A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, agosto 09, 2007

A minha América é o Império

Entrevista de Susan Sontag ao jornal L’Unità,
em 09.06.2003,
por ocasião do lançamento do seu último livro na Itália.
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Susan Sontag é uma senhora de setenta anos, bastante jovial, com cabelos muito longos, as mãos magras e os olhos negros muito profundos. Fala sem parar, seguindo o fio do seu raciocínio, que é sempre tenso procurando distinguir entre a realidade e a imagem que a realidade reflete. Ela teme em ficar presa no emaranhado da imagem, visto que a sociedade moderna — diz — vive sob a ditadura da imagem. Susan Sontag é uma das maiores e mais célebres intelectuais americanas. Escritora, romancista, autora de ensaios, um pouco socióloga, um pouco politóloga, bastante filósofa, autora de uma dezena de livros famosos e de muitos artigos publicados em importantes jornais e revistas americanas.
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Vive em Nova York, mas trabalhou e estudou em várias partes dos EUA, de Chicago à Califórnia. Fala e escreve sempre dando a impressão de absoluto equilíbrio e de imparcialidade. Porém é capaz de juízos ferozes. E de imprevistas arrancadas: secas, letais. Em setembro de 2001, por exemplo, foi a única personalidade pública do mundo que ousou afirmar: "Não acho que podemos dizer que os kamikazes sejam covardes. Mostraram ter uma certa coragem…" Foi um grande escândalo.
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Hoje está em Roma, e nesta noite, em Massenzio, às 21 horas, apresentará o seu último livro (junto com Laura Morante e Ludovico Einaudi). O seu último livro se chama Davanti al dolore degli altri (Frente à dor dos outros) (Mondadori, 112 páginas, 13 Euros). É um livro sobre a diferença entre a imagem e a realidade. Muito crítico com a fotografia, os filmes, a televisão. Mas se perguntada sobre o assunto do livro, ela responde: "a guerra". Ela acredita ter escrito um livro sobre a guerra, e provavelmente é isso mesmo. Ela viu a guerra; por exemplo, passou três anos em Sarajevo, entre os anos de 93 e 95, durante o furioso assédio dos sérvios. E sabe que o fato de tê-la visto condicionou muito o seu modo de pensar, atingindo a sua estrutura de fria intelectual nova-iorquina.
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Lendo o seu livro me parece ter entendido o seguinte: a sra pensa que a escrita seja muito superior à imagem. A sra acredita que a escrita transmite informações, pensamento, juízos; a imagem, ao contrário, sozinha, transmite muito pouco. É isso mesmo?
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Se queremos lembrar, então precisamos da imagem; se queremos, ao contrário, entender, então precisamos da palavra, da escrita. Eu não estaria nunca disposta a renunciar às imagens, ao prazer que uma imagem me dá, o qual não é em nada um prazer inferior àquele fornecido pelo conhecimento; é um prazer diferente. Se o problema é entender aguma coisa, daí sim: as palavras são superiores.
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No seu livro a sra faz observar que os americanos são formidáveis em tomar conta da memória dos horrores cometidos pelos outros povos, mas ao contrário, são incapazes de falar dos próprios horrores. A sra diz, por exemplo, que nos EUA não existe um museu da escravidão, não existe um museu sobre Hiroshima, não existe um museu sobre o genocídio dos peles vermelhas. Qual é o motivo desses esquecimentos?
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A grande força, o grande poder dos EUA se baseia em três convicções incontestáveis que o nosso povo conserva intactas. A primeira convicção é que os EUA são a exceção a todas as regras históricas. As regras dizem que os povos e as Nações erram? Os EUA não erram nunca. A segunda convicção é que os EUA não podem perder: triunfam sempre. A terceira convicção é que os EUA são sempre bons, sempre fazem aquilo que é correto. Existe ainda outra certeza, ligada a estas três: que nenhum líder americano foi maldoso. Talvez algum tenha sido um pouco corrupto, um pouco medíocre, mas maldoso nunca. Em nenhum outro país do mundo acontece isso. Nunca se viu isso na Itália, na Alemanha, na França. Vocês nunca defenderiam Mussolini ou Hitler, ou o terror de Robespierre… então, entende-se que com base nessas idéias é bem difícil conservar a memória dos grandes erros ou dos grandes horrores do próprio país. Veja que há cinco ou seis anos, o Smithsonian (importante instituição cultural de Washington) decidiu montar uma mostra sobre Hiroshima. Recolheu todos os documentos, as declarações de Truman, as reconstruções, etc. E depois, em uma saleta menor, colocou em exposição as teses e os documentos daqueles que eram contrários ao lançamento da bomba atômica, dos que acreditavam que não era necessário lançá-la porque a guerra já tinha sido vencida, ou daqueles que dizem ter se tratado de um crime de guerra, ou que antes de se lançar a bomba sobre Nagasaki podiam ter esperado pelo menos algumas semanas para ver se o Japão se rendesse. Alguém viu esta parte da mostra com antecedência e protestou, o assunto acabou no Senado e a mostra toda foi cancelada.
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A sra quer dizer que nos EUA existe uma discreta censura?
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Claro que existe censura. Olhe só para a história recentíssima. O governo decidiu declarar guerra ao Iraque. Bem, na nossa mídia, nas televisões, não são mostradas as vítimas civis, negligenciam-se as notícias problemáticas, escondem-se fatos, acontecimentos, imagens. Quem decide? O governo, os políticos? Não, quem decide são os responsáveis pelas informações. São eles que estabelecem o que é patriótico e o que não é. Se uma certa informação ou um certo serviço não são patrióticos, não são transmitidos. Cada governo tem um seu sistema de censura. Na Itália também, o governo Berlusconi tem interesse em operar certas censuras. Não há nada de novo nem de tão surpreendente. O importante é que a censura não seja completa, não seja totalitária. Vocês na Itália não têm problema de criticar a Itália. Nos EUA, às vezes, isso não é possível. Existe o mito da inocência eterna dos EUA que não pode ser violado.
