A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, agosto 11, 2007

Torga: A Poesia não morre

* Barbosa Tavares

Miguel Torga consciencializa a límpida noção da brevidade da vida, utlizando no pórtico de todos os seus diários a expressão do eminente diarista francês Amiel:" cada dia, deixamos um pedaço de nós próprios sobre o caminho".
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Do autor se diz que é lamuriento, agónico, queixoso das suas maleitas fisicas que, aos 86 anos, lhe fragilizariam o corpo que não o espírito.Veja-se a argúcia, a limpidez da razão ,a translucidez do olhar sobre o seu mundo em derredor da vida.
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Evidentemente que Torga não carece deste, nem de outro ignoto escriba que venha a terreiro defender a suas flutuações humorais a sua, por vezes, impertinácia ou rabujice, a contumácia sibilina com que "prenda" os noviços plumitivos -- dizem-nos-- faces aos que abordam as letras sem os prmores do cinzel granitico Torguiano.
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O autor dos "Diários", entre outras coisas, era uma alma duplamente rejubilante e amarga. A sua obra nao existiria tal a conhecemos não fora a perrmanente confrontação do vivente que comunga com as pedras do seu Marão o mais pungente e inquiridor telurismo, ou, acaso, senão debruçásse implacàvelmente sobre a condição dramática do homem face às múltiplas questionações perante o epílogo da vida.
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Ora, descarnar a alma, reflectida e demoradamente, com jorros de solar lucidez, haveria fatalmente de dilacerar o autor, tal a implacável questionação ousada que , forçosamente, haveria de, em assomos de agnosticismo e mitigado desespero, amargurar-lhe a alma.
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Mas é um Torga de ousadia granítica que faz bandeira da autencidade do seu modo de ser, que constitui fundamentalmente a sua valorizadíssima liberdade, levando-o sem rebuços a escrever no seu último diário XVI, expressões verdadeiras e acres, com este dessasombro., :" É escusado teimar. A ser banal, a dizer banalidades e a pensar banalidades é que o português é português".
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Homem ousado, virulento até, é o mesmo que sentindo dolorosamente a vida fenecer, parece implorar
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Complacentemente, ternura para as suas Chagas.
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Reclamando lágrimas para as suas dores, ele o diz, deste jeito: " nasci com a triste sina de esgotar todos os cálices da amargura. Até este agonizar no palco do mundo a pedir lágrimas e a receber apupos e felicitações.
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Não se escreve lancinante e luminarrmente a vida, sem a ter desse modo vivido—agónica e cruel--, na hora em que a Parca ja enlaçou com os laços visíveis de uma redenção luminosamente enxergada. Daí que a mais justa homenagem a Miguel Torga---homem-escritor-poeta—seja recitar-lhe o seu "REQUIEM POR MIM" que o poeta sabendo-se, dolorosamente mortal, a entrar nos portões do Além, cantara, esperançado na eternidade, à beira do seu nada distante sepulcro , a 10 de Dezembro de 1993, deste jeito.
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Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruina humana
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os orgãos e sentidos
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nela tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei.
E caisse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E em largo oceano eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.
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Brampton, Dezembro de 1993
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in PortugalClub

5 comentários:

De Amor e de Terra disse...

Muito bem, muitíssimo bem Victor, este teu dissertar sobre o Poeta Amado...

Quem não sabe o que é ser Serrano, não compreende esse Amor granítico e fechado, que não é menos Amor que qualquer um palavroso e de ademanes que outros possuem e de que se ufanam, não...
antes pelo contrário; um Amor assim, às coisas, aos "bichos", à Natureza enfim, até mesmo à humana,
é como os trovões de Maio, que chegavam (chegam ainda às vezes) a levantar terra e penedos, de tão impetuosos.
Torga, amava assim, silenciosamente, próximo do cataclismo e deixava somente antever nos seus versos, uma pequeníssima parte da força indomável do seu Amor.
Digam o que disserem os mais "sabedores", para entender Torga é preciso viver no tojo e amar a penedia!

Um bj. da

Maria Mamede

Anónimo disse...

A Poesia nunca morre...
Um Abraço

Victor Nogueira disse...

O seu a seu dono
O texto não é meu mas de Barbosa Tavares, que gosto de ler e se encontra em

http://www.terranatal.com/notic/cronicas/c_avo_saudade.htm

em

http://www.portugal-linha.pt/opiniao/BTavares/index.html

e em

http://manuelcarvalho.8m.com/SATURNIA.html

Victor Nogueira

Maria P. disse...

Escritor de referência sem dúvida.

Um abraço*

Victor Nogueira disse...

Barbosa Tavares encontra-se também em

http://www.eusou.com/premium/cronicas.asp?det=1402 (Arte e Sonho)