A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, junho 06, 2007



Convento do Espinheiro

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Praça Luís de Camões, depois «Praça Vermelha» por nela se situar a sede do PCP
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Praça do Mercado


Templo Romano




Évora vista do Jardim de Diana, sob a muralha romana




Praça Luís de Camões, depois Praça Vermelha por nela se situar a sede do PCP
Para cá, à esquerda, ficava o Café Portugal



Évoraburgomedieval, no antigamente

* Victor Nogueira

A vida quotidiana

Évora é uma terça-mercado numa praça.
numa praça em terça-mercado um café.
de um café em praça numa terça-mercado.
de agrários cinzentos..
como cepos sem vida.
(...) Évora é uma ilha.
ilha em pedra e cal.
de ruas estreitas e tortuosas.
das miúdas em bandos cerrados.
(...).
Em Évora há colunas pântanos lamaçais.
relógios parados ponteiros partidos.
pesos sombrios de âncoras em cadeia.
de casebres refulgindo.
em dias fechados.
de ferro e cinzento.
Évora.
é.
uma.
escarpa.
agreste.
com.
lábios.
cerrados.
em
poço.
sem.
fundo.
(...) (POE)

1969

Ao fim duns vinte minutos foi a chegada a Évora. Após alguns infrutíferos telefonemas feitos dum barzeco existente junto à estação, consegui arranjar um quarto na Pensão Eborense. Começara pelas pensões de 2ª classe e estava a ver que terminava no hotel de luxo. Mas Deus Nosso Senhor teve pena da minha bolsa! Entretanto os táxis tinham debandado. Sabendo que a pensão ficava a cerca de 1 km e porque a noite estava amena, pus o saco da TAP a tiracolo e pés a caminho. (...)

O Largo do Marquês de Marialva, onde fica o Instituto ([1]) Tendo a Sé à minha direita, este fica defronte, e o Templo de Diana num outro largo, mais à direita. De resto o ISESE dá para os dois largos. O edifício está caiado de branco, como aliás a maioria das casas de Évora. Tem três pisos. Outrora foi o Palácio da Inquisição; através dum largo portão entramos para um espaçoso e fresco átrio. À direita, uma porta que dá para a secretaria, onde me matriculei no curso de sociologia, e uma outra, que dá para o quintal. À esquerda, outras portas, uma das quais dá para a biblioteca. Dela passa‑se para uma saleta e desta para um corredor, ao longo do qual ficam as celas onde outrora colocavam os condenados ou suspeitos. São quatro ou cinco salas estreitas, altas, com uma ligeira fresta gradeada ao cimo. Disse‑me uma colega minha que proibiram a entrada dos curiosos aqui aquando das obras de restauração, pois as paredes estavam [ainda] cheias de sangue. Agora albergam os livros da biblioteca, cerca de 7 000, segundo o contínuo [senhor Veladas] que me serviu de cicerone. Estive mesmo para perguntar onde fora a sala de torturas de então.

Por uma larga escadaria sobe‑se aos outros dois pisos, onde estão instaladas as salas de aulas, uma para cada ano e curso (assim não terei de correr de sala para sala, subindo e descendo escadas tortuosas e percorrendo estreitos e congestionados corredores, como sucedia no ISCEF ([2]). Para além destas, a sala de convívio, a sala de estar das alunas (muito pobrezinha) e o Gabinete da Direcção da Associação dos Estudantes. O edifício é fresco no verão e frio no inverno, óbice que é desfeito com os aquecedores. As salas são amplas e arejadas. (NSF - 1968.09.09)

Está a custar-me um pouco abandonar a Lisboa e a sua luminosidade e trocá‑la por um provinciano burgo, mesmo que seja a cidade‑museu. (...) Évora é uma cidade pacata, de ruas estreitas e tortuosas, casas caiadas de branco, piso incomodamente calcetado, nada de cosmopolitismo. O edifício do Instituto, que foi Palácio da Inquisição, é amplo e arejado. Gostei dele. (AH - 1968.09.30)

Escrevo sob a luz dos holofotes que iluminam a Praça do Giraldo, o Rossio cá do burgo, escrevo apoiado no parapeito duma fonte aqui existente. ([3]) (NSF - 1968.10.25)

Hospedei‑me numa pensão (Pensão Restaurante "Os Manuéis"), a dois passos da Praça do Giraldo. O edifício foi construído com essa finalidade, o quarto é bom, o mobiliário obedece a um único estilo - rústico, ao contrário do bric‑à‑brac doutras pensões por onde tenho andado, como a Distinta ou as Zitas [em Lisboa]. A comida, dois pratos, é variada, à lista e abundante. A diária oficial é de 88$00 (safa!) É uma hipótese não a considerar, já que a mensalidade (com banhos e tratamentos de roupa) atingiria os 2 000$00. As casas particulares são mais em conta. (NSF - 1968.10.27)

O edifício da foto foi da Universidade de Évora (onde funcionava nesta altura o Liceu], criada em meados do século XVI, apesar da oposição de Coimbra, e extinto pelo Marquês de Pombal no século XVIII (NSF - 1968.11.04)

Imaginem uma ilha de pedra escura ou casas irritantemente brancas no meio de uma infindável planície. Imaginem umas muralhas que encerrem umas relíquias sagradas, mais intocáveis que os "intocáveis". Imaginem umas igrejas velhas, escuras, uma delas cheia de tíbias e caveiras e dois esqueletos pendurados na parede [Igreja de S. Francisco]. E a encorajadora frase "Homem, lembra‑te que és pó e em pó te hás‑de tornar". Uma janela manuelina, num canto, num dos muitos cantos escusos, e que foi do Garcia de Resende. Um templo romano, vulgarmente denominado de Diana. ([4]) Muralhas medievais e seicentistas. ([5]) Um aqueduto ([6]) ou o que dele resta. E casas, muitas casas, dolorosamente caiadas de branco, um branco frequentemente maculado por umas escuras pedras graníticas, restos duma janela, duma porta, duma parede, duma muralha... E ruas estreitas e tortuosas, onde passam pessoas e carros. Évora, ei‑la, cidade sem presente nem futuro, com passado, um passado que se pretende preservar a todo o custo. Aqui, se não fossem os automóveis e as antenas de televisão, poder‑se‑ia dizer que o tempo parou. Algumas décadas ou mesmo séculos atrás.

Que mais tem ela? Meia dúzia de jardins. As melhores piscinas da Península. Um "Salão Central Eborense". Que dá sessões cinematográficas diariamente (à 6ª feira o filme é português) Um teatro (o Garcia de Resende) que em dois meses abriu para apresentar um concerto, uma peça de teatro ("D. Quixote", pelo Teatro Experimental de Cascais) e uma ópera ("Rigoletto", pela Companhia do Trindade). Um espectáculo de cada.

Cinema, café, Praça do Giraldo, casas e pouco mais. O que há para fazer. As perspectivas para as miúdas são mais negras. (JCF - 1968.12.26)

Manhã clara, cheia de sol. Um céu azul, sujo de fiapos brancos - nem por isso menos belo. Telhados cor de tijolo. Com ervas verdes, pequenas florestas correndo ao longo de profundos vales ou galgando montanhas. Paredes brancas, sujas. Sólidas chaminés, umas aninhadas junto às paredes (buscando nelas protecção ou protegendo‑as?), outras erguendo‑se altaneiras, por cima dos telhados e das casas, mas pesadas demais para juntarem a sua alvura suja aos fiapos azul‑claro que juncam o céu. (NSM - 1969.01.01)

Évora, uma ilha de pedra e cal branca no meio duma planície sem fim. Na foto nota-se o flagrante contraste entre a aridez dum lado e as verdejantes quintas. A Sé, com as suas três torres, um aqueduto, restos das muralhas, mais uns graníticos e frios e escuros e antigos e sagrados montes de pedra contrastam com a alvura dos edifícios. Assinalo com uma seta, ao lado do Templo de Diana e perto da Sé, o edifício do Instituto. (NSF - 1969.01.20)

Andei a deambular pelas ruas de Évora armado em explorador. Cruzes em esquinas assinalam o local onde foi assassinado, largos anos atrás, um homem qualquer, ruas desertas, miúdos, roupa estendida nas janelas, um gatito que roça nas minhas botas, o miúdo que me pede dinheiro, já não sei para quê. Por fim o regresso ao Giraldo. Rumo ao Mercado, onde se vendem animais embalsamados, artigos de barro, caça, peixe, brinquedos... esses brinquedos de lata ou de madeira que eu reconheci como já tendo sido meus numa longínqua infância que já não reconheço como minha. Seguiu‑se a habitual passagem pelo Jardim Público. Onde está uma oliveira com uma lápide que reza assim: "Oliveira plantada em 14 de Julho de 1919 comemorando a Paz Universal após a Guerra dos Povos Aliados contra a Alemanha" (NSM - 1969.01.26)

Ontem o Marcello (desde há dois meses) ([7]) teve mais uma das suas conversas em família, ao serão. (...) Nunca imaginara um Chefe do Governo tendo conversinhas "divulgadoras". Para a prole. A minha opinião? Palavras leva‑as o vento, quer sopre de Oeste, quer do milenário Oriente. Venham as obras, os factos. Venham eles. Porque só depois é que... nem só de pão vive o homem. E ontem houve muitas e vagas palavras. Por muito sensatas e oportunas que tivessem sido!

