Houve uma interrupção da feminização do mercado de trabalho no Brasil, com redução nos postos ocupados por mulheres de 3,1% contra 1,6% dos homens, e aumento da inatividade feminina no período de setembro de 2008 a abril de 2009, caracterizado pela crise econômica. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (2) no Boletim Mulher e Trabalho: A crise econômica internacional e os (possíveis) impactos sobre a vida das mulheres.
Segundo a pesquisa, a atual crise, desencadeada em 2008 nos Estados Unidos, vem fazendo sentir seus efeitos nos últimos meses no Brasil. Apesar de um contexto interno que reduz esses efeitos em comparação a outros países, os movimentos de expansão do emprego e de formalização que vinham ocorrendo desde o ano de 2004 no mercado de trabalho foram refreados.
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A preocupação do estudo é que os efeitos da crise não atinjam principalmente as mulheres, comprometendo as vitórias obtidas no sentido da promoção da igualdade e da diminuição das injustificáveis discriminações vivenciadas pelas mulheres brasileiras no mundo do trabalho.
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De 2004 para cá, o mercado de trabalho formal passou por um processo de feminização. As mulheres foram mais empregadas no comércio (88,8%) e nos serviços (78,3%). No entanto, os dados demonstram que existe precarização neste setor: os salários de contratação das mulheres foram sempre inferiores aos dos homens no período analisado, ou seja, parece haver substituição de salários mais altos por mais baixos. Este fenômeno acontece inclusive entre os trabalhadores de maior escolaridade, com as mulheres sendo admitidas com salários que equivalem a 65% dos masculinos.
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O objetivo do estudo é analisar os dados recentes sob a perspectiva das relações de gênero. Se homens e mulheres têm inserções diferenciadas no mundo do trabalho, serão diferentemente atingidos pela crise. A hipótese foi confirmada com o exame dos dados das pesquisas mensais de emprego e do cadastro de desligamentos e admissões do Ministério do Trabalho. O processo de feminização do mercado de trabalho, observado nos últimos anos, foi refreado.
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Precarização como reação
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Apesar de os homens terem perdido mais empregos que as mulheres no setor formal –- 24,1% para os homens contra 11,2% das mulheres - as mulheres, em geral, se retiraram mais do mercado de trabalho. O desemprego atingiu mais os homens por que os setores de atividade econômica mais atingidos, indústria da transformação e construção civil, são tradicionalmente de ocupação masculina.
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As informações disponíveis sugerem que pode estar havendo uma precarização geral do emprego como reação à crise, que se manifesta na elevação da inatividade e também no aumento de mulheres em postos mais precários, como trabalho sem remuneração e trabalho sem carteira assinada.
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Por outro lado, há evidências de uma “feminização” do mercado de trabalho formal, o que é positivo, mas também expressa uma estratégia do empresariado em contratar de forma mais precária.
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Direitos e desenvolvimento
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O estudo, feito pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, em parceria entre a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), quer monitorar os impactos da crise econômica sobre homens e mulheres a partir da análise dos indicadores de mercado de trabalho no período.
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Os estudos internacionais concluem que a igualdade entre mulheres e homens é um elemento de consolidação dos direitos da cidadania e de desenvolvimento econômico e social. “Com vistas a promover a igualdade de gênero, é de crucial importância a garantia de oportunidades para o acesso, permanência e ascensão de homens e mulheres no mundo do trabalho”, avaliam as entidades.
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O estudo também destaca “a importância de compreender os efeitos diferenciados da atual crise econômica sobre os distintos grupos populacionais, uma vez que vivemos um cenário em que se colocam sob risco os avanços – uns mais tímidos, outros menos – obtidos ao longo dos últimos anos, no sentido da redução da distância existente entre homens e mulheres.”
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De Brasília
Márcia Xavier
Com informações da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM)
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in Vermelho - 2 DE JULHO DE 2009 - 15h28
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