mulheres oposicionistas ao Estado Novo.
Referência bibliográfica
Publicação resultante da tese de mestrado da autora, Mulheres em tempos sombrios. Oposição feminina ao Estado Novo, de Vanda Gorjão, é um trabalho que nos dá a conhecer a actividade desenvolvida pelas mulheres portuguesas (algumas delas e alguma oposição- a oposição de elites) que não concordavam nem se enquadravam nos princípios e organizações femininas criadas e existentes durante o período da Ditadura.
Fazendo análise em vários domínios e debruçando-se sobre várias realidades, a autora apresenta-nos uma obra com a seguinte orgânica interna:
CAPÍTULO I- A infância. As famílias de origem. Socialização política.
CAPÍTULO II- Dinastias políticas. Adolescência e juventude. A escola.
CAPÍTULO III- A politização da vida adulta. Inserção profissional. Novas dinastias políticas.
CAPÍTULO IV- Oposição feminina ao Estado Novo (1). O Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e a Associação Feminina Portuguesa para a Paz.
CAPÍTULO V- Oposição feminina ao Estado Novo (2). Mulheres nos grupos oposicionistas unitários e "comissões femininas".
CAPÍTULO VI- As prisões políticas. Exercício activo da cidadania. Perfis de mulheres políticas.
CONCLUSÃO
Para complementar esta informação transcrevemos excertos da "Introdução" que é feita à pesquisa e investigação.
Referência bibliográfica:
GORJÃO, Vanda- Mulheres em tempos sombrios. Oposição feminina ao Estado Novo. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2002 (Colecção Estudos e Investigações, 24).
INTRODUÇÃO
(...)
Houve diversos tipos de oposição conduzida por mulheres. A sua configuração e as respectivas dinâmicas variaram em função de muitos factores, entre as quais a composição social dos meios oposicionistas. Camponesas e operárias fizeram protestos graves, marchas de fome, juntaram-se em concentrações (frequentemente levando os filhos) contra a falta de géneros, o racionamento do pão, ou exigindo aumentos de salários. Nos bastidores da clandestinidade comunista, as "companheiras" asseguraram a fachada da normalidade da vida familiar, numa partilha de responsabilidades políticas com os "camaradas" que actuavam no exterior. Deixei de lado essa face anónima da oposição feminina e resolvi tomar por objecto um outro tipo de oposição que podemos designar por oposição de elites.
Para além de indicadores que demonstram a integração em meios privilegiados da burguesia ou das classes médias urbanas, e em círculos sociais e culturais restritos, duas outras características ajudam a definir a especificidade deste tipo de oposição. A primeira diz respeito aos posicionamentos ideológicos e políticos: participando numa mesma frente de luta por um regime democrático, as mulheres que integraram a oposição de elites eram liberais, republicanas, socialistas, comunistas ou anarco-sindicalistas, eram feministas e pacifistas, aderiram à maçonaria ou ao catolicismo progressista. Nos seus posicionamentos ideológicos e políticos estava, pois, representado o vasto leque de culturas e tradições que, em certos momentos, confluíram na unidade democrática oposicionista.
Uma segunda característica é que o meio em que se moviam não era apenas socialmente mais visível como estava impregnado por uma forte cultura de individualidade. Algumas dessas mulheres notabilizaram-se em termos culturais, profissionais ou políticos, ganhando reconhecimento consensual entre os pares. Foram mulheres "nomeadas", tiveram visibilidade nos grupos oposicionistas a que se associaram e, em alguns casos, essa visibilidade alargou-se ao espaço público. Muitas têm uma trajectória de luta conhecida: pertenceram a organizações antifascistas unitárias, criaram movimentos e grupos femininos, foram do Partido Comunista, foram perseguidas pelo regime salazarista, por vezes presas e exiladas. Mais tarde, após 1974, iriam participar no processo de transição democrática. (...)
Demoradamente ou mais de passagem, as mulheres referidas ao longo deste estudo são, entre outras, Alda Nogueira, Beatriz Almeida Cal Brandão, Cândida Ribeiro Gaspar, Casina Bermudes, Cecília Areosa Feio, Francine Benoit, Guida Lamy, Ilse Losa, Irene de Castro, Irene Cortesão, Irene Lisboa, Isaura Silva Borges Coelho, Josefina Simões, Luísa Irene Dias Amado, Manuela Porto, Maria Archer, Maria Barroso, Maria Branca Lemos, Maria das Dores Cabrita, Maria Elvira Cortesão, Maria Emília Tito de Morais, Maria Estanco Louro, Maria Eugénia Varela Gomes, Maria Fernanda Silva, Maria Helena Correia Guedes, Maria Isabel Aboim Inglez, Maria Keil do Amaral, Maria Lamas, Maria Letícia Clemente da Silva, Maria Luísa Costa Dias, Maria da Luz Espírito Santo, Maria Valentina Trigo de Sousa, Stella Piteira Santos e Virgínia Moura. (...)
Vejamos as balizas cronológicas em que nos situamos. Recuando à primeira República e prolongando-se até depois do 25 de Abril de 1974, a análise incide fundamentalmente no intervalo de tempo que vai de 1945 até ao começo dos anos 60, que corresponde a um ciclo político aberto com a reorganização da oposição no pós-guerra e encerrado com a candidatura gorada de Humberto Delgado às eleições presidenciais, o desânimo da oposição anti-fascista e o incremento da repressão política do regime. Curiosamente, esse intervalo de tempo foi uma espécie de eixo cardinal tanto nas temporalidades da história do Estado Novo como no ciclo de vida da maioria das mulheres consideradas: coincidiu com o fim da juventude e a fase crucial da vida adulta, em que se casa, se tem filhos e se define os parâmetros de uma carreira profissional. Dois episódios marcam mesmo, como iniciação ou confirmação, o seu envolvimento político: a constituição do Movimento Unitário Democrático (MUD) em 1945 e a criação do MUD Juvenil em 1946, episódios que vincularam a afirmação de uma nova geração de oposicionistas às primeiras esperanças de democratização do país, logo frustradas. (...)
Publicado por sandra em outubro 18, 2003 (Sandra Cristina Almeida)Retirado do Blog História e Ciência
Quadro - autor não identificado (Dia da Mulher)
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