Mas também houve progressos. Da primeira vez perdia‑se no meio dum enorme espaldar dum intimidante cadeirão, nada "familiarizante". Desta feita não; num ambiente de sala de estar, confortavelmente instalado numa poltrona, de perna cruzada, com um sorriso vagamente cansado, em tom benevolente, falou. (NSM - 1969.02.11)

Nós por cá vamos andando, numa terra onde as pedras são venerandas, mas nem por todos veneradas. Évora, ilha de pedra e cal perdida no meio da imensa planura alentejana, de ruas estreitas e tortuosas onde o tempo parou algures no passado. Da Praça do Giraldo, cujas arcadas e paredes bordejantes há muito teriam caído se não fossem os beneméritos que continuamente se revezam a sustentá‑las, falando tudo de nada. Das meninas de longos cabelos e brancas batas, umas feias, outras bonitas, que passam aos magotes, de livros debaixo do braço. Dos rapazes de castanhos e compridos capotes. Dos da Escola Agrícola, que fazem gala em andarem rudemente mal vestidos, de caqui azul. Do Salão Central, que dá sessões cinematográficas diárias (6.as feiras: filme português). Do Teatro Garcia de Resende, que abre de longe em longe! Onde a malta se aborrece por nada ter de fazer, onde tanto há que fazer.(...)

Os jesuítas desiludiram‑me. Maus pedagogos, agarrados a métodos de ensino ultrapassados, falando "ex‑cathedra", excessivamente cautelosos, para não empregar um termo mais contundente, desaproveitando as condições para a criação duma escola realmente Nova. (ASV - 1969.02.20)

Que tenho feito? Andado por aí. Ir ao Instituto ouvir uns tipos a vomitarem sabedoria, uns, ignorância, outros, presunção, alguns. Vender folhas atrás do balcão da Associação de Estudantes. Ir bissemanalmente às piscinas [cobertas] nadar. Ouvir música, de rádio, pois o gira‑discos avariou‑se. Andar por aí. Ler. Aborrecer‑me. Desesperar‑me. Angustiar‑me. Mas,... que interessa isto?! Respiro, como, ando. Estou vivo! O resto, hum! o resto são cantigas. (MLF - 1969.02.23)

Enviei‑vos há dias um telegrama, horas depois do violento abalo sísmico que se fez sentir em Évora e em todo o país. Muita gente, especialmente as miúdas, anda desde então com os nervos em frangalhos. O eles terem‑se repetido nestes últimos dias, embora com uma intensidade muito menor - nem sequer os sinto pois durmo beatificamente a essa hora - muito deve contribuir para isso.

Estava eu muito bem a dormir, quando dei por mim num estado de semi‑sonolência. Pensei: "Isto é um camião". Não sei porquê senti que não podia ser, acendi o candeeiro da mesa de cabeceira e levantei‑me! A luz apagou‑se, o chão vibrava assustadoramente e eu pensei "Esta merda (do chão) vai abaixo e eu atrás". Pensei em pôr‑me junto da parede, para o caso do tecto ruir, mas o problema do chão persistia. Assim optei por pôr‑me junto à janela - talvez influências subconscientes dos quadros existentes no Castelo de S. Jorge, em Lisboa, mostrando aspectos daquela cidade após o terramoto de 1755. Tudo isto foi feito instantaneamente. Foram 60 segundos intermináveis, angustiosos (tive a nítida sensação de impotência perante algo contra o qual nada poderia fazer senão aguardar, aguardar). Como se sentirão os condenados à morte quando na câmara de gás, ouvindo o PLOFF das cápsulas?! Bem, calcei as pantufas, enfiei o roupão e desci ao piso inferior. Todos se encontravam bem. Lá estivemos todos na sala de jantar. Os ressuscitados. Bem, liguei o rádio, nesse momento o Rádio Clube Português retomava as emissões - eram 4 h 30 m - e às cinco, num segundo noticiário, tivemos conhecimento da extensão do sinistro. Partindo do princípio que a coisa se não repetiria, enfiei‑me debaixo dos lençóis e acordei às 6 horas com o estridente tocar da campainha do telefone. Desci as escadas a correr: era o maninho duma das miúdas a saber notícias. (NSF - 1969.03.05)

Encontro-me no vozear barulhento do Arcada, onde a porta gira continuamente. "Adeus oh escriturário!" As primeiras e únicas palavras que alguém me dirige, além do "obrigado" do criado, perdão, do empregado, quando lhe paguei o garoto claro e lhe dei cinco tostões [1969]. Mas as palavras do Morte passaram como a chuva escorrendo pela minha gabardina branco sujo, como o [António] Campos, que diz poesia muito bem e que esteve em Luanda. A cadeira defronte a mim continua vazia, apenas ocupada com o "chamberlain" [guarda-chuva] e a gabardina. ([8]) (POE - 1969.03.16)

Estou saturado de Évora: casa, instituto, café Giraldo, casa, instituto, café Giraldo, casa, instituto, café Giraldo... Sempre as mesmas caras, sempre as mesmas conversas, sempre a mesma água gotejando sobre mim (...) (NSM - 1969 - Páscoa)

Desta janela [da sala de aulas do Instituto em que me encontro] avistam‑se telhados sujos, uma chaminé esbranquiçada e, lá ao fundo, muito ao longe, a verde campina alentejana, onde se destacam algumas manchas mais escuras, de oliveiras ou sobreiros. Pela outra janela, à minha esquerda, vêm-se as paredes brancas do edifício do Museu Regional, com as suas sacadas de ferro forjado. Há umas semanas atrás era a moldura dum dos quadros mais belos que tenho visto: os ramos das árvores do largo [Marquês de Marialva], agora descarnados, estavam cobertos de folhagem dourada. Quantas vezes, ao entrar para esta sala, os meus olhos se deliciaram neles. (NSM - 1969.04.09)

Aproveito a frescura da noite, que entra pela janela entreaberta, para escrever. Daqui a cerca de uma hora irei até ao Largo da Sé, em cujas escadarias se fará uma récita, integrada nas Festas dos Finalistas do ISESE, que têm brilhado pela falta de brilho e pela improvisação. Ontem estive a fazer o serviço de bar durante o torneio de tiro aos pratos, organizada por aqueles. Uma experiência nova, que me fez sair de lá com a cabeça aguada, perguntando‑me qual a piada que a fina‑flor da "nobreza" cá do Alentejo encontra no "pratopumpumzero" (Alguns lá conseguiam acertar mesmo). (...) A cidade mais bela do mundo tornar‑se‑à insuportável, muitas vezes, para os desenraizados. (NSM - 1969.05.22)

Manhã de um segundo dia de férias, véspera do começo de exames. Os dias de sol alternam com os de chuva fria. Hoje o céu está azul, quase limpo; andorinhas volteiam pelos ares, o branco das casas fere impiedosamente o olhar, os jardins (Ah! a única coisa aproveitável nesta vilória!) multicoloram‑se de flores e as árvores enverdecem. Mas no telhado e junto à minha janela, o musgo secou, deixando apenas manchas escuras. A erva que corria por entre as telhas está castanha e coberta de mini‑flores brancas. Já não parecem árvores correndo por entre vales e galgando montanhas. (NSM - 1969.06.03)

Dentro de momentos a Praça do Giraldo será cenário duma manifestação [do 10 de Junho] que pretendem grandiosa e durante a qual se enaltecerá essa gloriosa e alegremente sacrificada juventude portuguesa que em terras de África defende a herança dos seus avoengos, numa guerra santa sobre cujos fundamentos se não admitem dúvidas. Entretanto a Universidade de Coimbra está em greve desde há largas semanas, greve de que os jornais não falam, a não ser publicando os diversos e por vezes incoerentes e inverosímeis comunicados das autoridades académicas. A música continua a ser monoral. (...) Está uma manhã cheia de sol, contrastando com o pluvioso e cinzento dia de ontem. Pela janela aberta chegam‑me aos ouvidos o chilrear dos pássaros e os discursos transmitidos pelos autofalantes, na cerimónia que se realiza a dois passos daqui, entrecortados por salvas de palmas. (NSF - 1969.06.10)

Finalmente e já não era sem tempo, parece ter chegado o verão. Embora não esteja calor, o céu está azul, com alvos flocos de núvens aqui e além. As piscinas, uma das coisas boas que esta terreola possui, serão uma tentação na época de exames que atravessamos. (...) Dentro de cinco dias abre a Feira de S. João, ao que sei muito apreciada pelo povo de Évora. A tal ponto que o cinemazeco cá do burgo aproveita os quinze dias para férias do pessoal. ([9]) (MLF - 1969.06.17)

O verão chegou finalmente, envolvendo a cidade num bafo quente e opressivo (NSF - 1969.06.28)

1970

Os dias estão maravilhosos e cheios de sol. As andorinhas enchem a Praça do Giraldo com os seus chilreios. (NSF - 1970.02.23)

Temos [no Instituto] uma boa biblioteca, embora mais para servir os professores que os alunos - a leitura domiciliária é quase proibida - que está fechada à noite. ( NSF - 1970.03.21)

De Évora para Lisboa pode ir‑se por estrada e por caminho de ferro. De camioneta ou de automotora, o tempo gasto no percurso é sensivelmente o mesmo: umas 3 h 30 m. A camioneta, embora mais enfadonha, é mais barata. A empresa [João Cândido Belo] concede cartões de estudante que permitem obter 50 % de desconto entre a localidade de residência e a de estudo e vice‑versa, no meu caso entre Lisboa e Évora. O comboio em 1ª classe fica à volta de 70 a 80$00 e a camioneta, com desconto, 20 a 30$00. (NSF. 1970.05.17)

