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* Osvaldo Bertolino
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A manifestação da elite brasileira, agora organizada em torno dos líderes do movimento “Cansei”, não é algo que deva ser visto apenas como uma marcha sem maiores conseqüências. Ela tem um pano de fundo com forte coloração ideológica e tende a ganhar raízes como um movimento conservador e golpista.
A manifestação da elite brasileira, agora organizada em torno dos líderes do movimento “Cansei”, não é algo que deva ser visto apenas como uma marcha sem maiores conseqüências. Ela tem um pano de fundo com forte coloração ideológica e tende a ganhar raízes como um movimento conservador e golpista.
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O “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros”, liderado pela Ordem dos Advogados do Brasil — Seccional São Paulo (OAB-SP) e apoiado pelos latifúndios midiáticos, anuncia que “visa (sic) sensibilizar os brasileiros a pararem durante um minuto, às 13 horas do dia 17 de agosto, quando o acidente com o avião da TAM completará 30 dias”. “Não se trata de um ato político, mas de uma manifestação cívica de cidadania e de amor ao Brasil”, afirma Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente da OAB-SP. “Com o silêncio, a sociedade poderá expressar sua solidariedade e indignação de forma pacífica, equilibrada e organizada”, explica ele.
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Data venia. Alguém acha que D’Urso pode falar em nome do povo brasileiro? Alguém acha que ele tem o poder de expressar os sentimentos dos cidadãos do país? D’Urso está obtendo seus minutos — ou bravatas — de glória com o caso da explosão do avião da TAM. É evidente que ele tem a obrigação de exercer o seu papel de presidente da mais importante seccional da OAB, assumindo a vanguarda dos debates sobre grandes temas nacionais. Mas a OAB sempre foi considerada um refúgio seguro dos oprimidos e injustiçados — uma entidade defensora da lei, da justiça, dos direitos humanos, da ética e da Constituição.
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Filme visto na Venezuela
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É difícil imaginar numa atividade tão prosaica alguém, como D’Urso, tão entretido em ''defender'' o país. É igualmente difícil dizer que ele, um jurista com sólida carreira, esteja em busca de projeção política ou profissional. Se ele não está atrás dos holofotes, o que o move então? A resposta parece estar na crença de que o Brasil realmente precisa de sua ''defesa'' contra um vilão vago e difuso que, à falta de melhor definição, atende por “apagão aéreo” — termo usado para fazer analogia com o apagão elétrico decorrente de irresponsabilidades do governo FHC. O pano de fundo tem cores ideológicas. D’Urso tem demonstrado ser um duro contestador do rumo político que o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva vem imprimindo ao país.
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Ou seja: ele luta contra um programa de governo e suas engrenagens básicas — que estão fornecendo a viga mestra em que se assentará o futuro próximo do país. Os códigos e as convenções deste governo não servem para levar adiante a plataforma ideológica da parcela da sociedade a qual pertence D’Urso. No seu mundo, o Estado como principal agente da sociedade é um anátema. Daí a sua pregação ideológica e taxativa, de viés conservador e golpista, sobre os mais variados assuntos de interesse público. É um filme que já vimos várias vezes na Venezuela do presidente Hugo Chávez.
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“Socialites” profissionais
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A luta ideológica de D’Urso e sua claque é contra a natureza dos regimes de estilo popular que emergem triunfantes em muitos países da América Latina — uma forma de organização política e econômica propensa a equalizar o escandaloso desnivelamento social da região. A direita defende o que ela chama de lei e ordem — tradução de imobilidade social. Isso ocorre porque a quase totalidade dos seus privilégios advém da exclusão social.
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Ou seja: a elite brasileira nunca aceitou de quem ela julga seus subordinados uma postura que ultrapassasse a obediência à ordem por ela estabelecida. Não é raro ouvir dessa gente que ladrão bom é ladrão morto, especialmente se ele for pobre e preto. Na prática, essas manifestações da direita servem de palco para líderes políticos geralmente sem platéia e sem votos — além de “socialites” profissionais, desocupados e até cantores. (Na manifestação do “Cansei” do dia 29 de julho em São Paulo, apareceu por lá o músico Seu Jorge — um dos poucos negros presentes à passeata.)
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Cobertura de saturação
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Quem acredita honestamente na honestidade dessa gente deve olhar friamente para a manifestação do dia 29 de julho em São Paulo. Algumas conclusões: a marcha resultará em quase nada de concreto para os próximos meses. Mas eles voltarão a se manifestar. É errado que a oposição se manifeste? É claro que não. É natural que tente mobilizar seus quadros? Sem nenhuma dúvida. É compreensível que os líderes inchem ao máximo o número de participantes? Sim, ainda que isso produza números ridículos. Tudo isso faz parte do atual jogo político brasileiro.
