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| Os políticos vendidos que mandam em Portugal acenam continuamente com pretextos que mergulham cada vez mais o país na onda de dependência do capitalismo mundial e aceleram a ruína das camadas humildes e intermédias da população. Foi o caso da adesão à CEE e dos miríficos fundos europeus. É a história de fadas do défice e do crescimento económico. Será, mais tarde, o acentuar do argumento de que é indispensável ao País aceitar uma só Constituição Europeia que desfaça, de vez, a Revolução de Abril e as suas conquistas democráticas. Entretanto, os ministros e as forças políticas dominantes trabalham determinadamente para reconstruir um poder pessoal que muito se vai já aproximando do autoritarismo fascista de Salazar. Todas as suas decisões públicas têm duas faces e são classistas. Em nome de uma crise financeira que só é sentida por quem não tem dinheiro, florescem a miséria, o desprezo pelos que trabalham e pelas suas famílias, a destruição dos patamares inferiores da classe média e a corrupção generalizada. Na certeza de que, mais tarde ou mais cedo, algum salvador da Pátria se revelará.
Entretanto, o povo português laborioso sente a mão pesada dos exploradores e dos mandarins do grande capital. Encerram-se, a esmo, escolas, urgências, esquadras de polícia, atendimentos permanentes e recentemente – veja-se só! – até museus, cadeias e tribunais. Logo surge uma clientela selectiva composta por Misericórdias e especuladores financeiros. Tudo, em nome da crise.
Em compensação, em 2006, só em lucros declarados, os cinco maiores bancos portugueses confessaram resultados líquidos de 2660 milhões de euros. E os cinco maiores grupos empresariais disseram confirmar mais valias superiores a 4 mil milhões. É este o preço do dinheiro. As fortunas que os pobres pagam aos ricos para que estes sejam mais e mais ricos e eles próprios mais pobres.
O dinheiro de Deus
Mas neste espaço, o que nos interessa são as religiões. Convém, porém, repetir que ninguém crítica o direito a ter fé. Falamos nas religiões organizadas que dão lucro e amparam a exploração do homem. A Igreja Católica portuguesa, é inegável, funciona como um sólido grupo económico. A hierarquia passeia-se com completo à-vontade no mundo dos negócios. Tem para isso boas razões. Independentemente do governo de Sócrates resistir ou não à erosão causada pelas suas próprias políticas, a igreja está segura dos compromissos com ela assumidos. E está consciente da sua própria força nesta área.
Os contratos fabulosos surgem a cada passo e são irreversíveis caso se mantenham os quadros políticos actuais (mais do que a manutenção do actual Governo). Exemplos, apenas, são a construção do Aeroporto da Ota, a reconversão do Turismo religioso e cultural, o TGV, as reformas da Administração Pública, do Ensino, da Saúde, da Segurança Social, a valorização imobiliária, o choque tecnológico, as energias alternativas, as OPAS e as fusões, etc., etc. Tudo toca em áreas onde a Igreja tem interesses enraizados ou uma indiscutível presença histórica. A igreja católica portuguesa e o Opus Dei comandam os seus grupos bancários, administram enormes áreas verdes e urbanas, gerem poderosos cartéis da construção civil e do negócio imobiliário, controlam 80 % dos monumentos nacionais, jogam livremente com o voluntariado e as organizações lucrativas e não lucrativas (todas caritativas) e cruzam incessantemente interesses com o grande capital financeiro.
Mais importante, ainda, é que a igreja portuguesa está longe de trabalhar sozinha no plano nacional. Funciona em rede com as estruturas comunitárias, com as mais altas sedes capitalistas e trilaterais e doutrina figuras católicas dominantes nos centros nevrálgicos europeus e americanos. Tem óptimas relações com o poder castrense e com os principais serviços de segurança e informação.
Neste sentido do êxito vital das finanças, da diplomacia e da capacidade da Igreja sobreviver a quaisquer alterações institucionais, a hierarquia portuguesa está tranquila. O poder junto das elites nunca lhe fugirá das mãos. Que tipo de igreja será a de amanhã, é questão que aparentemente pouco interessa aos bispos. A sua disponibilidade para se converterem, no futuro, em bispos-banqueiros ou em teólogos-economistas, é total. Assimilaram bem a lição do liberalismo que tanto combateram e abandonou os seus ideais pelo pragmatismo que dá acesso ao poder e ao dinheiro. Para já, a igreja subordina-se às leis do mercado. Navega à vista e prepara o futuro. Compra em baixa e vende em alta.
É este o preço do dinheiro eclesiástico. O papa, por exemplo, só apela à Liturgia, à abstinência, ao uso do Latim e à Eucaristia. Os pobres, melhor será esquecê-los.
in AVANTE 2007.04.12
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