O calor chegou. E no Verão Évora é mais insuportável. Daqui a pouco talvez vá até ao Arcada meter uns líquidos. É quase meia noite. Anteontem estive em Lisboa. (...) Já estou desabituado daquele bulício e das longas distâncias. Aqui está tudo ao alcance da mão. Tive de fechar a janela, pois o quarto foi invadido por umas mosquitas incómodas. Música pop ouve‑se no gira‑discos. (NSF - 1970.05.23)

Amanhã abre a Feira de Évora. Já não era sem tempo que algo surgisse para quebrar a chatice desta terra, onde até o cinema fechou desde há uns dias para férias do pessoal (NSF - 1970.06.22)

Isto por cá não anda muito bom. As greves sucedem‑se diariamente - só por portas travessas se sabe - e as deserções do exército, nomeadamente dos oficiais milicianos, continuam a verificar‑se. Entretanto o problema do Ultramar continua a ser explorado emocionalmente, com completo desrespeito pelos interesses do povo português. A emigração aumenta. A nau mete água por muitos rombos. (NSF - 1970.07.18)

1971


O ar abafado, a vozearia imperceptível, mas não inaudível, enchem o café Arcada, para onde vim estudar (...) É um domingo indefinido, um começo de tarde. (...) O café está cheio, na sua grande maioria homens na casa dos quarenta, que cavaqueiam. Logo, a meio da tarde, a clientela será diferente: os homens trarão as esposas e a prole. Nos outros dias apenas as [mulheres] mais "evoluídas" aqui virão. Mas são já muitas mais do que antigamente, se a memória me não atraiçoa. (...) Olho à minha volta e vejo malta conhecida: além, o Morte que me acena, como o Calisto, que há muito não via. O namorado da Gabriela discute acaloradamente e o senhor D. Alexandre de Lencastre conversa com dois amigos (sê‑lo‑ão?), que falam também com a cabeça e as mãos. Aqui, à minha esquerda, está o velhote pequenitates que anda à Charlot; costuma pôr uma flor no copo de água que normalmente acompanha a bica, fala em verso - os dois últimos primam quase sempre pela falta de rima e métrica - e oferece moedas da sua colecção às personalidades importantes que passam por Évora e às caras bonitas. Fala com toda a gente e não sei se falará com alguém. Quando regressei de Luanda reparou que eu tinha rapado a barba... largos meses depois do acto solene que me tornou irreconhecível ao espelho, provocando‑me, durante alguns dias, ataques de hilariedade frente àquela face rejuvenescida e francamente risonha, sem o sorriso voltaireano que dizem ser o meu - irónico e trocista - de que muitas vezes me apercebo mas não contenho, mesmo nos momentos mais solenes e sérios, de gravidade de circunstância. (...) ([10])

O ar está [agora] pesado; olho à minha volta e há clareiras na humanidade que me cercava. O relógio, sobre a mesa, diz-me faltarem quinze para a uma. Horas de ir até lá fora, apanhar um pouco de ar antes de regressar a casa para o almoço (NSF - 1971.01.31)

Inaugurei hoje a minha época de piscinas. O tempo está quente e a água, embora fria, é agradável. (1971.06.17 - ?)

Quanto à correspondência violada [pela PIDE], por razões que desconheço, só seguiam recortes de jornais relatando o que se tem passado na Assembleia Nacional.(...) Daqui para o futuro acompanharão os recortes uma lista detalhada dos mesmos e irão lacrados. Farto de malandros ando eu. (NSF - 1971.06.30)

Hoje, em Évoraburgomedieval é terça‑feira e, para além dos turistas habituais, a Praça do Giraldo e o Café Arcada encontram‑se cheios de forasteiros, solidamente especados, indiferentes a quem passa e no estorvo provocado. É dia de S. Porco, i.e., dia de mercado, em que os homens vêm à cidade para o negócio do gado, enfiados nos seus fatos escuros, de mau corte, botas enlameadas e chapéu na cabeça. Detesto a sua falta de maneiras, embora por vezes seja uma distracção observar as suas atitudes. O mais interessante neles é o modo como se escarrancham nas cadeiras, à mesa do café, solidamente instalados, o chapéu na cabeça atirado para trás.

Mas para além deles e quotidianamente há outras figuras curiosas no café, figuras de todos os dias nas mesmas posições. Todo um mundo parado, parecendo indiferente à passagem do tempo.

(...) Verdadeiramente Évora é uma cidade morta, a que o começo das aulas dá um certo movimento que se transformará na monotonia do café, casa, instituto, com o cinema (estreias diárias) e as mesmas caras e os mesmos rostos. (MAF - 1971.10.09)

1972

Estou no café, no "velho", barulhento e de ar viciado que é o Arcada. Deixei os jornais em cima de uma mesa, para marcar o lugar, enquanto ia à tabacaria comprar uma folha de papel. (...) Ao regressar encontrei um moço a folheá‑los muito descontraidamente. Devia ser dos Regentes Agrícolas. Que ficou algo atrapalhado e balbuciou pensando serem do café. Que não acabou de lê‑los, apesar da minha cordialidade. Enquanto escrevo vou bebendo o galão e comendo a sanduíche de fiambre, acto quotidiano das 17 horas. Na sala meio‑cheia umas pessoas conversam, outras lêm os jornais da tarde, alguns estudam, uns olham simplesmente para coisa nenhuma, embrenhados sabe‑se lá em que pensamentos. Reconheço alguns, poucos, companheiros indiferentes, quase móveis da casa. Dos outros, é de assinalar o seu mau gosto no vestir, fatos escuros, a boina ou o chapéu de abas viradas para os olhos. Conversam com a cabeça apoiada na mão, uns sorridentes, outros de rosto grave, testas enrugadas. Por vezes recostam‑se para trás nas cadeiras, outras juntam as cabeças, convergindo para o centro da mesa, quais conspiradores.

Olho à minha volta e o café está [continua] meio cheio. O João Luís [Garcia] chegou e começou a ler o jornal. Daqui a pouco chegarão o Camilo e o Carlos, que virão do exame. Domingo Évora será um deserto, estupidificante. Eis que assomam à porta do café o Chico Garcia e o Manel. Ficaram‑se pelo balcão da pastelaria. Entretanto entra também o Álvaro Lapa, que é pintor, e corresponde cordialmente ao meu largo aceno. Entretanto o João Luís protesta porque não consegue ler o jornal; a mesa está desengonçada e tremeliques. (MCG - 1972.03.18)

Café Portugal - dia de S. Pedro: uma pequena pausa na leitura contrariada do cooperativismo agrícola, capítulo da Sociologia Rural, parte ínfima da matéria de Sociologia II... Estou envolto no vozear barulhento neste fim de tarde, o ruído contínuo da máquina de café e da louça na cozinha, o barulho dos carros ali na rua. Seguramente um contraste com a Salvada, silenciosa nos seus ruídos campesinos, que o Pe. [Augusto] Silva tão literariamente descreve na sebenta, a propósito do meio físico rural: "O citadino que chega ao campo é ordinariamente surpreendido pelo silêncio que aí reina ou pelos ruídos novos que ouve (rumorejar das folhas, os gritos dos animais, o canto das aves, etc.) Tem a impressão de respirar mais à vontade ou, ao contrário, de ser surpreendido pelo vento, crestado pelo ardor do sol." Enfim, o rapaz Silva saiu‑me um "poeta".

Esqueceu‑se foi de falar no maravilhoso céu estrelado [que vi em Beringel, estirado no terraço duma casa que foi do Marquês de Minas] (..) [Entretanto] o ruído diminuiu, sinal de que se aproxima a hora de jantar.(MCG - 1972.06.30)

Em Évora, novamente no café [Arcada], uma das três dominantes da minha vida neste burgo perdido na imensa planície alentejana. Na mesa quadrada de tampo encarnado, o habitual café com leite, o copo de água, os óculos, o envelope e as folhas, meios de estar com os outros. O mesmo ar quente e abafado, o ruído em surdina, a floresta de gente - forasteiros ? - em torno de mim. Naquela mesa as únicas caras conhecidas: o Dinis e o Cachatra ([11]), que esta tarde tem procurado impingir um dos seus quadros, aquele mesmo que tem agora sobre a mesa. Cheguei de Beringel há umas cinco horas. (MCG - 1972.07.05)

O café é um mar de gente barulhentamente conversadora. As ventoinhas giram mas nem por isso o ar está mais fresco. Évora civiliza‑se: conto cerca de dezoito elementos do sexo feminino aqui no Arcada (minha pátria em terras alentejanas). O mundo caminha para a perdição, diriam os "moralistas" de porta para fora! (MCG - 1972.07.24)

Aqui, espalhados pela mesa, vários recortes de jornais, a maioria deles da Isabel da Nóbrega, que já conheço desde há seis anos pelos artigos que tem publicado no "Diário de Lisboa" e na "Vida Mundial". Actualmente já nem sempre aprecio tanto os seus artigos como outrora: porque ela teria mudado a sua maneira de escrever? Ou eu a minha maneira de ser? Vi‑a apenas uma vez (em Évora) há dois anos, num colóquio sobre poesia ( o Ary dos Santos - conhecido pelas letras da "Desfolhada" e de "Menina" - declamou - e bem - poemas seus )

A esse colóquio o Ary chegou muito atrasado e já "entornado" e com uma garrafa de brandy com que ia molhando as goelas ao longo da sessão. Quem costuma andar lá pelas reuniões em Évora, como eu, conhece um certo número de autodidactas, o mais enfadonho dos quais é um tipo de bigode e óculos. Pois esses autodidactas - numa atitude compreensível mas inaceitável - aproveitam estas "manifestações " culturais para botar faladura a propósito e - sobretudo - a despropósito. De modo que para o fim aquilo começou a aquecer - o Ary dos Santos, bêbado, a falar contra a situação, em português vernáculo (e o Presidente da Direcção da Sociedade Operária de Cultura e Recreio Joaquim António de Aguiar muito aflito, por causa da PIDE e dos castos ouvidos das senhoras presentes) os autodidactas discutindo com a assembleia e a mesa, o Victor Ângelo e outros alimentando a discussão (dessa vez não abri o bico, pois por mim falava o... Ângelo).

