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Crónica de João Carlos Pereira -
Lida aos microfones da Rádio Baía em 07/12/2005
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Que venha o Diabo e… não escolha
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Não sei se Mário Soares é apenas descarado, se está completamente gagá, ou se à sem-vergonha e à senilidade junta uma cada vez mais acentuada dose de imbecilidade galopante. Esta dúvida surgiu-me quando, a propósito dos 25 anos passados sobre a morte de Sá Carneiro, o ouvi dizer, sem papas na língua ou embaraços de qualquer espécie, que convidara, logo a seguir ao 25 de Abril, o falecido fundador do PPD a aderir ao partido Socialista. Perante o espanto de Sá Carneiro, Soares assume ter-lhe dito que, sendo social-democrata, seria no PS que estaria bem. «Mas vocês são um partido socialista», retorquira o outro, acrescentando que lera o programa do PS e lá se via que era um partido de inspiração marxista. Que não ligasse a isso, confessa Soares ter-lhe respondido, pois isso são coisas que se escrevem nos programas, mas a realidade é outra coisa completamente diferente.
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Traduzindo isto por outras palavras, queria Soares dizer, lá na sua, que o nome do PS (socialista) e a as suas bases programáticas, longe de corresponderem à sua identidade – princípios, projectos e objectivos – não passavam (como não passam, ainda hoje) de artifícios para iludir o povo e conquistar-lhe os votos. Soares, em trinta segundos, confessou que tanto ele, como o partido de que diz ter orgulho em pertencer, não passam de uma imensa fraude política, o exemplo acabado do que é a pulhice como instrumento ao serviço da manipulação do eleitorado.
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E se isto já era mau, mesmo considerando a estrumeira que é a prática política na sua generalidade, o descaramento de Soares, ao confessar alegremente a sua desonestidade política, é a prova real de que tudo é ainda pior do que parece. E que se ele, apesar da provecta idade, não está completamente pifado dos neurónios, então é porque julga que os portugueses já aceitam a trampolinice como uma qualidade natural dos políticos, e a indignidade como uma virtude indispensável na política. Nada mau, para quem anda agora a defender a política e os políticos como coisas decentes e sem mácula. Vê-se…
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Por isso, se eu já não tivesse decidido, há muito, que nenhum socialista, seja em que circunstância for, contará com o meu voto, esta confissão bastaria para que, nas próximas eleições presidenciais – e caso haja 2.ª volta – não fosse à minha custa que a canalhice política tivesse lugar em Belém. Entre um salazarista requentado e um fulano sem princípios, não há escolha possível. E não me digam que a opção será, nessa altura, entre a esquerda e a direita, porque Mário Soares não é – como nunca foi e jamais será – um homem de esquerda. Felizmente para a esquerda, diga-se.
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Sobre isto, em 15 de Março de 2000, o advogado e jornalista António Marinho, publicou um artigo onde, entre outras coisas, disse:
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«A polémica em torno das acusações das autoridades angolanas, segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos. Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do BE, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), pensadores profissionais, autarcas, «comendadores» e comentadores de serviço, etc. Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel. Sei que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana «Papa Doc» e «Baby Doc».
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Mais adiante, escreve António Marinho:
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«A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios, mas sim fins. É-lhe atribuída a célebre frase: “Em política, feio, feio, é perder”. São conhecidos também os seus ziguezagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do que uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na luta contra o fascismo. Já depois do 25 de Abril, assumiu-se como o homem dos americanos e da CIA em Portugal e na própria Internacional Socialista. Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e executar o golpe contra Salvador Allende, no Chile, e que colocara no poder Augusto Pinochet. Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e foi amigo de Nicolau Ceaucescu, figura que chegou a apresentar como modelo a ser seguido pelos comunistas portugueses. Durante a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas do país a palavra de ordem «Partido Socialista, Partido Marxista», mas mal se apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seus governos notabilizaram-se por três coisas: políticas abertamente de direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram os salários em atraso».
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Porque isto está engraçado, continuemos com António Marinho:
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«Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro democrata. Ou melhor, é muito democrata se for ele a mandar. Quando não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o; tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar ter ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações. Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais. Soares é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do próprio país. Em 1980, não hesitou em apoiar objectivamente o General Soares Carneiro contra Eanes, não por razões políticas, mas devido ao ódio pessoal que nutria pelo general Ramalho Eanes. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar a presidência da República a um general do antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre, como Francisco Salgado Zenha. Confesso que não sei por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, lamentavelmente, parece ter-se incluído agora o actual presidente da República), apareceram agora tão indignados com as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário Soares. Na altura todos meteram a cabeça na areia, incluindo o próprio clã dos Soares, e nem tugiram nem mugiram, apesar de as acusações serem então bem mais graves do que as de agora. Por que é que Jorge Sampaio se calou contra as «calúnias de Rui Mateus?»
