Comentando a chamada “crise financeira” de 2008, a revista inglesa The Economist disse que, substituindo as palavras “ações” e “ativos” por “casas”, qualquer descrição da crise econômica de 1929 poderia ser usada para a crise atual. As semelhanças, de fato, saltam aos olhos: os bancos, assim como na crise de 1929, passaram a rejeitar emprestar dinheiro com casas em garantia (ao invés de ações em 1929), e com isso muitos passaram a vender suas casas para pagar as hipotecas, pois não estavam conseguindo pagá-las. Com as casas caindo de preço estourou a “bolha imobiliária”, num curto espaço de tempo. Mas The Economist tranqüilizou também seus leitores: entre 1929 e 1933, o PIB americano caiu mais de um quarto, o que, hoje, estaria descartado; o desemprego chegou, na década de 1930, até 25% (com muitos dos empregados trabalhando em tempo parcial – e recebendo salário também parcial), hoje só poderia chegar, no máximo, até 10%. Mas, se é impossível, ainda, prever os efeitos de uma crise capaz de superar os maiores “pânicos” do século XX (em 1907 e 1929), a análise não pode se limitar aos aspectos “econômicos” da crise de 1929, ignorando suas conseqüências sociais, políticas (o New Deal e... o nazismo) e bélicas (a Segunda Guerra Mundial).
A depressão econômica da década de 1930 causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do PIB na maioria dos países, bem como na produção industrial, nos preços de ações e títulos públicos, e em praticamente todo medidor de atividade econômica. Durante essa década o volume do comércio mundial caiu como nunca em qualquer depressão precedente. Houve isolamento relativo das grandes economias nacionais e a formação de blocos econômicos (cujo enfrentamento conduziria à Segunda Guerra Mundial). Durante a guerra, os gastos armamentistas impulsionaram a recuperação econômica, que se prolongou no pós-guerra (a produção de automóveis, por exemplo, voltaria aos patamares de 1929, porém somente em 1949).
Expansão e Crise
A analogia histórica é útil apenas como subsídio para entender a especificidade de cada situação concreta. O epicentro da crise de 1929 foram os EUA, como hoje, mas por razões diversas: naquele ano, os EUA culminavam um período histórico de ascensão como potência capitalista mais avançada. Entre 1870 e 1929, o produto industrial dos EUA quadruplicou: massas enormes de capitais e tecnologia avançada explicam isso. Mas também a excepcional disposição de força de trabalho, primeiro de origem rural (devido às dificuldades crescentes da pequena produção agrícola); depois imigratória. A chegada de estrangeiros foi de 700 mil (1820-1840); 4,2 milhões (1840-1860); 2,81 milhões (1870-1880, a década posterior à “guerra de secessão”); 5,43 milhões (1880-1890) e 3,69 milhões (1890-1900). O movimento ascendente atingiu o ápice no início século XX: 8,8 milhões (1900-1910), e começou a cair depois: 5,74 milhões em 1910-1920.
Afora a obra de Marx (quase desconhecida, à época, nos meios universitários) já existia alguma acumulação teórica acadêmica acerca dos ciclos econômicos, ou “crises cíclicas”, firmada na observação de crises repetidas, caracterizadas por movimentos gerais de preços-ouro: alta seguida de baixa, num contexto em que os movimentos econômicos se faziam praticamente sem obstáculos. As crises do século XIX se manifestavam, primeiro, em uma vigorosa baixa dos preços. As empresas industriais reagiam baixando os salários, e assim restabeleciam o seu equilíbrio num nível inferior; era a fase de “depressão”, ou de liquidação da crise. A partir desse momento a defesa da taxa nominal dos salários passava a ser uma das motivações mais poderosas da ação operária.
As crises cíclicas eram mais graves e demoradas quando se inscreviam em prolongados movimentos de baixa dos preços, também expressos em ouro. O problema era que, a partir de 1914, na maioria dos grandes países, os preços eram expressos em moedas desligadas do ouro (nos EUA eles eram ainda expressos numa moeda-ouro) e em muitos deles, depois de 1919, houve elevações rápidas de preços internos, no mesmo momento em que os preços-ouro mundiais estavam, aparentemente, orientados para a baixa. Como, nessas condições, determinar o movimento real dos preços?
A “bolha especulativa” dos preços fora o primeiro sinal. Nas análises estreitamente conjunturais, a partir de março de 1928, iniciou-se o boom “puramente especulativo”. A lei da oferta e da procura regeria a Bolsa, mas John K. Galbraith afirmou que a influência de algumas grandes firmas foi decisiva. As declarações otimistas dos “homens de negócios” alicerçaram a corrente especulativa no sentido da alta. Os grandes “capitães da indústria” afirmavam alto e bom som sua esperança no futuro da atividade econômica e, portanto, dos lucros. Mas, no dia 12 de junho de 1928 verificou-se um primeiro recuo da Bolsa de Nova York: nesse dia, mais de 5 milhões de ações mudaram de mãos. Registraram-se quedas de 23 pontos. Mas a alta recomeçou a partir de julho, e a campanha para as eleições presidenciais escorou-se em promessas de prosperidade: os republicanos afirmavam que a eleição do candidato democrata marcaria "o advento de uma depressão em 1929" (!). O republicano Herbert Hoover foi eleito por grande maioria e a Bolsa acolheu a vitória republicana com nova alta dos preços das ações.
Em suas Memórias, o presidente Hoover estigmatizou, posteriormente, a especulação: "Há crimes piores que o assassínio, pelos quais os homens mereceriam ser injuriados e castigados". Faziam-se empréstimos nos bancos para comprar títulos na Bolsa e, diante da procura crescente, os estabelecimentos bancários de Nova York emprestavam a prazo curtíssimo, a juros de 12%, tomando emprestado a 5% ao Federal Reserve. Todo o mundo lucrava e a euforia difundia-se com a credulidade geral. Os agentes de cambio emprestavam a seus clientes aceitando como garantia os títulos comprados...
A crise de 1929 foi, tanto quanto a atual, uma “crise anunciada”. Depois da Primeira Guerra Mundial, houve um aumento geral da demanda, que concluiu em 1920, quando os preços começaram a cair (atingindo 70% de queda, até 1929, no Canadá): 50% para o trigo, 40% para o algodão, 80% para o milho, nos EUA. A crise agrícola golpeava, sobretudo, pequenos e médios agricultores: a renda agrícola caiu de 16% para 9% da renda nacional. A migração para as cidades se acentuou, os preços industriais aumentaram devido à política protecionista (generalizada em todos os países industrializados): o marasmo agrícola foi, nos anos 20, um fator de desequilíbrio da prosperity americana. Cresceu também a concentração do comércio varejista: a Great Atlantic Pacific Tea passou (em 6 anos) de 5.000 a 17.500 lojas; as cadeias de lojas vendiam 27% dos alimentos, 30% do tabaco, 27% das roupas. No fim do processo, oito grupos financeiros detinham 30% da renda nacional: a banca Morgan (que controlava General Electric, Pullman, US Steel, Continental Oil, ATT, etc.), Rockefeller (US$ 6,6 bilhões em ativos), Kuhn e Leeb (10,8 bilhões), Mellon (3,3 bilhões), Dupont de Nemours (2,6 bilhões). Constituíram-se também redes de acordos internacionais, espacialmente com empresas alemãs: Dupont de Nemours e IG Farben, General Electric com Siemens e Krupp, General Motors e Opel.
Na década de 1920, a prosperidade dos EUA tinha características específicas: a redução do controle estatal sobre a economia levara ao renascimento do liberalismo econômico (que já se encontrava morto na Europa); o aumento da taxa de acumulação de capitais, o crescimento demográfico (de 106 milhões para 123 milhões de habitantes, em que pese a limitação da imigração), o estímulo à expansão do crédito. O crescimento interno dos EUA foi acompanhado pelo reforço de sua posição hegemônica mundial, em 1926-1929 o país era responsável por 42,2% da produção mundial de produtos industrializados, e primeiro produtor mundial de carvão, eletricidade, petróleo, aço e ferro fundido, acumulando superávits em seus balanços de pagamentos devido à sua condição de primeiro exportador mundial. Foi durante essa fase de prosperidade que ocorreu também a grande expansão da exportação do capital norte-americano; embora a passagem do país de devedor para credor não fosse tão abrupta, a rapidez com que realizou investimentos no exterior não teve paralelo na experiência de qualquer país credor. Grande parte disso tomou a forma de investimento direto através, ou sob controle, de companhias norte-americanas; três bilhões de dólares foram investidos no decorrer da década dessa forma.
Uma expansão de considerável grandeza caracterizou também outros países não europeus nos anos seguintes a 1920. Já em 1925, o índice de produção geral para os EUA mostrava um aumento de 26% sobre 1913, e para todos os demais países fora da Europa, um aumento de 24% (contra um aumento de apenas 2% para a Europa como um todo). Grande parte desse crescimento se efetuou na produção primária, mas incluía também taxas substancias de aumento em certos tipos de indústrias em países da América do Sul e no Japão. Mesmo apresentando essas condições favoráveis, o otimismo não estava destinado a perdurar muito, pois a prosperidade escondia graves problemas estruturais: a baixa taxa de lucros, o alto grau de concentração de renda, razoável nível de desemprego, fatores que, quando maximizados, dariam origem a uma crise econômica sem paralelos no passado, e mundial.
A prosperidade estava longe de ser partilhada. As desigualdades haviam se aprofundado durante a década de 1920, o crescimento do mercado não acompanhara o ritmo da produção, criando uma acumulação de estoques que só poderiam ser comercializados mediante o recurso, cada vez mais intenso, ao financiamento do consumo. Os agricultores passaram a armazenar cereais. Para isso, tiveram que pedir empréstimos aos bancos, oferecendo suas terras como garantia. Já as indústrias se viram forçadas a desacelerar o ritmo da produção e, conseqüentemente, a despedir milhares de trabalhadores, o que afetou ainda mais o mercado consumidor. A taxa de lucro permaneceu baixa, os capitais se exauriram paulatinamente: a crise influenciaria todos os segmentos, inclusive o mercado de ações. Paralelamente, a política de investimentos norte-americana no exterior, peça fundamental de sua expansão na década de 1920, assentava-se sobre bases precárias. Os vultosos empréstimos para a Europa foram feitos a longo prazo. Os resultados seriam desastrosos para a produção e o comércio exterior, especialmente para os EUA, que se veriam, ao mesmo tempo, sem capitais e sem clientes para suas exportações. Quando o craque chegou à indústria americana, o colapso da produção se mostrou correspondentemente mais severo do que a média mundial, incluída a Europa.
Mudanças no desenho do comércio internacional determinaram também a crise de superprodução nos EUA. Durante a Primeira Guerra Mundial, a economia norte-americana estava em pleno desenvolvimento. As indústrias dos EUA produziam e exportavam em grandes quantidades, principalmente, para os países europeus. Após a guerra o quadro não mudou, pois os países europeus estavam voltados para a reconstrução das indústrias e cidades, necessitando manter suas importações, principalmente dos EUA. A situação começou a mudar no final da década de 1920. Reconstruídas, as nações européias diminuíram drasticamente a importação de produtos industrializados e agrícolas dos Estados Unidos. Com a diminuição das exportações para a Europa, as indústrias norte-americanas começaram a aumentar os estoques de produtos, pois já não conseguiam mais vender como antes. Grande parte destas empresas possuía ações na Bolsa de Valores de Nova York, e milhões de norte-americanos tinham investido nestas ações, o chamado “capitalismo popular”.