O José Saramago e a Isabel da Nóbrega procuravam, em vão, acalmar os ânimos. Apaixonei‑me pelo rosto da Isabel. Se a vissem, aqueles olhos grandes, as suas mãos, a atenção e o cuidado para não ferir os autodidactas - vaiados pela assistência! Estou a vê‑la sentada, aflita à procura da palavra e do gesto, falando às pessoas, voltada para elas, aflita por não poder falar com os dois campos simultaneamente, um grande respeito pelas pessoas! Entrevi‑a depois à saída e fiquei algo desiludido: o seu corpo não me pareceu corresponder à nobreza do seu espírito. Pouco sei dela: que tem escrito alguns romances, que terá dois filhos da minha idade.(MCG - 1972.09.02)

O Arcada é um mar de gente em burburinho, uns lendo, outros comendo, outros escrevendo ou preenchendo sonhos de Totobola, outros conversando com a língua e os dentes e os lábios e as mãos quando não com o corpo inteiro. Do outro lado, além à minha esquerda, um homem está sentado tirando dum saco de plástico algo cujo conteúdo lhe enche as mãos: talvez moedas. Insólito, a seus pés, uma enorme e brilhante bacia de cobre amarelado. O homem levanta‑se - tem uma pasta de cabedal quase do seu tamanho - pega na bacia e encaminha‑se para a porta, por onde entra e sai muita gente, com ar lento e vagaroso de quem nada tem para fazer.

Lembro‑me de há quatro anos - ou mesmo há dois - e há muito mais mulheres e raparigas - algumas bem giras por estas mesas. Évora "civiliza‑se". Só a minha hospedeira continua com as suas concepções retrógradas de outros tempos e outras eras, que continuam [no fundo] a ser as de Évora. À minha direita dois velhotes conversam: um deles conta qualquer episódio relacionado com a sua estadia na Grande Guerra de 14/18. Olho à minha volta e o café está mais vazio; não encontro o Camilo, que pela segunda vez passou há pouco além no corredor central. Deve estar em dia não. Mais velhotes sentam‑se ao lado da minha, iniciando amena cavaqueira. Agora reparo que esta é a mesa deles. Adeus, estudo. Um deles diz que os gajos da situação são os que mais maldizem o Marcelo [Caetano] e os que mais o homenageiam. (MCG - 1972.09.28)

Enfim, interessante como a camaradagem se transformou em divergência, cansaço e desencanto. Talvez porque tal camaradagem era dos tempos livres e não do estudo. Neste Instituto o estudo conduz ao individualismo. Lembro‑me dos montes de malta que se reunia ali no Palácio de Vidro, defronte ao Nazareth [livraria], ao fim da tarde e após o jantar, no tempo fresco do Outono. Ou as reuniões no Arcada, quando foi tempo do frio e da chuva, amontoados ao redor duma mesa. Mas parece‑me que nem Évora nem o Instituto propiciam a camaradagem e a solidariedade. (MCG - 1972.10.04)

Ontem um bêbado abordou‑me quando via os livros na montra da Livraria dos Salesianos. ([12]) Queria saber qual era a melhor história que ali estava. Ou a maior ? A de todo o mundo! De todos os tempos. Que todos aqueles livros eram mentiras. Para as pessoas comprarem pensando serem verdades. Era a máquina! Se eu acreditava que o homem tinha ido à Lua, se eu vira com os meus olhos. Que os jornais e os livros só diziam mentiras. Que nenhum homem pudera ter ido à Lua porque ele não vira. E que eu tinha sido enganado pelos jornais. Era mentira, talvez tivessem ido, mas tinham morrido todos. Que isso dos submarinos andarem debaixo de água era diferente: era a Terra. Quanto pagaria eu para ele me contar uma história daquelas, vinda do fundo do coração? (E vai daí, faz um gesto como que proveniente das profundezas do mesmo mas, ou pela bebedeira, ou lá porque fosse, o gesto iniciou-se baixo demais e não pude deixar de comentar com a minha habitual ironia: "O seu coração está baixo demais!". )

Quis saber o que eu fazia - se era escritor e já escrevera o meu livro - e não acreditava que eu vivesse do ar e do vento. Enfim, que se tivesse 25 anos como eu estava mas é em Lisboa, que isso sim! E lá se ia agitando desequilibradamente o velho (de 57 anos), num asilo, convidando‑me (ou convidando‑se) para um copo ali na taberna, beata ao canto da boca com um grande morrão e deitando perdigotos como nuvem rota em dia de inverno. Mas nem queiram saber a insistência com que ele duvidava da ida dos homens à Lua. (MCG - 1972.10.23)

Em Évora abriram novas instalações de pronto‑a‑vestir, perto do Teatro [Garcia de Resende] - 4 pisos. Junto à Livraria dos Salesianos abriu uma loja de electrodomésticos. Évora moderniza a sua fachada. Já não era sem tempo. (MCG - 1972.11.28)

Passei pelo café, que estava vazio de quem me interessasse. Apenas a Lídia, o Tobias e o Luís, muito entusiasmados porque em Évora "rebentara um golpe de estado" (!) O Tobias teria visto um movimento desusado e aparatoso de polícias com capacetes de aço e metralhadoras aperreadas nas imediações do Governo Civil. Para lá seguiu o grupo, mas sem mim, pois tenho mais que fazer. Amanhã lerei os jornais e logo saberei.
Évora moderniza‑se. Este ano o Giraldo terá iluminações natalícias. Vamos ver se as colocam antes de eu abalar ou não as retiram antes do meu regresso. (MCG - 1972.12.15)

1973

Tac tac - tac tac - tac tac, cá vou eu a caminho de [Évora] num comboio ronceiro que espero chegue à tabela. Ao chegar, às 21:30, a falta de táxis e o excesso de "chegantes" fizeram com que o Régua e eu pegássemos nos respectivos sacos e mochilas rumo, um ao fim da Rua dos Mercadores, outro ao princípio da do Raimundo. Embora os sacos não fossem pesados, são incómodos de transportar, pelo que a meio do caminho eu protestava contra as minhas brilhantes ideias e murmurasse para com os meus botões acerca da minha fartura de mim e da muita paciência que eu tenho para aturar‑me. (MCG - 1973.01.04)

A sala de espera deste consultório médico é bastante desolada. É ao entardecer, as luzes estão ainda apagadas e a pintura azul das paredes não aquece o frio que paira no ar. (...) Olho pela janela, que dá para uns pátios com aspecto medieval, mas interessante: laranjeiras, muros e paredes escurecidos pela queda da cal e da chuva, janelas pequeninas e muita roupa estendida a secar - lençóis, camisolas, camisas, calças e o mais que é. Mais adiante a torre [das cinco quinas] que fica na esquina da Rua da Alcarcova de Cima (traseiras do Arcada) e a Rua Nova. A empregada veio acender a luz e dos clientes que estavam à espera só resto eu. Foi mais rápido do que eu supunha.(MCG - 1973.01.15)

A tarde de hoje tem estado verdadeiramente tempestuosa: vento ciclónico e chuva a cântaros. É um prazer andar pelas ruas com o vento a bater na cara e o cabelo revolto. Mas desde há uns largos momentos que me encontro no abrigo que é o café Portugal - hoje é 3ª feira e o Arcada está poluído e barulhento. O vidro da montra, defronte do qual me sentei, está embaciado, como se fosse nevoeiro, e as pessoas que passam, correndo ou vergadas sob os guarda‑chuvas abertos são sombras fantasmagóricas, como as luzes do outro lado da rua. Na mesa ao lado o Camilo escreve. Deve ser o 3º testamento, nesta tarde. (...)