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Edificante, não é? Mas a coisa não fica por aqui. Ouçamos mais:
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«Anos mais tarde, um senhor que fora ministro de um governo de Mário Soares, Rosado Correia, vinha de Macau para Portugal com uma mala com dezenas de milhares de contos. A proveniência do dinheiro era tão pouco limpa que um membro do governo de Macau, António Vitorino, foi a correr ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora. Parece que se tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários chineses, com a promessa de benefícios indevidos por parte do governo de Macau. Para quem era esse dinheiro, foi coisa que nunca ficou devidamente esclarecida. O caso Emaudio e o célebre fax de Macau é um episódio que envolve destacadíssimos soaristas, amigos íntimos de Mário Soares e altos dirigentes do PS da época soarista. Menano do Amaral chegou a ser responsável pelas finanças do PS e Rui Mateus foi durante anos responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja, pela angariação de fundos no estrangeiro. Não haveria seguramente no PS ninguém em quem Soares depositasse mais confiança. Ainda hoje, subsistem muitas dúvidas (e não só as lançadas pelo livro de Rui Mateus) sobre o verdadeiro destino dos financiamentos vindos de Macau. No entanto, em tribunal, os pretensos corruptores foram processualmente separados dos alegados corrompidos, com esta peculiaridade judicial (que não é inédita): os pretensos corruptores foram condenados, enquanto os alegados corrompidos foram absolvidos».
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E mais adiante:
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«Mário Soares utilizou o cargo de presidente da República para passear pelo estrangeiro como nunca ninguém fizera em Portugal. Ele, que tanta austeridade impôs aos trabalhadores portugueses enquanto primeiro-ministro, gastou, como presidente da República, milhões de contos dos contribuintes portugueses em passeatas pelo mundo, com verdadeiros exércitos de amigos e prosélitos do soarismo, com destaque para jornalistas. São muitos desses «viajantes» que hoje se põem em bicos de pés a indignar-se pelas declarações dos governantes angolanos. Enquanto Presidente da República, Soares abusou como ninguém das distinções honoríficas do Estado Português. Não há praticamente nenhum amigo que não tenha recebido uma condecoração, enquanto outros cidadãos, que tanto as mereceram, não obtiveram qualquer distinção durante o seu «reinado». Um dos maiores vultos da resistência antifascista no meio universitário, e um dos mais notáveis académicos portugueses, perseguido pelo antigo regime, o Prof. Doutor Orlando de Carvalho, não foi merecedor, segundo Mário Soares, da Ordem da Liberdade. Mas alguns que até colaboraram como antigo regime receberam as mais altas distinções. Orlando de Carvalho só veio a receber a Ordem da Liberdade depois de Soares deixar a Presidência da República, ou seja logo que Sampaio tomou posse. A razão foi só uma: Orlando de Carvalho nunca prestou vassalagem a Soares e Jorge Sampaio não fazia depender disso a atribuição de condecorações».
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E António Marinho termina com a célebre FUNDAÇÃO COM DINHEIROS PÚBLICOS. Diz ele:
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«A pretexto de uns papéis pessoais cujo valor histórico ou cultural nunca ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação com o seu nome. Nada de mal, se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal. Mas não; acabou por fazê-la com dinheiros públicos. Só o governo, de uma só vez, deu-lhe 500 mil contos, e a Câmara de Lisboa, presidida pelo seu filho, deu-lhe um prédio no valor de centenas de milhares de contos. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer país em que as regras democráticas fossem minimamente respeitadas, muita gente estaria, por isso, a contas com a justiça, incluindo os próprios Mário e João Soares, e as respectivas carreiras políticas teriam aí terminado. Tais práticas são absolutamente inadmissíveis num país que respeitasse o dinheiro extorquido aos contribuintes pelo fisco. Se os seus documentos pessoais tinham valor histórico Mário Soares deveria entregá-los a uma instituição pública, como a Torre do Tombo ou o Centro de Documentação 25 de Abril, por exemplo. Mas para isso era preciso que Soares fosse uma pessoa com humildade democrática e verdadeiro amor pela cultura. Mas não. Não eram preocupações culturais que motivaram Soares. O que ele pretendia era outra coisa. Porque as suas ambições não têm limites, ele precisava de um instrumento de pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder e de intromissão directa na vida política do país. A Fundação Mário Soares está a transformar-se num verdadeiro cancro da democracia portuguesa».
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É de esquerda, este homem aqui tão bem retratado? Há quem diga que sim. Cá para mim, no entanto, entre Soares e Cavaco, que venha o Diabo e… não escolha, para não ficar irremediavelmente desacreditado.
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Não sei se Mário Soares é apenas descarado, se está completamente gagá, ou se à sem-vergonha e à senilidade junta uma cada vez mais acentuada dose de imbecilidade galopante. Esta dúvida surgiu-me quando, a propósito dos 25 anos passados sobre a morte de Sá Carneiro, o ouvi dizer, sem papas na língua ou embaraços de qualquer espécie, que convidara, logo a seguir ao 25 de Abril, o falecido fundador do PPD a aderir ao partido Socialista. Perante o espanto de Sá Carneiro, Soares assume ter-lhe dito que, sendo social-democrata, seria no PS que estaria bem. «Mas vocês são um partido socialista», retorquira o outro, acrescentando que lera o programa do PS e lá se via que era um partido de inspiração marxista. Que não ligasse a isso, confessa Soares ter-lhe respondido, pois isso são coisas que se escrevem nos programas, mas a realidade é outra coisa completamente diferente.
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Traduzindo isto por outras palavras, queria Soares dizer, lá na sua, que o nome do PS (socialista) e a as suas bases programáticas, longe de corresponderem à sua identidade – princípios, projectos e objectivos – não passavam (como não passam, ainda hoje) de artifícios para iludir o povo e conquistar-lhe os votos. Soares, em trinta segundos, confessou que tanto ele, como o partido de que diz ter orgulho em pertencer, não passam de uma imensa fraude política, o exemplo acabado do que é a pulhice como instrumento ao serviço da manipulação do eleitorado.
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E se isto já era mau, mesmo considerando a estrumeira que é a prática política na sua generalidade, o descaramento de Soares, ao confessar alegremente a sua desonestidade política, é a prova real de que tudo é ainda pior do que parece. E que se ele, apesar da provecta idade, não está completamente pifado dos neurónios, então é porque julga que os portugueses já aceitam a trampolinice como uma qualidade natural dos políticos, e a indignidade como uma virtude indispensável na política. Nada mau, para quem anda agora a defender a política e os políticos como coisas decentes e sem mácula. Vê-se…
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Por isso, se eu já não tivesse decidido, há muito, que nenhum socialista, seja em que circunstância for, contará com o meu voto, esta confissão bastaria para que, nas próximas eleições presidenciais – e caso haja 2.ª volta – não fosse à minha custa que a canalhice política tivesse lugar em Belém. Entre um salazarista requentado e um fulano sem princípios, não há escolha possível. E não me digam que a opção será, nessa altura, entre a esquerda e a direita, porque Mário Soares não é – como nunca foi e jamais será – um homem de esquerda. Felizmente para a esquerda, diga-se.
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Sobre isto, em 15 de Março de 2000, o advogado e jornalista António Marinho, publicou um artigo onde, entre outras coisas, disse:
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«A polémica em torno das acusações das autoridades angolanas, segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos. Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do BE, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), pensadores profissionais, autarcas, «comendadores» e comentadores de serviço, etc. Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel. Sei que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana «Papa Doc» e «Baby Doc».
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Mais adiante, escreve António Marinho:
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«A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios, mas sim fins. É-lhe atribuída a célebre frase: “Em política, feio, feio, é perder”. São conhecidos também os seus ziguezagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do que uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na luta contra o fascismo. Já depois do 25 de Abril, assumiu-se como o homem dos americanos e da CIA em Portugal e na própria Internacional Socialista. Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e executar o golpe contra Salvador Allende, no Chile, e que colocara no poder Augusto Pinochet. Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e foi amigo de Nicolau Ceaucescu, figura que chegou a apresentar como modelo a ser seguido pelos comunistas portugueses. Durante a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas do país a palavra de ordem «Partido Socialista, Partido Marxista», mas mal se apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seus governos notabilizaram-se por três coisas: políticas abertamente de direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram os salários em atraso».
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Porque isto está engraçado, continuemos com António Marinho:
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«Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro democrata. Ou melhor, é muito democrata se for ele a mandar. Quando não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o; tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar ter ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações. Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais. Soares é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do próprio país. Em 1980, não hesitou em apoiar objectivamente o General Soares Carneiro contra Eanes, não por razões políticas, mas devido ao ódio pessoal que nutria pelo general Ramalho Eanes. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar a presidência da República a um general do antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre, como Francisco Salgado Zenha. Confesso que não sei por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, lamentavelmente, parece ter-se incluído agora o actual presidente da República), apareceram agora tão indignados com as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário Soares. Na altura todos meteram a cabeça na areia, incluindo o próprio clã dos Soares, e nem tugiram nem mugiram, apesar de as acusações serem então bem mais graves do que as de agora. Por que é que Jorge Sampaio se calou contra as «calúnias de Rui Mateus?»
