Artigo de Ricardo Araújo Pereira na Visão de 27 de Maio 2010.
Do melhor que já li. LEIAM!
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Com o PEC, foi preciso apertar o cinto. Neste momento, com os novos aumentos de impostos, parece ser tempo de Portugal apertar o cordel.
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Ser português não é bem uma condição, é uma habilidade circense. E das difíceis. O trapezista, no circo, balouça-se de cabeça para baixo e grita "Agora sem mãos!", o que não deixa de ser admirável, mas ser português também é um número arriscado: "Agora sem emprego!", gritam uns. "Agora sem saúde!", gritam outros, depois do fecho das urgências. "Agora sem dinheiro!", gritam quase todos desde que o Governo começou a tomar as chamadas medidas de austeridade. Primeiro, com o PEC, foi preciso apertar o cinto. Neste momento, com os novos aumentos de impostos, parece ser tempo de Portugal apertar o cordel. Os mendigos não usam cinto. Passam uma guita pelas presilhas e dão um nó à frente. Creio que o que estamos a apertar agora é essa guita - ironicamente, por falta de guita. . Apesar de tudo, a notícia de que o Governo iria aumentar os impostos sobre o rendimento deveria ter agradado aos portugueses: muitos deles não sabiam que ainda tinham rendimentos para taxar. Poderia ter sido uma agradável surpresa. Infelizmente, o povo português é difícil de contentar. Há uns anos, a palavra de ordem era "Basta de salários de miséria!" Agora é "Deixem os nossos salários de miséria como estão!" Ora não querem salários de miséria, ora recusam que se lhes mexa neles. Vá lá uma pessoa compreender este povo. . Que fazer, amigo leitor? De que modo podemos salvar o País da falência? Sobre isso, tenho a mesma opinião que o ministro das Finanças: não faço a mínima ideia. Mas tenho uma sugestão que gostaria de apresentar. O País não está bem, isso é certo. Com mais de 800 anos, também já não vai para novo. E há mais de 500 que não consegue fazer nada especialmente digno de nota. Enquanto país uno e indivisível, não parece ter grande futuro. Mas, que diabo, não haverá ninguém que queira isto para peças? Como se faz com a sucata: a unidade funciona mal, mas há duas ou três fracções que ainda podem ter serventia - e valer dinheiro. Tendo em conta o papel proeminente que alguns sucateiros têm na nossa sociedade, não poderíamos aproveitar a sua sabedoria no que toca a desmembrar coisas para as rentabilizar? Os espanhóis hão-de estar interessados no Minho e em Trás-os-Montes. Os holandeses, ao que parece, gostam muito do Alentejo. No fundo, não seria muito diferente do que fizemos com o Algarve e os ingleses. É só uma ideia. E talvez seja absurda, admito. Pelo menos, não tem aquela qualidade que costuma caracterizar as medidas que realmente salvaguardam o interesse e o futuro do País: não vai ao bolso dos contribuintes. |
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