Viagens virtuais
* Victor Nogueira
1. - Como queres fazer uma viagem virtual? De qualquer modo grato pela tua simpatia. Estudei em Évora e muitas vezes ao fim de semana íamos de abalada pelo Alentejo, umas vezes a Monsaraz, outras a Beja, Mourão, Beringel, Alvito, Portel, Arraiolos, Serpa, Moura ....
Monsaraz, ninho de águia no cimo do monte, onde se fazem touradas que detesto no que teria sido a Praça de Armas do Castelo, beneficiou do abandono. Tal como aldeias históricas da Beira Baixa, da Beira Alta ou do Alto Alentejo, que visitei nas minhas deambulações a cavalo no agora velho e gasto Ford Fiesta. que comigo correu Portugal de Lés a lés, conjuntamente com a velha Reflex Cosina, passada à história depois duma queda fatal. Herdei do meu tio José João, entre mais livros, uma máquina Reflex e uma digital, mas continuo a usar a não reflex que entretanto havia comprado após a queda da velha Cosina que o meu irmão me ofereceu antes de morrer de morte matada por ele mesmo e muitos outros, incluindo os que sujeitaram este país a uma guerra colonial que durou 13 anos, indiferente aos ventos da história, da liberdade e da autodeterminação.
Gosto de passear por aquelas ruas estreitas, por entre aquele casario branco e refulgente em dias de Sol, tal como sucede com Óbidos, uma vila que acabei por descobrir ser postiça, quer devido aos restauros românticos, quer aos restauros do Estado Novo.
Como queres fazer um livro de viagens virtual a duas mãos? O meu livro está incompleto, as fotografias não catalogadas e muito menos digitalizadas ...
Mas para começar proponho que visites no meu blog os marcadores Viagens, Évora, Luanda ou ou Vn Prosa.
E no teu, vai até Évora onde me podes encontrar a seguir.
2. - Falar sobre Évora respondendo ao teu dsesafio? Fui parar a Évora desiludido com Económicas,no Quelhas, que troquei por Sociologia no ISESE, Escola dos jesuítas. Os Jesuítas revelaram-se uma desilusão e a cidade, para mim parada no tempo, era uma ilha de Pedra e cal no meio do deserto, e de que gostava quando a via pelo retrovisor da carreira dos Belos, a caminho do Porto ou de Lisboa.
Nós, os não alentejanos, parávamos pelo Café Arcada, que trocávamos pelo Portugal em dia de Terça-Mercado, quando era ocupado pelos agrários, cinzentos como cepos sem vida. Enquanto estudante vivi num quarto alugado com vista para um pátio, sempre invadido pela malta quando não estávamos no café, para desespero da hospedeira. Depois de casado alugámos uma casa na Serpa Pinto e qualquer delas ficava ao pé da Praça do Giraldo.
Hoje, não te sei dizer se gosto ou não de Évora. Voltei lá um dia destes, há uns anos, mas já não era o mesmo. A malta dispersou-se. o Arcada era outro, o Portugal uma loja, a casa da D. Vitória estava em obras porque ela morrera e seria alugada a outrem, e na praça do Giraldo, junto à Livraria Nazareth, já não estava a malta, dispersa sabe Deus por onde. De Évora e dos amigos comuns vou sabendo quando telefono a uma amiga minha que por lá ficou.
Não é esta uma viagem virtual como a que se calhar esperavas.
Tu dirás de tua justiça.
Fotografias - Victor Nogueira
As vistas aérias foram tiradas dum teco-teco, pilotado por um colega meu.
Em primeiro plano a Sé de Évora com o seu claustro e, adjacente, o antigo Paço Episcopal, onde está instalado o Museu de Évora. Mais adiante um edifício branco, antigo Palácio da Inquisição, onde funcionava o ISESE, onde tirei o curso de Sociologia, em cujas celas se guardavam os livros da gélida e vasta biblioteca. Á direita, mal entrevistos, o impropriamente chamado Templo de Diana, o antigo Convento dos Lóios, hoje Pousada, e, mais para lá, a Torre das cinco quinas, agregada ao Palácio dos Duques de Cadaval.
