A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, agosto 02, 2007


Cinema: Realizador italiano tinha 94 anos e deixa 22 filmes
Morreu Antonioni, o Grande
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* Ana Maria Ribeiro com agências
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O primeiro sucesso internacional da carreira de Michelangelo Antonioni, ‘A Aventura’, rodado em 1959, levou Cannes ao rubro. Na estreia, durante o festival, o filme deixou público e crítica completamente divididos, entre aqueles que aplaudiam de pé e os que assobiavam e pateavam furiosamente.
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E foi sempre assim a carreira do realizador italiano, desaparecido anteontem, aos 94 anos, no mesmo dia do ‘colega’ sueco Ingmar Bergman: Antonioni teve um percurso artístico muito pouco consensual e até marcado por alguma polémica. Os seus filmes – 22, no total – têm, normalmente, um enredo simples e pouco diálogo, retratando a alienação humana e a angústica existencial. Constituem aquilo a que alguns chamam ‘o cinema introspectivo’ e poucos de entre eles conseguiram aplausos unânimes.
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Economista de formação, Antonioni foi jornalista, crítico de cinema e argumentista antes de estudar técnica cinematográfica e de assinar o primeiro filme, ‘Escândalo de Amor’, relativamente tarde (tinha 38 anos). Filmes como ‘A Noite’, ‘Blow Up (História de um Fotógrafo)’, ‘Profissão: Repórter’ ou ‘Identificação de uma Mulher’ fizeram o seu renome internacional e valeram-lhe alguns dos muitos prémios com que foi distinguido. Em 1985, com 63 anos, sofreu um enfarte, do qual nunca recuperou completamente: a fala ficou fortemente afectada e passou a deslocar-se com muita dificuldade. No entanto, ainda arranjou forças para continuar a trabalhar e rodou mais quatro filmes, o último dos quais, ‘Eros’, em 2004, aos 92 anos.
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A qualidade e originalidade do seu trabalho acabaram por ser recompensadas com um Óscar de Carreira em 1995 e, dois anos depois, Veneza reconhecia o mérito da sua obra com um Leão de Ouro.Anteontem, Antonioni morreu “pacificamente” sentado na sua poltrona, na casa de Roma, ao lado da mulher. O corpo está em câmara ardente na Câmara Municipal da capital italiana e será enterrado amanhã em Ferrara, cidade onde nasceu em Setembro de 1912.
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"FOI A MINHA ESCOLA DE CINEMA"
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“Nunca fiz estudos regulares de cinema e ter trabalhado com Michelangelo Antonioni, no início da década de 60, foi a minha grande escola na Sétima Arte”, contou ao CM o realizador português José Fonseca e Costa, que foi assistente de realização de Antonioni no filme ‘O Eclipse’, de 1962. Da experiência, vivida aos 29 anos, Fonseca e Costa recorda a convivência com “um homem genial”, “brilhantemente inteligente” e que “dominava como poucos a escrita cinematográfica”. “O Antonioni tinha um grande sentido de humor e como pessoa era extremamente correcto no tratamento com os outros. Era, também, um homem muito discreto, que se concentrava no trabalho”, lembra, lamentando a perda de mais um grande nome de uma geração marcante do cinema. “Como se pode imaginar, sinto muito a morte dele. É o último a desaparecer de uma geração única: o Visconti, o Rosselini...”
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O autor de ‘Sem Sombra de Pecado’ sublinha ainda a coincidência das mortes de Antonioni e de Ingmar Bergman, salientando aquilo que os dois realizadores tinham em comum – além da genialidade. “Embora com estilos diferentes, o que eles tinham a dizer era semelhante, pois tanto um como o outro trabalhava aquilo que há de mais profundo na alma humana”, conclui. .
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HOMENAGEM DUPLA
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O cinema King, em Lisboa, homenageia os dois nomes maiores da Sétima Arte falecidos nesta semana – Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni – com a reposição de três filmes nos próximos dias 3, 4 e 6, nas sessões da meia-noite.
