A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, julho 23, 2009

Escândalos de Berlusconi atiçam a revolta contra a opressão

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Sua fama internacional já não ia muito bem quando cometeu a "indelicadeza" de se referir ao recém-eleito presidente estadunidense Barack Obama como "jovem, bonito e bronzeado", num comentário abertamente racista.

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Por Marina Fuser, para o Brasil de Fato


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Uma sequência de escândalos, nas últimas semanas, colocou o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi de volta ao centro da cena midiática. Proprietário de uma das mais influentes emissoras televisivas do país, o milionário Berlusconi é pressionado a responder publicamente por sua conduta. Sua fama internacional já não ia muito bem quando cometeu a "indelicadeza" de se referir ao recém-eleito presidente estadunidense Barack Obama como "jovem, bonito e bronzeado", num comentário abertamente racista. Em seguida veio a ratificação do projeto de lei de segurança que considera a imigração irregular como um crime. A lei, que permite inclusive a prisão dos imigrantes por até quatro anos, foi aprovada por 57 votos a favor, 124 contrários e 3 abstenções.

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Pouco depois, um escândalo envolvendo prostitutas e muito dinheiro em festas privadas com a presença de Berlusconi chocou o país, com a publicação de fotos e vídeos. A revelação foi confirmada por quatro prostitutas que alegam ter frequentado festas em seus palácios Grazioli e Villa Certosa. A opinião pública ficou chocada, numa reação em que não faltou uma alta dose de moralismo, mas essa não foi a primeira expressão da conduta machista de Berlusconi. Logo em sua primeira campanha ao governo, ele sugeriu a uma jovem trabalhadora precarizada que a melhor solução para melhorar sua qualidade de vida seria "encontrar um homem rico para se casar".

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Agora, ao visitar a cidade de Aquila, atingida por um trágico terremoto, Berlusconi fez outro comentário infeliz. A intenção foi agradar o eleitorado feminino, mas o efeito foi exatamente o oposto. Num congresso de representantes da indústria farmacêutica, se declarou inconformado com a ausência de mulheres cientistas no evento, e vociferou: "O que os senhores fariam sem as mulheres? São homossexuais? Da próxima vez, trarei algumas showgirls. Maiores de idade, claro". Mulheres cientistas das universidades de Milão, Perúgia, Pádua e Ferrara protestaram contra o discurso "inaceitavelmente sexista" do primeiro-ministro. Cerca de 6.500 mulheres assinaram o chamado ao boicote que incita a ausência de primeiras-damas à reunião de cúpula do G-8 em Áquila.

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Em abril de 2008, talvez o caso mais emblemático, uma declaração de Berlusconi acerca da onda de estupros no país soou como um trovão na opinião pública. Registravam-se, nos primeiros quatro meses do ano, mais de 60 casos de violência sexual em Roma. A maneira "berluscônica" de responder a esse cenário suscitou controvérsias: tropas nas ruas. Sobre isso, ele declarou: "Não poderíamos recrutar uma força grande o suficiente para evitar este risco (de estupros). Teríamos de ter tantos soldados nas ruas quanto mulheres bonitas. Não acho que conseguiríamos".

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No início de 2009, uma carta da primeira-dama colocou Berlusconi numa "saia-justa". O motivo foi seu comentário público dirigido à deputada Maria Carfagna de que "se não estivesse casado, casaria com ela imediatamente". Essa foi apenas uma pérola entre outras tantas, mas na quarta-feira seguinte, eis que uma carta da primeira-dama Veronica Berlusconi perfilava na primeira página do jornal La Repubblica, acusando-o de ferir sua dignidade e exigindo uma retratação pública por conduta inadequada. A primeira-dama foi cercada de solidariedade pela opinião pública em geral, por grupos feministas e inclusive por alguns membros da Igreja, como o cardeal Ersilio Tonini.

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A opressão e a exploração de trabalhadores na Itália dá o tom de um governo abertamente anti-operário, munido de uma ideologia reacionária, machista e racista. A política anti-imigração de Berlusconi coloca em relevo o tratamento que dedica aos extratos mais pauperizados e oprimidos da sociedade, atingindo grande parte da classe trabalhadora. Suas gafes infelizes e a sua conduta abertamente machista são apenas demonstrações da ideologia que está por trás da sua política, ao subordinar a mulher ao poderio quase medieval do seu senhor. Todo esse conservadorismo se faz sentir quando Berlusconi fez questão de defender uma emenda à Declaração dos Direitos Humanos para afirmar que "todo indivíduo tem direito à vida, da concepção à morte natural". A intenção evidente era fazer retroceder a legislação civil na Itália, onde o aborto é legal – uma conquista do movimento feminista italiano entre as décadas de 1960 e 1970 que provocou uma diminuição significativa no número de abortos e pôs fim às clinicas clandestinas, segundo a consitucionalista italiana Lorenza Carlassare.

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Os sucessivos escândalos envolvendo o primeiro-ministro, assim como a sua sua conduta abertamente anti-operária, têm como pano de fundo a crise internacional do capitalismo, e por isso exigem respostas contundentes. A opinião pública negativa frente à política reacionária do governo Berlusconi tem servido de estopim às mobilizações que vem se fermentando desde o último trimestre do ano passado. O despertar do movimento estudantil italiano em outubro não foi um ato isolado de rebeldia juvenil, como gosta de pintar a mídia. Os 15 milhões de trabalhadores que atualmente situam-se abaixo do nível de pobreza têm retomado a tradição de lutas do movimento operário italiano, seguindo o exemplo dos empregados da Alitalia, dos imigrantes e "italianos de segunda geração", secundaristas, universitários e professores que estão na vanguarda da nova onda de manifestações que incendeia o cenário italiano.

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Também as feministas, até então adormecidas em suas ONG’s e em partidos amorfos em geral acomodados ao capitalismo, começam a dar indícios de que estão se despertando. O boicote do G8 foi uma primeira tentativa. Por isso, se mostra cada vez mais necessária uma articulação independente entre mulheres e homens trabalhadores, imigrantes, professores e estudantes em torno de uma plataforma comum de reivindicações que coloque em xeque a política de Berlusconi, em defesa daqueles que fazem e refazem a Itália todos os dias.

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(*) Marina Fuser, socióloga e integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas, mora em Bolonha, Itália

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Brasil de Fato
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in Vermelho -
22 DE JULHO DE 2009 - 16h53
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