A Crise Anunciada
Em 1929, na véspera da grande crise, 200 sociedades detinham 50% do capital comercial e industrial, 20% da riqueza nacional: apenas 2000 indivíduos as controlavam. Na indústria, os métodos de Taylor (“taylorismo”) fizeram aumentar a produtividade de 25% a 30% durante a década. O custo da mão-de-obra, portanto, caiu, em que pese o aumento dos salários reais (que cresceram, na média, 22% entre 1922 e 1929): a política de altos salários nas indústrias mais concentradas ampliou o mercado de consumo, e foi defendida por Henry Ford (quem afirmou que “um nível natural e estável de salários e lucros é um sinal de mal-estar dos negócios”). Na década de 20, também, se generalizou a venda a crédito, que já abrangia 15% do varejo em 1929 (com 50% dos eletrodomésticos, 60% dos carros, 70% dos aparelhos de rádio).
A publicidade e propaganda se transformaram em um “departamento” separado da produção, consumindo, em 1929, 2% da renda nacional: o consumo se uniformizou, as necessidades e gostos viraram standards, e necessidades “novas” foram “criadas” (como carros individuais e cosméticos). A pesquisa explodiu, acompanhando o crescimento da produção: em 1927, mais de mil sociedades já possuíam laboratórios próprios, o “taylorismo” era ensinado nas business schools. Os EUA criaram, já na década de 1920, o tipo de capitalismo que se generalizaria no mundo depois da Segunda Guerra Mundial. A política governamental favorecia a concentração, em que pese a existência de uma “Lei contra os Trusts” (pouco aplicada): os impostos ao capital eram cada vez mais reduzidos, a Federal Trade Commission, criada para combater a “cartelização”, caíra no esquecimento.
Na década de 1920, também, os EUA se transformaram no grande credor mundial, subscrevendo mais de US$ 5 bilhões em títulos estrangeiros. Ao mesmo tempo, tinham US$ 3 bilhões em investimentos diretos do exterior (dos quais 602 milhões foram realizados só em 1929), com filiais no estrangeiro das grandes empresas, e até constituição de sociedades que só operavam no exterior (a American Foreign Power, a ITT, etc.) e participações em empresas estrangeiras. Com US$ 400 milhões investidos na França, 400 milhões na Itália, 300 milhões na Suécia, 250 milhões na Bélgica, 200 milhões na Noruega, 280 milhões na Dinamarca, 170 milhões na Polônia, em 1925 os EUA substituíram à Inglaterra como o grande centro financeiro internacional (concentrando mais da metade dos estoques de ouro). Trotsky apontou: “A inflação em ouro é tão perigosa quanto a fiduciária. Pode-se morrer de excesso como de escassez. Com ouro em excesso, os dividendos caem, assim como os lucros do capital: a expansão da produção torna-se irracional. Produzir e exportar para acumular ouro é como jogar mercadorias ao mar. Eis porque os EUA precisam cada vez mais investir seus recursos em excesso na América Latina, Europa, Ásia, Austrália, África. Assim, a economia da Europa e do resto do mundo torna-se parte da economia dos EUA”.
A década, no entanto, era expansiva: a produção de carvão aumentou 20%, a do petróleo 80%, a de eletricidade 100%. A produção industrial passou de um índice 58 (1921) a 99 (1928), a renda nacional dos EUA de US$ 59,5 bilhões a mais de US$ 87 bilhões (1921-1928), com saltos espetaculares em alguns setores: automóveis (com produção de 5,3 milhões de unidades por ano: 26 milhões dos 35 milhões de carros do mundo estavam nos EUA), cuja indústria empregava mais de 7% dos assalariados, e pagava quase 9% dos salários (sem incluir postos de gasolina, oficinas, garagens, etc.), sendo responsável por quase 13% do valor agregado da indústria; a indústria de material elétrico triplicou, com o rádio passando de um faturamento de 10 para 412 milhões de dólares (entre 1922 e 1929); a construção aumentara 200% (metade só em Nova York); a química duplicou, a borracha aumentou 86%, o ferro e o aço, 70%. A concentração aumentou mais rápido ainda, com 89 fusões em 1919, 221 em 1928. Em 1926, a US Steel controlava já 30% da produção de aço; em 1903 havia 181 construtores de carros, em 1926, só 44: os três principais (Ford, General Motors, Chrysler) controlavam 83% da produção. A distribuição de renda acompanhou o processo: 1% da população detinha 14,5% da renda nacional; 5%, 26% (entre 1923 e 1929), o PIB aumentou 23%, mas o rendimento do capital 62%.
A partir de 1925, apesar de toda a euforia, a economia norte-americana começou a ter sérios problemas. Enquanto a produção industrial e agrícola desenvolvia-se em ritmo acelerado, os salários ficavam defasados. Em conseqüência da progressiva mecanização da indústria e da agricultura, o desemprego foi crescendo consideravelmente. E, depois de se recuperarem dos prejuízos da guerra, os países europeus passaram a comprar cada vez menos dos EUA e a concorrer nos mercados internacionais. Pela falta de consumidores externos e internos, começaram a “sobrar” enormes quantidades de mercadorias no mercado norte-americano, desenhando, assim, uma crise de superprodução. Até quando duraria a “alegria” do grande capital?
Os sintomas da crise já tinham aparecido no início de 1929 (leve queda da Bolsa de Nova York), a produção industrial americana já havia começado a cair a partir de julho do mesmo ano, causando um período de leve recessão econômica, e em setembro aconteceu a queda da Bolsa de Londres. Em agosto, a taxa de juros foi levada de 5% para 6%, numa tentativa de reduzir o volume de crédito, mas já era tarde demais. A orgia de lucros, finalmente, estourou a 24 de outubro de 1929: as cotações do Stock Exchange de Nova York afundaram 50% em um só dia. Estes preços estabilizaram-se ao longo do final de semana, para caírem drasticamente novamente na quarta feira, 28 de outubro. Muitos acionistas entraram em pânico. Cerca de 16,4 milhões de ações subitamente foram postas à venda na quinta feira, 29 de outubro, a “Quinta-Feira Negra”. O excesso de ações à venda, e a falta de compradores, fizeram com que os preços destas ações caísse cerca de 80%. Até o final do mês, seguiram-se novas derrubadas de preços e uma onda de falências. Milhares de acionistas perderam, literalmente da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que tinham.
Os preços dessas ações continuariam a flutuar, caindo gradativamente nos próximos três anos. As pessoas que tinham todas as suas riquezas na forma de ações eventualmente perderam tudo o que tinham. Muitos decidiram cortar gastos supérfluos, outros, que haviam comprado produtos através de empréstimo e prestações, reduziram ainda mais seus gastos, economizando dinheiro para efetuar seus pagamentos. A súbita queda nas vendas estendeu a recessão ao setor industrial e comercial dos EUA. A quebra na bolsa de valores de Nova York piorou drasticamente os efeitos da recessão já existente, causando grande inflação e queda na venda de produtos, o que obrigou ao fechamento de inúmeras empresas comerciais e industriais, elevando assim drasticamente as taxas de desemprego.
A onda expansiva da crise de Wall Street afetou o país e o mundo inteiro, por um longo período. Em 17 de maio de 1930, o governo dos EUA aprovou o Ato Tarifário Smoot-Hawley, que aumentava as tarifas alfandegárias em cerca de 20 mil itens não-perecíveis estrangeiros. O presidente Herbert Hoover pedira ao Congresso uma diminuição nos impostos, mas este votou a favor do aumento dos impostos. Um abaixo-assinado, assinado por mil economistas, pediu ao presidente americano para rejeitar este aumento. Apesar disto, Hoover assinou o Ato. O Congresso e o Presidente diziam que isto iria reduzir a competição de produtos estrangeiros no país. Porém, outros países reagiram através da aprovação de leis e atos semelhantes, assim causando uma queda súbita nas exportações americanas, e deflagrando uma guerra comercial.
Dessa “guerra” surgiram as desvalorizações competitivas das moedas, e o controle cambial. Em 1931-1932, a Inglaterra, Canadá, a Escandinávia e os EUA abandonaram o padrão-ouro; em 1936, somaram-se a eles Holanda e Bélgica, finalmente também a França. Os países do bloco-ouro, no entanto, recusaram-se, depois de 1933, a recorrer à desvalorização, em que pese a estagnação mais pronunciada de suas economias, em relação àquelas regidas pela libra esterlina ou pelo dólar. Adotaram apenas políticas deflacionárias que tendiam não só a diminuir os custos de produção, mas também a aprofundar a depressão ou retardar o recrescimento econômico. O desfecho foi, por isso mesmo, mais brutal. O insucesso da Conferência de Londres, que traduziu tão somente a ausência de cooperação internacional, abriu a porta às desvalorizações em série. Quando estas se revelaram incapazes de frear o êxodo de capitais, recorreu-se ao controle do câmbio. Como constatou Maurice Niveau, “a marcha no sentido da economia de guerra estava iniciada”. Na ausência da adoção simultânea de medidas de luta contra a depressão, as desvalorizações sucessivas, que redundavam na expansão monetária, constituíam a única solução alternativa, a menos que se recorresse ao controle do câmbio. A última medida, que foi utilizada, em lugar da desvalorização, como uma espécie de biombo protetor, atrás do qual supunha-se que a expansão podia ser empreendida no próprio país.
A desvalorização se mostrava incapaz de sustar as fugas de capitais, inclusive as reforçava. A maioria dos países latino-americanos, cujas moedas foram depreciadas em 1929 e 1930, recorreu ao controle cambial em 1931 e 1932. Na Europa, vários países aliaram igualmente a desvalorização e o controle cambial. A Alemanha hitlerista decretou subvenções diferenciais para a exportação, acordos com derrogação da paridade etc. Pôde, assim, conservar uma moeda super-avaliada, que impunha geralmente suas condições nos acordos bilaterais realizados com os países da Europa central. O comércio externo da Alemanha diminuiu, contudo, de ma¬neira muito sensível entre 1929 e 1935. Tendo permanecido fiel ao ouro e tendo, por conseguinte, a moeda super-apreciada, a França não podia recorrer ao controle cambial, mas fixou contingentes de importações, a fim de reduzir o desequilíbrio externo. A diminuição de seu comércio externo foi, contudo, da mesma ordem que a da Alemanha, mas muito mais importante para o mundo.
Em 1932, a produção mundial tinha caído 33% em valor; o comércio mundial, 60%; o Birô Internacional do Trabalho contabilizava 30 milhões de desempregados (cálculo modesto). Os países mais atingidos pela crise, além dos Estados Unidos, foram a Alemanha, Austrália, França, Itália, o Reino Unido, e especialmente o Canadá. Não se tratava, porém, do primeiro craque da Bolsa, depois de uma grande alta especulativa. Desta vez, porém, as conseqüências foram de tal monta que se achou que o craque da Bolsa fosse a causa da crise propriamente dita. Vários analistas, no entanto, revelaram à época que certos índices econômicos mudavam de sentido desde meses anteriores ao craque, embora em 1929 os maiores entendidos julgavam, como recentemente, ter descoberto o segredo de uma prosperidade econômica contínua.
Se a crise de 1929 era uma crise cíclica, era diversa de crises anteriores, pois tinha um desenvolvimento, assumia proporções e acarretava conseqüências inteiramente novas. A crise da Bolsa de Wall Street acarretou inexoravelmente o desmembramento de todo o aparelho de crédito sobre o qual vivia a economia americana. Esse processo culminou no início de 1933, numa ameaça de bancarrota geral, no momento exato em que o democrata Franklin Delano Roosevelt chegava ao poder. Ao mesmo tempo, a retirada dos créditos americanos a curto prazo resultou, em 1931, no desmoronamento financeiro da Europa Central e na impossibilidade, para a Grã-Bretanha, de honrar seus compromissos externos. As altas taxas de juros dos EUA foram um dos fatores que estenderam a Grande Depressão à Europa. Os países europeus, especialmente aqueles que utilizavam o padrão-ouro, para manter um câmbio fixo com os EUA, foram obrigados a aumentar drasticamente suas próprias taxas de juros, o que levou à redução de gastos por parte dos consumidores, com grandes quedas na produção industrial.