Chegou agora o Guerreiro, mas vai lendo os vespertinos para se pôr em dia. Assisti ontem, como não podia deixar de ser, ao discurso do Marcelo Caetano sobre o Ultramar Português, na sequência dos incidentes verificados em Lisboa na Capela do Rato, após a atitude tomada por um grupo de católicos - chamados progressistas - sobre a paz - e as consequências da guerra colonial. (...) Pois o discurso do 1º Ministro foi atentamente escutado pela audiência ali do Café Alentejo - onde vejo o pouco que me interessa na TV. Escutado atentamente mas não reverentemente. Um discurso notável pela sua construção, pelo encadeamento (embora falacioso) das ideias e factos, pela sua poesia ("Que bom poder ser moralista...", faz-me lembrar um dos poemas dum dos heterónimos do Fernando Pessoa), pela deturpação dos factos e pela demagogia. Nem o tom nem o tema me surpreenderam. Parece um facto que o Governo Português procura uma solução política para o problema colonial. (MCG - 1973.01.16)

Vou até ao café lanchar e poluir um pouco os pulmões. (MCG - 1973.01.24)

Amanhã o Luís Carmelo inaugurará na sala de convívio do Instituto uma exposição de pintura, englobando dez quadros seus. Lá andava hoje afanosamente com o Pedro, arrumando‑os nos expositores, mostrando‑me, numa breve escapada que lá dei, a lista das altas individualidades a quem enviará convites. E eu sinto‑me constrangido e nada entusiasmado. É tão pobrezinha a exposição! E depois, as pessoas irão ou não. A sério ou a brincar, o Pe. Borges, s.j., entusiasmou‑o a fazer a exposição. Logo se verá o que dali resultará. (MCG -1973.01.30)

A exposição do Carmelo foi inaugurada hoje. Não estive lá, apenas ouvi uma grande musicada quando ao fim da tarde passei pelo Instituto, em missão de serviço. Disse‑me o Carlos que nenhum jesuíta foi à inauguração e que o pintor estava com um certo ar tímido. (MCG - 1973.01.31)

Hoje num intervalo fui ver a exposição do Carmelo. Não desgostei, embora a temática não seja muito variada. Por lá andava também o amigo Diogo, muito preocupado em saber o significado dos quadros e da lua que em todos aparecia. (MCG - 1973.02.01)

O sino de Santo Antão bate as 9 horas e a chuva bate nos vidros da janela como areia pisada. Tempo bom para a quentura da braseira ou... Mas espera! Assomo à janela e, bem me parecia. Cai granizo em cataratas! Vou dar uma volta, apanhar ar para refrescar - e daí não sei, o vento é violento - parece‑me. (MCG - 1973.02.14)

Quanto a mim, vou‑me embora p'rá reunião, com passagem pelo Café Arcada, cheio de fumo e parecendo que nem mar de gente quando estamos no cimo das escadas.. (MCG - 1973.03.14)

Olho para os meus colegas e reparo que os tipos de Lisboa ainda não estão de regresso. O filho - ou um dos filhos - do António Champalimaud - aluno do 1º ano, era um pratinho às 2.as feiras, atrás do Veladas, alto, gordo, de cabelo alourado encarapinhado, para este lhe tirar a falta. Uma cena perfeitamente risível. (MCG - 1973.04.02)

O dia hoje está maravilhoso e eu já me"averanei" no trajar. Évora está cheia de miúdas, magotes delas, de fora, novinhas, que enchem as ruas e o Arcada, onde consomem hectolitros de laranjadas e colas. (MCG - 1973.04.06)

E eu, que até já estava a habituar-me ao sossego dumas férias em Évora: levantar, uma volta pela cidade com passagem pelo 65, umas leituras de estudo, almoço, uma ida até à Nau [na parte nova da cidade], mais modernizada que o Arcada e parecendo uma cervejaria em Luanda, pelas casas, pelas ruas desafogadas, pelos rapazes e raparigas menos "cinzentos" que os de cá de cima, mais umas leituras e uns inquéritos - o cinema é que está mau porque não tem corrido nada de jeito. (MCG - (1973.04.12)

Lá fora a chuva miúdinha cai miúdinha, salvo uma ou outra pinga mais forte desprendendo‑se do beiral para o pátio. Está uma noite agradável. Algures ouve‑se talvez um rádio. Ou será das "misses" na TV? A malta do café foi especar‑se para ver as meninas desfilarem mostrando as suas plásticas e sorrisos e ademanes mais ou menos (des)elegantes. (MCG - 1973.04.30)

A Rua do Raimundo está linda. Da Rua do Lagar dos Dízimos para baixo arrancaram o calcetamento. Agora é só "covaria" e terra batida. Gosto mais assim. Palavra. Também andam para aí a deitar prédios abaixo que até chateia. Pena não os deitarem todos e plantarem árvores e relvado que não fosse proibido pisar. (MCG - 1973.06.03)

No Giraldo Square erguem-se bancadas e toldos, que vedavam ao trânsito automóvel a rua da Selaria (ou 5 de Outubro). O Giraldo é uma "bancadaria" para [comemorações d]o 10 de Junho, que este ano deve ser comemorado em grande, para compensar os desastres que se vão averbando na Guiné e no Norte de Moçambique. (...) Domingo próximo, em Portugal de lés‑a‑lés, viver‑se‑ão jornadas de fervor patriótico! (MCG - 1973.06.07)

O Arcada é um zum-zum de vozes e louça e máquinas e cadeiras atiradas. Na mesa ao lado o Camilo delicia-se com o "Ricardo III" do Shakespeare. De vez em quando comunica-me um ou outro dos diálogos da peça. Além, debaixo dos arcos, passam pessoas, algumas olhando cá para dentro quando de passagem. (MCG - 1973.06.08)

(...) Num ápice o Arcada enche‑se. Terminaram as condecorações, os toques de clarim e o desfilar das forças em parada. Já ontem se notavam muitos forasteiros que de longes terras vieram até ao povoado. Aqui à minha direita, muito ternos, uma moça conversa com o namorado e deixa entrever um grande pedaço da pele das costas, entre as calças e a blusa. Questões de posição! À esquerda, um marinheiro com familiares (?) exibe a sua condecoração de fresca data. Além o senhor Jaime abre e fecha os braços, como asas, enquanto vai dando lustro aos sapatos de um cliente. Passam empregados com as bandejas cheias de chávenas, copos e comes. O casalinho de namorados bebe chá com torradas. O mesmo que um casal já caminhando para a meia‑idade aqui à esquerda, na mesa ao lado. Ele já acabou de ler o Diário de Notícias (fraco gosto) e ela dá‑lhe uma torradinha. (...)

O marinheiro levanta‑se e parte. Afinal a bengala não é dele mas do amigo que o acompanha. O senhor Tenente e o senhor Coronel cumprimentam‑se, batem a pala e apertam as mãos, enquanto as respectivas esposas se beijam. Na carequinha do senhor Coronel o vinco na pele assinala a presença do boné, agora sobre a cadeira. Entram pessoas de luto e há cumprimentos de mesa a mesa. Precisava duma câmara de filmar. Sobre a minha mesa, "O Século" (sabe) que dentro de dias será descerrada em Luanda uma estátua ao Marcelo [Caetano]. Para além d'O Século a lapiseira, um livro ("A Sociedade de Consumo") e o porta‑moedas (agora é incómodo trazê‑lo no bolso). (...) O Jorge apareceu ontem pelo café, depois duma longa ausência. Mais velho, já não o miúdo que conhecemos, agora com os ombros curvados, mostrando-nos os calos do trabalho de servente de pedreiro. Gosto dele, mas não encontro nem os gestos nem as palavras que lho digam. ([13]) ( MCG - 1973.06.10)

Évora, à noite, ainda é comestível. Para mim, não é senão um monte de pedras, que anseio ver pelas costas para nunca mais. (MCG - 1973.06.12)

Isto, nesta terra, é o fim da macacada. Aqui há umas semanas, à hora do almoço, a Domingas foi com o Carlos [Nunes da Ponte] ao restaurante Fialho, onde o dr. Vasco Caetano nos marcara encontro para proceder ao pagamento dos inquéritos [de Arraiolos]. Pois o amigo Valentim foi diligentemente informado, por um tipo que até nem é das relações dele, que a "sua mais‑que‑tudo" tinha ido e vindo do Fialho... acompanhada! Deu‑se ao trabalho de segui‑los, para conveniente informação a quem de direito! Isto é o fim! (MCG - 1973.07.03)

Este barulho do café cansa‑me e dispersa‑me. Estou‑lhe demasiado sensível. O Portugal já tem esplanada no passeio, mas o Betinho, dono do Arcada, deve andar em compressão de despesas e o mar de gente daqui não se espraia pelo passeio. (...) Entretanto mudei de mesa, estou agora na de tampo azul. O Chico Garcia sentou‑se aqui, tomou uma limonada e agora aprecia o panorama em redor, enquanto assobia. (MCG - 1973.07.08)

Isto é que hoje foi um DIA!... Uma trovoada mesmo por cima da cidade: relâmpago, trovão e corte momentâneo e breve da electricidade eram simultâneos, iluminando e escurecendo o "Portugal". Então e os aguaceiros? Vá lá, que o céu está a descobrir. (MCG - 1973.07.10)

Greve dos Bancários em Évora? Nem cheiro dela! "Amanda‑se" cada "boca" ali naquelas mesas do café que é impressionante. (MCG - 1973.07.16)

30 foram as camionetas (fora os automóveis particulares) que de Évora se deslocaram a Lisboa para apoiar o Marcelo [Caetano]. Beja, Santarém, Leiria, Portalegre, enfim, milhares de tipos confluíram para a manifestação do entardecer [em Lisboa]. Pena não autorizarem as contra‑manifestações. (...) O Diogo diz que da Amareleja não terão ido pessoas à manifestação (salvo talvez os da Casa do Povo). Não porque sejam do reviralho, mas porque não se metem nestas coisas (viver não custa..). (MCG - 1973.07.19)

Chove. Está cinzento. A chuva faz barulho no pátio. Amanhã é 3ª feira, o meu dia negro, pois a cidade - e o café - enchem-se de alentejanos corpulentos, solidamente parados no meio do caminho, de chapéu na cabeça e fatos escuros, como se nada mais existisse no mundo senão as suas irritantes pessoas! Embora cheia de gente, a cidade, para mim, está despovoada. Quando não estou na minha torre (cela, como diz a D. Ilda) ando por aí, pelo café, pelas livrarias, pelo Instituto [ISESE], quase sempre (fingindo‑me ) muito atarefado. (NID - 1973 ?)

