A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, agosto 16, 2007

Ao sabor do Vento - Os outros

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* Rui Marques
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Nas pequenas e grandes coisas, o ‘outro’ sempre serviu como escape para as nossas frustrações.
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A culpa é sempre do ‘outro’. Todo o mal – corrupção, incompetência, ignorância – lhe pertence. É tão antiga esta tendência quanto a origem da Humanidade.
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Nas pequenas e grandes coisas, o ‘outro’ sempre serviu como escape para as nossas frustrações. Alguém já cunhou mesmo a expressão ‘outrismo’ para delimitar este comportamento.
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Por exemplo, quando a sífilis se disseminou na Europa, nos finais do século XV, para os italianos era o “mal francês”, porém os franceses chamavam-lhe o “mal napolitano”; os espanhóis baptizaram a doença como o “mal alemão” e os flamengos chamaram-lhe o “mal espanhol”; para os russos era “o mal dos polacos” e, para os turcos, ‘o mal dos cristãos’. O inferno são os outros, diria Sartre. Mas serão mesmo?
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O quotidiano está cheio desta evidência. Até na evolução mais recente do caso Maddie veio ao de cima este fenómeno típico e ancestral da natureza humana. Por um lado, a imprensa portuguesa trazia para a primeira página a eventual suspeita que recairia sobre a família e amigos da pequena McCann – todos estrangeiros –, enquanto a imprensa britânica ripostava, acusando a polícia portuguesa de incompetência e de preparar um estratagema para culpar a família inglesa do desaparecimento da menina. Cada parte procurava no ‘outro’ a sua ilibação, como se a salvação de cada um residisse na culpa estrangeira. Que sentido faz isto? Enquanto nos desculparmos com os ‘outros’ não vamos longe... Precisamos de nos libertar, individual e colectivamente, desta atitude infantil.
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Tanto mais que o ‘outro’ somos todos nós. De certa forma, só o regresso à ética cristã, que transforma o ‘outro’ no ‘próximo’ e que determina “ama o próximo como a ti mesmo”, traria a solução para esta esquizofrenia da Humanidade que deveria ser una e indivisível. Mas há ainda uma outra tentação no olhar para o ‘outro’. Mais benévola, mas igualmente hipócrita. Conta-se que Einstein teria ironizado, ainda antes da sua consagração através da Teoria da Relatividade, sobre dois cenários antagónicos. Dizia que, “se a sua teoria estivesse certa, os alemães dirão que sou alemão, os suíços dirão que sou cidadão suíço e os franceses dirão que sou um grande cientista. Se se provar que ela está errada, os franceses vão chamar-me suíço, os suíços vão chamar-me alemão...”. E por ai adiante.
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Aqui, do ‘nosso’ ao ‘outro’ vai um pequeno passo... tudo depende do sucesso e das vantagens que isso nos traz. Queremos que do nosso lado só fiquem os bons. Como se fosse possível dividir o Mundo entre ‘bons’ e ‘maus’ e, mais ainda, fazer coincidir os ‘bons’ com os ‘nossos’ e os ‘maus’ com os ‘outros’. Vem à memória, a este propósito, um desabafo de Alexander Solzhenitsyn, dissidente russo dos tempos do Gulag. Dizia o sábio: “Que bom era que se dividissem os homens entre bons e maus. Fecharíamos os maus algures e ficaríamos só os bons. O problema é que a linha que separa o bem do mal divide o coração de cada homem. E qual de nós está disponível para arrancar metade do seu coração?”.
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in Correio da Manhã 2007.08.15
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» Comentários no CM on line
Quarta-feira, 15 Agosto
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- Leandro Coutinho Um artigo com qualidade, pela forma como aborda o tema, pela cultura vasta que o articulista demonstra ter, pela simplicidade e clareza da exposição. Parabéns.
- JC Obrigado Dr. Rui Marques pela excelente qualidade deste e de muitos outros seus artigos. A "carapuça" a todos serve e, òbviamente, a mim também.
- xarneco Excelente. E' verdade, e' sempre o outro o culpado.xarneco usa
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1 comentário:

Maria Faia disse...

Olá Amigo,

Gostei de ler este artigo.
Na verdade, a tendência dominante corresponde à culpabilização do outro.
" culpa é sempre do ‘outro’. Todo o mal – corrupção, incompetência, ignorância – lhe pertence. É tão antiga esta tendência quanto a origem da Humanidade".

E, esta verdade irrefutável é grande responsável por muita da intolerância que grassa por este mundo fora.

Pena é que assim seja. Que todos não tenhamos a humildade de assumir os nossos erros e saber perdir desculpa. Penso que é assim que crescemos como PESSOAS.
E, quando a verdade sai de nossas bocas e a mentira a suplanta?
Quanta revolta nos invade!...

Mas... a verdade é que todos somos imperfeitos.

Beijo de Bom Domingo.