Da Crise à Depressão
O comércio mundial desabou: reduziu-se a um terço do seu valor entre 1929 e 1933. O desabamento se devia, em parte, à queda pela metade dos preços-ouro mundiais. Os índices da produção industrial nos principais países caíram na mesma proporção (50%). E disso resultou um número enorme de desempregados: 12 a 15 milhões nos EUA, 6 milhões na Alemanha, 3 milhões na Grã-Bretanha; na Tchecoslováquia havia quase um milhão de desempregados numa população de 13 milhões de habitantes. A situação foi pior, embora na mensurável em cifras tão precisas, nos países menos conhecidos que viviam da exportação de matérias-primas, agora invendáveis. A crise de 1929 diferia de uma crise cíclica de tipo clássico, não se resolveria “sozinha”, como as precedentes, e chegara a aprofundar-se ao ponto de constituir a preocupação essencial dos governos, e a ser muito diretamente influenciada em seu curso pelas diferentes políticas nacionais.
A atividade bancária foi um dos ramos que mais sofreram na derrocada, sobretudo na Europa central. As falências bancárias efetivas na época do colapso da bolsa de valores foram raras, uma vez que as diferentes instituições financeiras tentaram amparar umas às outras contra as conseqüências da contração. Mas essas medidas dependiam da boa vontade tácita de todos os interessados, e a extensão e duração da crise tendiam a minar essa inclinação supostamente “altruísta”. Além disso, a estabilidade do sistema dependia da cooperação internacional. A Alemanha, em particular, precisava da ajuda e da indulgência de outros países e, na década de 1930, já não podia contar com uma assistência substancial. Além da dificuldade criada pelos problemas de seus próprios credores, havia a desconfiança na estabilidade política alemã, e a recusa da França a se aliar aos EUA e à Inglaterra para dar esteio às finanças e à economia alemãs.
As primeiras medidas realmente eficazes contra a depressão foram adotadas nos diferentes países a partir de 1932-1933. Essas políticas econômicas, adotadas quase simultaneamente por Roosevelt nos Estados Unidos e por Hjalmar Schacht na Alemanha nazista, foram, anos mais tarde, teorizadas por Keynes em sua obra clássica (a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda). Como diz Michel Beaud, “a uma saída capitalista para a crise, que impunha enormes sacrifícios à classe operária e se arriscava assim a levar a inquietantes confrontos, Keynes propunha uma outra saída capitalista que, mediante uma retomada a atividade, possibilitasse reduzir o desemprego, sem amputar o poder de compra dos trabalhadores. Trinta anos depois do Five Dollars Day de Ford, Keynes expôs uma teoria econômica que permitirá justificar novas políticas, através das quais será procurada, e em parte conseguida, a integração do mundo do trabalho na sociedade capitalista”.
As diversas políticas possuíam um fundo comum: a intervenção do Estado para a solução dos problemas econômicos, com reforço de seu papel onde ele já era tradicional (Alemanha e Japão), e sua intervenção onde persistia uma tradição liberal, como nos EUA e Inglaterra. Embora as variantes da política intervencionista fossem de caráter nacional, algumas medidas foram comuns: protecionismo alfandegário, desvalorização monetária, subvenções governamentais a empresas privadas e aumento dos gastos públicos. Nos EUA, especificamente, o New Deal significou uma série de medidas intervencionistas visando atenuar a crise, atingindo vários setores, possuindo um sentido emergencial, não de mudança estrutural, como o expressou claramente Roosevelt. Sua aplicação fez a economia norte-americana retornar a seus níveis anteriores a 1929, nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, embora o desemprego jamais tenha sido extinto, persistindo a grande cifra de mais de oito milhões de desempregados em 1940. Isso só seria solucionado com a passagem para uma economia de guerra.
Para além da sua motivação imediata, mais ou menos inconsciente, estava em curso uma mudança, ou melhor, um redirecionamento da função do Estado capitalista, sobre a qual o pensamento marxista se debruçaria posteriormente. Se o Estado capitalista tem seu ponto mediano de equilíbrio na forma de mercadoria, a estrutura que carrega começou a balançar historicamente no momento em que, com a crise do mercado auto-regulado, foram travados os mecanismos que ligavam entre si as distintas unidades de valor, por médio da abstração da troca. Para enfrentar os efeitos desagregadores e, segundo Marramao, “deslegitimizantes” da crise dos automatismos "clássicos", o Estado posterior a 1929 já não podia se limitar a garantir e a tutelar, mas devia se impor diretamente a tarefa de universalizar a forma de mercadoria, como única condição de estabilidade das duas componentes fundamentais da sociedade capitalista: a "política" e a "economia". A transição para o Estado "intervencionista" fez-se então necessária, "pela tendência persistente que surge abertamente no plano histórico e no plano empírico da dinâmica do desenvolvimento capitalista, à paralisação do 'caráter comercial' do valor e do mesmo modo à interrupção da relação de troca".
Contra o “keynesianismo”, expressão teórica dessa “transição”, a velha teoria “liberal” resistiu na análise, retomada nos recentes tempos “neoliberais”, segundo a qual o próprio progresso social, acelerado pela Grande Guerra, representara um fator de rigidez econômica, impedindo, ou pelo menos retardando, a “adaptação natural” da economia à crise, na década de 1930. O período que se seguira a 1919 caracterizou-se, em muitos países avançados, por um reforço do poder dos sindicatos operários e pelo desenvolvimento da legislação social protetora dos trabalhadores: a taxa nominal dos salários se manteve, ou baixou muito pouco, muito tempo depois de desencadeada a crise, o que significava, levando-se em conta a queda dos preços, uma alta dos salários horários reais.
Havia outro fator “novo” em 1929. As crises industriais do passado assumiam tanto maior gravidade quanto maior era o lugar ocupado na economia pelo setor industrial. Numa nação ainda agrícola, boa parte do pessoal da indústria conservava seus laços rurais e, nos dias “maus”, podia refluir para o campo. Agora, porém, não somente o setor agrícola era demasiado restrito para desempenhar o papel de válvula de segurança, mas a própria agricultura, trabalhando cada vez mais para o mercado, e não para sustentar diretamente a população agrária, era a atividade mais abalada pela depressão. Um aspecto original da crise de 1929 consistiu na amplitude e na agudeza da depressão agrícola. A transformação capitalista do campo o fez entrar em cheio na crise, com repercussões gerais: a situação dos bancos era agravada pelo fato que muitos deles haviam emprestado grandes somas aos fazendeiros. Após o início da crise, estes fazendeiros tornaram-se incapazes de pagar suas dívidas, o que causou a queda dos lucros dos bancos. Entre 1929 e 1933, os preços dos produtos industrializados não-perecíveis caíram em 25%. Já o preço de produtos agropecuários caiu em cerca de 50%, por causa do excedente de produção, de trigo especialmente. Os depositantes dos bancos, temendo uma possível falência bancária, removeram seus depósitos. Várias instituições bancárias foram então fechadas, um total de 14 mil para toda a década.
A “prosperidade” havia mostrado finalmente sua fragilidade e seu caráter cada vez mais especulativo: o valor global das ações passara de 27 a 67 bilhões entre 1925 e 1929, com uma alta de 20 bilhões só nos nove primeiros meses de 1929 (alguns portfolios de investimentos se valorizaram 700% em poucos meses), um crescimento cada vez maior do que o da produção. No início de outubro de 1929, alguns investidores começaram a apostar “na baixa”: o movimento se estendeu, e no final do mês o pânico se generalizou; quem podia, vendia, e muitos pequenos investidores se suicidaram. As ações estavam sobrevalorizadas, o crescimento recente tinha sido especulativo (para alguns economistas, no entanto, ele adiara por dois anos a explosão da crise). Desequilíbrios enormes tinham se acumulado: entre capacidade de produção e a de consumo; nas trocas com o resto do mundo (sobretudo com a Europa); e a acentuação da crônica crise agrária. Para John K. Galbraith “a atividade econômica dependia cada vez mais do consumo de luxo de uma minoria de privilegiados, e de sua propensão a investir”. O resto do mundo só comprava 12% dos carros produzidos pelos EUA, por exemplo.
Crise, portanto, de superprodução. Marcel Roncayolo resumiu assim a situação: “A prosperidade norte-americana não encontrou sustentação num mundo cuja expansão tinha sido bem menor que nos EUA. Além disso, ela era dependente dos empréstimos norte-americanos: bastou fechar a torneira para expandir a crise e, diminuindo o poder aquisitivo externo, aprofundar a crise nos EUA”. E se alguns (como o magnata Mellon) viram na crise um meio de “limpar” o mercado das empresas não-competitivas, ninguém a imaginava tão profunda e longa. Para Fritz Sternberg, “com sua expansão esgotada, o capital europeu procurava um novo eixo de equilíbrio, assim como o norte-americano, cuja expansão territorial tinha chegado ao limite: a expansão externa não era suficiente para compensar o surto produtivo. Nenhum dos dois tinha como resolver esses problemas: a tentativa de equilibrar, na base do lucro do capital e de sua expansão externa, o aumento da produtividade, e o consumo, revelou-se um fracasso, cujo resultado foi a crise”.
Os bancos reduziram os créditos: milhares de empresas foram então à falência (22.900 em 1929; 31.800 em 1932). A venda a crédito quase desapareceu: a produção industrial caiu 45% (69% nas indústrias de base). Resultado: os lucros afundaram (US$ 2,9 bilhões em 1929; 1,67 bilhões em 1930; 667 milhões em 1931; 657 milhões em 1932). A renda nacional caiu de 87,4 bilhões em 1929 para 41,7 bilhões em 1932: a massa salarial, de 50 para 30 bilhões. Os preços caíram 30%, na média (50%, os preços agrícolas): a renda agrária caiu 57% entre 1929 e 1932. O desemprego disparou: 1,5 milhão em 1929; 4,2 milhões em 1930; 7,9 milhões (16% da força de trabalho) em 1931; 11,9 milhões (24% da PEA) em 1932; 12,8 milhões em 1933, quando já atingia 25,2% da mão-de-obra: o capitalismo se evidenciava um regime destruidor de forças produtivas, incompatível com a sobrevivência física da maioria da população. Com uma queda do comércio exterior vizinha a 70%, os EUA não foram, no entanto, o único país a sofrer um desemprego de massa. No mundo, os desempregados eram estimados em 10 milhões em 1929; 30 milhões em 1932 (cifras que duplicariam se considerado o subemprego): na Alemanha havia 2,5 milhões de desempregados em 1929; 3 milhões em 1930; 4,7 milhões em 1931; 6 milhões em 1932...
Ao analizar as causas da crise, e da transformação desta em depressão, as interpretações monetarista e keynesiana se esgotam nos fatores conjunturais, sendo incapazes de remeter à dinâmica de conjunto da acumulação de capital. Para os monetaristas, a principal causa foi um declínio no estoque de moeda. O declínio foi produzido pela retirada de moeda do sistema bancário e pela decisão dos bancos de aumentar suas reservas voluntárias. Para aumentar suas reservas, tiveram de cortar os empréstimos, produzindo efeitos de multiplicação contracionistas e agravando a crise de liquidez na economia. Isso fez com que os consumidores reduzissem o seu consumo, causando a queda na produção. A velocidade de circulação da moeda também caiu. A crise bancária teria sido agravada por erros de política monetária, que contrairam a liquidez da economia.
Na interpretação keynesiana (por exemplo, a de Peter Temin) se apresenta uma visão mais integrada, abarcando vários países (os monetaristas quase sempre se esgotam nos EUA). A produção teria caído devido à queda no consumo, um colapso nos gastos do investidor. Como resultado, cairam os lucros, trabalhadores perderam seus empregos, bem como firmas e pessoas se tornaram inadimplentes. Isso provocou a contração monetária e a crise bancária. Todas estas interpretações se fixam na esfera da circulação, dela partem e a ela voltam.
