A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, agosto 02, 2007



O dia em que tudo pareceu possível
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"O que há de tão especial em Lisboa?", perguntava uma personagem de 'Casablanca'. E alguém respondia "O avião para a América."
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Arquivo DN/1945
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* Albano Matos
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A 8 de Maio de 1945, dia da capitulação alemã, milhares de jovens universitários portugueses abandonam as aulas, juntam-se à multidão já concentrada na Baixa de Lisboa e percorrem as ruas, empunhando bandeiras dos países aliados e gritando "Vitória" e "Democracia". No dia seguinte, as manifestações prosseguem, em direc ção às embaixadas de França, Reino Unido e Estados Unidos. Enquanto a polícia carrega sobre os manifestantes, delegações destes entregam mensagens.
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Mário Soares recorda, em Ditadura e Revolução (entrevista com Maria João Avilez) "Nas embaixadas, fomos recebidos com frieza absoluta; pediram-nos para não nos entusiasmarmos, a guerra ainda não terminara, a situação era delicada. Mas nós estávamos eufóricos. Julgávamos que era o fim do Salazar e do fascismo. Eu convenci-me, em absoluto, de que o regime tinha acabado..."
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Salazar preparara a tempo as condições básicas da sobrevivência política. Apesar do deslize de dia 3, quando o Governo português decretou três dias de luto nacional pela morte de Hitler (decisão que gerara grande controvérsia junto dos sectores aliadófilos do regime), retomou rapidamente a iniciativa. A 18, discursa na Assembleia Nacional sobre "Portugal, a Guerra e a Paz", antecipando já as condições do pós-guerra. No dia seguinte, acolhe no Terreiro do Paço uma enorme manifestação de apoio, mandada organizar às câmaras municipais e aos governos civis.
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O jovem estudante Salgado Zenha seria, nessa data, demitido pelo Governo de presidente da Associação Académica de Coimbra (para que fora eleito em Dezembro de 1944) por se ter recusado a participar na manifestação.
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Quando - em 25 e 26 de Junho - decorre em S. Francisco a conferência que daria origem à Organização das Nações Unidas (ONU), já Salazar recebera de ingleses e norte-americanos sinais suficientes de que, preenchidas determinadas condições (ou formalidades), poderia contar com o seu apoio.
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Neutralidade
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Salazar até fez por merecer esse apoio, navegando por entre os escolhos das simpatias pessoais e a necessidade de manter o País (incluindo, obviamente, as colónias) de bem com os beligerantes, ao mesmo tempo que o afastava da beligerância.
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O regime prevenira-se na frente externa. Em 17 de Março de 1939 - ainda antes do final oficial da Guerra Civil de Espanha - assinara o Pacto Ibérico com a Junta de Burgos, liderada por Franco. Um ano depois, ao Pacto é acrescentada uma declaração conjunta de neutralidade, tendo Salazar incluído quanto à posição portuguesa a "neutralidade estrita".
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Em 17 de Agosto de 1939, assina com o Reino Unido um acordo de cooperação militar pelo qual Londres participaria directamente no esforço de rearmamento de modernização das Forças Armadas Portuguesas. Esse acordo só começará a ser cumprido em Setembro de 1943, quando são concedidas aos britânicos facilidades militares nos Açores.
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Em 7 de Maio de 1940, são assinados com a Santa Sé a Concordata e o Acordo Missionário.volfrâmio. A neutralidade portuguesa não impediu a boa marcha dos negócios. O volfrâmio tornou--se no centro de uma verdadeira batalha entre ingleses e alemães. Estes detinham o controlo de grande parte do circuito de exploração. Aqueles pressionavam em vão o Governo português - sobretudo a partir de 1943, quando era mais evidente a cooperação de Salazar - para que suspendesse a venda de volfrâmio aos alemães.
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Os próprios ingleses começaram então a comprar o minério em grandes quantidades, sem precisarem efectivamente, só para inviabilizarem a venda ao inimigo. Com esta "guerra" comercial, os preços subiram para níveis impensáveis, com um efeito absolutamente original na economia portuguesa os três únicos anos em que a balança comercial portuguesa é positiva são os de 1942 a 1944.
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Há outro efeito da "batalha do volfrâmio", com repercussões graves muitos anos depois os alemães pagavam geralmente em ouro e o Banco de Portugal enche-se com barras de ouro com a cruz suástica. Esse ouro - como não seria difícil de calcular, mas mais tarde virá a ser provado com rigor - vinha, na sua maioria, dos judeus, refugiados e perseguidos cujos bens o regime nazi tinha expropriado.
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DIVISÕES
