Eça de Queirós - breves
* Victor Nogueira
Para além de outros escritores, adoro também o Eça de Queirós, oscilando entre a fina ironia e o humor cáustico, bem como a revolução que introduziu na escrita portuguesa. Aprecio Uma Campanha Alegre, que em muitos casos se poderia aplicar ao Portugal de Hoje, bem como as suas crónicas e também as Cartas, assim como o seu poder de evocação, que por vezes quase nos faz ver e viver aquele tempo, como no Egipto, aquando da inauguração do Canal de Suez, a que assistiu.
E gosto imenso da Relíquia e também do humor das Minas de Salomão, cuja «tradução» transformou o original. Mas o Eça não escreveu só romances que pretendiam retratar a burguesia do seu tempo; não esqueceu a «solidariedade» para com os deserdados da sorte, apesar de por vezes serem «maltratados» nas suas obras, como no Crime do Padre Amaro.
Eça, pelo menos enquanto consul em Cuba, escreveu relatórios políticos bastante interessantes. Era talvez um diletante, ou por feitio ou por auto-defesa.
E quanto ao uso de estrangeirismos que alguns criticam, eles podem constituir uma renovação. Quantos novos termos, por exemplo, foram introduzidos pela generalização da informática?
Todos dizemos e-mail e não correio electrónico, link e não ligação ou hiper ligacão, site e não sítio ou página, PC (personal computer) e não CP (computador pessoal), Web e não teia. E qual a tradução de blog? E tudo isto faz parte da linguagem corrente que a maioria sem pruridos ou preciosismos utiliza. Para não falar na linguagem nos chats, com abreviaturas que muitas vezes são abreviatura que reproduzem o som, para além da utilização de smileys. (a propósito, qual o equivalente desta palavra em português?) E falamos de Windows e não de Janelas, de Word e não de Palavra, como nomes de programas de ... software. Isto para não referirmos o hardware, internet explorer (e não explorador da internet) ou browse.
É saboroso ler os textos medievais, como as cantigas de amigo ou a Crónica de Fernão Lopes. Mas para os leigos, o texto original é incompreeensível, mas é possível uma «adaptação» que, conservando o «sabor» daquele tempo, o torna inteligível para os leitores de hoje. Exemplo disso são as Crónicas de Fernão Lopes, em «versão» de José António Saraiva, ou mesmo a saborosa «Peregrinação» de Fernão Mendes Pinto, apesar da eventual censura que os Jesuítas da época tenham feito, para »Maior Glória de Deus»!
José Maria Eça de Queirós nasceu em 1845 e faleceu em 1900. Considerado o mais importante prosador realista e dos melhores da literatura portuguesa, Eça de Queirós deixou uma imensa produção literária, que muita influência exerceu sobre a evolução do próprio romance em língua portuguesa. Participou ativamente das polêmicas de seu tempo por meio de escritos críticos ( As Farpas ), de conferências ( participou dos debates e foi um dos que falou nas Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense ), de sua copiosa correspondência e, sobretudo, por meio das próprias obras de ficção.
Com a publicação de O Crime do Padre Amaro, em 1875, Eça de Queirós inicia o romance realista em Portugal , apresentando nessa obra algumas características básicas de sua postura literária: crítica violenta da vida social portuguesa, denúncia da corrupção do clero e da hipocrisia dos valores burgueses. Essas características acentuam-se ainda mais no romance O Primo Basílio, impiedosa expressão da decadência da sociedade burguesa. Sua visão corrosiva e satírica, por outro lado, manifesta-se em O Mandarim e A Relíquia.
Com Os Maias, porém, em 1888, observa-se uma mudança nessa atitude irreverente e destruidora de Eça de Queirós. Nas palavras do crítico João Gaspar Simões , "enquanto em toda a sua obra anterior, Eça de Queirós se limitara a desenrolar o sudário dos pecados sociais do homem e apontar as mazelas da vida social portuguesa, neste romance deixa transparecer os mistérios do destino e as inquietações do sentimento, as apreensões da consciência e os desequilíbrios da sensualidade ."
Segue-se então uma nova fase nova evolução literária de Eça de Queirós, em que a descrença no progresso e nos ideais revolucionários se manifesta na expressão saudosa da vida do campo e na valorização das virtudes nacionais. É o momento de obras como A Cidade e as Serras e A Ilustre Casa de Ramires, de contos como Suave milagre e de biografia religiosas.
1 comentário:
Olá
O «teu» Eça deu-me a ideia de duas publicações no meu Kant_O. Vi que passaste por Mafra e arredores, mas convido-te a passar pelos meus dois despretenciosos textos que lá coloquei, embora me pareça - ai esta «memória» - já te tenha dado conhecimento de parte dum deles. E se procurares por Eça, escrevendo no cantinho superior esquerdo, encontrarás por lá, algures, um texto sobre o POVO.
Bjos
Os escritos de Eça e as viagens podem ser outros «amores» na vida de cada um de nós.
VN
Enviar um comentário