Certamente, como analisou Maddison, na crise de 1929 e na depressão da década de 1930 “houve uma desintegração da ordem econômica internacional, com um colapso do volume do comércio mundial, levantamento de barreiras comerciais, controle de câmbios e blocos comerciais discriminatórios. O mercado de capital internacional caiu também sob o peso da mora e da insegurança criada pela hostilidade entre os principais países capitalistas avançados”. Mas a crise comercial e bancária, embora seja o ponto de partida (ou melhor, a evidência) da crise, é aspecto subordinado. Em princípio, o capital comercial e o bancário crescem com o volume da produção capitalista e medeiam o processo de reprodução do capital (ainda que, historicamente, tenham se desenvolvido antes do capital industrial; é preciso discernir o processo da gênese da estrutura lógica do capital em sua plenitude). Mas, como elementos da circulação do capital eles não abrigam a criação de valor, apenas o realizam, de modo que são estruturalmente dependentes do capital industrial, simples prolongamentos deste, que se autonomizam externamente. A aceleração febril dos negócios, em época de conjuntura favorável, leva à multiplicação das operações de compra, venda e crédito, bem como o estímulo à função de meio de pagamento do dinheiro. A autonomização externa dos capitais comercial e bancário faz com que se movimentem além dos limites impostos pela reprodução do capital industrial, violando a dependência interna que guardam em relação a este. Por isso a conexão interna é restabelecida mediante uma crise comercial e bancária (ou financeira), formas de aparência da crise econômica real, apreendidas pelos economistas como contradições que se passam exclusivamente no âmbito da circulação monetária, mas que em verdade resultam da anarquia do processo global de reprodução do capital industrial, unidade do seu tempo de produção e circulação.
Decomposição Social e Estado Emergencial
Em 1929, o valor total dos produtos industrializados fabricados nos Estados Unidos foi de 104 bilhões de dólares. Em 1933, este valor havia caído para 56 bilhões, uma queda de aproximadamente 45%. A produção de aço caiu em 61%, entre 1929 e 1933, e a produção de automóveis caiu em cerca de 70% no mesmo período. Em Toledo (EUA) havia 75 mil operários ativos em março de 1929; mas só 45 mil em janeiro de 1930. A Ford (Detroit) contava 128 mil operários a inícios de 1929; 100 mil em dezembro desse ano; 84 mil em abril de 1930; 37 mil em agosto. E os trabalhadores sofriam não só pelo desemprego, mas também pela redução salarial e dos horários de trabalho (que se reduziram em 29% na General Motors). E não havia seguro-desemprego, só havia caridade.
Surgiram as hoovervilles (do nome do presidente Hoover), verdadeiras favelas de “excluídos”; as “sopas populares”, os “abrigos” para sem-teto se enchiam; em Chicago, o lixo era “revisado” e reaproveitado por uma enorme massa de pobres. Em 1932, estimava-se que um milhão e meio de jovens faziam parte de “bandos de errantes”, sem destino. Na Califórnia, no centro-norte dos EUA e no oeste do Canadá, grandes períodos de seca, invernos rigorosos e pestes agravaram a depressão econômica. Muitos dos jovens das áreas rurais abandonaram suas fazendas e suas famílias, buscando a sorte nas cidades: juntamente com os desempregados urbanos, viajavam de cidade a cidade, “pegando carona” em trens de carga, em busca de emprego. No Canadá, donos de automóveis apelidaram seus veículos de Bennett Buggies – satirizando o premiê Richard Bennett: os donos não tinham como adquirir o combustível necessário para abastecê-los, ou tinham cortado a compra de combustível por considerarem-na um gasto supérfluo. Os veículos passaram a serem usados como carroças (buggies), puxados por cavalos ou outros animais.
A subalimentação produziu um surto de tuberculose; os matrimônios caíram 30%, os nascimentos, 17%: com 10 milhões de crianças deficientes. A ofensiva contra os salários foi mundial, os proventos dos trabalhadores experimentaram um retrocesso sem precedentes na história do capitalismo. Grupos étnicos minoritários, imigrantes, dos países mais atingidos passaram a ser discriminados por setores da população dos países mais afetados: eram discriminados porque, supostamente, competiam com a "população nativa" pelos empregos. A discriminação era alentada por grupos nacionalistas de direita. Isto fez com que as taxas de imigração caíssem sensivelmente no Canadá e nos Estados Unidos. Qualquer semelhança com a atualidade...
No país mais rico do mundo, os EUA, a renda total dos trabalhadores da indústria e da agricultura foi literalmente amputada pela metade entre 1929 e 1932. De dois milhões, o número de desempregados elevou-se para 18 ou 20 milhões. A produção de aço foi reduzida a menos de 20% em sua capacidade. As exportações, que ultrapassavam os cinco bilhões de dólares, mal chegavam a 1,5 bilhão; as importações passaram de quatro bilhões e meio para cerca de um bilhão. Depois de 4.600 falências bancárias em três anos, todos os bancos do país fecharam seus guichês em março de 1933, no apogeu da crise financeira. Segundo a explicação neoclássica, a crise de 1929, como as anteriores, teria se resolvido sozinha se os governos, pelas suas intervenções “desastradas”, não a tivessem prolongado, e até agravado, ao pretender soluciona-Ia. Talvez desde 1933, certamente a partir de 1935, já havia indícios de re-erguimento econômico espontâneo. A queda maciça da produção industrial acabou tornando-a inferior às necessidades incompressíveis: daí que, após o esgotamento dos estoques, se reiniciasse a produção para satisfazer à demanda “encolhida”.
Essa explicação “economicista” ignora porque a crise econômica virou crise política, devido ao aguçamento (real ou potencial) da luta de classes. Antes de março de 1933, no ápice do pânico bancário, o presidente republicano Herbert Hoover tentou se avizinhar do opositor democrata, Franklin D. Roosevelt, que já propunha o New Deal. Hoover tinha sondado a possibilidade da declaração do “Estado de Emergência”, mas precisava, para isso, do consenso bipartidário. Roosevelt rejeitou qualquer acordo, que teria estreitado as margens para o New Deal, e decidiu aproveitar o fato de que a responsabilidade pelo desastre estava já caindo sobre Hoover, que tinha proposto, sem sucesso, a criação de um órgão governamental, o Reconstruction Finance Corportation (Corporação de Reconstrução Financeira), ou RFC, em 1932. Este órgão seria responsável por fornecer ajuda financeira a empresas e instituições comerciais e industriais chave, como bancos, ferrovias e outras grandes empresas.
Mas logo que Roosevelt foi empossado, a 4 de março de 1933, também apostou na carta dos poderes presidenciais de emergência, em detrimento do poder legislativo: Roosevelt considerou a possibilidade de “driblar” o Congresso para a Lei de emergência sobre os bancos. Os governadores aconselharam ao presidente pedir ao Congresso que lhe concedesse «poderes tão amplos quanto necessário» para confrontar a crise. Entre os conselheiros do presidente, Walter Lippmann sugeria assumir um “poder ditatorial”, e escrevia que o Congresso não devia “retardar, mutilar, bloquear ou confundir”, propondo “suspender por um ano o debate (parlamentar) e as emendas às propostas do Executivo”. AI Smith, ex-governador de Nova York, evocava os “tempos de guerra”, quando uma democracia “se transforma em um tirano, um déspota, um verdadeiro monarca”. A “democracia americana” pendeu por um fio. A posse de Roosevelt, com seu “discurso da virada”, aconteceu exatamente um dia antes que Adolf Hitler, na Alemanha, conseguisse os “poderes totais” para governar por decreto. A crise enterrava as “democracias”.
Foi com base na Lei de Guerra de 1917 que foi proclamado o fechamento de todos os bancos. Durante as férias bancárias, o Tesouro elaborou a Emergency Banking Act, negociada com os grandes monopólios, para contrabalançar o peso da ala intervencionista do governo, que reclamava a nacionalização de todo o sistema do crédito. Submetida à Câmara e ao Senado, seis dias depois do fechamento bancário, a Lei foi aprovada em... oito horas. Em uma sessão legislativa especial, conhecida como sessão Hundred Days (Cem Dias), Roosevelt fez aprovar uma série de leis que, por insistência do próprio Roosevelt, foram nomeadas de New Deal (Novo Acordo, o nome foi inspirado no Square Deal, dado pelo ex presidente Theodore Roosevelt à sua política econômica), fornecendo ajuda social às famílias e pessoas que necessitassem, e criando empregos através de parcerias entre o governo, empresas e consumidores. Nos anos sucessivos, diversas agências governamentais foram criadas para administrar os programas de ajuda social. A mais importante delas foi a Federal Agency Relief Administration, que seria responsável pelo fornecimento de fundos aos governos estaduais, para que os empregassem em programas de ajuda social. Outros órgãos governamentais foram criados com o intuito de fundear, administrar e/ou empregar trabalhadores na área de construção de aeroportos, escolas, hospitais, pontes e represas (o mais famoso e simbólico foi a Tennesse Valley Authority, TVA, para uma obra de irrigação no vale do mesmo nome).
Os EUA elevaram-se no curso da I Guerra Mundial ao nível de potência dirigente do mundo. Mas, estendendo seu poder para todo o mundo, o capitalismo dos EUA introduziu em seus próprios fundamentos a instabilidade do sistema capitalista mundial. A economia e a política dos EUA passoram a depender das crises, das guerras e das revoluções em todas as partes do mundo. A própria dimensão do capitalismo americano e seus recursos, seu relativamente tardio aparecimento na cena mundial, o declínio geral e as perturbações econômicas combinaram-se para dar um ritmo rápido à evolução econômica dos EUA e, conseqüentemente, também, ao desenvolvimento político da burguesia e da classe operária do país.
O papel do regime de Roosevelt consistiu em "salvar" temporariamente o capitalismo. Em função deste objetivo abandonou o tradicional laissez-faire, doutrina dos EUA e em particular do próprio partido democrata. Ele utilizou os recursos financeiros do Estado para socorrer as empresas bancárias e comerciais e fez votar as leis que restringiram a concorrência e permitiram a alta dos preços, favorecendo o capital monopolista. Ao mesmo tempo, e ainda que nem todos os capitalistas o percebessem, manteve o descontentamento das massas trabalhadoras urbanas e rurais aos limitado dentro de uma política de concessões freqüentemente ilusórias e de promessas demagógicas: aprovou, por exemplo, um sistema de aposentadoria e de seguro-desemprego sob o controle do governo. O empregador tinha a possibilidade de fazer recair os custos sobre os consumidores; os trabalhadores e os sindicatos não tinham participação na administração do sistema. Formalmente, o direito dos operários de se organizar foi reconhecido, e o governo cultivou a amizade dos dirigentes sindicais. Os movimentos de greve foram quebrados, de modo sutil, pelos mediadores do governo, ou brutalmente, pelos gangsters privados, a polícia ou a milícia, sem protestos da parte da administração "liberal" rooseveltiana.
