A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, julho 10, 2009

Os primeiros passos de Obama

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por Serge Halimi

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Para afrontar a herança dos seus antecessores, o novo presidente dos Estados Unidos repudiou muitas das ideias deles. É certo que Barack Obama não acelerou a retirada das tropas americanas do Iraque e que mobilizou mais soldados para o Afeganistão, para uma guerra mortífera e sem saída. No plano interior, a sua política relativa à indústria automóvel, aos bancos ou às remunerações dos dirigentes não rompeu com o imparável «liberalismo», que socializa somente as perdas das empresas. Apesar disso, Obama representa sem dúvida aquilo que o sistema estadunidense pode actualmente criar de mais progressista, ao ponto de as decisões dos dirigentes de Washington parecerem por vezes preferíveis às dos seus homólogos de Paris, Bruxelas, Moscovo, Pequim ou… Teerão. Se a determinação de Washington não vergar, e se alguns dos lóbis que controlam o Congresso forem postos em xeque, dentro de pouco tempo os Estados Unidos irão dispor de uma legislação que protege o direito sindical e se preocupa com as despesas de saúde dos 46 milhões de americanos que não têm nenhuma segurança social. Não é nada pouco.

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Poder‑se‑á objectar que Obama, no fim de contas, é democrata; mas isso será ignorar quarenta anos de história. Porque desde a chegada de Richard Nixon à Casa Branca, em 1969, os dois presidentes democratas que se lhe seguiram aludiram de facto a uma ruptura… mas com a ortodoxia do seu partido, a seu ver demasiado progressista. Desse modo, tanto um como o outro prepararam o terreno para os republicanos que lhes sucederam (Ronald Reagan e George W. Bush). Jimmy Carter abriu o baile das desregulamentações, promoveu uma política ultramonetarista e, a pretexto da «defesa dos direitos humanos», relançou a Guerra Fria. Com Bill Clinton foi ainda pior: endurecimento das sanções penais, generalização da pena de morte, abolição das ajudas federais aos pobres, activação de operações de guerra no Afeganistão, no Iraque, no Sudão e no Kosovo, sem mandato das Nações Unidas. Devemos pois avaliar o balanço inicial de Barack Obama tendo também como termo de comparação estes precedentes.

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O seu discurso do Cairo, no passado dia 4 de Junho, não trouxe nada de muito novo quanto ao fundo da questão: George W. Bush já tinha admitido a ideia de um Estado palestiniano e desde a governação de Jimmy Carter todos os ocupantes da Casa Branca reclamaram – com os resultados que todos conhecemos – o congelamento da colonização israelita. Em contrapartida, o tom mudou por completo. Obama, desejoso de «romper o ciclo da suspeita e da discórdia» entre os Estados Unidos e os povos do Médio Oriente, evitou cuidadosamente empregar o adjectivo «terrorista», tão apreciado pelo seu antecessor. Ao evocar o Hamas, o presidente americano admitiu até que esta organização «tem apoiantes entre alguns palestinianos». Por último, ao sugerir a estes últimos que se inspirem nas lutas (não violentas) dos afro‑americanos, assimilou implicitamente a colonização israelita à «humilhação segregacionista» outrora vivida pelos negros dos Estados Unidos.

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No entanto, acrescentou, «a América não pretende saber o que é melhor para toda a gente». Este tão sábio princípio foi de imediato aplicado ao Irão. No seu discurso do Cairo, Obama lamentou o golpe de Estado que em 1953 foi orquestrado contra Mohammad Mossadegh pelos serviços secretos americanos: «Em plena Guerra Fria, os Estados Unidos desempenharam um papel no derrube de um governo iraniano democraticamente eleito». Desde logo, essa declaração sugere que os Estados Unidos não estão na situação ideal para repreender os que falsificam os resultados das urnas, sobretudo quando estes últimos só estão à espera que isso aconteça para acusarem os seus desgraçados concorrentes, anteriormente pilares do regime teocrático, de se terem transformado em mercenários do Grande Satã. Mas quanto mais a situação iraniana for endurecendo, mais a disposição do presidente dos Estados Unidos para negociar com Teerão o irá expor às diatribes da direita neoconservadora, e essa não vai desarmar nunca.

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Os interesses estratégicos norte‑americanos continuam a ser extraordinariamente constrangedores para qualquer presidente dos Estados Unidos, que será sempre tributário, queira ou não queira, do papel de soberano do império. Os primeiros passos de Barack Obama parecem todavia indicar que ele ainda não esqueceu completamente o seu passado progressista nos bairros pobres de Chicago.

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in Le Monde Diplomatiue - quinta-feira 9 de Julho de 2009

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