Mais 110 euros
Prestação de casa mais cara
* Ayala Monteiro / J.R.
A prestação mensal de casa pode subir 110 euros até ao final de 2007. Tomemos o seguinte exemplo: no início do ano, um empréstimo de 150 mil euros, a pagar em 30 anos e com um spread de 0,5 por cento tinha uma prestação mensal de 741,34 euros quando a taxa de juro Euribor a seis meses estava a 3,789 por cento. Até ao fim do ano, a referida taxa atingirá os cinco por cento, fazendo a prestação do crédito mencionado subir 110 euros, para 851,58 euros (aumento de 15 por cento).
Uma simulação feita pelo BES – Banco Espírito Santo – ontem, dia em que a taxa de juro Euribor a seis meses se fixou em 4,264 por cento, o valor mais elevado desde Agosto de 2001, e a taxa de juro directora da Eurolândia progrediu mais 25 pontos de base, para quatro por cento, mostra qual o impacto que a subida do preço do dinheiro pode ter no orçamento das famílias.
A prestação do citado contrato de empréstimo para a compra de habitação era de 612,36 euros em Janeiro de 2004, quando a Euribor a seis meses estava em 2,25 por cento. Até Dezembro de 2007, de acordo com a instituição financeira presidida por Ricardo Espírito Santo Salgado, o celebrante desse contrato de crédito à habitação pagará mais 239,22 euros mensais (aumento de 39 por cento em apenas 35 meses). Desde Janeiro de 2004, a Euribor a seis meses, a taxa de juro mais utilizada no crédito à habitação, subiu 89,5 por cento. Como a maior dívida dos portugueses é para a aquisição de casa, o encarecimento da prestação mensal é um quebra-cabeças. Aliás, os bancos têm multiplicado os leilões de residências, por incumprimento dos respectivos créditos concedidos. Segundo uma fonte bancária contactada por nós pouco antes de um leilão, “a forte subida da prestação da casa afecta, principalmente, os agregados familiares que celebraram créditos para a compra de apartamentos da tipologia T0, T1 e T2. Muitos desses agregados familiares deixaram de pagar os empréstimos por falta de capacidade financeira”.
Uma realidade que é confirmada pelo próprio Banco de Portugal que, no seu relatório de estabilidade financeira, diz que o endividamento das famílias passou para 124 por cento do rendimento disponível.
"CASA PRONTA" POUPA ATÉ 497 EUROS
O projecto ‘Casa Pronta’, que simplifica e elimina procedimentos na compra e venda de imóveis, vai ter uma experiência-piloto em cinco municípios, mas vai alargar-se a todo o País a partir de final do ano. Esta medida, integrada no programa Simplex, para “simplificar a vida ao cidadão”, prevê uma redução acima dos 30% nas taxas de compra de habitação e foi aprovada ontem na reunião do Conselho de Ministros.O secretário de Estado da Justiça, João Tiago Silveira, estimou que em vez do actual custo médio de 947,83 euros, a que se acrescentam impostos, os cidadãos irão passar a pagar 650 euros, mais impostos, no caso de compra de casa com recurso ao crédito – menos 31 por cento do que actualmente. O preço ainda desce mais, até aos 450 euros, mais impostos, se a compra da casa se fizer recorrendo a uma conta Poupança-Habitação. Caso a aquisição for feita com conta Poupança-Habitação, o valor desce ainda mais, até aos 230 euros, mais impostos. Sem recurso a crédito, os encargos actuais são, em média, de 557,18 euros.
GOVERNO "EMPOBRECEU OS PORTUGUESES"
O CDS-PP e o PCP desafiaram o Governo a tomar uma posição que atenue o efeito da subida das taxas de juro, quer pela via fiscal quer através da presidência da União Europeia. O apelo surgiu no âmbito de uma interpelação do CDS ao Governo sobre a perda do poder de compra dos portugueses que ontem teve lugar no Parlamento. Em resposta, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, defendeu que é necessário esperar “pelo orçamento de Estado de 2008 para discutir questões orçamentais”. Na abertura da interpelação, Paulo Portas, acusou o Governo de “empobrecer os portugueses” e sustentou que, desde que o PS assumiu o executivo, o poder de compra dos portugueses “teve a maior baixa desde 1984”. Entre os factos que contribuíram para esta quebra, Portas sublinhou a diminuição da poupança e a quebra do consumo privado. Seguiram-lhe o exemplo os restantes partidos, nomeadamente a deputada do BE, Helena Pinto, que lembrou que “21 por cento da população vive abaixo do limiar da pobreza”. Santos Silva reagiu: “Hoje, como ontem, pedem-se sacrifícios. Mas quando a direita governou, os sacrifícios foram em vão, hoje tem sentido porque estão a ser resolvidos os problemas do País”.
APONTAMENTOS SUBIDA
O BCE – Banco Central Europeu – subiu ontem a principal taxa de juro da Eurolândia para quatro por cento. Os analistas contactados pelo nosso jornal prevêem que a referida chegue aos 4,5 por cento até ao fim do ano.
EURIBOR
Em Janeiro de 2004, a Euribor a seis meses estava em 2,25 por cento. Subiu 89,5 por cento até ontem, dia em que a referida taxa se fixou em 4,264 por cento, novo máximo desde Agosto de 2001.
RENEGOCIAR
Os que têm contratos de crédito à habitação devem renegociá-los, segundo a DECO, ou optar pela taxa de juro fixa durante cinco anos. (...)
in Correio da Manhã 2007.06.07
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