Desse modo, o capitalismo americano, auxiliado pelo Estado “democrático”, momentaneamente aliviou-se da crise, na medida em que a produção elevou-se acima do nível de 1932, e pode novamente realizar lucros em certos ramos. A renda agrícola, que era de 15 bilhões e meio de dólares em 1920, caiu para cerca de cinco bilhões em 1932. Elevou-se novamente em 1935, mas para 8 bilhões, 40% abaixo do nível de 1920. O volume de produção dos objetos de consumo quase igualou em 1935 o nível de 1929, mas o volume dos materiais de construção foi inferior à metade daquele de 1929, e igualmente para a indústria dos meios de produção. Essa reprise foi devida mais aos gastos governamentais do que a uma verdadeira retomada da indústria privada: os investimentos privados, que se elevavam em 1929 a 6 bilhões de dólares, caíram em 1933 a menos de um bilhão, e não atingiram em 1935 mais do que 1,5 bilhão. A “racionalização”, por outro lado, progrediu durante a recessão. Em conseqüência, o crescimento da produção não teve um efeito proporcional sobre o desemprego. O número de desempregados continuou entre 10 e 12 milhões de pessoas, e não diminuiu de forma apreciável na segunda metade da década de 1930. O número de pessoas socorridas elevou-se de 22 para 25 milhões entre 1935 e 1936. O comércio exterior permaneceu abaixo da metade do nível de 1929. A dívida do governo federal fixou-se em 31 bilhões de dólares, crescendo 50% em três anos. A abundância de ouro - cujo estoque era de US$ 4 milhões em 1932, e de US$ 10 bilhões em 1936 - continuou a ser um obstáculo ao renascimento do comércio exterior, à estabilização da moeda, e uma ameaça de inflação (ao longo da década de 1930, os EUA gradualmente abandonaram o uso do padrão-ouro, fortalecendo a moeda nacional, o dólar). O governo de Roosevelt também diminuiu as tarifas alfandegárias em certos produtos estrangeiros, assim estimulando o comércio doméstico. Mas a luta pelos mercados, particularmente na América Latina e na Ásia, contra a Grã-Bretanha, o Japão e a Alemanha, intensificou-se.
A generalização mundial da depressão econômica tornou a situação dos trabalhadores desesperante, em todas as economias industriais. Para aqueles que, por definição, não tinham controle ou acesso aos meios de produção (a menos que pudessem voltar para uma família camponesa no interior), ou seja, os assalariados, a conseqüência básica da Grande Depressão foi o desemprego em escala inimaginável e sem precedentes, e por mais tempo do que já se experimentara em qualquer época. No pior período da Depressão (1932-1933), 22% a 23% da força de trabalho britânica e belga, 24% da sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31 % da norueguesa, 32% da dinamarquesa e nada menos que 44% da alemã, não tinham emprego. E mesmo a recuperação depois de 1933 não reduziu o desemprego médio da década de 1930 abaixo de 16% a 17 % na Inglaterra e na Suécia. O único Estado ocidental que conseguiu eliminar o desemprego foi a Alemanha nazista, entre 1933 e 1938. A previdência pública na forma de seguro social ou auxílio-desemprego não existia, como nos EUA, ou era parca, sobretudo para os desempregados de longo prazo. No país em que as “garantias sociais” eram maiores, a Inglaterra, menos de 60% dos trabalhadores estava “protegida”.
O sindicalismo tradicional dos EUA revelou-se insuficiente para enfrentar esses problemas: a 6 de março de 1930, um milhão de desempregados manifestaram (100 mil em Nova York; outro tanto em Detroit): a iniciativa fora do Partido Comunista da América (PCA), que criou o “Conselho Nacional de Desempregados”; o Partido Socialista (SPA), do seu lado, criou a “Aliança Operária”. O ex-pastor A. J. Muste criou a “Liga Nacional de Desempregados” (com 10 mil membros só em Seattle, que chegou a ser chamada de “cidade soviética”): Muste fusionou posteriormente suas forças com os trotskistas, depois de dirigir a greve de Toledo, em 1934. Em certas regiões, aconteceu uma pequena “guerra de guerrilhas”: ataques a depósitos de alimentos, autodefesa contra as expulsões das casas. Em Dearborn houve uma “marcha da fome” de operários desempregados da Ford, com saldo de 3 mortos e 23 feridos graves. Em julho de 1932 aconteceu a “marcha do subsídio”, com 25 mil ex-combatentes da Primeira Guerra Mundial reclamando, em Washington, a pensão prometida pelo governo. A marcha foi brutalmente reprimida pelas tropas comandadas pelo general Douglas Mac Arthur, assistido pelo então coronel Dwight Eisenhower e pelo então major George Patton.
Crise e Classe Operária
Até 1930, o capitalismo norte-americano havia conseguido apartar o grosso do proletariado da militância de classe, por causa da ilusão no american way of life. Mas com a grande depressão o panorama mudou. Os milhões de desempregados aumentavam sem cessar. e o “fantasma comunista”, tão agitado na década anterior, podia tornar-se real, montar-se na onda de desesperança e amargura. A política do presidente republicano Hoover, deixar que a crise se solucionasse sozinha, podia entender-se como um último esforço dos grandes bancos e a indústria pesada para controlar totalmente a economia nacional, aproveitando uma depressão que não controlavam. Essa tentativa, porém, além de ser feita às custas de importantes setores capitalistas, era demasiado perigosa. Um importante setor do Partido Democrata estava convencido da necessidade da intervenção estatal na economia: este setor mais lúcido e dinâmico da burguesia se impôs nas eleições presidenciais de 1932.
Franklin D. Roosevelt começou a governar e a forjar seu New Deal sob a depressão. A oposição, vencida politicamente, não advertiu de que ela era a única política alternativa frente à revolução social. O objetivo central do New Deal foi salvar o sistema de seu colapso. Em essência, seu programa não existiu. Toda sua ação apoiou-se em uma série de marchas e contramarchas impostas pela experiência de cada dia. Contudo, em todas essas idas e vindas houve duas constantes: uma foi o papel de protagonista que desempenhou o Estado, nas medidas econômicas que propiciava. A outra, o acento permanente posto no problema social do país. Que houvesse interesse nos mais altos níveis do Estado pela sorte dos despossuídos era um fato novo e insólito na história norte-americana. Não se tratava, porém, de “revolução”, nem de altruísmo. Roosevelt e sua equipe percebiam que havia chegado a hora em que o capitalismo devia ceder algo de sua riqueza para poder subsistir. O New Deal devia responder a um núcleo bastante definido e restrito de interesses; que se beneficiavam com o aumento do consumo dos setores populares; a política de Roosevelt devia se orientar para conseguir tal aumento e, uma vez conseguido, mantê-lo na medida do possível.
Ao longo de seu primeiro mandato, legislou sobre salários, preços, seguros sociais, horários de trabalho. Programas de recuperação, como a Agricultural Adjustment Administration, foram criados com o intuito de regular a produção de produtos agropecuários. A National Recovery Administration foi criada para limitar os monopólios, estabelecer salários mínimos e limites na carga horária de trabalho (esta agência, porém, foi fechada pelo Congresso, em 1935). Outros órgãos federais foram criados. O Federal Deposit Insurance Corporation foi criado em 1933 para promover transações e o comércio bancário. O Securities and Exchange Commission, criado em 1934, regulava a Bolsa de Valores e devia evitar que acionistas comprassem ações que o órgão considerasse "perigosas". O National Labor Relations Board foi criado em 1935 para regular sindicatos, e “proteger os trabalhadores e seus direitos”. Ainda em 1935, o Ato da Segurança Civil passou a fornecer pensões mensais para aposentados, bem como ajuda financeira regular, por um certo período de tempo, para pessoas desempregadas.
O governo financiou programas de socorro e obras públicas, que deram trabalho a 4 milhões de desempregados. Estas medidas lhe granjearam a adesão das massas. Por outro lado, as medidas de “proteção do trabalho” foram contrabalançadas por uma racionalização produtiva de primeira magnitude, que estendeu seus efeitos para bem além da depressão. Henry Ford estabeleceu a jornada de oito horas, mas foi também responsável por uma importantíssima inovação técnica, a linha de montagem, que permitiu a redução dos custos e o aumento da produtividade, isto é, o rendimento do trabalho e dos demais agentes da produção. A aplicação das técnicas fordistas em várias indústrias de bens de consumo gerou uma queda de preços em todo o país, que foi outro fator de recuperação da economia norte-americana.
Na medida em que a política de Roosevelt se definia, e se aliviava a situação dos setores populares, também se fortalecia a oposição republicana, que desatou uma ofensiva política. Esta tinha a seu favor: 1) As milionárias cifras gastas em socorro e obras públicas, enquanto a fome subsistia e havia milhares de desempregados. É certo que houve um alívio no primeiro ano do New Deal (de um índice de 24,9% de desempregados em 1933, passou-se a 21,7% em 1934), porém essa tendência a baixar se deteve, em 1935, em 20,1%; 2) Fracassara a política de reativar a indústria através da Lei Nacional de Recuperação Industrial (NIRA).
A indústria, certamente, havia se recuperado em 1933, mas, em 1935, quase um terço de sua capacidade estava ociosa. Para piorar as coisas, a fase propícia do ciclo econômico não se aproximava, e os industriais não investiam. Para sorte da oposição encabeçada pelas grandes finanças, os principais problemas continuavam a existir. A saída do governo foi mobilizar a classe operária para lutar por seu direito, negado durante tanto tempo, de organizar-se em sindicatos industriais. Dava-se, portanto, um objetivo preciso às lutas operárias, e se cerceava e controlava as massas com organismos que podiam ser “institucionalizados”. Em um ponto tal solução coincidia com os objetivos concretos do New Deal: a maioria dos operários trabalhava nas fábricas da indústria pesada; ao fomentar sua organização, o governo golpeava no coração de seu principal opositor.
No momento mais profundo da crise, a classe operária americana ficara essencialmente passiva. Isso foi resultado, de um lado, da violência dos golpes aos quais foi exposta depois de um longo período de prosperidade e, de outro lado, ao fato de entrar na crise com organizações pequenas e débeis, tanto no terreno político quanto econômico. A decadência da AFL (American Federation of Labor), que experimentou uma diminuição do número de filiados de 4.000.000 no começo da década de 1920 para 2.500.000 em 1932, e a proliferação e crescimento de sindicatos de empresas, desvinculados entre si e inteiramente a serviço da patronal, que chegaram a abranger mais de 1.500.000 operários, tem sua melhor explicação na necessidade do capitalismo de liquidar sindicatos que, segundo a afirmação de Gramsci, lutavam ainda “pela propriedade do trabalho contra a liberdade industrial. O sindicato operário norte-americano é mais a expressão corporativa da propriedade dos ofícios qualificados do que outra coisa, e por isso sua destruição, arquitetada pelos industriais, tem um aspecto progressista”. No início da década de 1920, os militantes sindicais comunistas tentaram uma re-elaboração da prática sindical desde o seio da AFL. Lançaram um programa de organização pelas fábricas que superava a distinção entre ofícios e a separação com os não especializados por meio da união entre eles. Para não se chocarem com a burocracia, estas fusões deviam ser voluntárias. Esse programa não tardou a ser torpedeado pela direção da AFL.
A partir de 1933, no entanto, a história da classe operária norte-americana caracterizou-se por uma atividade e uma combatividade quase ininterruptas. Tentativas obstinadas e persistentes de organização, culminando freqüentemente em lutas grevistas, foram empreendidas pelos operários, inclusive aqueles das indústrias-chave, tais como a de aço, automóveis, borracha, empresas de serviços públicos e navegação onde, no passado, o movimento sindical nunca tinha podido criar raízes. As greves destacaram-se como um poderoso impulso da solidariedade e da consciência de classe, englobando dezenas de milhares de operários pertencentes às diferentes indústrias, e freqüentemente também de frações das camadas intermediárias da pequena burguesia que sustentavam a luta dos operários grevistas.
Os efeitos dessa nova etapa do desenvolvimento do capitalismo norte-americano e da pressão das massas refletiram-se na polêmica dentro da AFL: os dirigentes de alguns dos grandes sindicatos filiados - como John L. Lewis, dos mineiros - atacaram de frente a política tradicional dos “sindicatos de ofício”, e exigiram que fosse atribuído aos trabalhadores das indústrias de produção de massa o direito de organizarem-se nos sindicatos de indústria, e que se realizasse uma campanha nesse sentido. No interior da AFL constituíram um comitê para a organização de sindicatos de indústria (CIO) a fim de auxiliar os operários das indústrias mais importantes a se organizar sobre a base das indústrias. Recusaram-se a satisfazer a exigência da executiva da AFL de dissolver o CIO e desenvolveram uma campanha de organização na indústria pesada. Um vasto movimento de organização e de greve em uma indústria-chave não era uma questão puramente sindical. Ele conduzia necessariamente a um conflito com a classe burguesa em seu conjunto e com o aparelho governamental, o que implicaria em conseqüências sociais profundas.
