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__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Haiti: Forças norte-americanas ocupam sede do governo

Quarta-feira, Janeiro 20, 2010

Haiti: Forças norte-americanas ocupam sede do governo


Numa cena carregada de simbolismo, cerca de 20 helicópteros Black Hawk, do exército norte-americano, aterrissaram nesta terça (19) no gramado do que restou do palácio presidencial em Porto Príncipe, destruído pelo terremoto. Tropas fortemente armadas ocuparam o edifício e deram início à montagem de uma base avançada, estocando centenas de caixas de equipamentos, água e comida sob um pesado esquema de segurança. "Ajuda humanitária ou ocupação?" É o que muitos se perguntam.

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Tropas dos EUA ocupam palácio presidencial no Haiti População observa chegada de helicópteros
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Se a tomada do palácio gerou expectativa em parte da população que depende da ajuda internacional, por outro lado, reavivou lembranças da ocupação americana do Haiti (1915-34). Em vez dos esperados técnicos, resgatistas e médicos do governo de Barack Obama, as milhares de vítimas do terremoto que povoam amontoados os espaços do Campo Marte, no coração da cidade, observaram pasmos a aparição dos enormes helicópteros, em uma cena que lembrava filmes de guerra.
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De dentro deles, saíram fuzileiros com metralhadoras em punho. Em formação militar, se transferiram até o Hospital Geral, cheio de feridos graves, supostamente para garantir o atendimento "humanitário", que agora será feito entre o cerco de fuzis. Não faltaram pacientes e visitantes irritados com a presença inusitada no hospital.
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Com o presidente Barack Obama tentando melhorar seus índices de aprovação com uma agressiva estratégia de ajuda ao Haiti, a mídia americana acompanha com estardalhaço o dia-a-dia das equipes militares e de bombeiros dos EUA no país. Além da acusação de manter uma postura arrogante diante de colegas de outros exércitos, as ações dos militares americanos dividem os haitianos e causam estranhamento com militares de outros países.
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"Não os vi distribuindo comida no centro da cidade, onde o povo necessita urgentemente de água, alimentos e medicamentos. Isso parece mais uma ocupação", disse aos repórteres o estudante Wilson Guillaume, de 25 anos.
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Críticas de todos os lados
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Como as forças americanas não são submetidas ao comando das Nações Unidas, criou-se um desgaste entre as forças americanas e militares dos diversos países que atuam no Haiti - que acusam os EUA de novamente "ocuparem" o Haiti e tumultuarem operações complexas, como o resgate de vítimas.
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O mal-estar foi agravado ainda pelo pedido do presidente do Haiti, René Préval, de entregar aos americanos o controle do aeroporto internacional. O aumento da presença americana na capital agravou episódios de tensão.
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Na terça-feira, durante a megaoperação de resgate de 80 vítimas soterradas sob os escombros do Hotel Montana, que envolveu quase 150 homens de nove países, o comandante-geral do Exército chileno, general Ricardo Toro, desabafou com a equipe brasileira. "Os americanos não dão mais palpites aqui e acabou-se a confusão. Quem manda aqui sou eu", disse o chileno.
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Além de controlarem o aeroporto, definindo quem tem o direito de pousar, os Estados Unidos já têm no Haiti mais soldados do que a missão de paz da ONU. São mais de 11 mil militares americanos, em embarcações na costa ou a caminho do país.
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Os EUA afirmam que a principal missão dos soldados é humanitária, para participar e ajudar a proteger a enorme operação internacional de ajuda humanitária para as vítimas do terremoto. No entanto, comandantes americanos também têm dito que estão preparados para impor a segurança na capital, caso necessário.
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A irritação disfarçada da ONU
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Oficialmente, panos quentes. Nos bastidores, uma guerra. A operação americana no Haiti tem causado desconforto ONU e a entidade é agora obrigada a declarar que o país ainda é "um Estado soberano". Quase 70% do orçamento da ONU para o Haiti vêm de Washington e é a bandeira americana que está hasteada no aeroporto de Porto Príncipe.
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Numa ofensiva midiática, a organização tentou garantir ontem que a situação no Haiti está "sob controle". A entidade e o governo americano assinaram um acordo determinando a prioridade para pouso de aviões com alimentos e remédios. Agências ligadas à ONU e outros governos vinham criticando Washington por dar prioridade a aviões militares.
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Um dia antes, o ministro da Cooperação do presidente Nicolas Sarkozy, Alain Joyandet, protestou na ONU e exigiu que os EUA esclarecessem seu papel no Haiti. "Precisamos ajudar o Haiti, não ocupá-lo", disse. A forma de trabalhar dos americanos irritou, já que estão atuando como se estivessem em um local em guerra.
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A ação mais criticada foi a decisão americana de lançar alimentos de helicópteros em algumas regiões, como se o desembarque fosse perigoso. Para a ONU, a imagem que isso passa é a de que a ajuda internacional não tem coragem de ir ao encontro das vítimas.
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"Os americanos não estão no Haiti, mas agem com a presunção de que conhecem muito o país", diz um oficial brasileiro, que pede para não ser identificado. "Pedimos a eles, por exemplo, que não realizem operações humanitárias jogando comida de helicópteros porque isso só cria violência e estresse entre a população de desabrigados", completa.
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Segundo ele, a maneira correta é organizar distribuições por terra com esquema de segurança, usando mulheres para distribuir os alimentos porque, no Haiti, a figura feminina é respeitada como símbolo materno.
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Posando para a mídia
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"A insistente tentativa das equipes dos EUA de funcionar como comando em todas as operações é extremamente desgastante. Poucas missões ocorrem sem bate-bocas. E o que é pior: em operações de resgate de sobreviventes, eles insistem em assumir na hora da retirada da pessoa, para que a mídia possa flagrar o momento", conta um militar do México.
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E a aterrissagem dos helicópteros, obtem, foi muito bem pensada para causar efeito. O Pentágono jogou com todo o simbolismo firmemente plantado no imaginário popular dos haitianos.
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Em 15 de outubro de 1994, no mesmo local, outro Black Hawk idênticos trouxeram de volta, como a um messias, o ex-presidente Jean Bertrand Aristide para recolocá-lo na cadeira presidencial (tutelado pelos EUA), depois de ele ter sido afastado por militares da velha guarda militar duvalierista em um golpe de Estado, ao qual Washington tampouco esteve alheio. Aristide, na época, era quase uma divindade.
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O que aconteceu depois com seu governo é outro assunto. E ontem, a chegada dos soldados procurou ser transmitida como o desembarque dos mocinhos, que vieram para salvar o Haiti. No fundo, o que eles fazem no Haiti é ocupar, assumir, controlar. O histórico de intervenção norte-americana no país gera desconfianças sobre seus interesses na tal "ajuda humanitária" e até quando pretendem ficar no país.
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Da parte do governo haitiano, a ordem dada foi a de que todo os seus diplomatas pelo mundo insistissem que o governo existe e não há conflito diante da presença militar americana. "Muita gente falou que o governo desapareceu. Não é verdade", afirmou o embaixador do Haiti na ONU, Jean Claude Pierre.
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Sobre a bandeira americana que tremula no aeroporto da capital, Pierre tem uma explicação. "Isso foi um acordo entre nosso governo e os americanos. Não temos Exército e precisamos de soldados", disse.
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Com agências

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Editorial
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