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O que se deve lamentar é, de um lado, o profundo desprezo pelas regras democráticas demonstrado por alguns dos líderes desse movimento. De outro, o disparate entre a real dimensão de uma manifestação sem maiores conseqüências à vida política e sua repercussão na mídia. A marcha foi um estrondoso sucesso como ocupação de espaço na mídia e um indisfarçável fracasso como ocupação de espaço na rua. O evento mereceu aquilo que os jornalistas denominam cobertura de saturação — induzida pela criação de uma falsa expectativa de que se iria presenciar uma manifestação de proporções excepcionais.
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Movimentos mais ousados
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Não se está argumentando aqui que tudo são rosas pelo caminho. É claro que os desafios que o país tem pela frente são enormes. E que o governo precisa fazer movimentos mais ousados para vencê-los. Tampouco se pretende negar aqui que há insatisfações em relação ao governo. A economia do país marcha a passos de tartaruga. Há uma dívida social gigantesca sendo rolada. A especulação financeira não cansa de se fartar na farra dos juros altos. As pessoas cobram soluções rápidas para seus problemas. Mas, infelizmente, não existe milagre. Consertar a economia e resgatar a dívida social é obra de gerações
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Essa inquietação é absolutamente legítima, bem como seu uso político por parte da oposição. O problema é quando essa inquietação flerta com o golpismo. Nessa hora, o terreno é fértil para soluções autoritárias, para saídas fáceis. A história brasileira é exemplar em aventuras. Já deu para aprender que os atalhos costumam ser muito perigosos — como ocorreu com o golpe militar de 1964.
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Expansão dos negócios
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A verdade é que a direita está se aproveitando da tragédia da TAM para criar uma falsa imagem do país. O dado concreto — diria Lula — é que a aviação é como energia elétrica. Quando o PIB cresce 4%, o transporte aéreo cresce 6% ou 7%. Para se ter uma idéia de grandeza: em São Paulo, se concentra um terço do movimento doméstico total de passageiros do Brasil e 67% dos vôos internacionais. Tal como no caso dos passageiros, cerca de 30% do transporte de carga aérea doméstica está concentrado na Grande São Paulo. E a região responde por mais de 80% das cargas internacionais.
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A expansão dos negócios nessa área aguçou o interesse de todas as companhias aéreas. E o governo não fechou os olhos para a situação. Qualquer pessoa honesta que tenha viajado de avião nos últimos tempos pode testemunhar o avanço que tem ocorrido nos aeroportos brasileiros. Encarregada de administrar 66 aeroportos no país, a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) é responsável pelo maior número de obras no atual governo.
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Avião velho e piloto novo
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É evidente que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deveria ser mais dura com as companhias aéreas. Como dizia o comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, existe uma temível combinação no transporte aéreo: a mistura de avião velho com piloto novo. Da mesma forma, os investimentos em infra-estrutura, destruída pela “era FHC”, deveriam ser priorizados. Essas deficiências decorrem da tibieza do governo Lula no enfrentamento com os resquícios neoliberais.
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Mas é inegável que o Brasil está avançando no rumo progressista — para desgosto da direita, que ainda sonha com utopias neoliberais. O paradigma que está se formando na América Latina impõe novos desafios. Nesse jogo, os perdedores de agora não estão acostumados a se ajeitar no mesmo patamar dos vencedores. O problema é que muitos vão ter que sentar na última fila. O que fazer com essa gente? A resposta não é fácil.
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Desafios nas entrelinhas
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É certo que quase todos eles têm pelo menos um ou dois milhões de dólares em seu patrimônio cuja origem não conseguem explicar. Mas falam pelos cotovelos, publicam lixos como a revista Veja e congêneres, promovem passeatas pedindo “mais segurança” e pregam sistematicamente contra o governo Lula. São eles também que atribuem a criminalidade à “frouxidão” das autoridades e pregam uma dura política repressiva como prova visível de que o crime não compensa. Essa contradição fundamental chama a atenção e faz pensar.
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Qual seria a melhor maneira de organizar a maioria da sociedade ao redor da resistência aos ataques às idéias progressistas? Quais são os desafios que há nas entrelinhas dessa nova realidade? Para eles, manifestações populares são sinônimo de baderna, de afronta à “sociedade”. Querem tirar do seu caminho qualquer obstáculo a massacres de populares, como os ocorridos em Corumbiara (RO) e Eldorado dos Carajás (PA). Daí a inadmissibilidade, para eles, de um governo com perfil progressista. Uma coisa é certa: é preciso gritar em alto e bom som contra os abusos dessa gente.
O “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros”, liderado pela Ordem dos Advogados do Brasil — Seccional São Paulo (OAB-SP) e apoiado pelos latifúndios midiáticos, anuncia que “visa (sic) sensibilizar os brasileiros a pararem durante um minuto, às 13 horas do dia 17 de agosto, quando o acidente com o avião da TAM completará 30 dias”. “Não se trata de um ato político, mas de uma manifestação cívica de cidadania e de amor ao Brasil”, afirma Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente da OAB-SP. “Com o silêncio, a sociedade poderá expressar sua solidariedade e indignação de forma pacífica, equilibrada e organizada”, explica ele.
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Data venia. Alguém acha que D’Urso pode falar em nome do povo brasileiro? Alguém acha que ele tem o poder de expressar os sentimentos dos cidadãos do país? D’Urso está obtendo seus minutos — ou bravatas — de glória com o caso da explosão do avião da TAM. É evidente que ele tem a obrigação de exercer o seu papel de presidente da mais importante seccional da OAB, assumindo a vanguarda dos debates sobre grandes temas nacionais. Mas a OAB sempre foi considerada um refúgio seguro dos oprimidos e injustiçados — uma entidade defensora da lei, da justiça, dos direitos humanos, da ética e da Constituição.
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Filme visto na Venezuela
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É difícil imaginar numa atividade tão prosaica alguém, como D’Urso, tão entretido em ''defender'' o país. É igualmente difícil dizer que ele, um jurista com sólida carreira, esteja em busca de projeção política ou profissional. Se ele não está atrás dos holofotes, o que o move então? A resposta parece estar na crença de que o Brasil realmente precisa de sua ''defesa'' contra um vilão vago e difuso que, à falta de melhor definição, atende por “apagão aéreo” — termo usado para fazer analogia com o apagão elétrico decorrente de irresponsabilidades do governo FHC. O pano de fundo tem cores ideológicas. D’Urso tem demonstrado ser um duro contestador do rumo político que o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva vem imprimindo ao país.
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Ou seja: ele luta contra um programa de governo e suas engrenagens básicas — que estão fornecendo a viga mestra em que se assentará o futuro próximo do país. Os códigos e as convenções deste governo não servem para levar adiante a plataforma ideológica da parcela da sociedade a qual pertence D’Urso. No seu mundo, o Estado como principal agente da sociedade é um anátema. Daí a sua pregação ideológica e taxativa, de viés conservador e golpista, sobre os mais variados assuntos de interesse público. É um filme que já vimos várias vezes na Venezuela do presidente Hugo Chávez.
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“Socialites” profissionais
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A luta ideológica de D’Urso e sua claque é contra a natureza dos regimes de estilo popular que emergem triunfantes em muitos países da América Latina — uma forma de organização política e econômica propensa a equalizar o escandaloso desnivelamento social da região. A direita defende o que ela chama de lei e ordem — tradução de imobilidade social. Isso ocorre porque a quase totalidade dos seus privilégios advém da exclusão social.
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Ou seja: a elite brasileira nunca aceitou de quem ela julga seus subordinados uma postura que ultrapassasse a obediência à ordem por ela estabelecida. Não é raro ouvir dessa gente que ladrão bom é ladrão morto, especialmente se ele for pobre e preto. Na prática, essas manifestações da direita servem de palco para líderes políticos geralmente sem platéia e sem votos — além de “socialites” profissionais, desocupados e até cantores. (Na manifestação do “Cansei” do dia 29 de julho em São Paulo, apareceu por lá o músico Seu Jorge — um dos poucos negros presentes à passeata.)
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Cobertura de saturação
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Quem acredita honestamente na honestidade dessa gente deve olhar friamente para a manifestação do dia 29 de julho em São Paulo. Algumas conclusões: a marcha resultará em quase nada de concreto para os próximos meses. Mas eles voltarão a se manifestar. É errado que a oposição se manifeste? É claro que não. É natural que tente mobilizar seus quadros? Sem nenhuma dúvida. É compreensível que os líderes inchem ao máximo o número de participantes? Sim, ainda que isso produza números ridículos. Tudo isso faz parte do atual jogo político brasileiro.
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O que se deve lamentar é, de um lado, o profundo desprezo pelas regras democráticas demonstrado por alguns dos líderes desse movimento. De outro, o disparate entre a real dimensão de uma manifestação sem maiores conseqüências à vida política e sua repercussão na mídia. A marcha foi um estrondoso sucesso como ocupação de espaço na mídia e um indisfarçável fracasso como ocupação de espaço na rua. O evento mereceu aquilo que os jornalistas denominam cobertura de saturação — induzida pela criação de uma falsa expectativa de que se iria presenciar uma manifestação de proporções excepcionais.
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Movimentos mais ousados
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Não se está argumentando aqui que tudo são rosas pelo caminho. É claro que os desafios que o país tem pela frente são enormes. E que o governo precisa fazer movimentos mais ousados para vencê-los. Tampouco se pretende negar aqui que há insatisfações em relação ao governo. A economia do país marcha a passos de tartaruga. Há uma dívida social gigantesca sendo rolada. A especulação financeira não cansa de se fartar na farra dos juros altos. As pessoas cobram soluções rápidas para seus problemas. Mas, infelizmente, não existe milagre. Consertar a economia e resgatar a dívida social é obra de gerações
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Essa inquietação é absolutamente legítima, bem como seu uso político por parte da oposição. O problema é quando essa inquietação flerta com o golpismo. Nessa hora, o terreno é fértil para soluções autoritárias, para saídas fáceis. A história brasileira é exemplar em aventuras. Já deu para aprender que os atalhos costumam ser muito perigosos — como ocorreu com o golpe militar de 1964.
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Expansão dos negócios
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A verdade é que a direita está se aproveitando da tragédia da TAM para criar uma falsa imagem do país. O dado concreto — diria Lula — é que a aviação é como energia elétrica. Quando o PIB cresce 4%, o transporte aéreo cresce 6% ou 7%. Para se ter uma idéia de grandeza: em São Paulo, se concentra um terço do movimento doméstico total de passageiros do Brasil e 67% dos vôos internacionais. Tal como no caso dos passageiros, cerca de 30% do transporte de carga aérea doméstica está concentrado na Grande São Paulo. E a região responde por mais de 80% das cargas internacionais.
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A expansão dos negócios nessa área aguçou o interesse de todas as companhias aéreas. E o governo não fechou os olhos para a situação. Qualquer pessoa honesta que tenha viajado de avião nos últimos tempos pode testemunhar o avanço que tem ocorrido nos aeroportos brasileiros. Encarregada de administrar 66 aeroportos no país, a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) é responsável pelo maior número de obras no atual governo.
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Avião velho e piloto novo
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É evidente que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deveria ser mais dura com as companhias aéreas. Como dizia o comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, existe uma temível combinação no transporte aéreo: a mistura de avião velho com piloto novo. Da mesma forma, os investimentos em infra-estrutura, destruída pela “era FHC”, deveriam ser priorizados. Essas deficiências decorrem da tibieza do governo Lula no enfrentamento com os resquícios neoliberais.
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Mas é inegável que o Brasil está avançando no rumo progressista — para desgosto da direita, que ainda sonha com utopias neoliberais. O paradigma que está se formando na América Latina impõe novos desafios. Nesse jogo, os perdedores de agora não estão acostumados a se ajeitar no mesmo patamar dos vencedores. O problema é que muitos vão ter que sentar na última fila. O que fazer com essa gente? A resposta não é fácil.
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Desafios nas entrelinhas
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É certo que quase todos eles têm pelo menos um ou dois milhões de dólares em seu patrimônio cuja origem não conseguem explicar. Mas falam pelos cotovelos, publicam lixos como a revista Veja e congêneres, promovem passeatas pedindo “mais segurança” e pregam sistematicamente contra o governo Lula. São eles também que atribuem a criminalidade à “frouxidão” das autoridades e pregam uma dura política repressiva como prova visível de que o crime não compensa. Essa contradição fundamental chama a atenção e faz pensar.
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Qual seria a melhor maneira de organizar a maioria da sociedade ao redor da resistência aos ataques às idéias progressistas? Quais são os desafios que há nas entrelinhas dessa nova realidade? Para eles, manifestações populares são sinônimo de baderna, de afronta à “sociedade”. Querem tirar do seu caminho qualquer obstáculo a massacres de populares, como os ocorridos em Corumbiara (RO) e Eldorado dos Carajás (PA). Daí a inadmissibilidade, para eles, de um governo com perfil progressista. Uma coisa é certa: é preciso gritar em alto e bom som contra os abusos dessa gente.
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in Vermelho 2007.08.02
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