Para a esquerda, partindo da Sé, a rua 5 de Outubro, antiga Rua da Selaria, que ia ter à Praça do Giraldo, onde havia a antiga Câmara Municipal, Manuelina, derrubada para dar origem ao então Edifício do Banco de Portugal. Defronte a este está a Igreja de Santo Antão e esteve um arco romano, derrubado.
Ao contrário de Beja, onde o «progresso» quase tudo destruiu da traça antiga, as forças conservadoras não permitiram alterações grandes inter-muralhas, o que dialecticamente possibilitou que hoje Évora seja considerada Património da Humanidade.
Através das minhas leituras, descobri que são falsas as reconstituições do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, do Convento de Jesus em Setúbal, de Óbidos inter-muralhas, do Castelo de S. Jorge em Lisboa ou dos de Guimarães. ou de Leiria. Como creio ter dito, meras reconstituições «românticas» ou do chamado Estado Novo. Nas reconstituições teve particular importância Korrodi ou a Direcção Geral dos Monumentos Nacionais.
Como falsos são os desafogos das Sés do Porto ou da Guarda, hoje «libertas», outrora rodeadas de edifícios. Daí que a Sé de Braga constitua uma surpresa, pois está «abafada» por edifícios e ao fundo duma rua. Menos pruridos teve Salazar, ao mandar destruir o casco da velho da cidade de Coimbra, nele erguendo a Universidade, segundo os cânones da arquitectura nazi/fascista.
* Victor Nogueira
1. - Como queres fazer uma viagem virtual? De qualquer modo grato pela tua simpatia. Estudei em Évora e muitas vezes ao fim de semana íamos de abalada pelo Alentejo, umas vezes a Monsaraz, outras a Beja, Mourão, Beringel, Alvito, Portel, Arraiolos, Serpa, Moura ....
Monsaraz, ninho de águia no cimo do monte, onde se fazem touradas que detesto no que teria sido a Praça de Armas do Castelo, beneficiou do abandono. Tal como aldeias históricas da Beira Baixa, da Beira Alta ou do Alto Alentejo, que visitei nas minhas deambulações a cavalo no agora velho e gasto Ford Fiesta. que comigo correu Portugal de Lés a lés, conjuntamente com a velha Reflex Cosina, passada à história depois duma queda fatal. Herdei do meu tio José João, entre mais livros, uma máquina Reflex e uma digital, mas continuo a usar a não reflex que entretanto havia comprado após a queda da velha Cosina que o meu irmão me ofereceu antes de morrer de morte matada por ele mesmo e muitos outros, incluindo os que sujeitaram este país a uma guerra colonial que durou 13 anos, indiferente aos ventos da história, da liberdade e da autodeterminação.
Gosto de passear por aquelas ruas estreitas, por entre aquele casario branco e refulgente em dias de Sol, tal como sucede com Óbidos, uma vila que acabei por descobrir ser postiça, quer devido aos restauros românticos, quer aos restauros do Estado Novo.
Como queres fazer um livro de viagens virtual a duas mãos? O meu livro está incompleto, as fotografias não catalogadas e muito menos digitalizadas ...
Mas para começar proponho que visites no meu blog os marcadores Viagens, Évora, Luanda ou ou Vn Prosa.
E no teu, vai até Évora onde me podes encontrar a seguir.
2. - Falar sobre Évora respondendo ao teu dsesafio? Fui parar a Évora desiludido com Económicas,no Quelhas, que troquei por Sociologia no ISESE, Escola dos jesuítas. Os Jesuítas revelaram-se uma desilusão e a cidade, para mim parada no tempo, era uma ilha de Pedra e cal no meio do deserto, e de que gostava quando a via pelo retrovisor da carreira dos Belos, a caminho do Porto ou de Lisboa.