Ainda que o número de filiados aos sindicatos aumentasse em cerca de um milhão após 1932, os operários das indústrias-chave permaneciam desorganizados em sua maioria. Todas as vagas de organização sindical nessas indústrias foram quebradas pela colaboração dos patrões, dos organismos governamentais de arbitragem e dos burocratas dos sindicatos, freqüentemente antes que se tivesse atingido o ponto culminante de uma greve. Mas não diminuiu a vontade dos operários de se organizar, nem a sua combatividade, em que pese as tentativas da burocracia sindical de colocá-los em guarda contra o "perigo vermelho". O PC dos EUA (PCA), em reação contra os exageros aventureiros "terceiro período", passou a levar adiante uma política oportunista, apoiando sem críticas os burocratas sindicais "progressistas", e até colaborando com elementos reacionários nos sindicatos, apoiando o Farmer-Labor Party, inaugurando até uma colaboração com políticos dos partidos capitalistas com ares "progressistas", atacando o partido republicano como única agência "verdadeira e direta" do fascismo e da guerra. Isto ajudava Roosevelt que, sob a cobertura de um liberalismo demagógico (na acepção americana do termo), constituía-se no agente do imperialismo americano e de seus preparativos de guerra.
O Partido Socialista (SPA) americano não contava com mais de 16 mil membros, metade dos efetivos do PC dos Estados Unidos, ainda que obtendo nas eleições muitos mais votos que este. Durante vários anos, o SPA foi dominado pela "velha guarda" conservadora de Morris Hillquit e seus sucessores. No entanto, a crise levou ao SPA elementos jovens e, com eles, novas tendências desenvolveram-se, causadas tanto pelas condições dos Estados Unidos como pelas derrotas da classe operária na Alemanha, Áustria e Itália.
Nesse clima de “apoio estatal ao movimento operário”, em 1935, John L. Lewis do United Mine Workers (sindicato de mineiros) se retirou da AFL e formou a CIO (Committee of Industrial Organizations, Comitê de Organizações Industriais) que defendia o critério de organização sindical por ramos da indústria e não por ofício (como defendia a AFL). Essa divisão pôs em evidência a existência de sindicatos, como o dos mineiros, por indústria, que a AFL não reconhecia, apesar de existirem em seu seio. E também a existência na base operária de mudanças importantes, na organização, na combatividade e na militância, com reflexos claros nas greves de 1933-34. Roosevelt, ao buscar o apoio político do movimento operário, especialmente com a Lei Wagner (a National Labor Relations Act), deu um grande respaldo à formação da CIO. Dentro da CIO, e respondendo à política de Frente Popular defendida pela Internacional Comunista desde 1935, o PCA teria um lugar importante em sua liderança e organização. O apóio do movimento operário foi uma das bases da reeleição de Roosevelt em 1936.
Mas, no mesmo pleito eleitoral, a participação política organizada de setores dos trabalhadores na Labor Non-Partisans League (LNPL) representou uma ruptura com a antiga escola de prática política. No passado, a burocracia sindical se limitava a endossar tal ou qual “amigo” nas fórmulas políticas capitalistas. Nas presidenciais de 1936, e nas eleições municipais e estaduais posteriores, houve pela primeira vez um esforço sistemático por organizar e mobilizar a força política dos trabalhadores como uma força separada. Esse novo movimento, representado pela LNPL, era uma etapa no desenvolvimento do movimento operário contra a subserviência completa aos partidos do grande capital, e por um partido independente dos trabalhadores.
A “Normalização”
No segundo mandato de Roosevelt, porém, produziu-se a “normalização” da CIO. O deslocamento para a direita da CIO, uma vez consolidada esta (com 3.727.000 filiados em 1937, contra 3.440.000 da AFL) iniciou-se com um movimento de reaproximação com seus antigos inimigos: John Lewis, rompendo com a AFL em 1936, tinha dado um passo adiante em relação ao “gompersismo” (de Samuel Gompers, líder histórico da AFL) mas, para Guérin, “os fundadores da CIO – Lewis, Hillman, Dubinsky – não fizeram senão pôr uma camisa de força num movimento novo e de esquerda que já se desenvolvia. Não tiveram sucesso total, pois um número importante de revolucionários, com o consentimento daqueles, penetraram a nova organização, e nela construíram trincheiras tão sólidas que depois foi impossível desalojá-los. Mas atingiram seu objetivo essencial: criar uma nova AFL de tendência moderada e evitar a formação de uma nova central sindical combativa e vermelha”.
Para Trotsky, o surgimento da CIO não era só uma “virada”, mas um índice da crise geral do capitalismo: “Qual a razão da emergência da CIO? É o declínio do capitalismo norte-americano. Na Grã-Bretanha, o início desse declínio produziu somente os grandes sindicatos de indústria. Mas esses sindicatos só apareceram em cena nos EUA mesmo a tempo de assistirem à nova fase do declínio do capitalismo ou, mais exatamente, podemos dizer que a primeira crise de 1929-33 dá o empurrão inicial e desemboca na criação da CIO. Mas mal se tinha ainda organizado, a CIO teve que enfrentar a segunda crise, a de 1937-38, que continua a aprofundar-se. Que significa isto? Os sindicatos precisaram de muito tempo para se organizarem nos EUA, mas agora que existem seguirão a mesma evolução que os sindicatos ingleses. Isso quer dizer que nas condições atuais de declínio do capitalismo eles serão forçados a voltar-se para a ação política. Creio que é a coisa mais importante”. Trotsky propôs então aos seus partidários nos EUA a luta por um Labor Party (partido trabalhista).
E já em novembro de 1937, os dirigentes da CIO John Lewis e Homer Martin intervieram contra os grevistas da Pontiac: a grande imprensa chamou então o odiado Lewis de Labor Stateman. Em 1940, o dirigente sindical Walter Reuther, na General Motors, chamou a “aceitar o pior dos acordos, pelo bem do país”: Reuther abandonou o SPA para apoiar o governador Murphy para o Senado; Philipp Murray convidou para o congresso da SWOC o prefeito de Chicago (Kelly) – responsável pelo “Massacre do Memorial Day” de 1937 - no quadro do apoio à terceira eleição de Roosevelt. Por trás desse processo encontrava-se a nova crise do capitalismo norte-americano, a partir de 1937. O índice de produção industrial, de 110 em 1929, tinha caído para 58 em 1932. Com sua política inflacionária, Roosevelt fomentou a recuperação: o índice pulou para 87 em 1935, para 103 em 1936, para 113 em 1937. Mas, a partir de agosto desse ano, a recessão reapareceu: a produção caiu 27% em quatro meses.
Na resolução de fundação do SWP (Socialist Workers Party), de 1938, afirmava-se: “Seis anos depois, o New Deal, como um programa primário de gastos e subsídios governamentais, demagogia liberal e concessões sociais para camponeses e trabalhadores, conclui em um colapso definitivo. A intolerável crise econômica continua. O ciclo dos negócios recusa-se a emergir por mais do que curtos e insatisfatórios períodos. A impraticabilidade de uma solução na base do New Deal, e a fatuidade das soluções propostas no velho estilo republicano da Câmara de Comércio, tornam-se evidentes. Na medida em que as medidas internas fracassam e não oferecem saídas, a burguesia dos EUA se volta para as medidas externas, para a guerra”. Simultaneamente, era colocada a perspectiva do “endurecimento” político interno: “O colapso do New Deal, e os insuperáveis e ascendentes conflitos internos do capitalismo americano, colocam de modo cada vez mais claro para a burguesia a necessidade de abandonar a democracia parlamentar e jogar a carta fascista como único meio para conservar seu poder e privilégios. Os mesmos fatores chamam a atenção de desempregados, pequenos fazendeiros, classes médias e proletários desmoralizados para a demagogia e a organização fascistas”.
Em 1940, Roosevelt se apresentou novamente como candidato presidencial. A Segunda Guerra Mundial fez com que sua eleição fosse bem sucedida, mais do que o “êxito” (bastante duvidoso) da política do New Deal. O apoio à guerra era muito grande, à diferença do que ocorreu na Primeira Guerra Mundial, e apesar da existência de líderes sindicalistas como John L. Lewis que se opunham à entrada na guerra dos EUA. A figura de Hitler, e o ódio que despertava, devido à sua política interna hiper-reacionária, foi decisiva para essa mudança. Roosevelt isolou e reduziu o espaço dos principais líderes de esquerda do CIO antes de iniciar o rearmamento de 1940-41.
Os desempregados, de 10 milhões (em 1934-35) passaram para 8 milhões (em 1936-37), mas já superavam 11 milhões em 1938, e ainda eram 10 milhões em 1940. O índice de produção industrial, de 110 em 1929, tinha caído para 58 em 1932. Com sua política inflacionária, Roosevelt fomentou a recuperação: o índice pulou para 87 em 1935, para 103 em 1936, para 113 em 1937. Mas, a partir de agosto desse ano, a recessão reapareceu: a produção cai 27% em quatro meses. Esta situação só será superada com o início da Segunda Guerra Mundial e com a aprovação do maior orçamento de defesa dos EUA em tempos de paz: só a guerra deu, portanto, um fim à crise iniciada em 1929. Os desempregados, de 10 milhões (em 1934-35) passaram para oito milhões (em 1936-37), mas já superavam 11 milhões em 1938, e ainda eram 10 milhões em 1940. O quadro só seria revertido em 1942, depois do ataque japonês a Pearl Harbor, quando a máquina bélica norte-americana começou a funcionar a todo vapor, revitalizando a economia dos EUA, e levando-a também para um patamar de monopolização inédito na história mundial do capitalismo. Apesar dos programas governamentais criados com o intuito de reduzir o desemprego, cerca de 15% da força de trabalho americana continuava desempregada em 1940. Foi necessária a entrada do país na Segunda Guerra Mundial para que as taxas de desemprego caíssem aos níveis de 1930, de 9%. A entrada do país na guerra acabou com os efeitos negativos da Grande Depressão, a produção industrial americana cresceu drasticamente, e as taxas de desemprego caíram. No final da guerra, apenas 1% da força de trabalho americana estava desempregado.
O início da Segunda Guerra Mundial encontrou a classe operária norte-americana com bases firmes para a luta: conforme a produção industrial se reavivava sob o estímulo da concessão de créditos (Lenlease) e o rearmamento, os operários organizados na CIO iniciaram uma greve por aumento de salários, direcionada diretamente a Roosevelt e ao Comitê de Mediação da Defesa. À cabeça estavam os mineiros, e seu sindicato fundamentou o precedente de closed shop e a eliminação das diferenças tradicionais de salários no Sul. Motivados por isso, os trabalhadores das indústrias de open shop começaram a se juntar nas campanhas organizativas da CIO. Ford e Bethlehem, os mais importantes patrões anti-CIO, cederam em 1940 às demandas do sindicato automotriz e do comitê para a organização dos trabalhadores de aço. Os piquetes de massas, as esquadras móveis e o bloqueio por meio de carros, voltaram a ser métodos de luta, em especial na greve da Ford. Ainda que a repressão estivesse aumentando, o clima geral do verão-outono de 1941 teve um impulso que recordava o “espírito de 1937”, que foi apagado pela ofensiva patriótica consecutiva à entrada dos EUA na guerra.