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Qual a sua opinião sobre a guerra do Iraque?
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Foi conseqüência da decisão do governo americano de dominar o mundo mais ativamente. Isso devido a duas razões, basicamente. A primeira razão reside no juízo de que os EUA dão sobre o Oriente Médio: pensam que seja um lugar instável e ameaçador. A segunda razão é que o governo americano não se sente (e não se sentirá) de modo algum vinculado a qualquer tratado, nem ao direito internacional. Por isso decidiu conquistar um país do Oriente Médio e escolheu o país mais fraco.
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A sra acha que o Iraque era o país militarmente mais fraco do Oriente Médio?
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Sim, acho que sim. Sabia-se muito bem que o país estava muito fraco e sabia-se que não tinha armas de extermínio em massa. Por isso foi escolhido. A conquista do Iraque consentiu alcançar três objetivos: 1) demonstrar que aquela parte do mundo pode ser invadida. 2) obter um certo controle sobre o petróleo. 3) chegar a uma forma de ocupação permanente, de modo a enfraquecer a posição da Turquia e da Arábia Saudita, que agora não são mais aliados indispensáveis. Esse era o plano imperialista dos americanos, e foi levado a cabo com sucesso em plena violação do direito internacional. Tudo isso não altera a minha convicção de que Saddam fosse um horrível ditador…
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Mas a sra, há quatro anos, era favorável à guerra do Kosovo. Porque derrubar Saddam é imperialismo e derrubar Milosevich tudo bem? Talvez Milosevich fosse mais perigoso que Saddam?
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Saddam era perigoso, muito perigoso para o seu povo. Não para o mundo. É verdade, apoiei a tentativa de derrubar Milosevich. Porque? O governo iugoslavo estava cometendo massacres. A guerra tinha começado vários anos antes, em 92, na Croácia e depois na Bósnia. Eu me lembro que estava aqui na Itália naqueles anos e estava boquiaberta. Dizia: "estão bombardeando Dubrovnic, estão despedaçando a costa da Dalmácia. Será possível que vocês falam dessas coisas como se fossem normais, não percebem que a guerra voltou à Europa?" Por isso fui favorável à intervenção contra Milosevich. Acho que em alguns casos uma expedição militar contra um líder que esteja cometendo massacres, dentro e fora de suas fronteiras, seja uma expedição legítima. Por exemplo, eu fui a favor de uma intervenção inglesa em Serra Leoa, e teria gostado se alguém tivesse sido enviado para parar o genocídio em Ruanda.
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Então a sra não tem críticas contra aquela guerra?
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Tenho críticas. Por exemplo, deploro aqueles bombardeios feitos de uma altura de dez mil metros, que provocavam vítimas civis e danos indiscriminados. Mas essas críticas não mudam a minha idéia de base. Eu justifiquei a intervenção americana na Iugoslávia sobretudo por esse motivo: era evidente que os americanos não queriam ocupar a Iugoslávia ou colocar uma base militar em Belgrado. Vê como é grande a diferença com o Iraque? A do Iraque foi uma volta à velha guerra de ocupação imperialista. Como aconteceu em 1898, quando os americanos venceram os espanhóis e tomaram a base de Guantânamo, em Cuba, e a transformaram em uma ilha do diabo, onde não há Estado, não há lei, não há direitos. Parece até que estão instalando um quarto da morte, onde possam ser executadas as sentenças capitais sem a intervenção da lei.
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A sra viveu três anos em Sarajevo, sob o fogo das bombas sérvias. Essa sua experiência teve algum peso na sua posição sobre a guerra americana contra Milosevich?
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Eu também me faço essa pergunta continuamente. Sim, acho que sim, acho que na minha muito sofrida decisão de apoiar a ação militar, tenha tido uma influência a minha experiência, ter visto as pessoas morrerem todos os dias em Sarajevo. Lembro-me de que naquele período, Noam Chomsky denunciava a intervenção americana. Eu admiro Noam Chomsky e compartilho muitíssimas coisas que ele apóia, mas naqueles dias eu pensava: "Mas o que está dizendo aquele homem que nunca viu uma guerra? O que está dizendo do seu escritório de Cambridge, no Massachussets?ª. Sei que é uma resposta fraca à sua pergunta, mas é uma resposta.
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in http://www.imediata.com/lancededados/SSONTAG/sontag_america.html

1 comentário:

Anónimo disse...

olá! vim vêr o teu blog e agradecer os parabéns de ontem,mas te confesso k não aguentei ver as imagens até ao fim e para chegar aki teve de ser bem rápido. eu sei k a vida não é um mar de rosas e k somos todos iguais pq todos temos um corpo uma alma um coração,mas claro k não levamos a vida igual a todos. há muito sofrimento muita dor e pobre das criancinhas k kerem uma migalha pa comer e não têm. são imagens k chocam , mas é a realidade. ontem kuando mandaste a mens ainda havia de haver bolo pois a minha sobrinha tá no canadá e são 6 horas a menos k portugal. o ano passado ela tava cá de férias e passei o dia com ela como este ano não tá escrevi-lhe o poema.
bjo
carla granja