A fúria do Zé do Casarão
* Victor Nogueira
Hoje à tarde o dono do Zé do Casarão estava furioso, telefonando quando por lá passei a comprar o "Comércio do Funchal" (agora gastando páginas numa inútil polémica com a "República"; uma guerra de alecrim e manjerona!). E o senhor desabafou comigo. Estava furioso com o chefe da PIDE. Que mandou lá buscar o último fascículo da "Enciclopédia do Vilhena", que foi devolvido meia hora depois, por um contínuo, que disse: "O senhor chefe diz que pode vender!" Ah! Ah! Ah! Porque, dizia o Zé, isto é um abuso. Se queria ler, pedia‑mo emprestado. Porque ele não tem competência para decidir ou não da apreensão de revistas e livros, sem autorização do Ministro do Interior." Ah! Ah! Ah! E acrescento-lhe eu: "E de qualquer modo não podia levá‑lo sem levantar um auto de apreensão" E lá deixei o Zé, furioso, telefonando não sei para quem." ([1]) (MCG - 1973.11.27)
[1] - No final de 1998 voltei a Évora e onde era a tabacaria do Zé do Casarão havia outra que nada tem a ver com a desta história, atafulhada de papeis e jornais amontoados e impregnada do cheiro a mijo de gato e uma cabine telefónica não tão concorrida como a que havia ao cimo da Rua do Raimundo. Na tabacaria do Zé do Casarão parava uma prostituta de grandes óculos e alguma timidez que, sem provocação, me saudava sempre que nos cruzávamos e a que faço referência no meu poema Obrigado.
1 comentário:
Interessante artigo.
Mas amigo não se lê o texto todo, algumas palavras estão cortadas.
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