A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, julho 10, 2009

Para onde sopram os ventos da crise capitalista?


A demissão do ministro da economia, na sequência da indigna reacção à crítica da bancada do PCP durante o debate sobre o estado da Nação, bem expressiva do nervosismo e desorientação que grassa na área governamental, é um facto político relevante.

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Mas é preciso não tomar a nuvem por Juno. O PCP exigiu a demissão de Manuel Pinho não por ser um ministro bronco e particularmente comprometido com o grande capital (o que na verdade era) mas em nome do respeito devido às instituições democráticas. A luta do PCP não é contra tal ou tal ministro mas contra a sua política e visa não apenas a derrota da política do actual Governo mas o fim de mais de 33 anos de políticas de direita que, ora com o PS ora com o PSD, são responsáveis pela grave crise em que o País está mergulhado.
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Entretanto, o Governo do PS, acossado por uma fortíssima contestação popular, severamente zurzido nas eleições de 7 de Junho e em vésperas de novas eleições, não hesita em recorrer a manobras de diversão e propaganda em que a irresponsabilidade e a mentira andam frequentemente de mãos dadas. É esse o caso do anúncio pelo actual super ministro Teixeira dos Santos (à boleia aliás de bem orquestrada campanha sobre uma próxima inversão de tendência da crise capitalista internacional) de que em Portugal o pior já passou e o fim da crise está próximo.
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Um tal anúncio, porém, não tem correspondência nos factos e, vindo de onde vem, não merece qualquer credibilidade. A contradição entre as palavras e os actos, entre promessas e realizações, entre prognósticos e resultados é um estigma da governação do PS. Dos famosos 150 000 postos de trabalho ao espantoso anúncio pelo ex-ministro da Economia do fim da crise em Portugal precisamente quando a crise estoirava no coração do capitalismo mundial, não faltam exemplos.
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O afã em apresentar inexistentes sinais de recuperação tem um evidente carácter eleitoralista. Ainda que fossem solidamente sustentadas (e não o são) as expectativas de «retoma» vaticinadas pela OCDE e outras instâncias internacionais, Portugal é um dos países da União Europeia em pior posição. E porquê? Em primeiro lugar porque a crise que o País vive (nunca é demais sublinhá-lo) mergulha as suas raízes mais fundas na realidade nacional, é fruto do ataque continuado às conquistas e valores de Abril. Depois porque a destruição do tecido produtivo, os défices estruturais endémicos, a dependência das exportações, o endividamento externo, o baixo poder aquisitivo das massas, fazem com que a componente mais directamente ligada com a crise do capitalismo internacional tenha tendência a demorar mais tempo a recuperar.
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Crise será longa
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Mas como sopram os ventos lá fora? Podemos fiar-nos nas ideias massivamente difundidas de que «a crise já bateu o fundo», que já é possível «começar a recuperar» as bilionárias operações de socorro do sistema financeiro, que se verificará já no próximo ano o «início da recuperação» nos EUA e noutras grandes economias?
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Não, não podemos. Aliás não há nenhum comentador credível que arrisque um horizonte seguro de inversão do ciclo sendo numerosos os que alertam para a alta probabilidade de novos abalos no centro capitalista a relativamente curto prazo. E praticamente todos sublinham a instabilidade e incerteza da situação, alertam para que, quando e se a recuperação chegar, ela será muito modesta, de longa duração, acidentada. Em qualquer caso o desemprego continuará a níveis insuportáveis e a situação dos países mais pobres será ainda mais dramática se entretanto não intervierem processos de soberania e transformação progressista que quebrem as correntes que os amarram ao capital transnacional e ao imperialismo.
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Tanto a nível nacional como internacional não há que contar com tempos fáceis. O que as classes dirigentes pretendem, cá dentro e lá fora, é criar expectativas que esmoreçam a resistência dos trabalhadores e dos povos e enfraqueçam a sua luta tanto por objectivos imediatos de justiça social e liberdade, como pela liquidação do sistema de exploração capitalista e a transformação revolucionária e socialista da sociedade.
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Enquanto, como acontece em Portugal e no centro do mundo capitalista, as chamadas medidas de «combate à crise» estiverem orientadas para a reprodução do domínio económico e político do capital financeiro, passando ao lado da economia produtiva e da promoção das condições de vida das massas trabalhadoras, a tendência só pode ser para a agudização das contradições que estão na base da maior crise capitalista desde a década de trinta, para o agravamento das taxas de exploração do trabalho assalariado e o aprofundamento das desigualdades, preparando assim a explosão mais adiante de nova crise ainda mais aguda e destruidora.
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in Avante 2009.07.09
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