Cada dia que passa, deste últimos, aumenta o empestamento dos ares de Évora. É um cheiro que enche a atmosfera, infiltra‑se pelos interstícios, sobe‑nos pelas narinas rumo aos pulmões, irritando de passagem as pituitárias. E eu estou constipado mas sinto‑o. Mesmo aqui em casa o "air freshner" não consegue sobrepor‑se‑lhe por muito tempo. A Rua do Raimundo... ah! a rua do Raimundo é uma vala enorme a céu aberto, começando aqui junto à do Lagar dos Dízimos e prolongando‑se lá para baixo, até às Portas do Raimundo. A rua está esventrada e pontezinhas (ai, que giras!) ligam as portas pares ao outro lado, dos ímpares, por onde circulam já não automóveis mas peões, saltitando às vezes de montículo em montículo de terra. Ao longo da vala trabalham operários, enquanto no fundo daquela, em canos abertos ao vento, corre um líquido escuro, talvez brilhante. É ele o responsável por este cheiro oloroso que me enche a pituitária algo adormecida pela constipação. Finalmente mudam‑se os canos de esgoto. Évora está empestada. (MCG - 1973.08.01)

(...) Na varanda das piscinas, em Évora, às 15:30. Está um dia quentemente abafado; nas ruas muitas saudações dos "amigos" e conhecidos que passam. Na boca um sabor amargo e de náusea. Detesto Évora. Pronto. Já disse. Poderei algum dia apreciar a beleza de Évora ? (MCG - 1973.09.07)

Fui ontem aquela cidade‑mumificada (-museu, reza a propaganda turística!). Nem queiras saber como fiquei doente, como estive doente nas horas que estive naquela terra, que me parece um pesadelo, longe que dela estou. (...) Em Évora encontrei montes de malta: eram olás! hellos e bons dias quase pegados. Até encontrei o cobrador da camioneta da Amareleja! (MCG - 1973.09.08)

Acabei agora de jantar - em casa. Não é muito fácil, pois ao contrário do que sucede nos supermercados Pão de Açúcar, os de Évora apenas têm pastéis, rissóis e filetes. Acompanhamento: só salada russa ou batatas frias de pacote. E viva o velho. (MCG - 1973.10.10)

Ontem à noite (1973.10.24), no regresso de Arraiolos, muitos Mercedes a caminho de Évora, onde às 21:30 alentejanos cinzentos de ar sisudo aguardavam ordeiramente o início da sessão de propaganda da ANP [Acção Nacional Popular]. Debaixo dos arcos [arcadas], uma fila de homens, com ar humilde e jeito de rebanho descido da camioneta, dirigia‑se para o cinema onde se realizaria a tal sessão. A Oposição não comparecerá as eleições no domingo. O Marcelo [Caetano] bater‑se‑à contra nada. (MCG - 1973.10.25).

É noite. Do pátio chega‑me o esfregar da escova no cimento e da água que escorre. Música do século XVIII abafa (quase) o tiquetaque do relógio. São 19 horas em Évora. A cama desfeita, o pijama sobre o corpo, um bocejar enorme. A viagem foi mais fatigante e monótona, cortada por longos silêncios. Cansado - fatiga nervosa - resolvi ir jantar aos "Manuéis", eram 14 horas: vitela em molho de tomate e "mousse" de chocolate (a última!) (...)

Em casa deitei‑me mas o dormir não veio e li O "Tintim", mais o"Expresso" (e as suas análises embirrantes, "higiénicas"), o "Comércio do Funchal" (e as suas "contradições de classe", agora em guerra com a "República"), o "Diário de Lisboa" e a "República" (cada vez me aborrece mais a "ingenuidade" do senhor Raúl Rego)... Enfim, agora é que são mesmo 19:00 horas e bocejo tremendamente, o que é mau sinal. (MCG - 1973.10.29)

A mesa do café não é propriamente um local de recolhimento e, em sentando‑se o primeiro, logo venhem os outros. Resultado: muitas vezes os trabalhos têm de ser interrompidos. (MCG - 1973.11.12)

Ali ao lado o Carmelo submete o Carlos a testes de inteligência. Pelas mesas vizinhas malta conversa ou estuda; as vozes do Camilo e do João Luís sobressaem aqui na mesa atrás de mim. (MCG - 1973.11.16)

Na pequena salinha do café do senhor Gonçalves ([14]) (é outro que não o da Raymond Street) alguns clientes assistem à televisão ali por cima do balcão: o Jorge Alves apresenta o programa da próxima semana. O [Emídio] Guerreiro queixa‑se que a sopa está quente (...). Comecei hoje a comer aqui neste café, junto ao jardim infantil, entre a Praça de Touros e o Rossio [de S. Brás]. O almoço estava saboroso. Esperemos que assim continue. Ali numa mesa ao lado um grupo de jovens vê uma colecção de fotografias pornográficas, que de vez em quando mostram a outros noutra mesa, cruzando o meu campo de visão. Entretanto a TV transmite um documentário sobre a guerra israelo-árabe, prendendo a atenção dos clientes. (...) Na televisão sereias soam numa cidade síria, sobrevoada por aviões israelitas que a bombardeiam. Escombros e feridos enchem o ecrã.

Nas obras que se fazem no novo edifício do Instituto, ao deitar‑se uma parede abaixo, descobriu‑se uma capela quinhentista. Fomos lá hoje para visitá‑la mas já estava novamente emparedada. O edifício deve ter sido reconstruído sobre as ruínas de outro (fenómeno normal em Évora) e a capela fica abaixo do solo, na rua que passa nas traseiras do Instituto (Travessa das Casas Pintadas) (MCG - 1973.11.21)

Levanto os olhos e vejo muitos magalas, na sua farda verde oliva. Andam também pelas ruas, aos grupos, espalhafatosos, como quem já tem o seu grão na asa. "Cheira‑me" que haverá dentro em breve mais um contingente para a guerra em África. Alguns escrevem, curvados sobre o papel, a caneta firme na mão, como quem não está habituado a frequentes escrituras. Parecem rapazes muito novinhos; uns conversam, irrequietamente, outros têm um ar absorto, ausente.

O barulho invade‑me e cansa‑me. Há pouco, dei de repente com um silêncio gradual, profundo. Levantei os olhos do papel e era um magote de gente à volta duma mesa, em pé. Um silêncio em crescendo gradual. Gente levantando‑se, esticando o pescoço. Continuo a escrever. Alguém se deve ter sentido mal, mas o meu curso de primeiros socorros já tem oito anos. Um homem sai do meio do magote, os seus lábios mexem‑se e leio "Desculpe‑me" a mão passada pela testa como quem tem suores ou tonturas. Sai pela porta giratória (há pouco atrás de mim) e perde‑se na noite das arcadas. (MCG - 1973.11.26)

O chão do café está um autêntico chiqueiro. Juncado de papéis, beatas e fósforos. E terra. (MCG - 1973.11.27 A)

Os magalas ainda não embarcaram, continuando a encher ruas e cafés. Cheguei há instantes da tabacaria, onde confirmei um anti-slogan: "Não telefone, vá!"Uma hora, foi o tempo que levei para conseguir uma chamada para Lisboa. (...)

A gasolina é quase como agulha em palheiro para encontrá‑la. Está praticamente esgotada em Évora ou Lisboa. P'rá semana há mais! Domingo passado, segundo o Carlos, às 4 da tarde já havia 3 ou 4 carros parados numa bomba aguardando pela meia noite para poderem seguir rumo a Lisboa. No regresso de Portalegre tiveram de juntar‑se‑lhes. (...)

Hoje à tarde o dono do Zé do Casarão estava furioso, telefonando quando por lá passei a comprar o "Comércio do Funchal" (agora gastando páginas numa inútil polémica com a "República"; uma guerra de alecrim e manjerona!). E o senhor desabafou comigo. Estava furioso com o chefe da PIDE. Que mandou lá buscar o último fascículo da "Enciclopédia do Vilhena", que foi devolvido meia hora depois, por um contínuo, que disse: "O senhor chefe diz que pode vender!" Ah! Ah! Ah! Porque, dizia o Zé, isto é um abuso. Se queria ler, pedia‑mo emprestado. Porque ele não tem competência para decidir ou não da apreensão de revistas e livros, sem autorização do Ministro do Interior." Ah! Ah! Ah! E acrescento-lhe eu: "E de qualquer modo não podia levá‑lo sem levantar um auto de apreensão" E lá deixei o Zé, furioso, telefonando não sei para quem." (MCG - 1973.11.27)

Chegados a Évora, a 1ª bomba de gasolina ostentava ainda (?) o fatídico "Esgotado"; na 2ª uma longa fila de automóveis estendia‑se desde a Porta do Raimundo à Porta de Alconchel. Mais uns metros adiante um auto tanque da SACOR enfiava pela estação de serviço (à saída para Lisboa) e num ápice 6 automóveis iniciaram uma bicha. Azar, que o empregado logo disse que só amanhã, às 8 da matina. E assim saímos do 5º lugar. É o que eu digo: a continuar assim a gasolina esgota‑se ainda mesmo antes de haver. (MCG - 1973.12.03)

Há gasolina à farta nas bombas de Évora e acabaram as bichas. (MCG - 1973.12.04)

1974

Ao entardecer a Rua do Raimundo é um espectáculo ao descê‑la. Não gosto de Évora, porque não se vê o mar, nem a relva, nem as árvores, mas só pedras. Évora é um círculo que nos esmaga e constrange. Mas o espectáculo da Rua do Raimundo, quando a descemos ao entardecer!... O sol põe‑se mas o céu ainda é azul, com dois luzeiros brancos cintilando. Um arco vaporoso tingido de encarnado - rasto dum avião - cruza o céu da rua, de casa a casa. O horizonte é um encarnado pálido e as ruas são brancas e as pessoas passando quase fantasmagóricas.

