serviço da propaganda do Estado Novo”. Ou seja, “a propaganda nacionalista do Estado Novo é verdadeiramente dominada por uma certa mitificação da História, e por uma determinada leitura da mesma”, a partir da qual o regime pretendia promover uma certa ideia daquilo que tinha sido a História de Portugal, enaltecendo determinados acontecimentos e remetendo outros para o esquecimento.
Fundação, Expansão e Restauração

Como refere Conceição Meireles, estas “três temáticas dominaram muito fortemente a memória histórica oficial”, ou seja, “a memória que o Estado Novo quis preservar da História da Nação.

“Aos mitos da Fundação e da Restauração, o Estado Novo aliou o mito da Expansão de Portugal nos cinco cantos do mundo. E Camões era o símbolo da gesta dos Descobrimentos, da epopeia portuguesa”. Conceição Meireles explica que isto se deve sobretudo ao facto de Camões ter escrito "um clássico da literatura épica que foram «Os Lusíadas»".
“Apelo ao passado para legitimar o presente”

Na opinião de Conceição Meireles, a exaltação de determinados momentos da História de Portugal funcionou como uma espécie de sustentáculo e apoio ao regime, e era sobretudo uma forma de propaganda do mesmo. “O Estado Novo elegeu uma determinada memória colectiva da Nação”, em que o passado não podia ser esquecido. “Esse passado que o Estado Novo queria fazer lembrar aos portugueses era um passado de grandeza, quase de heróis”. Nas palavras de Conceição Meireles, o Estado Novo procurou fazer “um apelo ao passado no sentido de legitimar o presente”. Esse era um presente “em que Portugal tem direito inalienável à sua autonomia, e essa autonomia abarca quer o território continental quer o território ultramarino”. O que interessava dar a entender externamente era que “esse património nacional era uno”, e incluía “metrópole e colónias”, e portanto “Portugal tinha um direito inalienável e inquestionável à manutenção do seu império”, explica Conceição Meireles.
A inauguração do Estádio do Jamor num dia 10 de Junho

“O dia da Raça foi aproveitado também para determinadas cerimónias oficiais de propaganda e actos de regime”. O mais conhecido talvez tenha sido "a inauguração do Estádio Nacional [também conhecido por Estádio do Jamor], que ocorreu justamente a 10 de Junho de 1944", lembra Conceição Meireles.
NOTA - Se repararem bem, nos Livros ÚNICO para a Escola Primária e mesmo para o 1º Ciclo dos Liceus, do Minho a Timor, só aparecem «brancos». Os negros, quando aparecem, é como rebeldes que são dominados pelo exército branco, sempre heróicamente representado. Nas gravuras, as crianças do livro de leitura da 3ª classe são todas «brancas» e no cartaz propagandístico a mais «primitiva» é a «negra», que era preciso «trazer» à verdadeira e única civilização: a do homem branco católico. Com o início da Guerra Colonial, em 1961, 0 Dia da Raça passou a ser também o dia da encenação das condecorações póstumas dadas a familiares vestidos de negro de soldados mortos «na guerrra», a soldados deficientes físicos em resultado «da guerra» ou a soldados ainda «sobreviventes» da «guerra». Era o tempo das grandes encenações e dos toques de clarim e das formaturas na Praça do Comércio, em Lisboa.
Voltando ao cartaz de Propaganda, «Portugal, Portugal!» liga-se a duas outras expressões: «Quem manda?»: «Salazar, Salazar, Salazar!» - »Quem vive?» «Portugal, Portugal, Portugal!»
E se repararem nos «meninos» de cartolina da Mocidade Portuguesa, são todos «brancos.»
Deste modo a «mentira» ou a «verdade» aparecem clarinhas como água.
Victor Nogueira

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