Maria Lamas, notas biográficas
Maria Conceição Vassalo e Silva (Maria Lamas) nasce em Torres Novas em 1893 e morre aos 90 anos, no dia 6 de Dezembro de 1983. Casa muito jovem em Março de 1911 com o tenente de cavalaria, Ribeiro da Fonseca. Vive com ele, em Angola, até Março de 1913.
Em 1914, após o seu regresso a Portugal, começa a escrever em publicações locais, usando pseudónimos, como: Maria Fonseca ou Serrana d’Ayre. Já então a temática da guerra surge como dominante nos seus escritos. Divorcia-se em 1919, ficando com duas filhas a seu cargo.
Em 1920, vai trabalhar para a Agência Americana de Notícias, onde conhece o jornalista monárquico Alfredo da Cunha Lamas, com quem casa em Abril de 1921.Deste segundo casamento nasce a filha Maria Cândida, em Maio de 1922.
Com o pseudónimo de Rosa Silvestre publica, em 1923, o seu primeiro livro de poesia, Humildes, a que se segue, no mesmo ano, o romance Diferença de Raças.
Em 1925, começa a colaborar em revistas e publicações infantis, escrevendo mais tarde vários contos infantis: Maria Cotovia (1925), As Aventuras de Cinco Irmãozinhos (1931), A Montanha Maravilhosa (1933) e ainda as novelas infantis Estrela do Norte (1934) e Os Brincos de Cereja (1935). Também na Revista Infantil A Joaninha, editada em 1936, publica em folhetim o romance O Relicário Perdido. Em 1942, escreve O Vale dos Caídos que dedica a sua neta Maria Leonor.
O primeiro trabalho que assina com o nome de Maria Lamas é o romance Para Além do Amor (1935), reeditado em 2002, com estimulante prefácio de Eugénia Vasques.
Como jornalista, é na Redacção de O Século, em Abril de 1929, que dá os primeiros passos. Pouco tempo depois passa a dirigir o Semanário feminino Modas e Bordados, o que faz com enorme sucesso até 1947.
Escreve ainda o romance A Ilha Verde (1938). Em 1960, começa a sair em fascículos O Mundo dos Deuses e dos Heróis, Mitologia Geral. Nos anos 60 faz traduções de grandes autores (Victor Hugo, Marguerite Yourcenar, entre outros).
Intervenção política
Destaca-se na política integrando as organizações democráticas opositoras ao Estado Novo. Assina as listas de formação do MUD juvenil e integra, no mesmo ano de 1945, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas de que vem a assumir a Presidência da Direcção em 1947.
No MUD tem também cargos de direcção. Tem uma actividade internacional de grande prestígio. Participa no Congresso fundador da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) em 1946 e representa muitas vezes as mulheres portuguesas nos Congressos da FDIM realizados no estrangeiro e ainda nos Congressos Mundiais da Paz.
Foi a Copenhaga, em Junho de 1958, participar no Congresso Internacional de Mulheres. No ano de 1975, Ano Internacional da Mulher, faz a sua última viagem ao estrangeiro para participar no VII Congresso da FDIM em Berlim e em Portugal preside ao comício de homenagem a Valentina Tereschkova.
Esteve presa em Caxias no ano de 1949 com Virgínia de Moura e Rui Luís Gomes, entre outros. Foi presa mais duas vezes. Viveu exilada em Paris de Junho de 1962 a 3 de Dezembro de 1969.
Em defesa da paz e dos direitos das mulheres
A luta pelos direitos das Mulheres e pela sua dignificação e a causa da Paz são as traves mestras do seu ardente trabalho político, no qual transparece sempre a força da ternura, da solidariedade e o amor sublime pela humanidade, bem expressos em toda a sua obra, seja na escrita para crianças, seja no romance, ou na grande reportagem sobre a vida das mulheres do seu tempo - As Mulheres do meu País e As Mulheres do Mundo - verdadeiro tratado da “História da Mulher e não de algumas mulheres” como faz questão de dizer.
O livro As Mulheres do meu País é publicado em fascículos para fugir à censura. O primeiro número sai em Maio de 1948, e o último, em Maio de 1950. Depressa esgotado só é reeditado em 2002, com uma notável edição, prefaciada por três das suas netas e com uma apurada biografia feita pela sua filha Maria Cândida Caeiro.
A sua obra A Mulher no Mundo é editada em 1952. Trata-se de dois tomos, com 627 e 650 páginas, desfolhando a vida das mulheres nas facetas do trabalho e da vida, nos costumes e nas ideias, indo aos países, das sociedades pré-históricas às grandes civilizações, passando pelos grandes períodos do Renascimento, da Revolução Francesa até aos meados do século XX.
Maria Lamas foi presidente honorária do MDM desde 1975 até morrer. Foi directora da revista Mulheres.
Razões da sua actualidade
Deixa-nos um legado de conhecimento e de estudos sobre as mulheres numa diversidade de papéis e contextos, uma reflexão sobre os diferentes feminismos, uma proposta de pensamento e acção da maior actualidade, uma acção programática que contribuiu para transformar a vida e a sociedade no nosso país.
Maria Lamas foi uma mulher de acção, um exemplo de participação, sem medos, com uma intervenção cívica e política viva e solidária com as mulheres anónimas, com as trabalhadoras, com as intelectuais.
Maria Lamas foi uma feminista, na acepção mais nobre do termo, sedenta de enaltecer e melhorar a vida da “metade feminina do género humano”.
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