(... ) E então, que me dizes ao aumento do preço do petróleo e seus derivados? (Lá para Abril deve haver mais. Olarilas!). A velhota dos jornais ali às portas do Arcada já desabafou comigo esta manhã: não haver um raio que os partisse! Há 10 dias encomendara uma garrafa de gás; está cozinhando a lenha. Que só na 3ª feira. "Os patifes, os espertalhões, já sabiam disto e obrigam-me a pagar o gás mais caro!" Como dizia o Carmelo, muito solene e sisudo na sua pose à mesa do café: "Isto está cada vez pior!" (MCG - 1974.01.03)

(...) A fotografia é antiga! Não parece! Mas... a cerca da fonte já não é assim e o táxi (1º) já não existe. Também as motorizadas já não param no topo do tabuleiro. A indumentária das pessoas e a esplanada defronte do "Diana" indicam que é Verão! Eis aqui a célebre Praça do Giraldo, o local que os meus pés mais têm calcorreado. É sábado e estou jantando. Este fim-de-semana foi um pouco "chocho". A semana passada houve uma boa peça de teatro (O Amigo do Povo) e um filme a ver (O Espantalho). Esta semana, nada. Enfim. Por mero acaso integrámo-nos numa das visitas guiadas do Túlio Espanca. Mais duas igrejas visitadas. (MCG - 1974.01.18)

(...) Por cá também, o nevoeiro (e o frio) dão aos dias características verdadeiramente invernais. Ontem à noite o frio era tal que ao entrar no Arcada fiquei subitamente sem visão. Mas não haja cuidado, pois foram as lentes que se embaciaram [repentinamente]. (MCG - 1974.01.23)

(...) O soalho está molhado. Lá fora chove, um homem, eufórico, está com uma conversa parva ali ao telefone (deve ser com uma rapariga). O Luís entra e cumprimenta-me. Escrevo nos joelhos, aqui na tabacaria da esquina, pois a escrivaninha está ocupada. Acabei de jantar no Arcada com o João Luís e a Filomena. Detesto comer naquela cave abominável, sem janelas. Também estou farto de gabardinas e casacos, que prendem os movimentos. (MCG - 1974.01.28)

O sol tenta romper o cinzento carregado de chuva, mas em vão. Acordei hoje ao som de catadupas de água [à tarde o sol descobriu e o céu azulou]. Quase um dilúvio que encherá ali a barragem do Divor, livrando‑nos da água sabendo a peixe. Já não era sem tempo. Chegámos pouco antes das 22 horas. No Arcada o João [Garcia], a Filomena, o Camilo, o Zé Pinto, o Ribeiro, o "Chinês" e o irmão cantavam em coro desde as cantiguinhas da primária ("Ó Rosa, arredonda a saia", "Tia Anica de Loulé"...) às excursionistas ("Santa Catarina", "Rapsódia Portuguesa"...) passando por cânticos gregorianos e pelos coros alentejanos e canções da Beira Baixa. Enfim, uma grande audição, no café cheio e entretido com outros assuntos. (MCG - 1974.02.11)

Ontem fui à ópera com o Carlos [Nunes da Ponte] e duas das suas amigas. Uma borracheira: cantaram trechos de árias dos dois primeiros actos da Traviata, sem cenários. O 3º acto foi representado integralmente, com cenários improvisados. Orquestra não havia - o acompanhamento era ao piano. O espectáculo foi promovido pela FNAT. No camarote ao lado do meu ficou o dr. Cabral, delegado do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência, que num intervalo me pediu a opinião. Coitado, está com azar, porque não me coibi de dizer-lhe o que pensava da "história". (MCG - 1974.02.16)

Hoje foi o Dia da Polícia e está explicado porquê toda a semana têm desfilado pelas ruas da cidade: preparação do grande acontecimento, em que estrearam os capacetes cinzentos com viseira protectora, espingarda de baioneta calada ao ombro, deixando, na esquadra, o escudo protector das pedradas dos manifestantes. 50 000 mil contos teria sido a quantia gasta nos últimos tempos pelo Governo para equipar a polícia. Ah! Ah! Os tempos vão desassossegados! (1974.03.12)

O dia hoje está soalheiro. Regressei há pouco a casa; os jornais esgotaram. A RTP noticiou que na madrugada de ontem houve um levantamento militar nas Caldas da Rainha, após uma semana de grande confusão. (...) Segundo a BBC o Movimento das Caldas [16 de MARÇO] pretendia exigir a demissão do Presidente da República [Almirante Américo Tomás](1974.03.17)

Dizia a BBC ontem que prosseguia o chamado "julgamento" das 3 Marias (Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa) autoras dum livro chamado "Novas Cartas Portuguesas" sobre problemas da mulher portuguesa, que a acusação pública considera pornográfico e ofensivo da moral e dos bons costumes. Mas uma das testemunhas de defesa, Maria Emília... , afirmou que ofensivo da moral e dos bons costumes era o facto duma mulher não poder andar na rua e transportes públicos em Lisboa (e em Évora ?) sem ouvir piropos indecorosos e ser apalpada. Referiu também as vantagens que os homens da classe alta tiram impunemente da sua posição sobre as jovens das classes inferiores. (MCG - 1974.03.21)

Vim até aqui ao Arcada, muito barulhento. Está um dia bonito, cheio de sol. Évora está cheia de miúdas, aos bandos. (MCG - 1974.03.31)

Com um ar grave e solene o locutor de serviço na Televisão comunica à hora do noticiário que a emissão prossegue com um concerto de Freitas Branco, até que sejam transmitidos os comunicados do Movimento das Forças Armadas. O emissor do Rádio Clube Português transmite música portuguesa. Aguardo que retransmitam o comunicado da prisão do Presidente do Conselho de Ministros, refugiado no Quartel da GNR, no Largo do Carmo em Lisboa.

A Rua do Raimundo, os carros nela estacionados, o pátio, o terraço, a casa de banho, estão juncados de restos de papéis queimados. Grande actividade vai ali na sede da Acção Nacional Popular ([15]) onde devem procurar livrar‑se de papéis comprometedores. São já quase 20 horas e um novo comunicado informa que "Sua Excelência o ex‑Presidente do Conselho de Ministros se rendeu incondicionalmente a Sua Excelência o General António de Spínola, juntamente com os ex-Ministros do Interior e dos Negócios Estrangeiros" O Pai Tomás ainda não se rendeu. Penso que os regimentos de Évora ainda não aderiram ao pronunciamento militar. Pelo menos nenhum dos jornais que li hoje fala em Évora, sede de uma das quatro Regiões Militares. (...)

Foram pancadas secas as que me acordaram cerca das 8 h 30 m desta manhã, seguidas dum jorro de luz sobre os olhos e da visão do Diogo [Guerreiro] em pijama, o rádio na mão: "Ouve lá isto e vê se percebes alguma coisa!" Meio a dormir ouço, pelo rádio, um apelo aos médicos e falar nas operações iniciadas na madrugada de hoje. Estou baralhado e nada sei sobre o que estou a ouvir. A Emissora Nacional está silenciosa. Ouve‑se música portuguesa, especialmente do Zeca Afonso. Durante o resto do dia segue‑se a audição dos comunicados do Comando das Forças Armadas. No Instituto a malta aglomera‑se junto aos automóveis com rádio. A Filomena está assustada (Tem muito medo das revoluções!) e diz que é um golpe das esquerdas. Mas nada se sabe de concreto sobre a finalidade e orientação do Movimento.

Dizem‑me que os bancos estão encerrados e dou por mim a pensar se o dinheiro que tenho no bolso me chegará para o fim‑de‑semana. Felizmente que levantei ontem massas, se não estava lixado.

À cautela passo pelo Nazareth para arranjar um exemplar do livro do Spínola, que não circula em Angola e que o [meu irmão Zé] tem interesse em ler.(...)

Venho até casa para saber de que lado está a RTP. A emissão começa à hora habitual - 12:45 - e surge um locutor de olhar esgazeado, olhando para a direita e para a esquerda, ouvindo‑se ruídos no estúdio. A emissão é interrompida. Será um locutor do Movimento? A emissão recomeça pouco depois e a dúvida desvanece‑se: o locutor, com ar atrapalhado, informa que seguir‑se‑à um filme da série Daktari, o telejornal das 13:45 e a Telescola. A emissão é novamente interrompida, recomeçando pouco depois com o filme anunciado: animais sendo caçados com laços.

(...) Nos comunicados do MFA o general Spínola é apresentado como o fiel intérprete dos sentimentos da população (que não se teria manifestado) ([16]) Eis o homem. Para já, teremos uma ditadura para restaurar as liberdades cívicas.

Nas ruas de Évora, durante o dia, a malta sorria‑se, euforicamente, numa euforia um pouco contida. (1974 ABRIL 25).