Depressão e Nazismo
Diversas foram as conseqüências da crise de 1929 na Europa. Na Alemanha, a crise agravou os resultados da hiper-inflação de 1923, depois de uma “prosperidade” relativamente breve durante a década de 1920. Dentro da burguesia, só os grandes industriais e banqueiros sobreviveram: a média e pequena burguesia, arruinada pela inflação e deflação alternantes, acabou sub-proletarizada. Os camponeses, menos atingidos pela crise, eram uma minoria nesse país industrializado. Os trabalhadores industriais sofriam, com o desemprego de massa, uma miséria densa, na qual a procura de um emprego parecia interminável. A juventude carecia de qualquer perspectiva de trabalho, ou de vida “normal”: milhões de jovens viraram nômades, muitos enchiam os “campos de trabalho”. A República de Weimar cortou os fundos públicos de ajuda social para desempregados. Quando a recessão chegou ao seu auge em 1932, a República de Weimar perdera toda sua credibilidade junto à população alemã. Fenômenos de decomposição social se desenvolveram em grande escala (droga, alcoolismo, prostituição). O desespero e a cólera se voltavam contra os governos da República de Weimar, freqüentemente ocupados pelos socialistas (SPD). Toda esperança, todo “bode expiatório”, eram aceitos: o nazismo, em escala maior que o fascismo italiano, foi capaz de mobilizar a pequena-burguesia desesperada (explorando seu medo da proletarização).
Nascido nas margens do exército, o partido nazista (NSDAP) foi timidamente financiado, no início, por setores burgueses: o editor Bruckham, o fabricante de pianos Bechstein. Com a crise de 1929, o caixa nazista recebeu o apoio dos konzern (Kirdorf, do carvão; Vorgler e Thyssen, do aço; IG Farben; o banqueiro Schroeder, etc.), os cartéis alemães. As suas possibilidades de agitação e propaganda, a sua autoconfiança e, sobretudo, a sua capacidade de subornar (policias, juízes, militares) cresceram então geometricamente. Às classes médias desesperadas, os nazistas propunham remédios contra a angústia: xenofobia, racismo, nacionalismo exacerbado, acompanhados de uma demagogia anticapitalista que apontava contra os judeus (desde o século XIX designados como “encarnação do capital”: o fundador do Partido Social-Democrata, August Bebel, já chamava o anti-semitismo de “socialismo dos imbecis”). Também seram denunciados o “imperialismo” (o diktat de Versalhes), os bonzos (os dirigentes sindicais, acusados de colaboração com os judeus): os nazistas chegaram a apoiar as “greves selvagens” à margem dos sindicatos. E, sobretudo, o NSDAP usava a violência e o terror contra seus “inimigos”, para demonstrar ao seu “público” sua determinação em atingir seus objetivos.
Os símbolos nazistas (incluídos os grandes desfiles militares) exprimiam o seu conteúdo, com o qual formavam uma unidade. O racket (chantagem “protetora”) foi usado em larga escala para encher o caixa do NSDAP. E, sobretudo, o nazismo oferecia uma saída imediata para a juventude desempregada: o emprego nas suas fileiras, fardado, nas milícias armadas, nas SA (tropas de assalto) e, depois, nas SS (Schutzstafel, destacamento da guarda, na verdade guarda de elite particular de Hitler, apelidada de “camisas negras”). O emprego, o salário, a farda, devolviam aos jovens o que eles julgavam ser uma existência que a sociedade lhes negava. A militância nazista passou, então, de 176 mil em finais de 1928 para 800 mil em finais de 1931 (mais de um milhão no ano seguinte). Mas comunistas e socialistas também cresceram: em 1928, os dois partidos somados obtiveram 12.418.000 votos; em 1930, 13.160.000 (os nazistas só obtinham 6,4 milhões).
O fator decisivo, porém, foi a recusa dos partidos de esquerda a realizar uma Frente Única contra os nazistas. O SPD contava com um milhão de membros, cinco milhões de filiados sindicais, centenas de milhares de organizados na organização de autodefesa Reichsbanner: em setembro de 1930, em plena crise econômica, ainda obtinha 8,5 milhões de votos (143 deputados) contra 6,4 milhões (107 deputados) do NSDAP. Mas o SPD buscava uma “via intermediária” entre o nazismo e o “bolchevismo”: a sua política era a “defesa da República (de Weimar)”, reclamava leis repressivas contra o nazismo, a ação da polícia e dos tribunais. Finalmente, apoiaram a política deflacionista do chanceler Brühning (geradora de miséria), a suspensão do Reichstag, o governo por decretos-lei, chamaram a votar o Marechal Hindenburg para a presidência da República.
Os votos do SPD caíram para 7,96 milhões em julho de 1932, e para 7,25 milhões em novembro desse ano. Os partidários da “Frente Única Operária” no SPD foram excluídos: eles constituíram o SAP (Partido Socialista Operário), com dezenas de milhares de membros, partido que em 1933 (depois da ascensão de Hitler) assinaria, junto aos partidários de Trotsky (a Liga Comunista Internacionalista) e a dois partidos de esquerda holandeses, uma declaração em favor da IV Internacional.
O KPD (partido comunista) progredia: 3,27 milhões de votos em 1928; 4,59 milhões em 1930; 5,37 milhões em julho de 1932; 5,98 milhões em novembro desse ano. Junto ao SPD, teria tido todas as chances de barrar os nazistas, mas a sua política de divisão (denúncia do SPD como “social-fascista”) foi tal que levou o historiador R. T. Clark a afirmar: “É impossível ler a literatura comunista da época sem sentir calafrios diante do desastre a que leva um grupo de homens inteligentes à recusa de usar a inteligência de modo independente”. O KPD insistia na procura de temas comuns com os nazistas (contra o Tratado de Versalhes, pela independência nacional, contra os bonzos) até usar uma terminologia semelhante (“revolução popular”). Chegou a afirmar que antes de combater o “fascismo”, era preciso combater o “social-fascismo” (o SPD), propondo então a “frente única pela base” aos operários socialdemocratas. No conjunto, a sua política era definida pelo dirigente da Internacional Comunista, Manuilski: “O nazismo será o último estágio do capitalismo antes da revolução social”... Em julho de 1932, os partidos operários obtinham ainda 13.300.000 votos (mas os nazistas já obtinham 13.779.000). Em novembro desse ano, SPD e KPD (Partido Comunista da Alemanha) reunidos obtinham 13.230.000 votos; o NSDAP, 11.737.000: foi quando se desenhava um declínio político do nazismo que o presidente Hindenburg (eleito com apoio socialista) chamou (em janeiro de 1933) o chefe nazista Hitler, para ocupar a chancelaria do Reich.
Hitler chegou ao poder sem resistência operária e com o apoio da burguesia, apoio intermediado pelo ex-ministro de finanças do governo centrista de Stressemann, Hjalmar Schacht, que chegou a um acordo com o NSDAP através do banqueiro Schroeder. Rapidamente, os novos donos do poder passaram a organizar um regime novo, não sem antes montar uma provocação contra o KPD através do incêndio do Reichstag, o parlamento alemão (a 27 de fevereiro de 1933). Com 3.000.000 de marcos fornecidos pelo grande capital, mais o terror das SA, os nazistas cresceram, nas eleições de 1933, de 33% para 44% dos votos. A 23 de março, o Reichstag votou os plenos poderes para Hitler, contra o voto da bancada do SPD (e com o KPD já na ilegalidade), mas com o voto favorável do Zentrum católico.
A ascensão de Hitler ao poder foi acompanhada da destruição do movimento operário. Goebbels escrevera em seu jornal: “Quando os sindicatos estiverem nas nossas mãos, os outros partidos ou organizações não agüentarão muito tempo... Em um ano, a Alemanha inteira terá caído em nossas mãos”. Foi em menos tempo que isso. O 1º de maio seguinte à ascensão de Hitler (1933) foi proclamado, pelos nazistas, feriado nacional, e um desfile-monstro foi organizado em Berlim. O dia seguinte foi o dobre de finados para as esperanças ainda acalentadas pelos dirigentes do movimento sindical alemão, ligados ao Partido Socialdemocrata (SPD), de serem poupados pelo governo nazista e seu chanceler. Os dirigentes sindicais foram presos, espancados e jogados em campos de concentração. E sobre os escombros do mais poderoso movimento operário da Europa, Hitler criou a “Frente do Trabalho”. Já em 10 de maio, Goering deu ordem de ocupar todos os prédios do Partido Socialdemocrata, seus fundos foram confiscados, sua imprensa proibida.
Quanto ao Partido Comunista Alemão (KPD), estava de fato interditado desde o incêndio do Reichstag (a 27 de fevereiro de 1933), que foi muito oportunamente atribuído aos dirigentes do KPD, em particular a George Dimitrov, dirigente da Internacional Comunista. A 2 de maio, depois de um 1º de Maio transformado em parada nazista (mas onde participara o SPD...), os sindicatos alemães foram dissolvidos, e seus bens confiscados. A 14 de julho de 1933 (aniversário da Revolução Francesa!) os partidos políticos foram dissolvidos, o NSDAP foi proclamado “partido único”, o Estado nazista, a criatura mais monstruosa da história política, estava lançado.
Nesse exato momento, em junho de 1933, Trotsky escrevia: “O prazo que nos separa de uma nova catástrofe européia está determinado pelo tempo necessário para o rearmamento alemão. Não se trata de meses, mas tampouco de anos. Se Hitler não for detido a tempo pelas forças internas da Alemanha, alguns anos bastarão para que a Europa se encontre novamente lançada a uma guerra”. A mudança de atitude dos chefes nazistas, que nesse momento faziam declarações pacifistas, só podia “assombrar os mais bobos”. Os nazistas recorreriam à guerra como única forma de responsabilizar os inimigos externos pelos desastres internos. Trotsky previu a II Guerra Mundial logo no início da década de 1930: na sua análise, Hitler, em toda sua mediocridade, não criou política ou teoria próprias. A sua metodologia política foi emprestada de Mussolini, que conhecia a teoria da luta de classes de Marx suficientemente bem para utilizá-la contra a classe trabalhadora. A sua teoria de raça devia muito às idéias de racismo do diplomata e escritor francês, conde de Gobineau. A habilidade política de Hitler consistiu em “traduzir a ideologia do fascismo ao idioma do misticismo alemão” e assim mobilizar, como fez Mussolini na Itália, as classes intermediárias golpedas pela crise contra o proletariado (a única classe que poderia ter barrado o avanço nazista).
Revolução ou Barbárie
Antes de tomar poder do Estado o nacional-socialismo praticamente não tinha acesso à classe operária. Também a grande burguesia, mesmo aquela que apoiava o nacional-socialismo, não via aquele partido como sendo o seu. A base social sobre a qual o nazismo se apoiou para a sua ascensão foi a pequena-burguesia, arrasada e pauperizada pela crise na Alemanha. Foi também nesse meio que os mitos anti-semitas encontraram o seu campo mais fértil de propagação. O capitalismo conheceu um prolongado processo de reorganização, que começara em 1924 e culminaria com os efeitos da guerra de 1939. Esse processo constituía a conseqüência do fracasso da ascensão revolucionária, e da oportunidade que teve a burguesia de dominar o mundo por um novo período histórico: “A situação política mundial em seu conjunto caracteriza-se principalmente pela crise histórica do proletariado”, disse Trotsky. Isto queria dizer não apenas que a burguesia estava procedendo à reorganização da economia mundial através do desemprego, da miséria, da opressão política e da guerra, mas também que poderia continuar fazendo isso enquanto essa crise não encontrasse um princípio de solução. Neste quadro é que se podia considerar o processo de reorganização capitalista. A reorganização capitalista estava marcada pelo auge dos EUA, e “a superioridade dos Estados Unidos pode encontrar sua expressão em novas formas, cujo caminho somente pode ser aberto através da guerra”. É o que efetivamente ocorreu. As fronteiras capitalistas não desapareceram de um só golpe ao término da guerra, mas o lugar dos Estados Unidos como potência imperialista dominante assumiu um caráter peculiar, que lhe permitiu, sobretudo através dos movimentos financeiros e da posição do dólar como moeda mundial, uma subordinação relativa do resto dos estados capitalistas. Em 1934, Trotsky considerava já que a guerra mundial estava na agenda política internacional: “As mesmas causas, inseparáveis do capitalismo moderno, que provocaram a última guerra imperialista alcançaram agora uma tensão infinitamente maior que a de meados de 1914”. Era a forma através da qual o imperialismo buscava um novo equilíbrio, a destruição e a carnificina de dezenas de milhões de homens.
