O mundo dos homens assistiu, ao longo da vida, a discursos de muitos pregadores. O pregador, com a sua pregação, pretende divulgar um determinado ideal de vida, fazendo discursos de mudança, com mensagens que podem ir desde a religião, à moral, passando pela política partidária.
- 0h30 -- Correio da Manhã 2010.05.27
Desde Moisés a Jesus Cristo, passando por César, até Mussolini e Hitler, o mundo sempre se deixou galvanizar por estes discursos. Mas há bons e maus pregadores. O bom pregador, não o vendedor da ‘banha da cobra’, nem o ‘fazedor de consciências’, para fins ilícitos ou contra a humanidade, está, em princípio, de boa fé e genuinamente interessado em mudar as coisas para melhor. Ajudando a que todos fiquem bem e preocupado com o mal-estar das pessoas. O mau pregador, aquele que está de barriga cheia e que vive por conta do erário público, exercendo cargos cuja habilitação exigida é a confiança política, só pensa nos seus interesses e na rede de influências em que se move.
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Confesso que não gosto de pessoalizar as questões. O que me dá gozo é discutir ideias, projectos e princípios. Mas desta vez não resisto à tentação de transpor a barreira que impus a mim mesmo. E faço-o com a consciência da transgressão.
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O que pesam os pregadores que se seguem aos bolsos dos portugueses:
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Faria de Oliveira: CGD, 371 000 euros; Vítor Constâncio: Banco de Portugal, 249 448 euros; Carlos Tavares: CMVM, 245 552 euros; Guilherme Costa: RTP, 250 040 euros; Fernando Pinto: TAP, 420 000 euros; Henrique Granadeiro: PT, 365 000 euros; Cardoso dos Reis: CP, 69 110 euros; Luís Pardal: Refer, 66 536 euros; José Manuel Rodrigues: Carris, 58 875 euros. A estes valores acresce carro com motorista, cartão de crédito, telefone, ajudas de custo, subsídios de representação e de compensação, participação na distribuição dos lucros e uma reforma milionária por tempo curto de serviço.
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Os valores morais da pregação, para que possam ter autoridade, precisam de exemplos que venham de cima. Como podem alguns destes pregadores pedir aos portugueses mais sacrifícios e afirmar que precisam de mudar de vidinha? Como podem pedir ao Governo que faça contenção nos salários das pessoas que mal têm dinheiro para comer e sustentar os filhos e que têm perdido, de forma grave, poder de compra. Existe na boa pregação uma integridade moral e uma fortaleza inexpugnável que deve ser mantida. A alguns destes pregadores do regime, com uma pregação chocante, falta-lhes autoridade moral para pedir sacrifícios aos portugueses, denotando uma decadência da consciência. O mundo está assim por culpa dos grandes pensadores financeiros, onde se incluem os nossos pregadores, e por ausência de mecanismos de regulação.
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O ‘amoralismo’ que pregam é só para os outros. É fácil falar da vida dos que nada ou pouco têm. Como se diz nos textos bíblicos: "Não há vitória sem luta, como não há salvação sem arrependimento". Deviam lavar-se sete vezes no Jordão, para que a sua carne e alma fossem curadas e purificadas. Só assim conseguem o arrependimento para a remissão dos pecados que cometem.
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