A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, abril 05, 2007


Adriano Correia de Oliveira nasceu há 65 anos
Com a esperança na voz


Adriano Correia de Oliveira faria, segunda-feira, 65 anos. Nascido no Porto a 9 de Abril de 1942, morreu cedo de mais: apenas 40 anos depois, em Avintes, a mesma localidade que o viu crescer. Mas, se foi breve demais esta vida, não foi vivida em vão.

Em Coimbra, para onde foi estudar Direito, em 1959, deparou-se com uma intensa actividade estudantil e cultural. Ainda «caloiro», iniciou-se no teatro e na música. Com grande sensibilidade para a poesia e para a música popular e dotado de um timbre de voz único e de uma emoção intensa, que colocava em todos os temas que interpretava, iniciou uma carreira musical própria, juntamente com alguns dos compositores e músicos que o acompanhariam durante toda a sua vida. Em 1960, grava o seu primeiro disco, com o título Noite de Coimbra.

É também em Coimbra que toma contacto com o forte movimento antifascista estudantil, ao qual adere desde a primeira hora. Também em Coimbra, junta-se ao PCP, o seu partido de sempre e para sempre. Na sua música, da sua extrema emotividade, está sempre presente a sua dedicação aos trabalhadores, ao povo, aos ideais da liberdade, da democracia, do socialismo.

Entre 1960 e 1980, grava mais de noventa temas, que constituíram aquela que é uma das mais ricas obras musicais do século XX português. Depois do primeiro disco, grava Balada do Estudante (1961); Fados de Coimbra (1961); Fados de Coimbra (1962); Trova do Vento que Passa (1962); Lira (1964); Menina dos Olhos Tristes (1964); Adriano Correia de Oliveira (1967); O Canto e as Armas (1969); Cantaremos (1970); Gente de Aqui e de Agora (1971); A Vila de Alvito (1974); Que Nunca Mais (1975); Para Rosalia (1976); Notícias de Abril (1978); Cantigas Portuguesas (1980) e, editado a título póstumo, Memória de Adriano (1983).

Antes e depois do 25 de Abril percorre o País e o mundo com a sua voz, carregada de esperança, em espectáculos musicais ou em sessões e comícios do seu Partido. Muitas das vezes sem ganhar nenhum dinheiro com isso. Morreu em Avintes, em Outubro de 1982. Tinha 40 anos.
Em seguida, publicamos três textos, da autoria de José Sucena, sobre três vertentes da vida de Adriano Correia de Oliveira para lá da música: o Adriano amigo, filho, militante. Um olhar, por quem o conheceu a fundo.

O Partido

A quinta do Engenheiro Flávio Martins, na Arrancada, ali perto de Águeda, foi durante muitos anos lugar de encontro de muitos comunistas e de outros opositores ao regime fascista.
Homem do Partido, desde novo dividia a sua vida entre o Porto e Águeda conspirando, promovendo reuniões para discutir acções e iniciativas da «oposição» ou meros encontros onde se discutia política e se convivia.

Exímio guitarrista e compositor inspirado, o António Portugal, casado em Águeda, conhecedor desta disponibilidade e apreciador, sem fraquejar, dos excelentes vinhos, tintos e brancos, do Engenheiro Flávio, trouxe à Arrancada o Adriano. Corria o ano de 1962 e desenvolvia-se uma intensa luta na Academia de Coimbra contra a ditadura.

Chegado a Coimbra para frequentar o primeiro ano (1959/60) da Faculdade de Direito, rapidamente a voz límpida e forte e ao mesmo tempo meiga do Adriano se impôs, tendo cantado e gravado fados tradicionais de Coimbra de autores como António Menano ou Luís Goes.
Este convívio musical e a luta em que a Academia estava envolvida, permitiu ao Adriano tomar contacto com uma realidade que, até ali, lhe tinha passado um pouco de lado.

Leu, ouviu, discutiu, conheceu e logo se tornou militante antifascista e, de seguida, aderiu ao Partido.

Com forte implantação na Academia, o Partido tinha entre os seus militantes e apoiantes na luta que travava pela liberdade e pela autonomia das universidades vários poetas que, inspirados pela ideologia libertadora e revolucionária que então os moldava como pessoas, faziam dos seus versos armas de luta e de resistência.

Por razões políticas, mas também de sensibilidade emergente e estéticas, o Adriano abandona os fados tradicionais de Coimbra e abre-se para as canções de intervenção.

Canta pela liberdade contra a guerra colonial. Canta pela terra e pela paz. Assume-se como um lutador, um militante contra o fascismo.

Rapidamente se torna conhecido entre os comunistas e outros antifascistas que o chamam para cantar em tudo o que são iniciativas contra a ditadura. Percorre o País com coragem, determinação e total disponibilidade.

Canta em associações culturais e recreativas, em pequenas ou grandes sessões de propaganda política da CDE – Comissão Democrática Eleitoral, aquando das eleições de 1969, está presente nos Congressos Republicanos de 1969 e 1973, vai a sessões de campanha das listas apoiadas pelo Partido nas eleições para as associações académicas, ficando célebre a sua actuação, com o José Afonso, em 1969 na Faculdade de Medicina que acabou com uma violenta entrada da polícia; é visita regular da então chamada Representação Comercial de Cuba de cuja Revolução é apoiante incondicional e que acompanha passo e passo com a leitura do Granma e com a audição dos discursos de Fidel Castro que lhe chegavam em discos de vinil.

Pôs a sua casa à disposição do Partido onde se fariam várias reuniões de camaradas clandestinos, alguns dos quais lá estiveram por curtos períodos escondidos da PIDE. De entre eles, um pelo menos, disso se esqueceu quando, já céptico, não prestou a ajuda de que o Adriano precisava.
Chegada a liberdade, cantou com o seu Partido, o Partido Comunista Português, em tudo o que era sítio, com condições e sem condições, em pavilhões e ao ar livre, em cidades, vilas e aldeias, para multidões ou para poucas pessoas em que sobressai, entre algumas outras, uma sessão da campanha eleitoral de 1976 numa aldeia do concelho de Viseu, em que cantou em cima de um carro de bois, ao ar livre e sem instalação sonora, para um reduzido número de pessoas que o receberam de forma hostil, mas que soube acalmar e criar as condições para que o cabeça de lista pudesse intervir.

Homem de partido, militante incansável e de uma disponibilidade total, forte de convicções, afável e recto, o Adriano voltou a passar por Águeda, num sábado de manhã, a caminho do Barreiro onde foi cantar numa iniciativa do Partido. No sábado seguinte, 16 de Outubro de 1982, partiu. Mas ficou connosco.

in Avante - 2007-04-05

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