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Edificante, não é? Mas a coisa não fica por aqui. Ouçamos mais:
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«Anos mais tarde, um senhor que fora ministro de um governo de Mário Soares, Rosado Correia, vinha de Macau para Portugal com uma mala com dezenas de milhares de contos. A proveniência do dinheiro era tão pouco limpa que um membro do governo de Macau, António Vitorino, foi a correr ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora. Parece que se tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários chineses, com a promessa de benefícios indevidos por parte do governo de Macau. Para quem era esse dinheiro, foi coisa que nunca ficou devidamente esclarecida. O caso Emaudio e o célebre fax de Macau é um episódio que envolve destacadíssimos soaristas, amigos íntimos de Mário Soares e altos dirigentes do PS da época soarista. Menano do Amaral chegou a ser responsável pelas finanças do PS e Rui Mateus foi durante anos responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja, pela angariação de fundos no estrangeiro. Não haveria seguramente no PS ninguém em quem Soares depositasse mais confiança. Ainda hoje, subsistem muitas dúvidas (e não só as lançadas pelo livro de Rui Mateus) sobre o verdadeiro destino dos financiamentos vindos de Macau. No entanto, em tribunal, os pretensos corruptores foram processualmente separados dos alegados corrompidos, com esta peculiaridade judicial (que não é inédita): os pretensos corruptores foram condenados, enquanto os alegados corrompidos foram absolvidos».
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E mais adiante:
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«Mário Soares utilizou o cargo de presidente da República para passear pelo estrangeiro como nunca ninguém fizera em Portugal. Ele, que tanta austeridade impôs aos trabalhadores portugueses enquanto primeiro-ministro, gastou, como presidente da República, milhões de contos dos contribuintes portugueses em passeatas pelo mundo, com verdadeiros exércitos de amigos e prosélitos do soarismo, com destaque para jornalistas. São muitos desses «viajantes» que hoje se põem em bicos de pés a indignar-se pelas declarações dos governantes angolanos. Enquanto Presidente da República, Soares abusou como ninguém das distinções honoríficas do Estado Português. Não há praticamente nenhum amigo que não tenha recebido uma condecoração, enquanto outros cidadãos, que tanto as mereceram, não obtiveram qualquer distinção durante o seu «reinado». Um dos maiores vultos da resistência antifascista no meio universitário, e um dos mais notáveis académicos portugueses, perseguido pelo antigo regime, o Prof. Doutor Orlando de Carvalho, não foi merecedor, segundo Mário Soares, da Ordem da Liberdade. Mas alguns que até colaboraram como antigo regime receberam as mais altas distinções. Orlando de Carvalho só veio a receber a Ordem da Liberdade depois de Soares deixar a Presidência da República, ou seja logo que Sampaio tomou posse. A razão foi só uma: Orlando de Carvalho nunca prestou vassalagem a Soares e Jorge Sampaio não fazia depender disso a atribuição de condecorações».
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E António Marinho termina com a célebre FUNDAÇÃO COM DINHEIROS PÚBLICOS. Diz ele:
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«A pretexto de uns papéis pessoais cujo valor histórico ou cultural nunca ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação com o seu nome. Nada de mal, se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal. Mas não; acabou por fazê-la com dinheiros públicos. Só o governo, de uma só vez, deu-lhe 500 mil contos, e a Câmara de Lisboa, presidida pelo seu filho, deu-lhe um prédio no valor de centenas de milhares de contos. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer país em que as regras democráticas fossem minimamente respeitadas, muita gente estaria, por isso, a contas com a justiça, incluindo os próprios Mário e João Soares, e as respectivas carreiras políticas teriam aí terminado. Tais práticas são absolutamente inadmissíveis num país que respeitasse o dinheiro extorquido aos contribuintes pelo fisco. Se os seus documentos pessoais tinham valor histórico Mário Soares deveria entregá-los a uma instituição pública, como a Torre do Tombo ou o Centro de Documentação 25 de Abril, por exemplo. Mas para isso era preciso que Soares fosse uma pessoa com humildade democrática e verdadeiro amor pela cultura. Mas não. Não eram preocupações culturais que motivaram Soares. O que ele pretendia era outra coisa. Porque as suas ambições não têm limites, ele precisava de um instrumento de pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder e de intromissão directa na vida política do país. A Fundação Mário Soares está a transformar-se num verdadeiro cancro da democracia portuguesa».
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É de esquerda, este homem aqui tão bem retratado? Há quem diga que sim. Cá para mim, no entanto, entre Soares e Cavaco, que venha o Diabo e… não escolha, para não ficar irremediavelmente desacreditado.
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