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quarta-feira, julho 15, 2009

Alegre e Sócrates

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15 Julho 2009 - 09h00

Cozido à Portuguesa

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* Domingos Amaral, Director da 'GQ
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No dia seguinte às eleições de Outubro, o PS vai entrar numa imediata convulsão interna.

Um dos mistérios actuais da política nacional é este: quais as verdadeiras intenções de Manuel Alegre? O que quer ele? Quer voltar a ser candidato presidencial, único à esquerda, unindo comunistas, bloquistas e socialistas contra Cavaco? Quer ser líder do PS depois das eleições, sucedendo a Sócrates? Ou quer apenas obrigar o PS a deixar cair Sócrates depois das eleições, substituindo-o por alguém "mais à esquerda", embora não por ele, Alegre?

É de facto um mistério... Por um lado, Alegre não cessa de atacar o governo de Sócrates, como não cessou nunca ao longo destes quatro anos, o que pode fazer sentido para quem quer unificar a esquerda pela via dupla do coração e da ideologia, preparando-a para uma candidatura presidencial futura. Por outro, nas últimas semanas, Alegre dividiu-se em novos movimentos, aparentemente contraditórios.

Ao mesmo tempo que recusou fazer parte das listas de deputados do PS, o que indica uma desistência da tribuna parlamentar, diminuindo as suas possibilidades de lutar pela liderança do partido depois das eleições; Alegre multiplicou-se em declarações ferozes contra Sócrates. Sábado, no ‘Expresso’, defendeu que o PS não só deve mudar de orientação política, como deve mudar de "pessoas", e é em Sócrates que ele pensa. Na terça, numa revista de nome estranho, diz que recusa qualquer "reedição do Bloco Central, ou outras soluções à direita".

Estas palavras são um aviso grave a Sócrates, e prometem um futuro negro para o primeiro-ministro. Daqui até às eleições de Outubro, Sócrates não terá só de lutar contra a campanha contra si dos outros partidos, mas também contra Alegre e as suas ideias, que correm por fora a pensar no futuro. O primeiro-ministro nunca poderá dizer que não sabe com o que conta, mas nunca os seus adversários, internos e externos, tiveram tanta força.

No dia seguinte às eleições, não terá apenas de se confrontar com uma mais do que provável perda da maioria absoluta, mas também com uma guerra aberta à sua pessoa e às suas possíveis estratégias de aliança governamental. Mesmo que fique à frente do PSD em Outubro, o que o PS promete ao país é pois uma imediata e imprevisível convulsão interna, uma batalha entre os que querem manter Sócrates e os que o querem dali para fora, uma guerra entre os que admitem alianças à direita e os que só as admitem à esquerda. Embora Alegre faça parte do futuro do PS, o que o PS promete ao país é um futuro muito pouco alegre.

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in Correio da Manhã -
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