A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, junho 09, 2007


Questões de lucro e questões de fé

* Jorge Messias
Se os bispos portugueses fizeram voto de silêncio perante o descalabro ético do poder, nem por isso permanecem inactivos. Nas suas enormes cozinhas monacais amassam um gigantesco bolo-rei a que chamam, indiferentemente, hegemonia dos sentidos ou magistério de influências. Conhece-se alguma coisa acerca desta actividade culinária dos mestres.
Na área da privatização da pobreza, como se sabe o grande sonho dos neoliberais é terem alguém que tome conta dos milhões de pobres que a aventura da globalização produz. O combate à pobreza é a grande moda. Os milionários negoceiam com os governos de que forma inovadora e esperta irão acalmar a ira daqueles que a globalização da economia conduz à miséria e ao desemprego. Sem que, por isso, sejam afectadas as margens de lucro dos grandes negócios. Chamam a esta fatia do mercado negócio social para combater a pobreza. A questão envolve o Papa e a banca mundial. Kofi Annan, ex-grande coração caritativo da ONU e alma generosa deste combate altruísta à pobreza, veio a Lisboa falar com... os mais ricos. Nenhum dos grandes barões se furtou ao encontro. De Balsemão a Ricardo Salgado ou a Jorge Sampaio, todos se mostraram interessados em investir neste magno negócio da pobreza. Portugal tornou-se um mercado interessante para as fortunas. Tem 1 milhão de trabalhadores a prazo, 8,4 % de desempregados, a maior taxa de analfabetismo relativo (iliteracia) e o mais profundo fosso europeu entre pobres e ricos. Do que disseram Kofi Annan e os outros pouco se sabe, visto a Comunicação Social ter sido excluída deste encontro promovido pelo altruísta Banco Espírito Santo. Depois, os comparsas partiram para a Turquia onde no âmbito do seu clube preferido foram discutir as questões de organização ligadas ao negócio social da privatização da pobreza.
Também, como é natural, a igreja está atenta ao que se passa neste campo. Paralelamente às actividades do BES, de Kofi Annan e do Clube de Bilderberg, a Comissão Nacional Justiça e Paz promoveu uma reunião sobre o Desenvolvimento Global e Solidário – Um compromisso de cidadania, patrocinada pelas tentaculares fundações da Gulbenkian e do Montepio Geral. Nada de original parece ter sido avançado mas o encontro marcou esta ideia central: é possível, através da prática da solidariedade e da reconciliação de classes, erradicar a pobreza em Portugal e reduzi-la no resto do mundo. Arrecadando as mais-valias dessa operação, naturalmente.
Aliar o mercado dos pobres e o mercado da fé
Não se diz, é claro, como será possível conciliar o inconciliável. A Igreja, recorde-se, é apenas perita em humanidades. Certo é que as notícias são muitas, vindas de várias fontes, sobre esta actividade febril da organização do mercado dos pobres. João Rendeiro, o banqueiro que vive para combater a pobreza, teve 18,2 milhões de lucros, em 2006 e prepara-se para vender o seu Banco Privado Português ao BCP de Jardim Gonçalves. O BPP registou em 2006 lucros de 18,2 milhões de euros e possui activos calculados em 2,5 mil milhões. Todos os grupos bancários portugueses declararam interessar-se no negócio da «private equity» ou «microcrédito» cuja tese central se traduz na ideia de que a pobreza pode ser extinta transformando cada trabalhador num pequeno empresário, através do crédito. O que já não é novo aos nossos ouvidos.
Uma palavra para um aspecto muito mediatizado do mercado da fé.
No Algarve desapareceu uma menina inglesa. Todos desejamos que volte rapidamente para os seus, de saúde, íntegra e feliz. Todos exigimos que os eventuais criminosos sejam descobertos, presos e severamente punidos, nos limites da lei. Mas este desgraçado desaparecimento está cada vez mais confuso. As investigações parecem marcar passo, há delongas inaceitáveis nas análises dos vestígios recolhidos, ninguém sabe que entidades controlam o fundo de solidariedade que é já de milhões de libras. O Papa envolve-se num só caso que tem de ser entendido no conjunto de milhares de outros casos análogos de crimes contra as crianças. Aparecem no processo vultos estranhos como o do anónimo milionário que empresta aos pais o seu jacto particular para o voo até ao Vaticano. E suspeitos que ora aparecem como desaparecem, criando uma aura em torno das investigações : o russo, a alemã, o turista de Marrocos, as falsas pistas originadas pelos prémios pecuniários dos jornais, os imprecisos retratos-robots, etc.
Voltamos a dizer que queremos a criança de volta e o castigo dos culpados. Mas não devemos tolerar surpresas de última hora que revertam em benefício de uma religião actualmente em acentuada perda de bases e de credibilidade entre as populações. Como seria o caso de um novo milagre de Fátima, caso venha a acontecer.
in Avante 2007.06.06
Quadro - Jesus expulsando vendilhões do templo- Jacob Jordaens. 1650

Sem comentários: