Um balão de oxigénio
O PSD ofereceu um balão de oxigénio que tem o condão de transformar Sócrates no grande paladino do Estado Social
- 0h30 - 2010.07.22
Há  muito que se tinha percebido que o PSD tinha na revisão constitucional  uma espécie de bandeirinha que contrabalançasse o apoio e os acordos que  tem vindo a fazer com o Governo do engº Sócrates. Ainda no  fim-de-semana passado, o dr. Passos Coelho considerou – com assinalável  bom senso – que o Governo se encontrava "esgotado". Mas em vez de lutar  pela sua rápida substituição, como parecia razoável, defendeu a sua  permanência no poder por tempo indeterminado. Resumindo, numa altura de  crise e de crescentes dificuldades, o PSD considera que o país deve  estar entregue a um governo "esgotado" que deixou de ter condições e  capacidade para gerir sequer os seus próprios ministros. 
. 
Como  se compreende, esta original tese, que no dia-a-dia se sustenta de  acordos que ninguém conhece bem e de esdrúxulas negociações impossíveis  de acompanhar, exigia um antídoto eficaz que revelasse aos eleitores as  esplendorosas diferenças que se anicham no PSD face a um PS com o qual  tem intermitentemente colaborado. E é assim que, na ausência de qualquer  alternativa séria à política económica e social do Governo, surge, de  repente, um projecto de revisão constitucional que pretende romper  gloriosamente com as barreiras ideológicas que supostamente nos  perseguem desde o 25 de Abril. 
. 
Sem entrar nas  alterações propriamente ditas, nomeadamente nas que se referem ao  sistema político (um pacote de normas contraditórias que parece ter  saído de uma mesa de café), pode-se dizer, desde já, que a apresentação  do projecto do PSD teve um efeito imediato: desviar as atenções da  actuação do Governo e dos seus míseros resultados (basta ver os dados  relativos à execução orçamental do primeiro semestre) para centrá-las  numa suposta querela ideológica da qual o PSD sai francamente a perder. 
. 
Não  bastava ao dr. Passos Coelho impor-nos o Governo por mais um ano;  faltava-lhe, pelos vistos, oferecer-lhe um balão de oxigénio que tem o  condão de transformar o engº Sócrates no grande paladino do Estado  Social – que, ele, aliás, com os seus erros, se tem encarregue de  destruir ao longo dos últimos anos. E se julgam que isto é uma matéria  que só interessa à esquerda, desenganem-se: é uma matéria que interessa a  todos os portugueses, principalmente na situação em que nos  encontramos. Num país com mais de 600 mil desempregados, quem é que está  interessado em liberalizar os despedimentos? 
.
.

 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário