A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, agosto 04, 2007


Dia a Dia
Dinheiro mais caro
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* Armando Esteves Pereira,
Director-Adjunto
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Milhares de famílias portuguesas foram de férias e receberam do banco a notícia de novo aumento da prestação mensal a pagar pelo crédito.
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Esta foi a primeira má notícia, mas não é a última, porque na próxima actualização haverá novo aumento.
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Ontem, o patrão do Euro, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, voltou a usar expressões que significam que haverá novos aumentos de juros na Europa, provavelmente já na próxima reunião do conselho de governadores, onde têm assento os líderes dos bancos centrais da Zona Euro.
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A autoridade monetária do euro considera que há “riscos para a estabilidade dos preços”. Herdeiro da vigilância ortodoxa dos preços que caracterizou o banco central alemão antes da moeda única, o BCE é intolerante face à inflação e sempre que há riscos o remédio é subir o preço do dinheiro.
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Num País onde as famílias já devem à banca mais de 120 mil milhões de euros, qualquer subida do preço do dinheiro tem um grande impacto. Cada 0,25 pontos percentuais de aumento significa uma despesa extra anual superior a 250 milhões de euros.
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Para as famílias que se endividaram em excesso quando o dinheiro estava muito barato, a retoma não passará de uma miragem. E tão depressa os juros não voltam aos 2% de há dois anos, por isso o melhor que têm a fazer é saber viver com o empréstimo. Podem negociar o prazo, tentar diminuir o spread e juntar os créditos, uma vez que os empréstimos à habitação pagam menos juros do que os do consumo. E aprender a viver menos dependentes do crédito, que era como viviam os portugueses há uma dúzia de anos.
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in Correio da Manhã, 2007.08.03
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Pago com Juros
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* Ricardo Rio
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Ao longo de toda a década de 90 o crédito bancário assumiu um papel estabilizador dos níveis de bem-estar da população, propiciando, nas suas diversas fórmulas, o acesso a bens de luxo e outros que não de primeira necessidade à classe média e às camadas da população com menores rendimentos.
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Para tal, muito contribuíram dois tipos de factores: a significativa abertura das instituições financeiras à concessão de crédito aos seus clientes e a contínua descida das taxas de juro nos mercados monetários.
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Neste período, refira-se, não foram apenas os particulares que beneficiaram destes fenómenos: idêntica situação foi registada por uma parte significativa do tecido empresarial e mesmo por organismos públicos, com especial ênfase para as Autarquias Locais.
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Aliás, só os condicionalismos impostos pelos critérios de convergência nominal decorrentes do Tratado de Maastricht e as subsequentes restrições orçamentais associadas ao Pacto de Estabilidade e Crescimento terão impedido que os próprios Estados tenham tirado idêntico proveito desta conjuntura dos mercados financeiros.
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Como é sabido, o impacto desta realidade sobre a economia portuguesa foi devastadora: estimulou-se uma subida desmesurada, não sustentada, do consumo; degradou-se a Balança de Pagamentos - quer por via de um aumento das importações, quer por força do endividamento exterior das instituições financeiras; a poupança dos agentes económicos atingiu níveis residuais; e, por sua vez, o endividamento dos particulares atingiu percentagens superiores aos 120% do seu rendimento bruto.
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Traduzindo por miúdos este último indicador, quer isto dizer que mesmo utilizando todo o rendimento obtido pelas famílias portuguesas ao longo de um ano para esse efeito ficaria ainda por pagar 20% do volume de crédito obtido. E isto, claro está, sem considerar o crescente recurso aos cartões de crédito e a outras formas de aquisição com pagamento desfasado no tempo.
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Poderá pensar-se que é despropositado analisar a questão por este prisma quando é sabido que o crédito não será exigível em tão curto espaço de tempo e que, por outro lado, outra das tendências recentes foi precisamente a dilação dos prazos de concessão de crédito.
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Mesmo assim, se atendermos a que as famílias portuguesas despendem cerca de 6% do seu rendimento bruto anual com os encargos financeiros associados aos financiamentos contraídos – e estamos a falar apenas de juros sem considerar as amortizações de capital -, os dados tornam-se ainda mais expressivos.
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É óbvio que tais dados estatísticos revelam uma grave exposição à evolução da conjuntura económica, seja pela redução dos níveis de rendimento que decorrem do aumento do desemprego, seja pelo aumento dos encargos suportados inerentes à recente subida das taxas de juro.
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A este nível, começam já a ser significativos os impactos das sucessivas subidas da taxa de referência do Banco Central Europeu, que presentemente atinge os 2,75% e que alguns estimam poderá atingir os 3,25% ainda este ano.

Como não podia deixar de ser, tais aumentos vêm sendo absorvidos pelo principal indexante da Zona Euro - a Euribor - cujos valores tendem a antecipar a evolução das taxas de referência e que se encontram já acima dos 3% nos diferentes espectros temporais.
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Para o tal País sobreendividado, avolumam-se as más notícias e as nuvens negras sobre as carteiras das famílias portuguesas.
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A presente situação, porém, não é apenas negativa para os particulares. De uma forma mais abrangente, a subida generalizada das taxas de juro na Zona Euro penaliza o conjunto das economias que tardam em seguir o ritmo expansionista da economia mundial e da média da União, como é o caso português.
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Na prática, trata-se da evidência de uma das fragilidades do actual contexto de União Monetária, qual seja, a incapacidade de a Política Monetária da União satisfazer em simultâneo as aspirações de todos os Países-membros.
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Ainda assim, nada a apontar aos actuais responsáveis do Banco Central Europeu, liderados pelo francês Jean-Claude Trichet, que continuam a seguir à risca os mandamentos desta Autoridade Monetária.
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Seguindo os preceitos estabelecidos desde a sua constituição, tão fielmente implementados pelo anterior Governador Wim Duisenberg quanto claramente herdados do Bundesbank alemão, o Banco Central Europeu continua a assumir como principal objectivo o controlo da inflação na Zona Euro, que continua acima dos 2% estabelecidos como valor limite por esta Entidade.
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Quaisquer que sejam os motivos, a verdade é que este cenário de subida das taxas de juro parece estar para durar. Daí que, para uma percentagem significativa dos portugueses, é tempo de pagar com juros esta breve incursão no País das maravilhas cor-de-rosa...
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Terça-feira, 20 de Junho de 2006

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