Nós, os não alentejanos, parávamos pelo Café Arcada, que trocávamos pelo Portugal em dia de Terça-Mercado, quando era ocupado pelos agrários, cinzentos como cepos sem vida. Enquanto estudante vivi num quarto alugado com vista para um pátio, sempre invadido pela malta quando não estávamos no café, para desespero da hospedeira. Depois de casado alugámos uma casa na Serpa Pinto e qualquer delas ficava ao pé da Praça do Giraldo.
Hoje, não te sei dizer se gosto ou não de Évora. Voltei lá um dia destes, há uns anos, mas já não era o mesmo. A malta dispersou-se. o Arcada era outro, o Portugal uma loja, a casa da D. Vitória estava em obras porque ela morrera e seria alugada a outrem, e na praça do Giraldo, junto à Livraria Nazareth, já não estava a malta, dispersa sabe Deus por onde. De Évora e dos amigos comuns vou sabendo quando telefono a uma amiga minha que por lá ficou.
Não é esta uma viagem virtual como a que se calhar esperavas.
Tu dirás de tua justiça.
Fotografias - Victor Nogueira
As vistas aérias foram tiradas dum teco-teco, pilotado por um colega meu.
Em primeiro plano a Sé de Évora com o seu claustro e, adjacente, o antigo Paço Episcopal, onde está instalado o Museu de Évora. Mais adiante um edifício branco, antigo Palácio da Inquisição, onde funcionava o ISESE, onde tirei o curso de Sociologia, em cujas celas se guardavam os livros da gélida e vasta biblioteca. Á direita, mal entrevistos, o impropriamente chamado Templo de Diana, o antigo Convento dos Lóios, hoje Pousada, e, mais para lá, a Torre das cinco quinas, agregada ao Palácio dos Duques de Cadaval.
Para a esquerda, partindo da Sé, a rua 5 de Outubro, antiga Rua da Selaria, que ia ter à Praça do Giraldo, onde havia a antiga Câmara Municipal, Manuelina, derrubada para dar origem ao então Edifício do Banco de Portugal. Defronte a este está a Igreja de Santo Antão e esteve um arco romano, derrubado.
Ao contrário de Beja, onde o «progresso» quase tudo destruiu da traça antiga, as forças conservadoras não permitiram alterações grandes inter-muralhas, o que dialecticamente possibilitou que hoje Évora seja considerada Património da Humanidade.
Através das minhas leituras, descobri que são falsas as reconstituições do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, do Convento de Jesus em Setúbal, de Óbidos inter-muralhas, do Castelo de S. Jorge em Lisboa ou dos de Guimarães. ou de Leiria. Como creio ter dito, meras reconstituições «românticas» ou do chamado Estado Novo. Nas reconstituições teve particular importância Korrodi ou a Direcção Geral dos Monumentos Nacionais.
Como falsos são os desafogos das Sés do Porto ou da Guarda, hoje «libertas», outrora rodeadas de edifícios. Daí que a Sé de Braga constitua uma surpresa, pois está «abafada» por edifícios e ao fundo duma rua. Menos pruridos teve Salazar, ao mandar destruir o casco da velho da cidade de Coimbra, nele erguendo a Universidade, segundo os cânones da arquitectura nazi/fascista.
2 comentários:
Gostei imenso deste teu artigo, de uma Évora da Memória...
Bem hajas.
Um Abraço e Bom Domingo
Vitor
eu não espero nada...
apenas espero que aconteça e, aconteceu.
Passeaste comigo pelas ruelas de Monsaraz e eu divaguei na tua companhia pelos tempos de outrora em que estudaste em Évora. Isso é uma bela viagem virtual.
Acredito que o teu regresso a Évora tenha denunciado que já não é o mesmo de antigamente, é mais que lógico, tudo muda, tudo se transforma.
A malta dispersou-se.
Continuo a adorar ler-te.
Muito obrigado pela pronta resposta
Beijitos.
Bom início de semana.
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