O artigo que reproduzimos abaixo é uma carta enviada ao jornal chinês Global Times na quarta-feira (8), por Karmia Chan Cao, que nasceu em Urumqi e perdeu quatro parentes na baderna que acometeu a capital da Região Autônoma do Xinjiang, em 5 de julho.
Vítimas do massacre são atendidas
Sou estudante da Stanford University, nascida e criada em Urumqi como uma Han chinesa. Atualmente resido em Pequim. Em 5 de julho, baderneiros uigures, próximos ao mercado de Erdaoquiao, assassinaram quatro membros da minha família. Duas amigas minhas, de infância, foram curradas dentro das lojas que dirigiam na avenida Tuanjie.
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Um dos meus primos, uma criança, foi atirada do quinto andar de um prédio comercial por dois homens. Eles também esfaquearam minha tia, mãe de meu primo, que está agora lutando pela vida na UTI do Hospital de Mulheres e Crianças de Urumqi. É por essas vítimas que escrevo, contra aqueles que estão tentando destilar sentimentos anti-comunistas e anti-chineses pela atual situação.
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Isso foi um massacre, não uma ''demonstração pacífica'' que o Congresso Mundial Uigur alega ter sido. Foi um ato brutal de limpeza étnica conduzido por fundamentalistas islâmicos uigures contra cidadãos Han.
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A situação envolveu quatro grupos distintos e independentes: os extremistas uigures; a vasta maioria de uigures simples que não tomaram parte na baderna; os Han e o governo. O governo agiu e cercou a cidade na manhã de segunda-feira, para evitar que uigures ou hans viessem até Urumqi e aumentassem ainda mais a violência entre os dois grupos. O sistema de comunicações foi desligado por razões de segurança nacional e regional, não por uma demonstração vergonhosa de poder.
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Se esses mesmos baderneiros estivessem ''se manifestando'' com ataques indiscriminados nas ruas de cidades do Reino Unido ou dos Estados Unidos, esse acontecimento seria chamado como o que de fato foi: um ataque terrorista. Dezenas de testemunhas com as quais tive contato disseram que não viram manifestantes nem sinais pacíficos.
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''Havia milhares de uigures brandindo facas. Eles começaram a gritar e urrar de repente, descendo rumo à região do Grande Bazar na avenida Erdaoqiao, e também desceram por outras duas ruas que levam até lá, atacando todos os pedestres da etnia Han que não conseguiram se esconder a tempo'', disse Meng Yuanli, um operário aposentado que estava voltando de bicicleta para casa e passava diante do mercado de camponeses.
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''A maioria deles era de adolescentes; alguns deles ainda tinham a voz esganiçada da puberdade. Eu não consegui correr a tempo e um jovem acabou me tirando da bicicleta com um chute. Em seguida atingiu meu rosto com um tijolo por três vezes'', disse Meng, contando também que sua mãe, de 82 anos, foi surrada até entrar em coma no momento que levava o lixo de casa para a rua.
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A senhora Hai, da Mongólia Interior, disse que ''eles primeiro bateram nas pessoas, depois saquearam as lojas, daí um outro grupo começou a incendiar os automóveis. Minhas crianças e eu nos escondemos sob a cama, atrás da máquina registradora, quando alguns deles abriram as portas, levaram as bebidas e cigarros e, ao nos descobrirem, cortaram minha mão direita e quebraram uma garrafa na cabeça de minha filha mais nova. Não tivemos coragem de tentar sair para pedir ajuda ou ir ao hospital, com medo de sermos mortos''.
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A vizinha dela, Liu, também foi atacada, ficou cega permanentemente e sua loja foi incendiada. ''Perdi oito anos de trabalho duro'', chorava Liu. ''Perdi tudo que eu tinha e eles também acabaram com minha visão. Eles gritavam 'matem todos os Han', e eu não fiz nada a eles''.
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Nem tampouco uma amiga minha de 16 anos, que foi atacada dentro da linha de ônibus 901, depois de sair da escola após ter feito sua última prova.
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Seu pai, Zhou, contou a mim, chorando, que o rosto dela foi tão machucado que ela ficará desfrigurada para o resto da vida. ''Quatro camadas de pele transplantada não conseguirão devolver a felicidade à minha menininha de novo'', chorava.
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Poucos dos jornalistas que escreveram artigos para a mídia ocidental estão informados sobre o que aconteceu de fato nesta violência toda. A mídia ocidental geralmente só se preocupa em fazer artigos sobre a opressão do governo contra as minorias na China.
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Ignorantes do 'zeitgeist' social e da história cultural da região, e com uma atmosfera de sentimento anti-muçulmano e anti-chinês no Ocidente, repórteres, como Edward Wong, do The New York Times, escolheram fazer o mais fácil, que é atacar mais uma vez o governo chinês.
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Eles reproduzem com aspas as frases da ''Organização Uigur-Japonesa'' e de grupos similares, ao invés de conversar diretamente com as vítimas para descobrir a verdade. Este não foi um protesto político, mas sim uma violência em massa, propelida pelo fundamentalismo e pelo racismo contra a etnia Han.
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Entretanto, esses baderneiros não representam, de modo algum, o conjunto da população uigur. A maioria dos baderneiros era adolescente, crianças que são facilmente convertidas em títeres por grupos fundamentalistas baseados em Turpan.
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O senhor Meng se escondeu na casa de um amigo uigur, dois quarteirões do lugar onde foi atacado. ''Uti Kuar, horrorizado, pedia desculpas repetidamente, enquanto via as atrocidades a partir de sua janela. Ele recebeu mensagens de outros amigos uigures para não sair à rua após o jantar. Mas ele não fazia idéia do que estava para acontecer. Caso soubesse, teria advertido a gente'', conta.
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''Nem todos os uigures participaram disso. Apenas os extremistas. Eu espero que o governo possa agir rapidamente, antes que isso se transforme em uma guerra racial. Eu perderia meu amigo'', completa Meng.
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No momento que escrevo, na tarde de 7 de julho, seu medo começa a se transformar em realidade. Milhares de Han agora tomam as ruas, com os olhos repletos de ira por causa das mortes. Se o governo não reagir e reprimir com dureza todas as ações violentas, então haverá mais banhos de sangue no Xinjiang, pelo tempo que a memória dos massacres perdurar.
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Se tal baderna não foi terrorismo, então eu não sei mais o que foi. E peço que, em nome dos povos Uigur e Han, que foram ignorados pelo Ocidente, que olhem mais de perto a verdade que se passou no Xinjiang.
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Fonte: Global Times (http://www.globaltimes.cn/)
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in Vermelho - 10 DE JULHO DE 2009 - 17h26
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