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| Ali-babá e os 40 ladrões...
| Os últimos dias vieram trazer, àqueles que como todos nós se interessam pelo papel determinante desempenhado pelo Vaticano nas áreas da política, da economia e da organização social do mundo moderno, tomadas de posição muito curiosas. Vale a pena recordarmos algum noticiário recente. . Conforme estava previsto (e um tanto à pressa...) reuniu-se o G8, mais conhecido como o Clube dos ricos, constituído pelos países mais industrializados do mundo. O encontro durou três dias, realizou-se em Itália e tinha uma agenda de trabalhos verdadeiramente muito complexa: crise económica mundial, proteccionismos, equilíbrio cambial, alterações climáticas e ajuda a África. Ao fim e ao cabo, ninguém se entendeu e o comunicado final é banal e evasivo. O capitalismo criou um monstro que ameaça agora devorá-lo. E os capitalistas não sabem o que fazer. Pesando os riscos que tudo isto encerra, é uma leitura a ter em atenção. . Ainda que oficialmente o facto não estivesse previsto, a grande vedeta deste encontro de grandes senhores acabou por ser o Vaticano. Com a Santa Sé ali a dois passos, multiplicaram-se as entrevistas e as conversações dos altos responsáveis financeiros e políticos com o Papa. Tudo como se fosse a versão actualizada de «Ali-babá e os 40 ladrões». A caverna dos tesouros foi visitada pelos ladrões. . Vendo bem, se o vedetismo concedido a Bento XVI não estava previsto, a encenação fulminantemente montada aponta em sentido contrário. Desde o primeiro dia do encontro do G8, desde que o Papa, dramatizando, apelou aos crentes para que concentrassem as mentes e orassem, a fim de que os políticos capitalistas tomassem decisões favoráveis a Deus e à Igreja!.. . Depois, Bento XVI recebeu os responsáveis máximos do neocapitalismo – nomeadamente Obama – no Vaticano. Por último, tirou da cartola e distribuiu uma nova encíclica sua intitulada «A Caridade na Verdade» (Caritas in Veritate). . É impossível aceitar-se que todos estes cenários não tivessem sido a seu tempo montados. . Conversa cifrada e o «Abre-te Sésamo» . Numa primeira leitura, esta encíclica é simultaneamente frouxa e altamente ameaçadora para os caminhos democráticos ainda abertos à humanidade. Por um lado, nota-se que há uma grande massa de repetição de saber, ou seja, que Ratzinger reedita o palavreado piedoso tantas vezes repisado por ele e pelos seus antecessores. É o caso dos temas do trabalho, da pobreza, da espiritualidade, da ética e da bioética, da caridade, das causas do subdesenvolvimento, etc., etc. Por aqui, nada de novo. Trata-se da técnica da «árvore que oculta a floresta». . Por outro lado, no entanto, o documento deve merecer muita atenção. O Vaticano tem um poder efectivo sobre povos e nações, na política, nas finanças internacionais e nas instituições católico-capitalistas como, aliás, Bento XVI reconhece nesta encíclica «Caridade na Verdade»: «A religião cristã e as outras religiões só podem dar o seu contributo para o desenvolvimento se Deus encontrar também lugar na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, económica e, particularmente, política». Maquiavel ou Escrivá de Balaguer, diriam outro tanto. . Mas Ratzinger alia as suas propostas à imediata passagem à acção. O Estado nunca deveria estar separado da Igreja. A doutrina social católica deve ser reconhecida como «estatuto de cidadania». A caridade é a via mestra da doutrina social. O mercado não pode exercer uma função social e económica sem que sejam instaladas no Estado formas permanentes de solidariedade e de confiança recíprocas. . Depois, Bento XVI serve o «prato forte» da sua culinária: a ONU não chega, é inoperante; é urgente a reforma da arquitectura financeira mundial: é necessário que as finanças voltem a ser um instrumento que tenha em vista a melhor produção da riqueza e do desenvolvimento. Assim sendo, Bento XVI propõe, do alto da sua cátedra pontifícia, uma «alta autoridade» que disponha de poderes absolutos sobre o funcionamento da ONU e que, literalmente, a refunda. . Ratzinger falava com os 40 ladrões aos quais pregava o abre-te Sézamo que lhes há-de permitir cruzar as portas do Paraíso e encher de novo com tesouros a devastada caverna do capitalismo mundial. . Tarde de mais. Os trabalhadores e os explorados não se deixarão enganar. Os ricos, as grandes fortunas, não abandonarão as suas rivalidades e a ganância que é a sua característica principal. O capitalismo será vencido pela firmeza das lutas de classe. . . in Avante . 2009.07.23 . .
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