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* Jorge Messias
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Os pobres – tudo o indica - estão na moda. A luta contra a pobreza parece atrair irresistivelmente um imenso leque de privilegiados. Banqueiros que dizem trabalhar só para combaterem a miséria, Ongs que organizam corridas contra a pobreza, políticos cuja maior paixão são os pobres ou patrões que patrocinam caridosos bancos alimentares. É que já foram contados dois milhões de portugueses pobres (para não falarmos da multidão de outros cuja existência a estatística esqueceu). Também se diz – e não custa a acreditar - que a igreja está no centro desta singular metanoia ou mudança das almas dos ricos e que o milagre a que se assiste demonstra que dentro do sistema capitalista há capacidade para corrigir as injustiças, suprimir fossos da desigualdade entre pobres e ricos e recusar a luta de classes através da prática da caridade cristã. Por isso, a hierarquia católica recorda frequentemente que a Igreja é dos pobres, vive para os pobres e ela própria é pobre. Sobre estes mistérios transcendentes Fátima derramou agora alguma luz
Os pobres – tudo o indica - estão na moda. A luta contra a pobreza parece atrair irresistivelmente um imenso leque de privilegiados. Banqueiros que dizem trabalhar só para combaterem a miséria, Ongs que organizam corridas contra a pobreza, políticos cuja maior paixão são os pobres ou patrões que patrocinam caridosos bancos alimentares. É que já foram contados dois milhões de portugueses pobres (para não falarmos da multidão de outros cuja existência a estatística esqueceu). Também se diz – e não custa a acreditar - que a igreja está no centro desta singular metanoia ou mudança das almas dos ricos e que o milagre a que se assiste demonstra que dentro do sistema capitalista há capacidade para corrigir as injustiças, suprimir fossos da desigualdade entre pobres e ricos e recusar a luta de classes através da prática da caridade cristã. Por isso, a hierarquia católica recorda frequentemente que a Igreja é dos pobres, vive para os pobres e ela própria é pobre. Sobre estes mistérios transcendentes Fátima derramou agora alguma luz
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Num país que não cessa de exibir as chagas da sua miséria, 2007 ficará na história do Santuário mariano como um ano-padrão. Estão quase prontas as obras de construção de uma gigantesca catedral cuja grandiosidade deixará varados de espanto os descendentes dos pastorinhos. Evidentemente que o novo templo nada tem a ver com a «capelinha das aparições». Nem sequer, a verdade seja dita, é uma simples catedral. O local sagrado ficará rodeado por uma complexa teia de outras construções aptas para constituírem, no futuro, um fortíssimo eixo director da Nova Evangelização da Europa. É já considerada a mais importante central de acção missionária da península ibérica e provavelmente a mais completa do mundo. Custará à volta de 60 milhões de euros (12 milhões de contos na moeda antiga). Tem a inauguração prevista para o próximo mês de Outubro, na data em que se celebra a segunda aparição da Virgem. Foi anunciado que o pagamento da empreitada será realizado a pronto, pelos cofres do próprio Santuário. É um bom investimento. Mais uma vez se prova que a religião dá lucro.
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Os novos segredos de Fátima
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Punhamos de parte a questão menor das mentiras do clero. Do obscurantismo da igreja. O que importa é a validação positiva dos efeitos da mentira. É ou não pobre, a igreja católica? A igreja global tem ou não tem preocupações políticas de poder e de consolidação das bases de suporte do capitalismo ? Contém ou não contém a Nova Cruzada uma estratégia comum do fundamentalismo religioso e do grande capital ? Sobre estas questões a igreja, vista de Fátima, permite recolher alguns esclarecimentos de muito interesse.
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Em primeiro lugar, claro que a igreja não é totalmente pobre : tem o necessário para viver e um pouco mais que o necessário. E arrisca-se. Basta ver-se em quantos negócios cotados na Bolsa ela anda metida. Tem o Euromilhões e tem as Lotarias. Está no Turismo, na Hotelaria, na Banca, no Desporto, na Construção Civil e Obras Públicas, na Comunicação Social, nas Opas e nas fusões de capitais, nas privatizações ou nos negócios de alienação dos bens patrimoniais do Estado. Gere Misericórdias, redes hospitalares, estabelecimentos de ensino, opulentas Fundações e ocultos grupos de interesses. A ninguém dá contas daquilo que tem. Nem ninguém lhas pede. A igreja escuda-se por detrás dos estatutos de privilégio que lhe são reconhecidos pela Concordata e pela Lei da Liberdade Religiosa. Reconheça-se, então, que o alto clero trabalhou bem para alcançar a posição de força que actualmente ocupa.
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Vem, depois, a questão ideológica. Que fazer, num mundo onde o racionalismo ateu e a ganância do lucro dividem entre si os diferentes níveis da sociedade ; e onde a igreja procura prolongar a sua fase de enchimento e de expansão, impondo dependências mas não dependendo dos outros?
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Os cardeais têm vistas largas e traçam planos a longo prazo. No caso português, não é provavelmente o país católico o que mais interessa ao Vaticano. Mas Portugal, passivo e submisso, potencialidades para se transformar numa boa proposta como segunda linha para uma igreja que busca lançar novas raízes no mundo. Devíamos saber mais, compreender melhor, a doutrina e os métodos característicos desta Nova Evangelização que oferece a originalidade de estabelecer para cada continente estratégias de adaptação diferenciadas, a partir dos perfis regionais de riqueza, cultura e níveis civilizacionais.
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A Nova Evangelização identifica-se e funde-se com os objectivos finais da globalização capitalista. Mas oculta-se por detrás de propostas aparentemente inocentes. Trata-se de introduzir na luta de classes um conteúdo religioso. Sem que os homens disso se apercebam.
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in Avante 2007.05.24
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Gravura: Primitiva Capela das Aparições.
Artigo publicado na Edição Nº1747
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