A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, janeiro 23, 2010

O lado de Judas - Sidnei Liberal *



 

Colunas

Vermelho - 27 de Outubro de 2009 - 0h01

O lado de Judas

Sidnei Liberal *

Longos anos se passaram para que a Folha de S Paulo admitisse, como admitiu em editorial, nesta sexta-feira, que “gerência técnica, tática de alianças, governabilidade. A política como ‘arte do possível’. Conceitos e lemas desse tipo fixaram-se, ao longo do tempo, como ingredientes típicos da retórica e da prática tucanas”. A afirmação, como se vê, é parte de uma análise bastante retardada em honra da verdade.

.

A afirmação, como se vê, é parte de uma análise bastante retardada em honra da verdade. Essa e muitas outras deixaram de ser ditas em tempo real, para não contrariar interesses do próprio jornal.
.
No preâmbulo de mais essa manifestação política, o jornal admite que “no governo FHC, o tema da ‘modernização’ do Estado brasileiro nunca representou empecilho para que se fizessem alianças com o que sempre existiu de mais arcaico e oligárquico na política brasileira. Muda o presidente, muda o partido, mas não se altera a tolerância com o patrimonialismo e com o atraso”. E admite que Lula tem razão ao dizer que não se governa no Brasil “fora da realidade política”: “Ninguém diria o contrário”, diz a Folha.
.
Entretanto, o editorialista cobra do presidente sua promessa de mudar essa realidade política: “A política não é apenas ‘a arte do possível’, como dizia Fernando Henrique Cardoso – mas a arte de ampliar esses limites”, diz o jornal. E coloca nas mãos do núcleo no poder a responsabilidade por uma reforma política, fiscal ou previdenciária, pendentes há décadas. Como se a Folha não soubesse muito bem que cada feudo de poder – econômico, grupal, familiar, político – quer um modelo de reforma que lhe beneficie.
.
Grupos poderosos, como os do agronegócio, das comunicações, das altas finanças, conseguem até ocupar altos postos de comando nos ministérios da Agricultura e da Comunicação, Banco Central, a garantir a manutenção histórica do patrimonialismo oligárquico e do arcaísmo, ora condenados pela Folha. Ela mesma uma legítima representante desses grupos, pouco ou nada interessados em mudança. A não ser para manutenção dos seus próprios privilégios. Nunca para promover mais democracia.
.
A reforma que interessa à Folha e à mídia, legítimas representantes das oligarquias, não é a mesma que interessa à sociedade como um todo. Mais do que a reforma agrária, que democratize o acesso à terra, prefere-se a demonização dos movimentos sociais. Mais do que os investimentos em políticas sociais, que elevem o perfil distributivo, melhor condenar os “gastos do governo”. A mídia jamais concordará em discutir um modelo voltado ao direito à comunicação ou à democratização dos meios de comunicação.
.
(Em face de repetidas demonizações dos movimentos sociais pelos inimigo da reforma agrária, circula pela internet um Manifesto em Defesa do MST (1), subscrito por intelectuais, movimentos sociais, personalidades. O manifesto mostra os interesses por trás da desestruturação dos movimentos pela reforma agrária no Brasil. Como o agronegócio, que quer impedir a revisão dos índices de produtividade agrícola, que estabelece as bases da produtividade da terra no Brasil e favorece a reforma agrária).
.
Em vez de preservar o meio-ambiente, o conservadorismo opta por ampliar a fronteira agrícola, o desmatamento. Mais do que discutir a violência ligada ao trafico de drogas e ao alcoolismo, melhor aliar-se aos anunciantes de bebidas. Mais que uma reforma previdenciária que garanta justos direitos de cobertura, prefere-se mitificar o “déficit da previdência”. Reforçando à avidez dos grandes bancos que bancam a previdência privada. A depender da Folha, pois, longe está a ampliação da “arte do possível”.
.
É hilário, como se vê, o movimento da mídia brasileira e dos partidos de oposição a condenar o pragmatismo do governo diante da realidade brasileira que transforma a política como a “arte do possível”, que todos praticaram, sem o menor interesse na “arte de ampliar esses limites”. Todos os políticos hoje levados à execração pública foram sempre aliados e úteis aos que hoje os querem condenar. A Folha de S Paulo, a mídia brasileira, deve à sociedade uma análise, isenta de hipocrisia, sobre a fisiologia e o atraso em nossa política.
.
Nota
.
(1) adesões podem ser feitas no endereço: http://www.petitiononline.com/boit1995/petition.html

.

* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF
.

* Opiniões aqui expressas não refletem necessáriamente as opiniões do site.
.
.
.
.

Sem comentários: