Vermelho - 16 de Janeiro de 2010 - 0h01
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Carlos Pompe *
Além da tragédia social, resultado da impressionante concentração de propriedade e renda na quase totalidade de seus países, a América Latina vez por outra é assolada por desastres naturais. Há explicação para as duas desgraças – a social, é cientificamente demonstrada quando os analistas se valem do manancial materialista histórico, descobertos por Marx e Engels, para tratar dos problemas da região. Já os desastres naturais, com o desenvolvimento das pesquisas e equipamentos, podem ser previstos com certa antecedência e, se não evitados, ao menos minimizados nos seus efeitos quando há disposição política e recursos para tal (Cuba dá o exemplo, quando enfrenta os furacões que periodicamente assolam a região central do continente americano).
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Não é incomum o flagelo de população latino-americana ser agravado pela junção dos desastres naturais com a exploração social. Foi o que aconteceu, para citar um caso semelhante ao haitiano de hoje, quando Manágua, capital nicaraguense, foi sacudida por um terremoto em 1972, resultando em 6 mil mortos e 300 mil desabrigados.
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No Brasil e em vários países do mundo a avalanche solidária se contrapôs ao abalo sísmico. Alimentos, remédios, vestimentas, dinheiro foram remetidos à região. Porém, a oligarquia comandada pelo então ditador local, Anastasio Somoza (de uma família que há anos explorava o país), apropriou-se do auxílio enviado. Havia um porém: a ditadura dos Somoza há anos era desafiada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional.
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Os escândalos envolvendo o desvio da ajuda humanitária e a inoperância do Estado fez com que até mesmo setores da classe média local, que se beneficiavam com a ditadura, passassem a ver com novos olhos a guerrilha da Frente inspirada pelo revolucionário Augusto César Sandino. Foi um dos fatores determinantes para o êxito da Revolução Sandinista, em 1979.
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À época do terremoto em Manágua – como recentemente, quando ocorreu o tsunami no Oceano Índico em 26 de dezembro de 2004 – não faltaram os que viram no episódio a ira divina. Seria Deus – que é amor, mas vingativo e ciumento (leia-se o novo livro de José Saramago, Caim) – o implacável punidor dos que o desagradam ou nele não creem, levando na baciada dos punidos as crianças e inclusive aqueles que nele acreditam (como agora, quando uma religiosa brasileira e o arcebispo do Haiti sucumbiram em Porto Príncipe).
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No caso do Haiti não é diferente, e quem já colocou seus preconceitos religiosos e étnicos de fora foi o próprio cônsul desse país em São Paulo. Antes de gravar entrevista para o telejornal do SBT, dia 14, ele comentou que "A desgraça de lá tá sendo uma boa para a gente aqui ficar conhecido. (...) Aquele povo africano, acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que á aquilo (...). O africano em si tem maldição. Todo lugar em que tem africano tá fodido."
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Mas no momento da gravação da entrevista, o representante do país mais pobre da América Latina sacou de um terço, para sensibilizar os católicos brasileiros: "Esse terço nós usamos pois nos dá uma energia positiva que acalma a pessoa. Como eu estou muito tenso e deprimido com o negócio do Haiti, a gente fica mexendo com vários para se acalmar".
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Carlos Pompe *A tragédia no Haiti – a geológica, não a social – demonstra, mais uma vez, a solidariedade que persiste nas pessoas, apesar do bombardeio individualista destes séculos capitalistas e décadas neoliberais. Pessoas de todo o mundo se apressaram em buscar meios e modos de socorrer as vítimas do terremoto. Organizações e Estados também se mobilizam. Mas surgem também os oportunismos e as ações dos que querem “levar vantagem em tudo”, como dizia antiga propaganda de cigarro.
TERREMOTO NO HAITI |
Vítimas da natureza, mas não só da natureza... |
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Não é incomum o flagelo de população latino-americana ser agravado pela junção dos desastres naturais com a exploração social. Foi o que aconteceu, para citar um caso semelhante ao haitiano de hoje, quando Manágua, capital nicaraguense, foi sacudida por um terremoto em 1972, resultando em 6 mil mortos e 300 mil desabrigados.
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No Brasil e em vários países do mundo a avalanche solidária se contrapôs ao abalo sísmico. Alimentos, remédios, vestimentas, dinheiro foram remetidos à região. Porém, a oligarquia comandada pelo então ditador local, Anastasio Somoza (de uma família que há anos explorava o país), apropriou-se do auxílio enviado. Havia um porém: a ditadura dos Somoza há anos era desafiada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional.
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Os escândalos envolvendo o desvio da ajuda humanitária e a inoperância do Estado fez com que até mesmo setores da classe média local, que se beneficiavam com a ditadura, passassem a ver com novos olhos a guerrilha da Frente inspirada pelo revolucionário Augusto César Sandino. Foi um dos fatores determinantes para o êxito da Revolução Sandinista, em 1979.
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À época do terremoto em Manágua – como recentemente, quando ocorreu o tsunami no Oceano Índico em 26 de dezembro de 2004 – não faltaram os que viram no episódio a ira divina. Seria Deus – que é amor, mas vingativo e ciumento (leia-se o novo livro de José Saramago, Caim) – o implacável punidor dos que o desagradam ou nele não creem, levando na baciada dos punidos as crianças e inclusive aqueles que nele acreditam (como agora, quando uma religiosa brasileira e o arcebispo do Haiti sucumbiram em Porto Príncipe).
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No caso do Haiti não é diferente, e quem já colocou seus preconceitos religiosos e étnicos de fora foi o próprio cônsul desse país em São Paulo. Antes de gravar entrevista para o telejornal do SBT, dia 14, ele comentou que "A desgraça de lá tá sendo uma boa para a gente aqui ficar conhecido. (...) Aquele povo africano, acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que á aquilo (...). O africano em si tem maldição. Todo lugar em que tem africano tá fodido."
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Mas no momento da gravação da entrevista, o representante do país mais pobre da América Latina sacou de um terço, para sensibilizar os católicos brasileiros: "Esse terço nós usamos pois nos dá uma energia positiva que acalma a pessoa. Como eu estou muito tenso e deprimido com o negócio do Haiti, a gente fica mexendo com vários para se acalmar".
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Então, tá!
Então, tá!
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Tomara que os haitianos também busquem inspiração no exemplo de Cuba e da luta de Sandino e dos Sandinistas para enfrentar não só a tragédia natural, mas principalmente a tragédia social, que há séculos flagela a América Latina.
Tomara que os haitianos também busquem inspiração no exemplo de Cuba e da luta de Sandino e dos Sandinistas para enfrentar não só a tragédia natural, mas principalmente a tragédia social, que há séculos flagela a América Latina.
* Jornalista e curioso do mundo.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessáriamente as opiniões do site.
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