António Reis
50.
Não é nas mãos
que desespero
As minhas mãos
só trabalham
e adormecem
esfriam
ou arrefecem
Não desmaiam
nem têm rios
Têm ossos
músculos
e sangue
poros também
por onde transpiro
mais nada têm
António Reis – Poemas Quotidianos
HÁ SEMPRE UM RAPAZ TRISTE
Há sempre um rapaz triste
em frente a um barco
(a água é sempre azul
e sempre fresca)
Em que país encontraria
um emprego e esquecimento
em que país encontraria
amor e compreensão
Em que país
sentiriam
a sua vida e a sua morte
Não respondem as gaivotas
porque voam
Há sempre um rapaz triste
com lágrimas nos olhos
em frente a um barco
António Reis - Poemas Quotidianos, pág. 22, Porto, [1957].
António Reis (1927-1991)
* Alcides Murtinheira
Cineasta, poeta, pintor e escultor, foi um dos vultos mais originais e criativos do cinema português. Membro activo do Cineclube do Porto, iniciou-se na actividade cinematográfica como assistente, nomeadamente no filme Acto da Primavera, de Manoel de Oliveira. Um ano depois, em 1963, realizou o seu primeiro documentário, encomendado pela Câmara Municipal do Porto, Painéis do Porto. A Hidro-Eléctrica do Cávado é o tema de Do Rio ao Céu (1964), feito em parceria com César Guerra Leal. É ainda de âmbito meramente documental o trabalho Alto Rabagão, de 1966, ano em que assina o argumento de Mudar de Vida.
Será a média-metragem Jaime (1974) que mais virá a chamar a atenção para a sua actividade de realizador com uma linguagem cinematográfica própria, inconfundível no cinema português. O filme aborda a vida e a pintura de Jaime Fernandes, um camponês da Beira Baixa que, afectado por uma doença do foro psicológico, é internado no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, onde virá a morrer, deixando quadros que são o testemunho dum invulgar espírito criativo.
Enquanto, após Abril de 1974, alguns cineastas optaram por obras de cariz claramente revolucionário, centradas nas alterações registadas essencialmente a nível dos centros urbanos, António Reis e a sua mulher, Margarida Cordeiro, enveredaram por um cinema não-narrativo sobre elementos de cultura popular, ainda presentes (mas em vias de extinção), de locais isolados do interior de Trás-os-Montes. Trás-os-Montes (1975) foi a primeira dessas obras, a que se seguiu, dez anos depois Ana. António Reis e Margarida Cordeiro não pretenderam registar em película, "ad eternum", costumes e tradições, mas fundamentalmente denunciar o seu desaparecimento como consequência de situações que levaram ao despovoamento de certas áreas, à fuga para as cidades, à emigração, num êxodo rural forçado a que as transformações sociais pós-25 de Abril não lograram pôr fim.
Por Rosa de Areia (1989), o seu último filme, com carácter mais ficcional, perpassa uma atmosfera poética, que, embora doutra forma, nunca deixou de estar presente em toda a sua obra cinematográfica.
in http://www1.uni-hamburg.de/clpic/tematicos/cinema/realizadores/reis_antonio.html
* Alcides Murtinheira
Cineasta, poeta, pintor e escultor, foi um dos vultos mais originais e criativos do cinema português. Membro activo do Cineclube do Porto, iniciou-se na actividade cinematográfica como assistente, nomeadamente no filme Acto da Primavera, de Manoel de Oliveira. Um ano depois, em 1963, realizou o seu primeiro documentário, encomendado pela Câmara Municipal do Porto, Painéis do Porto. A Hidro-Eléctrica do Cávado é o tema de Do Rio ao Céu (1964), feito em parceria com César Guerra Leal. É ainda de âmbito meramente documental o trabalho Alto Rabagão, de 1966, ano em que assina o argumento de Mudar de Vida.
Será a média-metragem Jaime (1974) que mais virá a chamar a atenção para a sua actividade de realizador com uma linguagem cinematográfica própria, inconfundível no cinema português. O filme aborda a vida e a pintura de Jaime Fernandes, um camponês da Beira Baixa que, afectado por uma doença do foro psicológico, é internado no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, onde virá a morrer, deixando quadros que são o testemunho dum invulgar espírito criativo.
Enquanto, após Abril de 1974, alguns cineastas optaram por obras de cariz claramente revolucionário, centradas nas alterações registadas essencialmente a nível dos centros urbanos, António Reis e a sua mulher, Margarida Cordeiro, enveredaram por um cinema não-narrativo sobre elementos de cultura popular, ainda presentes (mas em vias de extinção), de locais isolados do interior de Trás-os-Montes. Trás-os-Montes (1975) foi a primeira dessas obras, a que se seguiu, dez anos depois Ana. António Reis e Margarida Cordeiro não pretenderam registar em película, "ad eternum", costumes e tradições, mas fundamentalmente denunciar o seu desaparecimento como consequência de situações que levaram ao despovoamento de certas áreas, à fuga para as cidades, à emigração, num êxodo rural forçado a que as transformações sociais pós-25 de Abril não lograram pôr fim.
Por Rosa de Areia (1989), o seu último filme, com carácter mais ficcional, perpassa uma atmosfera poética, que, embora doutra forma, nunca deixou de estar presente em toda a sua obra cinematográfica.
in http://www1.uni-hamburg.de/clpic/tematicos/cinema/realizadores/reis_antonio.html
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