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__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, janeiro 16, 2010

Da Grande Depressão de 1929 à crise de 2009 - Mary Stassinákis


 

Economia

Vermelho - 10 de Novembro de 2009 - 12h34

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Após 80 anos, a economia internacional enfrenta desafios idênticos. "Nunca senti satisfação tão grande. Se não falha minha memória, esta foi a única vez em que escrevi um livro sem pressa", disse o historiador e economista John Kenneth Galbraith, em 1954, sobre seu livro The Great Crash, 1929 (A Grande Depressão, 1929).

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Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil 

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Em setembro deste ano, quando a derrocada do Lehman Brothers abalou o sistema financeiro mundial e a economia internacional, a Editora Penguin anunciou que as vendas do livro de Galbraith haviam se multiplicado por 20, para 12.642 exemplares.
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Obviamente, as comparações são inevitáveis. Oitenta anos após o crash de 1929, o mundo encontra-se, novamente, engaiolado em nova e idêntica crise econômica. Naquela época, assim como antes da crise atual, o mundo ocidental acreditava que não reviveria circunstâncias econômicas semelhantes.
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Na década de 1920, contudo, todos buscavam se desentoxicar da amarga experiência da Primeira Guerra Mundial. As inovações do rádio e do automóvel enviavam a mensagem ao cidadão norte-americano de que se iniciava uma nova época de permanente bem-estar.
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A nova geração de financistas antecipava brilho resplandecente em Wall Street nunca dantes visto e muitos norte-americanos queriam um pedaço do bolo dos superdesempenhos. As famílias do país compravam - com dinheiro emprestado - equipamentos domésticos, casas, automóveis e ações.
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Da "festa" participava, também, o então presidente dos EUA, Calvin Koulitz. Seu nome foi encontrado na relação dos clientes vip da House of Morgan, junto com outros membros do Congresso e da Suprema Corte dos EUA Todos jogavam. Mas alguns encontravam-se em posição mais privilegiada dos demais.
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Precursores de Madoff
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De 1921 até 1929, o indicador Dow Jones em Nova York escalou de 60 unidades para 400, com o valor das ações aumentando 218,7%, percentual equivalente com ritmo anual de crescimento de 18%. Durante esta evolução provou-se que os bancos e suas financeiras, as quais emprestavam generosamente capitais, funcionavam em anarquia plena.
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Em uma população de 125 milhões de habitantes, menos de 2 milhões deles experimentaram com ações, mas as consequências multiplicaram-se no crash, por causa de meio milhão de contas com margin calls, quando com um dólar compravam ações no valor de nove dólares. "Os bancos liberavam generosos créditos aos seus financistas e muitas empresas canalizaram recursos líquidos".
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Aliás, muitos destes recursos provinham desde o início da Bolsa de Valores, criando uma auto-alimentada máquina de dinheiro. "Os empréstimos com margin calls equivaliam a 1/5 do valor das ações de empresas inscritas na Bolsa, construindo uma "fortaleza" de supervalores em terreno movediço", escreveu Ren Tsernou, do The New York Times.
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Uma outra característica desta bomba-relógio eram os investment trusts, antepassados dos atuais golpes financeiros, como o Plano Ponzi, de Bernard Madoff. Com a única diferença que, naquela época, ninguém foi preso por ter criado "correntes especulativas", em antítese a Madoff, que cumpre pena de 150 anos.
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Os investment trusts foram um complexo de capitais de investimentos, em que um era composto por ações de outro que, por sua vez, era uma composição de ações de um outro, e assim por diante.
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Entretanto, as razões do crash não se limitam aos margin calls ou aos investment trust, que parecem, simplesmente, frente a complicados produtos para investimentos, como as debêntures de empréstimos, que provocaram na última década uma hemorragia de dois anos no sistema financeiro, ou os marginais hedge funds.
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E embora os investidores se sentissem protegidos pela criação do Federal Reserve dos EUA, em 1913 não existia sequer a proposta de existência de uma Comissão do Mercado de Capitais e, muito menos, uma autoridade que garantisse os depósitos dos cidadãos.
