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quarta-feira, janeiro 20, 2010

Krugman: Reforma deve impedir ruína do sistema financeiro



Economia

Vermelho - 8 de Janeiro de 2010 - 14h32

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A reforma no sistema de saúde é quase (bata na madeira) um negócio fechado. Próximo passo: consertar o sistema financeiro. Escreverei muito sobre a reforma financeira nas próximas semanas. Deixem-me começar fazendo uma pergunta básica: o que os reformadores devem tentar concretizar?

Por Paul Krugman, do The New York Times, na Terra Magazine

Houve muito debate público sobre proteger os tomadores de empréstimos. De fato, uma nova Agência de Proteção Financeira ao Consumidor para ajudar a acabar com as enganosas práticas de empréstimos é uma boa idéia. E a melhor proteção para o consumidor pode ter limitado o tamanho total da bolha imobiliária.
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Mas a proteção ao consumidor, mesmo que tenha bloqueado muitos empréstimos "subprime" (de alto risco), não teria evitado o acentuado aumento das taxas de delinquência nas hipotecas básicas convencionais. E certamente não teria evitado o crescimento repentino monstruoso e o colapso do setor imobiliário.
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A reforma, em outras palavras, provavelmente não possa evitar maus empréstimos ou bolhas. Mas pode fazer um grande negócio para assegurar que, ao explodir, as bolhas não façam o sistema financeiro ruir.
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Lembre-se de que a implosão da bolha das ações na década de 1990, apesar de imoral - os investidores americanos levaram um golpe de US$ 5 trilhões -, não provocou uma crise financeira. Então, o que foi diferente em relação à bolha imobiliária que se seguiu?
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A resposta rápida é que, se a bolha das ações criou um grande risco, esse risco foi razoavelmente pulverizado pela economia. Os riscos criados pela bolha imobiliária, ao contrário, foram fortemente concentrados no setor financeiro. Em consequência, o colapso da bolha imobiliária ameaçou arrasar os bancos do país. E os bancos desempenham um papel especial na economia. Se não funcionam, as engrenagens do comércio como um todo param sistematicamente.
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Por que os banqueiros assumiram tanto risco? Porque era de seu próprio interesse. Ao aumentar sua alavancagem financeira - ou seja, ao fazer investimentos arriscados com dinheiro emprestado -, os bancos puderam aumentar seus lucros de curto prazo. E esses lucros de curto prazo, por sua vez, refletiam-se em imensos bônus pessoais. Se a concentração do risco no setor bancário aumentou o perigo de uma crise financeira generalizada, bem, esse não foi o problema dos banqueiros.
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Esse conflito de interesses, é claro, é a razão pela qual temos regulações para os bancos. Mas, nos anos anteriores à crise, as regras foram relaxadas - e, o mais importante, os reguladores fracassaram na ampliação de regras para cobrir o crescente sistema bancário paralelo, representado por instituições como o Lehman Brothers, que desempenhavam funções semelhantes às dos bancos, ainda que não oferecessem serviços convencionais.
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O resultado foi uma indústria financeira enormemente lucrativa enquanto os preços dos imóveis estavam em alta - estimativas financeiras apontaram mais de um terço dos lucros totais dos Estados Unidos enquanto a bolha esteve inflada -, mas que ficou à beira do colapso assim que a bolha explodiu. Isso exigiu ajuda governamental em enorme escala e a promessa de ainda mais ajuda, se necessário, para retirar o setor financeiro do precipício.
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E aqui está a questão principal: como a ajuda veio com poucas amarras - em especial, nenhum dos bancos mais importantes foi nacionalizado, embora alguns, obviamente, não tivessem sobrevivido sem o auxílio do governo -, há todo incentivo para que os banqueiros repitam a performance. Finalmente, agora está claro que eles vivem em um mundo de "cara ou coroa" onde eles ganham e os contribuintes perdem.
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O teste para a reforma, então, é se reduzirá ou não o estímulo aos banqueiros e a habilidade de continuarem concentrando riscos.
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Transparência é parte da resposta. Antes da crise, dificilmente alguém se daria conta do tamanho do risco que os bancos estavam assumindo. Mais divulgação de informações, especialmente com relação aos complexos derivativos financeiros, evidentemente ajudaria.
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Além disso, um aspecto importante da reforma seria impor novas regras para limitar a alavancagem dos bancos. Irei me aprofundar na legislação proposta nas colunas futuras, mas aqui vai o que posso dizer sobre o projeto de reforma financeira que a Câmara aprovou - sem nenhum voto dos republicanos - no mês passado: seus limites para a alavancagem parecem razoáveis. Não muito grandes, mas razoáveis. Porém, seria muito fácil que essas regras enfraquecessem a ponto de não darem conta da tarefa. Uns poucos ajustes nas entrelinhas, e os bancos estariam livres para jogar o mesmo jogo novamente.
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E a reforma realmente deve confrontar as práticas de compensação do setor financeiro. Se o Congresso não pode coibir legalmente as recompensas financeiras para a tomada excessiva de risco, pode ao menos tentar taxá-las.
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Deixem-me finalizar com um recado político. A principal razão para a reforma é servir ao país. Se não tivermos uma grande reforma do setor financeiro agora, estaremos assentando os alicerces para a próxima crise. Mas há também razões políticas para agir. Pois existe uma fúria populista sendo construída neste país, e o tratamento cauteloso dos banqueiros por parte do presidente Obama colocou os democratas do lado errado dessa fúria. Se os democratas do Congresso não adotarem uma linha dura com os bancos nos próximos meses, pagarão um alto preço em novembro.
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Paul Krugman é economista, professor da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times. Ganhou o prêmio Nobel de economia de 2008. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.

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