A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

segunda-feira, janeiro 18, 2010

A tragédia do Haiti e da América Latina


 

Colunas

Vermelho - 16 de Janeiro de 2010 - 0h01

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Carlos Pompe *

A tragédia no Haiti – a geológica, não a social – demonstra, mais uma vez, a solidariedade que persiste nas pessoas, apesar do bombardeio individualista destes séculos capitalistas e décadas neoliberais. Pessoas de todo o mundo se apressaram em buscar meios e modos de socorrer as vítimas do terremoto. Organizações e Estados também se mobilizam. Mas surgem também os oportunismos e as ações dos que querem “levar vantagem em tudo”, como dizia antiga propaganda de cigarro.



TERREMOTO NO HAITI

Vítimas da natureza, mas não só da natureza...

Além da tragédia social, resultado da impressionante concentração de propriedade e renda na quase totalidade de seus países, a América Latina vez por outra é assolada por desastres naturais. Há explicação para as duas desgraças – a social, é cientificamente demonstrada quando os analistas se valem do manancial materialista histórico, descobertos por Marx e Engels, para tratar dos problemas da região. Já os desastres naturais, com o desenvolvimento das pesquisas e equipamentos, podem ser previstos com certa antecedência e, se não evitados, ao menos minimizados nos seus efeitos quando há disposição política e recursos para tal (Cuba dá o exemplo, quando enfrenta os furacões que periodicamente assolam a região central do continente americano).
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Não é incomum o flagelo de população latino-americana ser agravado pela junção dos desastres naturais com a exploração social. Foi o que aconteceu, para citar um caso semelhante ao haitiano de hoje, quando Manágua, capital nicaraguense, foi sacudida por um terremoto em 1972, resultando em 6 mil mortos e 300 mil desabrigados.
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No Brasil e em vários países do mundo a avalanche solidária se contrapôs ao abalo sísmico. Alimentos, remédios, vestimentas, dinheiro foram remetidos à região. Porém, a oligarquia comandada pelo então ditador local, Anastasio Somoza (de uma família que há anos explorava o país), apropriou-se do auxílio enviado. Havia um porém: a ditadura dos Somoza há anos era desafiada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional.
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Os escândalos envolvendo o desvio da ajuda humanitária e a inoperância do Estado fez com que até mesmo setores da classe média local, que se beneficiavam com a ditadura, passassem a ver com novos olhos a guerrilha da Frente inspirada pelo revolucionário Augusto César Sandino. Foi um dos fatores determinantes para o êxito da Revolução Sandinista, em 1979.
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À época do terremoto em Manágua – como recentemente, quando ocorreu o tsunami no Oceano Índico em 26 de dezembro de 2004 – não faltaram os que viram no episódio a ira divina. Seria Deus – que é amor, mas vingativo e ciumento (leia-se o novo livro de José Saramago, Caim) – o implacável punidor dos que o desagradam ou nele não creem, levando na baciada dos punidos as crianças e inclusive aqueles que nele acreditam (como agora, quando uma religiosa brasileira e o arcebispo do Haiti sucumbiram em Porto Príncipe).
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No caso do Haiti não é diferente, e quem já colocou seus preconceitos religiosos e étnicos de fora foi o próprio cônsul desse país em São Paulo. Antes de gravar entrevista para o telejornal do SBT, dia 14, ele comentou que "A desgraça de lá tá sendo uma boa para a gente aqui ficar conhecido. (...) Aquele povo africano, acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que á aquilo (...). O africano em si tem maldição. Todo lugar em que tem africano tá fodido."
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Mas no momento da gravação da entrevista, o representante do país mais pobre da América Latina sacou de um terço, para sensibilizar os católicos brasileiros: "Esse terço nós usamos pois nos dá uma energia positiva que acalma a pessoa. Como eu estou muito tenso e deprimido com o negócio do Haiti, a gente fica mexendo com vários para se acalmar".

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Então, tá! 

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Tomara que os haitianos também busquem inspiração no exemplo de Cuba e da luta de Sandino e dos Sandinistas para enfrentar não só a tragédia natural, mas principalmente a tragédia social, que há séculos flagela a América Latina.


* Jornalista e curioso do mundo.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessáriamente as opiniões do site.
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