Diversamente da Alemanha, a “democracia” salvou-se na Inglaterra, mas não por razões revolucionárias. A longa crise dos anos 20 e 30 atingira particularmente os setores da primeira industrialização que fizeram o poder do capitalismo britânico no século XIX: as explorações de carvão, a metalurgia, a indústria têxtil. Ao contrário, desenvolveram-se as indústrias da segunda geração: a indústria elétrica (que dobrou o número de seus assalariados entre 1924 e 1937), a automobilística (que dobrou sua produção entre 1929 e 1937), os transportes rodoviários, a seda artificial, as indústrias alimentares. Essa reestruturação foi fortalecida por consideráveis operações de organização setorial ou de concentração, impulsionadas pelo Estado: a indústria carbonífera compreendia mais de mil empresas nos anos vinte. Depois de 1930, uma Comissão de Reorganização tomou as decisões sobre a produção e a exportação, e um Conselho Central das Hulheiras favoreceu a reorganização e a fusão. Na siderurgia, o Comitê de Reorganização suscitou, em 1932, a fusão de duas mil empresas no trust British Iron and Steel. Estas políticas foram impulsionadas pelo representante “dos trabalhadores”
Pois a grande depressão econômica, com efeitos devastadores na economia inglesa, levou novamente o Labour Party para o governo, como na década de 1920, com Ramsay MacDonald novamente como primeiro ministro. MacDonald pediu ao rei George V que formasse uma comissão para estudar e discutir o problema econômico da Grã-Bretanha. Quando este comitê produziu seu relatório, em julho de 1931, sugeriu que o governo deveria reduzir sua despesa em £97.000.000, incluindo benefícios de auxílio-desemprego na ordem de £67.000.000. MacDonald, e seu ministro da Economia, Philip Snowden, aceitaram o relatório, mas quando a matéria foi discutida pelo gabinete, a maioria votou contra às medidas sugeridas pelo comitê. Com esta derrota, MacDonald renunciou. Entretanto, o rei George V convenceu MacDonald a formar um novo governo de coalizão, desta vez contando com os Liberais e com os Conservadores.
Iniciou-se, assim, o terceiro governo de MacDonald (1931-1935), bem mais à direita que os precedentes, na década de 1920. O Partido Trabalhista recusou-se a estabelecer uma coalizão com os conservadores; MacDonald, ainda assim, formou o novo gabinete com eles, um gabinete de “União Nacional”, sendo expulso do Partido Trabalhista. A eleição geral de 1931 foi um desastre para o Partido Trabalhista, que elegeu somente 46 membros do parlamento. MacDonald, agora, teve à disposição 556 cadeiras, com a formação do governo de “união nacional”, e não teve nenhuma dificuldade em perseguir as políticas antipopulares sugeridas pelo comitê do rei George V. Para conter a crise econômica houve mais cortes em salários e em programas de ajuda social, o imposto de renda foi aumentado. Desamparado por seu próprio partido, Mac Donald era agora um prisioneiro do partido conservador, e em 1935 foi facilmente excluído do poder. Sua carreira de símbolo do socialismo “democrático” chegava ao seu fim.
A situação econômica da Inglaterra tornou-se de extrema gravidade, mas a estrutura política do país estava excepcionalmente em atraso para com as mudanças que se produziam na base econômica. Antes de recorrer a novas formas e métodos políticos, todas as classes da nação inglesa ainda procuravam descobrir alguma coisa no velho celeiro, virar pelo avesso a roupa velha. Na Inglaterra, a despeito da terrível decadência nacional, não existia nenhum partido revolucionário importante nem, no seu antípoda, um partido fascista. Foi graças a isso que a burguesia teve a possibilidade de mobilizar a maioria do povo, sob o estandarte "nacional". A Inglaterra passou por um prolongado período de demagogia radical, democrática, socialista e pacifista, que durou até a explosão da Segunda Guerra Mundial.
Sem revolução, o mundo se encontrava em uma situação sem saída, e isso implicava em privações e sofrimentos cada vez maiores. Sob a tensão crescente da desintegração capitalista, os antagonismos imperialistas entram em uma via sem saída, no final da qual os choques isolados e as convulsões sangrentas localizadas iriam se fundir em uma conflagração em escala mundial. A passagem das reivindicações imediatas para a luta pelo poder dependeria somente do ritmo de organização e preparação da classe operária; o proletariado enfrentava a perspectiva da barbárie, não uma etapa de crescimento capitalista. Esse grande período de crise não significava que o capitalismo estivesse “estacionado”: “A tecnologia é agora infinitamente mais poderosa do que no final da guerra de 1914-1918”, constatava Trotsky. Mas não podia encontrar a forma para aplicá-la à produção, nem mesmo de modo limitado, e as forças motrizes do sistema imperialista “assumem um caráter cada vez mais destrutivo”. O ponto em que confluíam as necessidades objetivas do capitalismo, sua reorganização através da miséria e da guerra, e a situação histórica do movimento operário se resolviam negativamente, no momento, através da capitulação do stalinismo e da social-democracia. A burguesia, apesar de fragmentada, pôde manter a iniciativa e preparar sua saída para a crise mundial.
De pouco serviam, diante disso, os espetaculares êxitos econômicos da URSS. Tomando um índice 100 para 1929, a produção industrial de 1932 oscilava, nos principais países capitalistas, entre 50 e 90, enquanto na URSS atingia… 183 (embora nesse cálculo houvesse não pouco exagero burocrático). A burocracia stalinista condenava a URSS a um isolamento sem perspectiva, acentuando os efeitos da pressão imperialista, e desintegrando a planificação estatal: quanto mais o estado operário avançasse nesta forma de desenvolvimento, maiores seriam as tendências centrífugas. O palco fundamental onde seriam revolvidos esses conflitos era a luta de classes mundial.
Na segunda metade da década de 1930, depois da vitória do fascismo na Itália (1923) e do nazismo na Alemanha (1933), as mobilizações revolucionárias dos trabalhadores se concentraram na França e na Espanha. A prova de forças decisiva entre revolução e contra-revolução teve por teatro a Espanha, na sangrenta Guerra Civil que deixou um milhão de mortos. A classe operária européia, na condições dramáticas da década, não conseguiu superar o reformismo (agora contra-revolucionário) da social-democracia, nem a bancarrota da III Internacional, que se iniciara com a traição da revolução chinesa de 1927-28, tomara forma com a claudicação do PC alemão em 1932-34, e se consolidou com a aliança entre a burocracia russa e a aristocracia operária européia, e destas com a “sombra” da burguesia, mediante as Frentes Populares e a cristalização do reformismo e do “etapismo” dos partidos comunistas, operada na década de 1930. Esta política foi responsável pela derrota do proletariado francês em 1936 e da revolução espanhola em 1931-1939. A Internacional Comunista foi responsável direta pela desastrosa derrota na Alemanha: chegou a alegar oficialmente, antes de 1933, que a tomada do poder por Hitler seria um passo em direção à revolução proletária.
Somente a revolução operária, recomeçando na Espanha ou na França, poderia ter impedido uma nova guerra na Europa, pois, na ausência daquela, a guerra estava inscrita nas relações entra as potências econômicas e militares do berço histórico do capital. A rivalidade entre os impérios coloniais antigos e bem aquinhoados (Inglaterra e França) e os imperialismos que chegaram atrasados à partilha do mundo (Alemanha, Itália, Japão) levava a uma nova partilha. Frente à agressividade do imperialismo alemão, que se rearmara poderosamente depois de sua derrota em 1918, as “democracias”, primeiro a Inglaterra e depois a França, tinham julgado poder conjurar os perigos cedendo a cada exigência de Mussolini ou de Hitler. Desde 1935, Mussolini empreendeu a conquista da Etiópia, sob a indiferença das “democracias” européias. O Japão já invadira a China, as bases de um novo conflito mundial estavam lançadas.
Na ausência de um desfecho revolucionário, a maior crise, até então, do capitalismo a escala mundial, foi superada de modo contra-revolucionário, numa conflagração bélica mundial que, provocando uma destruição sem precedentes das forças produtivas sociais, restaurou um precário equilíbrio para a acumulação de capital, mediante o sacrifício de milhões de vidas, na maior catástrofe experimentada pela civilização humana. A tríade guerra – barbárie – revolução, que irrompera na grande guerra de 1914-1918, voltou a aparecer na Europa (e no mundo) com a Segunda Guerra Mundial. Mas a guerra de 1939-1945 não foi uma repetição da Primeira Guerra Mundial; foi uma continuação, uma seqüência, como escreveu Leon Trotsky em seu último texto, de 1940: “A guerra mundial é a continuação da última guerra. Mas continuação não significa repetição. Como regra geral, uma continuação significa um desenvolvimento, um aprofundamento, uma acentuação”. A II Guerra Mundial deixou um lastro de sangue e morte maior do que a primeira, num cenário mundial ampliado consideravelmente.
Sessenta milhões de homens em armas, entre 45 e 50 milhões de mortes (a maioria na população civil) como resultado direto dos combates, ou 80 milhões de pessoas, se se contar também as que morreram por fome e doença, como resultado direto da guerra, oito vezes mais do que na Primeira Grande Guerra: ao todo, aproximadamente 4% da população mundial da época, e tudo em escassos cinco anos. Os números da Segunda Guerra Mundial são, antes do mais, os da barbárie desenfreada.
No desafio atualmente colocado para a humanidade trabalhadora, as lições e conclusões postas pela derrubada de 1929 e a crise mundial da década de 1930 conservam toda sua vigência histórica. A alternativa contra a barbárie continua sendo a revolução anticapitalista (socialista) agora numa escala histórica inédita.
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O movimento operário “apolítico” e “amarelo”, representado pela AFL (American Federation of Labor, Federação Americana do Trabalho) já se encontrava em crise na década da prosperity (1920), bem antes da crise de 1929 e o conseqüente desemprego em massa. Desde 1920, ano em que atingiu o máximo de filiados em sua trajetória, o retrocesso do AFL foi constante. O número de conflitos diminuiu de forma notável: de mais de 4.000.000 de grevistas em 1919, decresceu para 330.000 em 1926 e, de 1927 a 1931 a média anual de grevistas foi de 275.000. As derrotas recaíam sobre as mobilizações operárias e desmoralizaram bases e líderes. Foram muitos os meios empregados contra o sindicalismo. A cumplicidade dos tribunais de justiça brindava a possibilidade da interpretação distorcida das leis. Aplicavam-se leis contra os operários como a “Lei Sherman”, originalmente sancionada para evitar as práticas monopolistas. O método não era novo, mas a freqüência com que foi usado fez com que praticamente não houvesse greves que fossem legais, e nas quais os dirigentes que as liderassem não corressem perigo de ser presos. A falta de legislação trabalhista também permitia a política de open shop (oficina aberta), pela qual cada fábrica tinha o direito de contratar operários não pertencentes a sindicatos, e a prática dos contratos de não filiação (yellow dogs contracts), que impediam legalmente a seus assinantes a filiação aos sindicatos.
- Comentário feito por:alblopes
- 17h14
A linguagem deste energúmeno a apelidar de "canalhas"as pessoas sérias que não se revêem no corrupto-mor é de bradar aos céus.Só que este abencerragem não viu os últimos desenvolvimentos,senão estaria calado!Lacaio!