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Em março de 1929, quando começaram a ser sentidos os primeiros rangidos na Bolsa de Valores de Nova York, os banqueiros ignoraram a advertência do Federal Reserve (Fed) para contenção dos empréstimos generosamente liberados.
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Um dos mais poderosos banqueiros, Charles Mitchel, CEO do National City Bank, posteriormente rebatizado como Citibank, "correspondeu" à instância do Fed, liberando créditos no total de US$ 25 milhões, para apoio do mercado.
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Milhões de desempregados
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A partir da "quinta-feira feira negra" de 24 de outubro de 1929, o indicador Dow Jones iniciou uma descida estável, apesar de que Mitchel e Albert Beguin, do Chase National Bank, e Thomas Lamad, do House of Morgan, terem "imobilizado" mais de US$ 240 milhões para salvarem as ações da queda livre.
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Contudo, foi em vão. Naquele dia, o indicador Dow Jones despencou 9%, com o volume de transações três vezes maior desde os primeiros nove meses do mesmo ano, enquanto os investidores fugiam do mercado em desabalada carreira.
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Na semana seguinte, calcula-se que US$ 30 bilhões viraram fumaça. No final, muitos não haviam perdido somente todas as suas economias, mas ficaram devendo aos seus financistas e, por extensão, aos bancos.
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De 1929 até 1932, as ações na Bolsa de Valores de Nova York haviam perdido 73% de seu valor. Em 1930, 9 milhões de contas de poupança foram, literalmente, "zeradas" e 85 mil empresas foram à falência. Até 1932, o número de desempregados totalizava 14 milhões. A época sem preocupação havia terminado e seria preciso mais uma guerra mundial para reerguer os EUA e o resto do mundo do limbo.
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Estado, a salvação
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Uma das diferenças entre o crash de 1929 e a crise financeira que eclodia há dois anos e persiste até hoje é o numero das vítimas que provocou no setor. Calcula-se que, após o crash de 1929, cerca de 11 mil das 25 mil instituições financeiras dos EUA fecharam as portas, mas aquelas que foram à derrocada não foram grupos que desempenhavam papel protagonista no sistema.
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Mas, de 2008, até hoje, colossos como o Citigroup e o Bank of America permanecem sob o "gerenciamento" do Estado. O Merrill Lynch não sobreviveria se não fosse absorvido pelo Bank of America, que desembolsou US$ 50 bilhões para anexá-lo em setembro passado, no âmbito de um acordo que está sendo investigado pelas autoridades judiciais de Nova York e pela Comissão do Mercado de Capitais.
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O Bear Stearns, após uma história de 85 anos, foi "adquirido" pelo J.P. Morgan Chase por apenas US$ 2 para cada ação. Também, não se pode esquecer o caso mal cheiroso da seguradora American Internationl Group, que foi estatizada pelo governo de Barack Obama por US$ 85 bilhões dos contribuintes norte-americanos. Destino análogo tiveram as duas maiores empresas de financiamento habitacional dos EUA, as famigeradas Freddie Mac e Fannie Mae.
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Volta à década de 1930
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Franklin D. Roosevelt, presidente dos EUA de 1933 até 1945, havia dito em 1934 que o setor bancário lutou até sua derrocada final contra a Lei Glass-Steagall, a qual definiu severas linhas divisórias entre os bancos de investimentos e os bancos comerciais. Os bancos não poderiam oferecer unidades financeiras e os bancos de investimentos não poderiam apoiar-se sobre capitais formados por depósitos de clientes.
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Esta divisão foi oficialmente abolida há uma década, com a promulgação da lei sobre a atualização dos serviços financeiros, a qual é considerada um dos culpados pela crise atual, que custou perdas totalizando US$ 1,6 trilhão.
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A União Européia (UE) parece estar seguindo os passos de Roosevelt. Na semana passada, o ING concordou abandonar o setor securitário e se dedicar, exclusivamente, ao bancário por razões de antagonismo.
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Ao contrário, ninguém queria ouvir recomendações análogas da boca do octogenário Paul Volcker, conselheiro legal do presidente Barack Obama, assim como do presidente do Banco da Inglaterra (Banco Central), Sir Mervin King. Ambos, em situações diferentes, sustentaram que nova intervenção sobre o sistema financeiro não pode e não deve ser repetida, para que não se repita a crise atual.
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