- 'SARABAND'O último filme de Bergman é exibido à meia-noite. Liv Ullman e Erland Josephson reencontram as personagens de ‘Cenas da Vida Conjugal’.
- 'PROFISSÃO: REPÓRTER’Realizado por Antonioni em 1975, com Jack Nicholson e Maria Schneider. Às 00h15.'
- BLOW UP (História de um fotógrafo)’Primeiro filme em inglês do cineasta italiano, com Vanessa Redgrave, David Hemings e Sarah Miles, a partir de um conto de Júlio Cortazar. Às 00h30.
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in Correio da Manhã, 2007.08.01
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Um dos meus filmes (VN)
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* Escrito por Francisco Sobreira
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O GRITO - Uma revisão
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Foi em 1967 que vi O Grito (1957), de Antonioni. Revi-o há mais de mês, em DVD, quase quarenta anos depois. A afirmação de uma grande obra, uma das 4 ou 5 principais do cineasta italiano, permanece por esse longo transcurso de tempo, e, talvez, ela tenha se engrandecido ainda mais com o passar dos anos. De início, o que chama a atenção de O Grito é o fato de ser um homem do povo (um operário de uma fábrica) que passa por uma crise existencial, motivada pelo fim de um caso de amor, que o deixa entediado, abúlico, um vencido, por mais que tente buscar, com outra mulher, a libertação do seu sofrimento. Ele deixa a cidadezinha e o emprego, levando a filha pequena que tivera com a amante, e percorre parte da Itália, parando em lugares onde pouco se demora. Essa perambulação de pai e filha me fez lembrar a do pai e do filho em Ladrões de Bicicleta (1948), ambos os homens operários, só que são diferentes os motivos da busca de objetivo dos dois e a perambulação dos personagens de De Sica se circunscreve aos limites de Roma. Mas lá pela segunda metade do filme a garota retorna para a mãe, e o pai continua na busca desesperada de se fixar num lugar e num trabalho, em companhia de outra mulher.
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O drama desse Aldo (interpretado pelo americano Steve Cochran, no melhor papel de sua carreira) transcorre durante a estação chuvosa e a presença de uma névoa quase constante (e captada com brilhantismo pela fotografia de Gianni di Venanzo) sublinha-o com perfeição. E como acontece nos filmes de Antonioni, é uma situação que o personagem não consegue superar, a não ser, no caso de O Grito, pelo sacrifício da própria vida. Em grande parte porque as mulheres que Aldo encontra não lhe podem dar o que ele busca, por serem pessoas que vivem outros dramas existenciais. É assim Elvia (Betsy Blair), é assim a proprietária do posto de gasolina, Virginia (Dorian Gray), que, além de vítima da solidão, ainda tem que conviver com o pai senil e alcoólatra. Assim é a prostituta (Lynn Shaw). O breve convívio com elas não lhe traz nenhum alívio (a não ser temporário), e só faz torná-lo cada vez mais dependente de Irma (Alida Valli, vivendo uma mulher do povo, desglamourizada, sem a fascinante beleza de outros filmes).
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Na sequência final, quando Aldo, finalmente, resolve voltar para a cidadezinha, estabelece-se um contraste entre a situação vivida por ele, agravada pela descoberta de que Irma teve um filho com o homem pelo qual ela o abandonou, e a dos habitantes do lugarejo, que se unem para lutar contra a tentativa de instalação de uma pista de aviões. Aí o drama individual se choca com o problema coletivo e o filme revela uma faceta social. É talvez principalmente por esse detalhe que um ou outro crítico encontre vestígios do Neo-Realismo em O Grito. Já por outro lado, ao expor elementos que seriam aprofundados em A Aventura, A Noite e O Eclipse, há quem sugire que, com O Grito, Antonioni teria realizado, ao invés de uma trilogia, uma tetralogia sobre a crise existencial, localizada em diferentes classes sociais.
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