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A política oficial de "estrita neutralidade" adoptada por Salazar acabaria por se inclinar claramente para os Aliados à medida que a guerra se ia aproximando do fim e que o próprio ditador começava a pesar a questão da sobrevivência do regime. Mas, durante anos, essa política teve outra vantagem evitar clivagens profundas entre o pessoal político e as instituições sobre as quais a ditadura assentava o seu poder.
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Essa "neutralidade" permitia, ao mesmo tempo que "aliadófilos" e "germanófilos" colaborassem, discretamente mas de forma activa, com os países das suas simpatias. Isso acontecia, para dar apenas dois exemplos, com a PVDE (antecessora da PIDE) e com o próprio Governo a facção germanófila era comandada por Santos Costa (subsecretário do Exército quando Salazar assume a pasta da Guerra, em 1936, ministro da Guerra, entre 1944 e 1950, e da Defesa, até Agosto de 1958); a aliadófila por Armindo Monteiro (ministro das Colónias e dos Negócios Estrangeiros até ser colocado como embaixador em Londres, onde chegou a ser considerado por Churchill como uma alternativa a Salazar, se este não colaborasse, nomeadamente na concessão de facilidades militares nos Açores).cidade aberta. Este clima político, aliado a uma "neutralidade" em que agiam quase à vontade representantes de todos os beligerantes, atraiu a Lisboa milhares de refugiados e de espiões, contribuindo para transformar a capital portuguesa numa das cidades mais cosmopolitas do mundo.
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Este porto de abrigo - "paraíso triste", como lhe chamou Saint- -Exupéry, o autor de O Principezinho - tinha para os refugiados um valor suplementar. "O que há de tão especial em Lisboa?", perguntava uma personagem do filme Casablanca. "O avião para a América", respondia outra, olhando os céus onde um aparelho sulcava já os ares da liberdade.
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A guerra parecia longe. Com excepção do fulcral papel dos Açores (que Roosevelt numa célebre mensagem radiofónica chegou a considerar abrangidos pela "doutrina Monroe"), apenas Timor sofreria os efeitos directos do conflito. Poucos dias depois do ataque japonês a Pearl Harbor, tropas australianas e holandesas ocupam o território, sendo expulsas pelos japoneses em 20 de Fevereiro de 1942. A resistência é forte e a repressão implacável 50 mil timorenses e muitos portugueses (na sua maioria, deportados políticos) são mortos. O território só seria devolvido a Portugal em 1945, após um acordo com os Estados Unidos pelo qual Salazar concedia aos norte-americanos facilidades para a construção, utilização e controlo de uma base aérea em Santa Maria.
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ELEIÇÕES
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No final da guerra, uma das formalidades exigidas a Salazar para o apoio à sobrevivência do regime seria a realização de eleições. "Livres, tão livres como na livre Inglaterra", como enfatizou em entrevista a António Ferro.
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Nova onda de greves no Alentejo e o assassínio pela PVDE do dirigente comunista Alfredo Dinis (Alex) não chegaram a provocar grandes danos ao regime, apesar de alguns sinais, como uma amnistia parcial aos presos políticos e a substituição da PVDE pela PIDE.
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A oposição tenta forçar os limites da legalidade e cria o Movimento de Unidade Democrática (MUD), responsável por um movimento de resistência que varre o País.Após o simulacro de eleições, em que o MUD recusa participar, apelando à abstenção, o regime procede a uma vaga repressiva, prendendo e afastando dos seus cargos muitos dos proponentes da legalização do MUD, cujas listas tinham sido entregues na polícia.
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Salazar não mudara. Na citada entrevista a António Ferro comentara "Continuo a considerar perigosa em Portugal aquela democracia que toma a forma de parlamentarismo partidário, com batuque de carteiras e discursos de nove horas. O meu horror a essa espécie de democracia não mudou.
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"Aqueles que, na oposição, alimentaram ilusões sobre a viragem política, levaram algum tempo a perdê-las. Como Mário Soares"Desde o fim da II Grande Guerra até 1949, data da criação da NATO (de que Portugal foi, apesar da ditadura, membro fundador), sempre estive convencido da debilidade profunda do regime salazarista e da sua 'inevitável' queda, a curto prazo.
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"O então jovem político que viria a ser presidente da República quatro décadas depois, já em democracia, encontra uma justificação para a durabilidade do regime "Como depois compreenderia, Salazar e Franco foram salvos pela traição das democracias ocidentais, que aceitaram e conferiram respeitabilidade às ditaduras ibéricas, por medo cego do comunismo."E eleições a sério só haveria 30 anos depois.
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in Diário de Notícias 2005.04.14
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Fotografia - Arquivo DN - 1945

1 comentário:

Belisa disse...

Olá
Não tenho agora mais palavras para dizer...

Muitos beijinhos estrelados
de
Belisa