A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, maio 03, 2007



Querer não é poder
Ao Sabor do Vento

A solução é simples e decorre do bom senso. Primeiro é preciso poder para depois concretizar o querer do consumo.

* Rui Marques

O cartaz largo, à beira da estrada, anuncia com estrondo: “Compre o que quiser. Pague quando puder.” Acrescentando que para concretizar este passo de magia basta pedir o cartão x. Simples... mas desastroso. Esta é, nos nossos dias, uma das maiores pragas da sociedade portuguesa, que se desdobra dos electrodomésticos às viagens, da casa ao carro, do computador à conta do supermercado.

Apesar de rimar, querer nem sempre é poder e, no consumo, confundir as duas coisas é terrível. Graças a uma enorme indústria de crédito ao consumo, dispondo de um marketing agressivo, multiplicaram-se as ofertas que, ilusoriamente, tornam possíveis opções que estariam fora das escolhas familiares. Tudo parece fácil. Basta pedir. O problema vem depois, quando se percebe que o passo foi maior do que as pernas.

Hoje, em vez de poupar, para eventualmente um dia gastar, gastamos a contar com o que – eventualmente – vamos ganhar. A diferença é óbvia e fruto da mentalidade do tempo. Atrás de facilidades, compramos problemas.

Actualmente, milhares de famílias sentem na pele as opções insensatas do endividamento que fizeram. Os juros afundam-nas e, quantas vezes, sofrem a humilhação de verem os bens que adquiriram serem penhorados ou retomados pelo credor.

Segundo o Banco de Portugal, o endividamento familiar corresponde a 84% do Produto Interno Bruto e, em 2006, o crédito concedido aumentou 11,5%, numa tendência persistente desde os anos 90. Outros dados apontam para que cada família tenha, em média, seis créditos (não só na área do consumo mas também no crédito à habitação e automóvel) e que o seu endividamento corresponda a 120% do rendimento. Ou seja, a família deve mais do que a totalidade do seu rendimento.

É urgente inverter este ciclo. Desde logo, pelo lado do consumidor. Quem entra no jogo do crédito fácil deve perceber os riscos que está a correr. Sabendo que quase nunca se destina a bens essenciais de consumo – longe vão os tempos do fiado na mercearia do bairro para se poder dar jantar a todos – as famílias têm de saber dizer ‘não’ ao acessório que está para além das suas possibilidades efectivas.

A solução é simples e decorre do bom senso. Primeiro é preciso poder, para depois concretizar o querer do consumo. Mas para isso é preciso não querer parecer mais do que se tem, nem ter mais do que se pode. Bem sei que são valores fora de moda, mas ainda são os mais seguros e sólidos. Evitam grandes dissabores e dão particular sabor ao que se consegue.

Por outro lado, é fundamental que as empresas que intervêm neste negócio sejam muito mais exigentes com elas próprias, na regulação ética e deontológica da actividade. O que equivale a ser muito mais selectivo na atribuição de crédito ao consumo e incomparavelmente mais sério na propaganda difundida.

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