O DESPEDIMENTO É SEMPRE TRAUMATIZANTE
* Diana Ramos
Maria Antónia Frasquilho, psiquiatra dedicada à medicina do trabalho, entende que não aceitar a mudança é um dos piores erros que se pode cometer. E sugere que se olhe para o desemprego como uma janela de oportunidades novas.
Correio da Manhã – Que sentimentos vivem as pessoas que passam por um despedimento?
Maria Antónia Frasquilho – Quer se queira ou não, o despedimento é sempre uma situação traumática. A pessoa tem uma revolução na sua vida, tem um cataclismo que não foi preparado, e não teve tempo para preparar as estratégias de adaptação. O primeiro passo para ajudarmos as pessoas é elas compreenderem que os sentimentos que têm são normais. Primeiro, a pessoa poderá sentir raiva, depois uma tristeza e a seguir, pouco a pouco, entramos na fase de adaptação e recuperação, em que se transforma o limão em limonada.
– O que aconselha, numa primeira fase?
– Eu não diria às pessoas para continuarem as suas velhas rotinas, porque já não fazem sentido. Se a pessoa se levantava às cinco para sair às seis, não faz sentido continuar a fazê-lo. Não há pior mal do que não aceitarmos a mudança. Não há nada permanente no Mundo a não ser a mudança – e cortar com a realidade, fazendo de conta que nada existiu é um erro em que muitas pessoas tendem a cair. A pessoa deve interiorizar que houve uma mudança e, perante a realidade das coisas, perceber como é que se pode transformar a vida em algo positivo.
– Que actividades ajudam a contornar os velhos vícios?
– Não vamos preencher as coisas por preencher, porque também não há coisa mais errada do que preencher a rotina sem nexo. Primeiro é necessário tempo para pensar, depois aceitar os sentimentos, sabendo que não há nada que permaneça, tudo muda, incluindo os sentimentos negativos. A pessoa deve dar um tempo a si mesma, não agir impulsivamente. Identificar as potencialidade, os recursos e identificar os seus desejos. Cada pessoa tem um projecto, tem desejos e este pode ser o momento certo para as pessoas começarem a pensar se a mudança fechou a porta do emprego ou abriu uma janela. Pode ser um bom momento para fazer formação e começar o caminho num outro projecto que lhes seja mais agradável.
– Qual o papel da família?
– Tem de ser a fonte de apoio destas pessoas. Filhos, familiares mais próximos e amigos são importantes. E também são importantes as pessoas que também já passaram pelo desemprego.
– Que tipo de problemas colocam as pessoas que a procuram?
– O desespero, o desalento e a ideia de que ninguém as pode ajudar. Não acreditam mais que haja uma solução para elas e têm a sensação de desamparo. A maior parte das pessoas entra com diagnóstico de depressão reactiva, que surge em resposta a uma situação de perda.
PERFIL
Maria Antónia Frasquilho tem 50 anos e é medica psiquiatra no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa. Pós-graduada em Medicina do Trabalho, é também mestre em Pedagogia da Saúde. É membro da Fundação Portuguesa de Cardiologia e docente da Escola Nacional de Saúde Pública. Maria Antónia Frasquilho diz que é no sector público que surgem as pessoas com problemas de desemprego. No privado, o stress domina.
in CORREIO DA MANHÃ 2007.03.10
Maria Antónia Frasquilho, psiquiatra dedicada à medicina do trabalho, entende que não aceitar a mudança é um dos piores erros que se pode cometer. E sugere que se olhe para o desemprego como uma janela de oportunidades novas.
Correio da Manhã – Que sentimentos vivem as pessoas que passam por um despedimento?
Maria Antónia Frasquilho – Quer se queira ou não, o despedimento é sempre uma situação traumática. A pessoa tem uma revolução na sua vida, tem um cataclismo que não foi preparado, e não teve tempo para preparar as estratégias de adaptação. O primeiro passo para ajudarmos as pessoas é elas compreenderem que os sentimentos que têm são normais. Primeiro, a pessoa poderá sentir raiva, depois uma tristeza e a seguir, pouco a pouco, entramos na fase de adaptação e recuperação, em que se transforma o limão em limonada.
– O que aconselha, numa primeira fase?
– Eu não diria às pessoas para continuarem as suas velhas rotinas, porque já não fazem sentido. Se a pessoa se levantava às cinco para sair às seis, não faz sentido continuar a fazê-lo. Não há pior mal do que não aceitarmos a mudança. Não há nada permanente no Mundo a não ser a mudança – e cortar com a realidade, fazendo de conta que nada existiu é um erro em que muitas pessoas tendem a cair. A pessoa deve interiorizar que houve uma mudança e, perante a realidade das coisas, perceber como é que se pode transformar a vida em algo positivo.
– Que actividades ajudam a contornar os velhos vícios?
– Não vamos preencher as coisas por preencher, porque também não há coisa mais errada do que preencher a rotina sem nexo. Primeiro é necessário tempo para pensar, depois aceitar os sentimentos, sabendo que não há nada que permaneça, tudo muda, incluindo os sentimentos negativos. A pessoa deve dar um tempo a si mesma, não agir impulsivamente. Identificar as potencialidade, os recursos e identificar os seus desejos. Cada pessoa tem um projecto, tem desejos e este pode ser o momento certo para as pessoas começarem a pensar se a mudança fechou a porta do emprego ou abriu uma janela. Pode ser um bom momento para fazer formação e começar o caminho num outro projecto que lhes seja mais agradável.
– Qual o papel da família?
– Tem de ser a fonte de apoio destas pessoas. Filhos, familiares mais próximos e amigos são importantes. E também são importantes as pessoas que também já passaram pelo desemprego.
– Que tipo de problemas colocam as pessoas que a procuram?
– O desespero, o desalento e a ideia de que ninguém as pode ajudar. Não acreditam mais que haja uma solução para elas e têm a sensação de desamparo. A maior parte das pessoas entra com diagnóstico de depressão reactiva, que surge em resposta a uma situação de perda.
PERFIL
Maria Antónia Frasquilho tem 50 anos e é medica psiquiatra no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa. Pós-graduada em Medicina do Trabalho, é também mestre em Pedagogia da Saúde. É membro da Fundação Portuguesa de Cardiologia e docente da Escola Nacional de Saúde Pública. Maria Antónia Frasquilho diz que é no sector público que surgem as pessoas com problemas de desemprego. No privado, o stress domina.
in CORREIO DA MANHÃ 2007.03.10
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