Cheguei há pouco vindo de Lisboa. É bom encontrar de novo as paredes e as coisas familiares, até que o aborrecimento de Évora nos faça esquecê-lo. Dizem-me que está frio; não o tenho sentido e a brisa da noite que entra pela janela escancarada é repousante e refrescante [apesar de ser o pino do inverno]. Vou pôr este no marco para apanhar a tiragem da uma da madrugada e comer qualquer coisa, pois não tive tempo de jantar em Lisboa. (NSF - 1971.01.02/03)

[Deviam seguir-se «Os Dias da (Pré-)Revolução», mas esse está muito inacabado, apesar do seu eventual interesse sobre o que, visto pelos meus «olhos», se passou do ponto de vista político antes e sobretudo depois do 25 de Abril de 1974, até Agosto/ Novembro de 1975, quando me casei e a minha família regressou a Portugal antes da indepêndência de Angola, altura em que cessou a correspondência diária ou semanal]
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[1] - Instituto Superior Económico e Social de Évora, dirigido pelos Jesuítas e subsidiado pela Fundação Eugénio de Almeida, com dois cursos de Gestão de Empresas - Economia e Sociologia.
[2] - Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, no Convento da Rua do Quelhas.
[3] - Trata‑se duma praça rectangular, tendo os edifícios, num dos lados, arcadas de arcos dissemelhantes, que deram origem ao nome do café dos agrários, das terças‑feiras: o Arcada. Nesta correnteza se situava a livraria Nazareth e o Banco do Alentejo, para além de muito comércio. Defronte as arcadas forma emparedadas e nessa correnteza estavam o Turismo, a pensão Diana, com café e esplanada, e uma sociedade recreativa, de cuja direcção o meu avô Luís foi membro, nela descobrindo o meu pai, em 1974, um aviso por ele na altura escrito. Num dos lados menores situavam‑se a igreja de Santo Antão com um chafariz do século XVI e no outro o edifício do Banco de Portugal.
[4] - Situa‑se o templo no cimo da colina, conjuntamente com a Sé, o antigo Palácio da Inquisição, o Convento dos Loios, a Biblioteca e Museu Municipais, e o Palácio dos Duques de Cadaval, com muralha medieval e pequeno museu, para além do jardim de Diana, sobre a muralha romana, com ampla vista para os arredores. Pela rua 5 de Outubro ou da Selaria ia‑se para a Praça do Giraldo.
[5] - A base da colina em que assenta a cidade antiga é cercada de muralhas árabes, romanas, medievais ou setecentistas, com as respectivas torres. Pelas Portas se transitava, algumas com nome dos destinos: portas de Avis, de Alconchel, de Moura, do Raimundo. Perto desta última se situava o jardim de Diana e dentro deste o que resta do Palácio de D. Manuel, para além do coreto e das ruínas encenadas ao gosto romântico. O jardim tinha por um lado acesso para o largo de Mercado, onde se situavam a igreja de S. Francisco, com a sua capela dos Ossos, e o Celeiro Público, e por outro para o parque infantil, para a Praça de Touros e Rossio de S. Brás, onde se encontra a ermida homónima e se realizava a feira de S. João.
[6] - Trata‑se do aqueduto da Prata, da autoria de Francisco Arruda, com origem no alto de S. Bento de Castris, com uma vista magnífica sobre a cidade, com 18 km. de comprimento, e que em Évora corre ao longo da chamada rua do Cano, onde assume um aspecto imponente, quer pela sua altura, quer pelo contraste da escuridão das suas pedras com a alvura das paredes caiadas dos prédios adjacentes. Perto da praça do Sertório situa‑se uma caixa de água, para distribuição desta pela cidade. Naquela praça e cercanias se situavam o edifícios da Câmara, do Banco Nacional Ultramarino e dos Correios, este recente e com arcadas, para além de vestígios romanos, como a Porta ou Arco Romano de D. Isabel e a torre sineira do antigo convento do Salvador, sobre a qual foi construído um mirante com grades recortadas, para que as freiras pudessem ver sem serem vistas. Como aliás sucedia num outro convento, situado perto das portas de Alconchel. Igrejas e conventos proliferavam em Évora, como aliás em muitas outras cidades, não se percebendo onde se iria buscar povo para encher umas e outros, mantendo‑se mais ou menos fartos os que não trabalhavam a terra ou em mesteres!
[7] - Anteriormente a ser Presidente do Conselho de Ministros, escrevia‑se simplesmente Marcelo e não Marcello !
[8] - Do poema "Num repelão", escrito em 1969.03.16
[9] - No verão não se interrompiam as sessões cinematográficas. Após a quinzena de férias, passavam a ser na esplanada, um recinto sem cobertura.
[10] - Anos mais tarde rapei a barba e a minha filha Susana, ainda pequena, ao ver‑me, exclamou: "Olha, outro Victor!"
[11] - O Cachatra era pintor (e creio que fora professor) e ficara muito afectado psiquicamente ao sobreviver a um acidente, salvo erro de aviação. Era familiar dos donos da pensão logo a seguir á casa onde me hospedara. Vendia os quadros dele, salvo erro, a 20$00, o que na altura era muito dinheiro. Alguns agradavam‑me e tenho pena de nunca ter feito um "sacrifício" para comprar algum.
[12] - Esta livraria situava‑se no largo das Portas de Moura, no qual existe um chafariz mandado edificar pelo cardeal D. Henrique, que foi inquisidor e tio do rei D. Sebastião, falecido na Batalha de Alcácer Quibir. Aqui se situavam o edifício do tribunal e daqui se avistavam a janela manuelina da casa de Garcia de Resende e, mais para cima, a imponência da Sé medieval. Neste largo se situa também o mirante galeria da Casa Cordovil.
[13] - Em 5 de Abril de 1971 escrevia eu: "Sábado fui com o Jorge ao cinema, ver um filme de desenhos animados com o Asterix. Pois bem, o miúdo pulava e ria‑se, enfim, era um espectáculo. Gosto dele, só tenho pena ... que não estude. Tem‑me oferecido rebuçados, uma daquelas bolinhas de plástico que saltam muito e até me chegou a pagar o jornal ! Há dias apareceu‑nos no café todo eufórico. Tinha ganho algum dinheiro e então comprou um cinto com uma espada de plástico, postais, maçãs e ... um copo. Enquanto não mostrou a espada a toda a malta sua conhecida não descansou. Queria também que aceitássemos as maçãs dele e os postais. Quem não gosta da brincadeira é a D. Vitória [Prates, minha hospedeira na Rua do Raimundo]. (NID - 1971.04.05)
[14] - Café do Parque?
[15] - Cujas traseiras dão para o pátio da casa onde moro.
[16] - Ao contrário do que sucedia em Lisboa, com a população a encher as ruas e rodear os militares, determinando o rumo do Movimento, em Évora as manifestações populares foram muito comedidas.
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ver
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Convívio entre Abril e Maio (3) - 25 de Abril no ISESE
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OS DIAS DA REVOLUÇÃO (notas soltas)

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Amigo,
Assim é como o dizes.
É Bom recordar, a memória nunca fez mal a ninguém.
O teu Artigo está muito interessante. Bem hajas.

(...)

Um Abraço e um Bom Dia

LR

Maria Faia disse...

Caro Vitor Nogueira,

Évora é o que disse e muito mais.
É sobretudo a pacata cidade onde se encontram paz interior, lições de vida e da nossa história e um povo maravilhoso, afectuoso e lutador pelos valores essenciais da liberdade, igualdade e fraternidade.
Pelos caminhos de Évora, que não só a cidade propriamente dita, respiram-se ares de verdade e amizade.

Gostei do artigo

Beijo alcobacense

david santos disse...

ÉVORA

Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas...Ruas frades
Pedindo em triste penitência a Deus
Que nos perdoe as míseras vaidades!

Tenho corrido em vão tantas cidades!
E só aqui recordo os beijos teus,
E só aqui eu sinto que são meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!

Évora!... O teu olhar... o teu perfil...
Tua boca sinuosa, um mês de Abril,
Que o coração no peito me alvoroça!

... Em cada viela o vulto dum fantasma...
E a minh`alma soturna escuta e pasma...
E sente-se passar menina e moça...


Florbela Espanca

Victor Nogueira disse...

Caro Luís

Numas férias aborrecidas em Setúbal, respiguei de postais, cartas, rascunhos e ficheiros do PC pedaços de texto que fui agrupando, para mais tarde darem origem a um livro de memórias. Entretanto as férias acabaram e apenas os livros de Viagens e de Retratos tiveram algum tratamento. Assim, coloquei no Kant_O o capítulo sobre Évora burgo medieval no antigamente. Presumo que estejas em Évora e que sejas de Tavira, uma cidade que me encantou, tal como muitas povoações para Oriente, incluindo a Serra, cujo périplo fiz uma vez, partindo salvo erro de perto de Tavira, pernoitando em Alcoutim e terminando em Castro Marim.(...)
Um abraço
VM

Victor Nogueira disse...

Olá, Maria Faia

Acabei de ver o teu Même fotográfico sobre Luanda, com bonitas e
sugestivas fotografias.
Sobre Évora, não sei se lá viveste antes do 25 de Abril. Para um angolano
que passara dois anos em Económicas (Lisboa), Évora era o inferno. Depois
do 25 de Abril a cidade abriu-se, mas entretanto vim para Setúbal e por cá fiquei.

Se quiseres podes encontrar outros «artigos» meus nos marcadores «Évora» e «»Luanda» [ou Angola], bem como procurares por Alcobaça no pesquisador do Kant_O, no
canto superior esquerdo.

Depois diz-me o que achares por bem.

Um abraço
Victor Manuel

Anónimo disse...

De: João Garcia
Enviada: quinta-feira, 21 de Junho de 2007 23:36
Para: kantoximpi@gmail.com
Assunto: Directamente de 2007 para a Praça do Giraldo de 1975!

Olá Vítor!


Acabo de saber pela Filomena que soube pelo Carmelo que estamos todos aqui no teu diário dos tempos de Évora....
Ainda nem li com atenção mas o que quero já é mandar-te um abraço!