A “Nova Direita” volta no poder
por cristiano última modificação 2010-01-20 13:33 Achille Lollo
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Com o apoio do partido de Pinochet, centro-esquerda perde o comando do país depois de 20 anos
20/01/2010
Alcançando a simpatia de quase 52% dos eleitores que foram votar no domingo, o empresário Sebastian Piñera – líder do agrupamento que reunificou todas as componentes conservadoras da direita chilena na “Coalicion por el cambio“ – confirmou todas as previsões ganhando o segundo turno.
Apesar do esforço dos partidos da Concertación (Socialista, Democracia Cristã e Radicais) mais o suporte do candidato Miguel Henríquez , do Partido Comunista Chileno e da própria presidente Michelle Bachelet, o candidato do governo, o democrata cristã Eduardo Frei, obteve somente 48,12% dos sufrágios, determinando assim o fim da continuidade política do bloco da “Concertación”.
As primeiras reações após a derrota eleitoral indicam que dentro da democracia Cristã e, sobretudo, do dito Partido Socialista haverá importantes modificações. Na Democracia Cristã há um importante setor que sustenta abrir negociações com Piñera “para evitar que o governo seja totalmente de direita”.
Após a confirmação dos resultados eleitorais, os embaixadores da Colômbia e dos Estados Unidos fizeram chegar ao presidente eleito, Sebastian Piñera, mensagens de felicitações garantindo que no dia da posse o colombiano Álvaro Uribe, a Secretária de Estado, Hilari Clinton e o próprio Obama estariam em Santiago do Chile para prestigiar Piñera. Desta forma os EUA conseguiriam definir um novo eixo estratégico na América Latina ao juntar nesse projeto o Chile com o Peru e a Colômbia.
Uma operação politicamente perigosa para a Casa Branca, mas estrategicamente necessária do ponto de vista militar, que poderá dar consistência ao projeto de contensão da ALBA bolivariana e, conseqüentemente, reforçar o papel estratégico dos EUA através das bases instaladas na Colômbia.
Neste contexto, o exército chileno – livre dos limites operacionais e estratégicos fixados pelos governos da Concertación – certamente vai jogar um papel importante para criar um contexto de possível instabilidade ao longo das fronteiras com Bolívia, Equador e Argentina. Uma operação que não pretende criar operações de guerra com aqueles países fronteiriços, mas que, na realidade vai permitir ao Estado Maior chileno justificar junto do governo Piñera uma maior cooperação estratégica com os EUA. O que, na realidade, significa a instalação de mais equipamentos para a espionagem atmosférica, mais bases aero-navais para dar suporte a Quarta Frota que, desta forma poderia patrulhar o mar do Caribe chegando até os portos chilenos no Oceano Pacifico.
Excluindo o Partido Comunista Chileno, que conseguiu, finalmente romper o isolamento eleitoral com 6,5% dos sufrágios ao eleger dois deputados, todas as componentes do dito centro-esquerda devem reaprender a fazer política de oposição. De fato, nesses vinte anos de governo de Concertación, o Partido Socialista mudou sua estrutura ideológica, tanto que o projeto socialista do ex-presidente Salvador Allende (assassinado durante o golpe militar em 1973) e de Carlos Altamirano são apenas meras referências históricas e nada mais.
Os 20 anos de governos alinhados ao neoliberalismo mais rígido e gerenciados, inclusive, por dois presidentes “socialistas”, Ricardo Lagos e Michelle Bachelet, também transformaram o estereótipo dos quadros dirigentes do PS, cuja grande maioria, hoje, na prática ignora o que significa fazer uma “oposição popular e de esquerda”.
Por isso, a corrente “Socialismo allendista” optou desfiliar-se do PS para entrar do Partido Comunista.
É claro que o grupo dirigente liderado pela Bachelet construiu uma sólida estrutura aparelhista capaz de manter viva o partido sem estar no governo e chegar as próximas eleições. Porém, o grande problema é saber em que estado o PS da Bachelet vai chegar nas próxima eleições, tendo em conta que Miguel Henríquez – filho do lendário dirigente mirista assassinado por Pinochet – vai fazer de tudo para oferecer aos desiludidos do PS um abrigo político no novo partido de oposição que será estruturado nos próximos meses.
Muito observadores admitem que o establishement pinochetista terá muito peso no governo de Piñera, tanto que desde já, é dada por certa a volta de dois ministros do último governo de Pinochet. As três armas, os serviços secretos e os Carabineiros, também, serão os grandes parceiros de Piñera, do momento que os estrategistas do governo prevêem muita agitação política do Partido Comunista nos meios estudantis e sindicais. De fato, as contradições sociais e econômicas do projeto neoliberal durante a Concertación foram abafadas e maquiladas para garantir a estabilidade aos governos do dito centro-esquerda. Mas, agora, os movimentos sociais, o Partido Comunista e os outros pequenos agrupamentos de extrema esquerda não deverão mais preocupar-se com o equivocado posicionamento do PS.
Será, portanto, nesse contexto de futuros enfrentamentos que veremos se a maioria da juventude definir seu posicionamento ao lado dos movimentos sociais ou se continuará a manter sua posição abstrata rejeitando tudo ou quase tudo que se relacione com a política.
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